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AMORPHIS ::: 14/04/19 ::: ESPAÇO 555
Postado em 03 de maio de 2019 @ 18:46


Texto: Vagner Mastropaulo

Foto: Fanpage Amorphis

Seriedade, peso, melodia e elaboração: é o Amorphis em franca evolução sonora

 Resenhas escritas voluntariamente sem credenciamento e com ingresso pago do próprio bolso trazem leveza ao repórter por não ter a rigidez do ‘trabalho oficial’. Porém evocam desnorteamento ao não receber todas as informações fundamentais para a elaboração do texto, como o horário de abertura da casa e se haverá outras bandas antes da atração principal. Mesmo assim, em contato com a HonorSounds pelo Messenger do Facebook, descobrimos que o a entrada oficial do Amorphis seria às 20:30 e o horário foi cumprido à risca.

Quase três anos após seu show no Hangar 110 em maio de 2016, o conjunto retornou à cidade para divulgar Queen Of Time (2018), fazendo-o em um Espaço 555 bem cheio, sem lotá-lo, muito em função da promoção ‘2 por 1’ de última hora: pagando R$150, duas pessoas iam à pista (como comparação, a meia custava R$100 e o promocional com um quilo de alimento saía por R$120). E assim a estratégia adotada por produtores em shows encalhados em arenas (Lollapalooza; Radiohead; e Foo Fighters e Roger Waters no segundo dia) chegou aos de menor porte, como Vuur/Delain (formato similar ao do Amorphis e em maio), Enslaved (um pouco diferente: quem pagou os R$120 iniciais podia levar alguém) e Orishas (inovando num ‘3 por 2’, além do ‘2 por 1’). Há os dois lados: o fã que apoiou o evento e adquiriu sua entrada de imadiato se sente enganado por ter gasto a mais, ao mesmo tempo em que se possibilita a entrada de quem não teria como pagar sequer o primeiro lote. Na prática, quem organiza a festa faz uma graninha extra e a casa enche um pouco mais, algo interessante para quem se apresenta.

Sem usar nenhum tipo de intro ou decoração de palco (nem nas peles dos bumbos) e sem banda de abertura, Tomi Joutsen (vocais), Esa Holopainen e Tomi Koivusaari (guitarras – únicos a jamais deixar o grupo), Olli-Pekka Laine (baixo), Santeri Kallio (teclados) e Jan Rechberger (bateria) vieram ao palco mandando duas faixas do play da turnê: The Bee e The Golden Elk. Beirando trinta anos de estrada, as características inerentes ao Amorphis permanecem, do flerte com metal progressivo ao death metal melódico, permeadas por pitadas folk. Mas o que de fato impressionou foi o surgimento de novas camadas sonoras ao vivo nestas duas faixas, mesclando peso e melodia na alternância sob medida dos vocais guturais e limpos de Tomi, que, feliz da vida, soltou um “Boa noite, São Paulo!” ainda no meio de The Bee, com luzes totalmente acesas, pedindo por palmas e mandando para o espaço o estereótipo frio que temos dos escandinavos.

Em sua primeira interação mais elaborada, o frontman se apresentou: “Ok, direto da verde e fria Finlândia, nós somos o Amorphis, obrigado! Hoje é domingo, um bom dia para nos divertirmos, certo? Cá estamos e daremos a vocês Sky Is Mine”, de Skyforger (2009), voltando no tempo. Enquanto isso, as influências dos músicos evidenciavam-se na variedade das camisetas: Olli-Pekka trazia consigo a capa de Sabbath Bloody Sabbath; Esa, por sua vez, estampava seu lado Rush com referência a 2112; Tomi Joutsen, um colete jeans azul e alguma camiseta Black Metal ininteligível para os não-iniciados, além de estilosas luvas pretas. Os demais, mais discretos: Tomi Koivusaari portava regata preta lisa; Santeri, camiseta e colete pretos; e Jan, atrás de seu kit, parecia vestir camisa jeans azul com um patch da banda na altura do coração.

Bela e de Under The Red Cloud (2015), Sacrifice levantou a galera com empolgante começo e foi finalizada por novos agradecimentos de Tomi Joutsen: “Obrigado por virem. Dá para sentir que o lugar está quase cheio! A próxima é de Elegy, uma antiga dos anos noventa e se chama Against Widows”, com influência folk e curiosamente grafada Against ‘The’ Widows, nos setlists de palco. Silver Bride trouxe inovação em relação ao registro em Skyforger: uma interessante intro de trinta segundos pautada no baixo. Novamente se comunicando, o carismático vocalista anunciou o que viria: “Oh, yeah, São Paulo! É bom estarmos de volta, muito obrigado. A próxima é sobre sangue. Estão prontos para enlouquecer, meus amigos? Esta é Bad Blood”, bem cantada, com começo dançante, ótimos riffs que lembraram Rammstein e cadenciaram o agito, ainda mais após pedido reiterado do frontman no meio da canção para que todos enlouquecessem.

Dobrando metade do espetáculo, Tomi Joutsen checou se todos estavam se divertindo e fez um lembrete: “Estamos aqui esta noite para promover nosso álbum mais recente chamado Queen Of Time. A próxima é tirada dele, senhoras e senhores. Dou a vocês: Wrong Direction”, surpreendentemente cantada, mesmo nova, e com uma influência inusitada: mais lenta ao vivo, a guitarra dedilhada por Esa no início e no refrão lembrou Where The Streets Have No Name, do U2, de leve. E a divulgação proposta pelo cantor prosseguiu com mais duas do mesmo álbum: Daughter Of Hate e Heart Of The Giant. A primeira, um experimento com andamento quebrado, foi iniciada em um forte gutural sob luzes brancas e vermelhas e com Tomi Joutsen a contemplar os fãs, parado no palco durante sua execução. Já a segunda fez com que a galera criasse, por conta própria, um coro para ‘cantar’ o fraseado inicial da guitarra de Esa, posteriormente repetido e com mais adeptos. Simplesmente sensacional! E ainda houve tempo para que o vocalista apresentasse Santeri antes do que pode ser chamado de seu ‘solo’ no meio da canção.

Já com a próxima em andamento o frontman foi só elogios: “São Paulo, vocês detonam! Reconhecem essa? Dou Hopeless Days a vocês”, outra muito bem cantada, única de Circle (2013) incluída e com referências que vão dos riffs iniciais à la Meshuggah (alguém poderia explicar como o conjunto sueco rodou Chile e Argentina no final de abril sem tocar em São Paulo?) à levada gótica de Say Just Words, do Paradise Lost, nos teclados, ainda com uma quase citação a Bruce Dickinson através de um “São Paulo, gritem comigo no quatro. Aqui vamos nós: um, dois, três, quatro”, seguido de um longo e maravilhoso gutural do vocalista. E fechando a parte antes do encore, educado, Tomi Joutsen resolveu variar: “Muito obrigado pelo apoio de vocês, São Paulo! Estão prontos para outra música velha? Material old school! Alguém aí? Vamos tocar uma do Tales From The Thousand Lakes. Gostariam de ouvir? Esta é Black Winter Day”, do play de 1994, mais antiga da noite. Ao encerrá-la, ainda cumprimentou a galera no gargarejo.

Voltando ao palco, o começo de Death Of A King remeteu a Home, do Dream Theater, e o frontman seguiu brincando: “Ainda estão por aí?”. A faixa foi muito bem recebida e coube a Tomi apresentar Esa ao público, além de pedir por gritos em uníssono para a cantoria do título no final. Fechando a festa, expressou gratidão: “Isto é incrível! Vocês são a razão pela qual viajamos até aqui! Muito obrigado! Estamos quase no fim, temos mais uma para vocês. Cantemos juntos a próxima, certo? Esta é House Of Sleep”, a única de Eclipse (2006) e que também contou com o coro popular ‘cantado’ em sobreposição ao riff inicial. Seu refrão, vociferado a plenos pulmões, teve de tudo: gente filmando, tirando foto, pulando e fazendo evil horns. A animação foi tamanha que o vocalista parou de cantar e abriu os braços, dando vez à platéia no refrão ao comando de um simples “É a vez de vocês”. Despedindo-se, o conjunto fez as devidas saudações e agradecimentos, tirou foto em frente à galera e partiu ao som de Vaivaitalossa, um cover de House Of Sleep dos conterrâneos do Eläkeläiset. Na prática, a faixa é uma divertidíssima homenagem feita pelo grupo de humppa (uma mistura de jazz com fox trot, tipicamente finlandesa) e jenkka (uma polca lenta, a versão finlandesa da chotiça da Boêmia).

Em análise superficial, algo que pode ter desapontado o fã mais old school com certeza foi um deleite para quem curte os lançamentos mais recentes do sexteto de Helsinque: das catorze do curto set de oitenta minutos, oito foram dos dois últimos álbuns (nove dos últimos três). E o repertório da turnê apresenta pouca variação mesmo, com, no máximo, Message In The Amber substituindo Against Widows em algumas oportunidades. O que se ensaia é o que se toca e, conforme prometido pelo vocalista em entrevista a Thiago Rahal Mauro no Whiplash (https://whiplash.net/materias/news_756/300222-amorphis.html), o setlist foi, de fato, “compacto e muito divertido” e embora coubessem mais músicas, quem foi ao Espaço 555 não pareceu se importar, indo embora para lá de satisfeito.

 

Setlist

01) The Bee

02) The Golden Elk

03) Sky Is Mine

04) Sacrifice

05) Against Widows

06) Silver Bride

07) Bad Blood

08) Wrong Direction

09) Daughter Of Hate

10) Heart Of The Giant

11) Hopeless Days

12) Black Winter Day

Encore

13) Death Of A King

14) House Of Sleep

Outro: Vaivaitalossa (Eläkeläiset)

 
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