ONSTAGE - Official Website - All Rights Reserved 2017-2022
Website by Joao Duarte - J.Duarte Design - www.jduartedesign.com

AIRBOURNE :::03/09/17 ::: CARIOCA CLUB
Postado em 13 de setembro de 2017 @ 17:02


Fotos por: Leandro Almeida

Texto por:  Vagner Mastropaulo

Agradecimentos: Damaris Hoffman / Manifesto

Deu trabalho aguardar quase três anos e meio desde que o show da turnê de Black Dog Barking, que aconteceria no Manifesto em abril de 2014, foi cancelado por causa do falecimento do pai dos irmãos O’Keeffe. O tempo demorou a passar, ainda que por um motivo mais do que justo, mas a apresentação dos australianos do Airbourne, domingo no Carioca Club, fez cada dia desta espera valer a pena, pois o que os caras entregaram deveria constar nas cartilhas de como fazer um show de rock! Abrindo a noite, a banda Baranga não fez feio, encarregando-se de esquentar a platéia, que os recebeu bem para um setlist de onze músicas e quarenta e cinco minutos de duração.

Formado por Xande (vocais e guitarra), Deca (guitarra), Soneca (baixo) e Alemão (bateria), o quarteto paulistano começou sua performance pontualmente às 19, horário informado pelo Carioca Club, caso você telefonasse para a casa, mas trinta minutos atrasados, se levado em consideração o release de divulgação do show. Após Xande dar boa noite e informar que também estavam ali para curtir o Airbourne mais tarde, ouviu-se o riff inicial de Highway To Hell, mas só de zoeira mesmo, antes que tocassem a primeira e direta: Filho Bastardo. Blues Das 6:00 foi a seguinte, com a famosa coreografia de guitarras e baixo imortalizada pelo Kiss e Deca fazendo chifrinhos em sua própria cabeça usando os indicadores, gesto que ele adaptaria na canção seguinte, mas agora com um evil horn no vocalista Xande em Três-Oitão. Engraçado notar que se o vocalista fazia o personagem de estilo cafajeste necessário para interpretar as letras, o figura da banda é o guitarrista Deca, que, por não ter que cantar enquanto tocava, ficou bem mais à vontade no palco.

Enquanto o Baranga mandava ver, dois membros do Korzus prestigiavam seus amigos: o vocalista Marcello Pompeu via tudo da pista vip (sim, coisa mais estranha ter isso no Carioca, mas tinha) e o guitarrista Heros Trench, produtor de todos os álbuns do Baranga, acompanhava a apresentação da parte de cima da lateral do palco, vez ou outra interagindo com os músicos no palco. Xande saudou novamente a platéia citando o orgulho de fazer “rock and roll autoral em português”, reafirmou seu vínculo com a cidade e então anunciou O Céu É O Hell. A pegada persistiu com Na Madrugada, não sem antes o vocalista pregar sobre a junção do rock com cerveja e tirar onda ao dizer: “E amanhã, ninguém trabalha”.

Garantindo ser fã dos australianos desde o primeiro álbum, Deca garantiu que seus membros eram “gente fina pra caralho” e Xande surpreendeu: “Agora vamos tocar Fábio Júnior”. O que parecia ser mais um deboche provou-se verdade, pois Carona está presente tanto na demo de 2000 do Baranga quanto no auto-intitulado álbum de 1976 do cantor, em leitura mais swingada e surpreendentemente ótima para a reputação pop do ex-galã global, sendo ambas versões da original de Tony & Som Colorido, de 1972, batizada O Carona e composta por Tony Bizarro e Frankye Arduini (viu só? Baranga é Cultura!). Após a interpretação mais contemporânea, que contou com os vocais de apoio do bem disposto baixista Soneca, uma música nova: Rock ‘N’ Roll De Rua, anunciada como parte do futuro sexto álbum do conjunto, com previsão de lançamento para dezembro e nomeado Motör Vermelho (um trocadilho-homenagem à banda de Lemmy, trocando-se o ‘head’ por ‘red’), e que foi seguida por Chute Na Cara, com começo interessante e levada de bateria executada pelo eficiente Alemão, ex-Carro Bomba, e com solo de guitarra na velocidade da luz feito por Deca, que foi cumprimentar os fãs no gargarejo ao término da canção.

Whiskey Do Diabo viria após o guitarrista apontar os dedos para o alto e começar a tocá-la e Meu Mal foi introduzida como a saideira, após Xande agradecer a todos e dizer que logo estariam na pista para ver o Airbourne. Após a música, Soneca foi quem saudou o público com um curto e objetivo: “Valeu, galera!” e ainda houve tempo para um encore, sem que a banda saísse do palco, com Pirata Do Tietê, agora sim de fato a última. Xande se dirigiu ao público pela última vez chamando São Paulo de Rock City e cravando um: “Muito obrigado. Sem vocês, a gente não é porra nenhuma!”. E assim se encerrou um show divertido e escolhido sob medida, preparando o terreno para a aula que o Airbourne daria a seguir. Além do perfeito encaixe, a banda utilizou a estratégia inteligente de incluir, em média, duas músicas por álbum (com exceção do primeiro e auto-intitulado play de 2003, ignorado no show, e de Whiskey Do Diabo, de 2005, com três no setlist), fazendo um apanhado geral da carreira para quem não os conhecia.

Com dez minutos de atraso, ouviu-se o tema principal de Exterminador Do Futuro 2, às 20:10. Composta por Brad Fiedel, a trilha sonora marcou o começo de um show que se desenrolaria em forma de avalanche sonora vinda de Warrnambool, Victoria. A entrada dos membros do Airboune, correndo pelo palco, sintetizaria a energia entregue pelo quarteto em toda a apresentação. O vocalista/guitarrista Joel O’Keeffe, o último a dar as caras, sem camisa e vestindo jeans preto com um mega buraco na altura do joelho esquerdo, foi acompanhado por Harri Harrison na outra guitarra, Justin Street no baixo e seu irmão, Ryan O’Keeffe, na bateria. Escolhida para abrir a noite e extraída do álbum da turnê que não aconteceu em 2014, Ready To Rock teve enorme participação do público, que a cantou alto o tempo todo e foi à loucura com o frontman percorrendo o palco de um lado até o outro mesmo durante o solo. A atmosfera era tão positiva que punha os presentes a pensar porque a banda nunca tinha vindo para cá, mesmo com quatro trabalhos lançados. Too Much, Too Young, Too Fast, do primeiro álbum da banda, Runnin’ Wild, desacelerou um pouco o ritmo geral, mas manteve o ânimo, novamente com participação efusiva dos fãs, que auxiliavam no refrão a plenos pulmões, e teve a mesma coreografia de guitarras e baixo que o Baranga havia feito. Pura diversão!

Então Joel O’Keeffe dirigiu as primeiras palavras à platéia, agradecendo e perguntando como todos estavam, antes de puxar as palmas com o restante da banda mais ao fundo do palco e de uma explosão de cores inundar a casa em azul, vermelho, verde e amarelo para Down On You. O’Keeffe conduzia o show tocando com a perna esquerda flexionada sobre o retorno (daí o furo no joelho, obtendo maior flexibilidade), como se houvesse uma mola sob seu tênis no mesmo pé, marcando o andamento das músicas e gritando “Down, down, down, down, down …” para que a platéia completasse com “… On You!”. Grande candidata a hino rock and roll, comandada por um showman como poucos! Após um “É ótimo conhecê-los todos, oficialmente”, o público bradava o nome da banda na clássica cantoria de “Olê, olê, olê, olê … Airbourne, Airbourne”, quando O’Keeffe entrou na onda fazendo a mesma melodia na guitarra, com os outros integrantes acompanhando-o em uma versão metal para o famoso grito de guerra a ecoar nos estádios de futebol. Após aplausos, Justin Street puxou os gritos de “Ô, ô, ô” e o começo de Rivalry, a segunda em seqüência de Breakin’ Outta Hell, o álbum em promoção, novamente desacelerando um pouco o andamento do show, e repleta de caretas por parte do carismático vocalista durante sua execução.

Girls In Black contou com backing vocals de Justin Street e Harri Harrison e os mais desatentos sequer notaram quando Joel O’Keeffe saiu pelo lado esquerdo do palco para surpreendentemente reaparecer no camarote lateral do Carioca Club, posicionado à frente também pelo lado esquerdo. De lá continuou a música tocando seu solo e levou todos à loucura ao abrir um latão de cerveja batendo-o contra sua própria cabeça por ao menos uma dúzia de vezes, dando um banho na galera da pista vip abaixo, bem como em quem estava ao seu redor no camarote, para só então regressar ao palco. Mantendo a pegada, antes de começar It’s All For Rock ‘N’ Roll, dedicada a Lemmy (tanto ao vivo quanto em letra ou em seu clipe, que conta até com o Bomber sobre o palco e com o vocalista do Motörhead em imagens), O’Keeffe cometeu um ato falho, instantaneamente corrigido-se ao afirmar: “É ótimo voltar ao Brasil … estarmos aqui pela primeira vez. Muito obrigado, vocês são incríveis”, e ainda homenageou o roadie brasileiro em seu conjunto, Roger de Souza (parte da crew do Motörhead por anos a fio), que chegou a tocar a mesma música na bateria em apresentação do Airbourne em Lasko, Eslovênia, no festival Beer And Flowers, dia 15 de julho deste ano. Sua execução no Carioca Club terminou com o vocalista/guitarrista elevando seu instrumento, em mais um tributo a Lemmy, e contou com tanto gelo seco no palco, misturado às luzes brancas, que só se viam os vultos dos músicos, lembrando a capa de Live Killers, do Queen, de 1979. A título de curiosidade, não custa registrar a incrível semelhança, até pelo idêntico número de sílabas, nos versos-títulos de “It’s all for ‘n’ roll” e “You can’t stop rock ‘n’ roll”, respectivamente cantadas por O’Keeffe e Dee Snider, do Twisted Sister.

Breakin’ Outta Hell manteve a divulgação do mais recente álbum e foi puxada por Justin Street enquanto os irmãos O’Keeffe confabulavam no fundo do palco. Com sugestivas luzes vermelhas e amarelas projetadas, a música registrou mais uma amostra do nervoso pé esquerdo do frontman, marcando o ritmo acelerado da música enquanto a tocava e cantava. Antes de iniciar a seguinte, Harri Harrison entregou uma garrafa de plástico com água para um fã na pista vip, com a banda também aproveitando a pausa para se hidratar. Então Ryan O’Keeffe desceu o braço na bateria iniciando Diamond In The Rough, a novidade no setlist em relação à apresentação em Buenos Aires na noite anterior (Cheap Wine & Cheaper Women havia sido a diferente em Santiago, dia 30, e em Montevidéu, dia 1º). Ela contou com vocais de apoio da dupla Street-Harrison e teve seu refrão cantado pela platéia em alto e bom som. No começo da próxima, Harri Harrison ficou sozinho no palco, logo sendo acompanhado por Justin Street e com o baterista mais uma vez sentando a mão em seu instrumento até que seu irmão anunciasse “No Way But The São Paulo Way”, homenageando nossa cidade em No Way But The Hard Way. Durante a música, uma camiseta não-identificada foi entregue ao baixista, que retribuiu com um joinha, e antes de terminarem a única faixa de No Guts. No Glory do set, uma bandeira brasileira foi dada a Joel O’Keeffe, que a pendurou nos Marshalls do lado esquerdo do palco, voltou para a frente da pista entregando uma palheta em agradecimento pelo presente e perguntou: “Vocês querem um pouco de cerveja?”. Em retribuição à afirmativa, arremessou um copo de cerveja para a platéia e regeu as palmas antes de retomar a canção.

A contagiante resposta do público permaneceu com Stand Up For Rock ‘N’ Roll, emendada à anterior, com o trio das cordas de costas para a pista, perto do baterista Ryan O’Keeffe. A música começou lentamente com seu irmão na guitarra e o andamento foi sendo gradativamente acelerado até explodir em uma canção rapidíssima. Ao virar para o público, Joel O’Keeffe ergueu mais um copo de cerveja e tentou arremessá-lo para que alguém na pista comum pudesse pegá-lo, porém o lançamento foi alto demais e após o copo se chocar contra um dos cabos posicionados na parte de cima da casa, um belo banho foi dado em quem estava na frente da pista vip. Então o insano vocalista veio correndo do fundo do palco, parando no seu limite, e ofereceu mais um delicioso banho premium, só que agora com a cerveja vindo diretamente de sua boca, pois ninguém tinha reparado que O’Keeffe havia dado um belo gole na cerveja enquanto estava de costas para a platéia, mandando agora o jato na galera. Levando tudo na esportiva, estranhamente ninguém reclamou dos dois banhos quase concomitantes em quem gastara duzentos reais pelo ingresso vip promocional. Entretenimento ao melhor estilo ‘pegadinha’, sempre divertido de assistir quando não é você a se encharcar. Mas na prática o cara cospe cerveja e ninguém fica puto? Vai entender … Após um “Muito obrigado” do vocalista, a banda saiu do palco, mas todos sabiam que mais estava por vir.

Em meio a efeitos sonoros de sirenes e barulhos de avião, o Airbourne voltou. Durante o começo de Live It Up, que levou a platéia à loucura mais uma vez com outro arregaço, era possível ver uma palheta grudada na barriga de Joel O’Keeffe, que, em plena execução da música, novamente perguntou: “Quem quer um pouco de cerveja?”. Então fez voar mais três copos do mais natural suco de cevada após pedir que as pessoas levantassem suas mãos para tentar pegá-los outra vez. Em seguida entregou um copo em mãos a uma garota na pista vip, tentou jogar outro para uma premiada no mesmo local, apenas um pouco mais afastada, e arremessou mais um para o setor dos camarotes. Após outra série de banhos (ou você acha que alguém conseguiu pegar os copos, à exceção do que foi dado em mãos?), a música foi retomada e finalizada, com duração total em torno de dez minutos.

A última tocada no show seria Runnin’ Wild, que tem Lemmy dirigindo o caminhão da banda em seu clipe. Antes de começá-la, O’Keeffe perguntou se todos ainda estavam com ele, apontando individualmente para alguns setores da casa: camarotes, fundão e ambos os lados da pista. Então o vocalista pediu que se formasse um circle pit e o que se viu foi toda a pista pulando e/ou cantando o refrão “You got me runnin’ wild and free (Runnin’ wild and free)”. Em meio a tamanha alegria durante sua execução, a música contou com um pequeno trecho de Dirty Deeds Done Dirt Cheap, de seus mais famosos conterrâneos, o AC/DC, com O’Keeffe imitando os passos de Angus Young. Pensa que o show terminou? Não! Ainda houve tempo para que o vocalista perguntasse quatro vezes: “Vocês são loucos?”, antes de estourar outra lata de cerveja na cabeça, colado entre o palco e a pista vip. E também deu tempo para o showman O’Keeffe fazer a última graça no palco, sendo impossível colocar em palavras a teatral ‘batalha’ que aconteceu para que o vocalista conseguisse pegar a última palheta disponível no pedestal de seu microfone. Perto do término da canção, O’Keeffe agradeceu a todos, disse que retornariam logo e pediu que todos continuassem no rock and roll neste meio tempo. Então o baixista veio agitar na frente do palco enquanto os olhos do vocalista se mostravam mais esbugalhados do que nunca, ao gritar “Runnin’ Wild” para finalizá-la. A apresentação se encerrou de fato com o frontman erguendo o microfone para a platéia, dizendo que todos eram incríveis e garantiu: “Nós voltaremos desde que estejamos vivos e que vocês continuem ouvindo rock and roll!”. Então a banda saudou a todos os presentes, arremessando os dois últimos copos de cerveja da noite, além de duas latas, enquanto Justin Street distribuía palhetas.

O show foi tão intenso que, mesmo tendo somente doze músicas e durado apenas oitenta minutos, não havia do que reclamar. Apresentação impecável, autêntica aula de rock and roll. Agora, após estréia irrepreensível em nosso país, em performance irretocável que fez o tempo voar como um estalar de dedos e satisfez a todos os presentes, a expectativa é que a banda não demore tanto a regressar, pois já conhece seus fervorosos fãs locais, quem sabe tocando em um local maior e com mais gente, mesmo que o público desta vez tenha sido mais que satisfatório. Há de se destacar também a discotecagem temática feita por Edu Roxx, tocando clássicos de monstros sagrados como Aerosmith, Van Halen, Mötley Crue, Kiss, AC/DC, Iron Maiden e Motörhead antes da apresentação do Baranga, animando a galera, mesmo errando a mão no volume, excessivamente alto, impossibilitando as pessoas de conversarem tanto antes dos shows quanto no intervalo entre os mesmos. Por fim, pista vip em casas de espetáculos de porte pequeno/mediano é o fim da picada! Atrapalha a movimentação normal das pessoas, escancara o lado ganancioso de quem promove o evento e ainda motiva um ou outro a querer dar uma de esperto e avançar para o setor mais vantajoso, seja querendo passar conversa mole para cima dos seguranças, ou mostrando pulseiras da mesma cor utilizada pela produção, mas de outro evento, conforme testemunhado. E que o Airbourne volte logo, pois a show no Carioca é fortíssimo candidato a melhor do ano no Brasil!

 

Setlist – Baranga

01) Filho Bastardo

02) Blues Das 6:00

03) Três-Oitão

04) O Céu É O Hell

05) Na Madrugada

06) Carona [Cover de Tony & Som Colorido]

07) Rock ‘N’ Roll De Rua

08) Chute Na Cara

09) Whiskey Do Diabo

10) Meu Mal

11) Pirata Do Tietê

 

Setlist – Airbourne

Main Title From Terminator 2 (Brad Fiedel Song) [usada como intro]

01) Ready To Rock

02) Too Much, Too Young, Too Fast

03) Down On You

04) Rivalry

05) Girls In Black

06) It’s All For Rock ‘N’ Roll

07) Breakin’ Outta Hell

08) Diamond In The Rough

09) No Way But The Hard Way

10) Stand Up For Rock ‘N’ Roll

11) Live It Up

12) Runnin’ Wild [com trecho de Dirty Deeds Done Dirt Cheap, do AC/DC]

 

CONFIRA NOSSA GALERIA EXCLUSIVA DE FOTOS ::: AIRBOURNE

 

CONFIRA NOSSA GALERIA EXCLUSIVA DE FOTOS ::: BARANGA

 
ONSTAGE - Official Website - All Rights Reserved 2017-2022