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Balaclava Fest ::: 13/10/19 ::: Audio Club
Postado em 03 de dezembro de 2019 @ 00:54


Texto por Luan Gomes (Minuto Indie)

Fotos: Flavio Santiago

No último domingo (13/10) ocorreu o Balaclava Fest 2019, mais uma vez na Audio. Em sua décima edição, o Balaclava Fest teve provavelmente seu line up mais diversificado, tanto sonoramente quanto na experiência de shows. Assim, a assinatura do festival impulsionador da cena indie paulistana segue autêntica e relevante. A programação contou com shows de Elza Soares; Shame; Kelela; Ryley Walker; Battles; Boogarins; Àiyé e Papa M, projeto de David Pajo, ex-integrante do Slint. Dentre os quais separamos alguns destaques.

 

Boogarins

Abrindo o stage, o palco principal do festival, os goianos do Boogarins se viram em meio a muitos fãs. Todos acompanharam a banda no entusiasmo da apresentação das novas músicas, presentes no recente Sombrou Dúvida, quarto disco da banda, lançado esse ano. Em São Paulo esse foi o segundo show já com as novas músicas. E não encontraram desafio para ‘conquistar’ o público. Assim, ‘Invenção’, e ‘Dislexia ou Transe’, tomaram forma na pista da Audio num clima dançante e hipnotizante, assinatura marcante do som psicodélico dos Boogarins.

De um jeito não muito convencional, a banda também tocou suas músicas mais celebradas dos outros discos, como ‘Foi Mal’, a segunda música do setlist, que com seu riff pegajoso, deu o embalo inicial necessário para prender a atenção do público. Trazendo uma dinâmica visual interessante ao palco, a banda trouxe projeções e algumas luzes que ditavam o mood ao longo do show, potencializando seu som lisérgico desde momentos mais contemplativos e intimistas, como em ‘Auchma’, até outros mais enérgicos, como no hit ‘Lucifernadis’, onde boa parte do público entoava o refrão de maneira apaixonada. Em um clima desafiador, a banda apostou em poucas canções que ao ganharem sua reprodução ao vivo, se estenderam de uma forma que enchia os olhos do público, já conhecedor das manias da banda em cima do palco.

Ainda assim, o guitarrista Benke Ferraz saudou o público apresentando a banda para quem os via e ouvia pela primeira vez. Entre o esperado da química com os fãs e a inventividade performática da banda, os Boogarins logo no começo da noite, já marcaram um dos grandes pontos dela.

Setlist do Boogarins

1Lá Vem a Morte, Pt. 2
2FoiMal
3Tempo
4Invenção
5Te Quero Longe
6Passeio
7Dislexia ou Transe
8Onda Negra
9Lucifernandis (Extended Intro)
10. Auchma
11. Sombra ou Dúvida

Foto: Rodrigo Gianesi

Battles

Depois de 12 anos ausente dos palcos brasileiros, os nova-iorquinos do Battles trouxeram ao Balaclava Fest seu som fluido e nada convencional, que pesca elementos desde math rock à dubstep. Tal como a identidade sonora, a performance do Battles se mostrou desafiadora na interação com o público. O agora duo formado pelo baterista John Stanier e por Ian Williams, responsável pela guitarra, sintetizadores e eletrônicos; teve a curiosa incumbência de não deixar o ímpeto do público baixar entre shows elementarmente pop no stage, palco principal do festival. Tanto nos rapazes psicodélicos do Boogarins quanto na envolvente Kelela, a presença de estruturas melodiosas convencionais trouxeram dança e êxtase ao público.

No show do Battles houve uma nova proposta na dinâmica banda/público, onde o duo combinava sua orgânica gana de tocar virtuosamente com as colagens eletrônicas atmosféricas. Apesar do foco no instrumental, a apresentação espantou a impressão de “jam” numa execução praticamente fidedigna das músicas, recebidas calorosamente nas surpreendentes pausas entre elas. Ao decorrer do show o público ia encontrando sua hora de dançar, de fixar os olhos no palco para não perder uma virada de John Stonier, e de seguir no embalo dos breves riffs de Ian Williams. A música mais conhecida do duo, ‘The Yabba’, foi acompanhada pelo público num misto de contemplação e efervescência, que se concretizou até o final da apresentação.

Isso, sem a banda dizer um simples “oi”, até o momento em que Ian Williams quebrou o ‘silêncio’ dizendo sobre como o período entre as duas vindas da banda ao Brasil passaram rapidamente, e que da mesma forma, assim foi o show. Mas que ainda assim eles tinham tempo para mais uma música. Ao seu modo, o Battles acalorou ainda mais o ânimo do público, diversificando a ótima sequência de shows no Balaclava Fest.

Setlist da Battles

1Fort Greene Park
2A Loop So Nice…
3They Played It Twice
4Titanium 2 Step
5The Yabba
6Sugar Foot
7Ice Cream
8IZM
9Atlas
10Last Supper on Shasta
11Ambulance

Kelela

Em um dos momentos mais comoventes da noite, Kelela tomou conta do stage numa intensa troca de energia com um público ávido pela cantora. Sendo um dos principais nomes do R&B alternativo, a cantora e compositora americana Kelela Mizanekristos foi uma das atrações com o ‘timing perfeito’ presente no line up desse Balaclava Fest. Tendo o seu apelo com o público presente de forma evidente e cativante, Kelela absorveu o clima devoto e o canalizou em uma performance vocal hipnotizante.

Nem mesmo o mais sabido dos fãs poderia antecipar a reação de surpresa que tomou conta da Audio diante da imponente exibição da cantora ao palco. Em dado momento do show, a comoção aumentou com a entrada das dançarinas de apoio ao palco, o que elevou ainda mais a aura da apresentação, cristalizada em canções como ‘Better’, presente no seu celebrado terceiro álbum ‘Take Me Appart’ de 2017. Com tal estética e execução, ainda assim a apresentação não reteve sua atratividade a somente fãs de ‘divas pop’. Tanto na construção dos beats como na execução vocal, Kelela trouxe um ritmo desacelerado que aponta desde o soul a eletrônica, que parecia ditar a respiração, ou melhor, os suspiros dos fãs.

Shame

Em uma catarse explosiva, o Shame cumpriu as expectativas de uma apresentação memorável. Ao mesmo tempo que surpreendeu pela energia da banda, intacta numa sequência de três shows em três noites. O primeiro em Porto Alegre, na versão gaúcha do Balaclava Fest 2019. O segundo em São Paulo no Breve, e o terceiro e derradeiro show no Balaclava Fest 2019. Acompanhando o boom do revival punk britânico, o Balaclava Fest 2019 trouxe o Shame, um dos principais nomes da cena londrina para fechar o palco club. Com alta expectativa, o Shame controlou, ou melhor, descontrolou o público fervoroso frente ao palco.

Seguindo o roteiro do show na noite anterior ao Balaclava Fest 2019, onde a banda tocou no Breve numa calorosa apresentação, o show começou com ‘Another’, música não presente em Songs Of Praise(2018), debut da banda, e que provavelmente faz parte de um novo trabalho por vir. Como uma brasa acesa à dinamite, o clima de normalidade nada característico do show dos rapazes desapareceu numa rapidez e deu vazão a frenesi punk logo nos primeiros acordes, e a urgência sonora ecoante da banda tomou conta do ambiente.

Saudação

O começo foi cortês e protocolar, onde o vocalista Charlie Steen (ainda com sua camisa) saudou o público manifestando sua alegria ao ver mais uma vez os fãs paulistanos. Rapidamente, a partir de então sem parar, banda e público se tocavam em atos de stage diving do vocalista Charlie Steen, que ao meio do show confessou ter feito em São Paulo, os melhores shows da sua breve carreira com o Shame.

A execução das músicas se mostrou um desafio. O baixista Josh Finnerty, incansavelmente pulava com seu pesado fender precision bass, mantendo o ritmo pulsante. Enquanto isso, o vocalista Charlie Steen se enrolava com o microfone colado aos fãs. Ainda assim, em alto e bom som as músicas eram claramente distinguidas e entoadas pelos fãs. A sequência ‘Concrete’ e ‘The Lick’ foi um dos vários picos de catarse potencializado pelo mosh pit bem a frente ao palco. Em uma atmosfera totalmente a favor, os britânicos do Shame fecharam com chave de ouro sua primeira passagem pelo Brasil, se declarando ansiosos por um breve retorno, certamente um sentimento mútuo compartilhado com o público do Balaclava Fest.

Setlist da Shame

1Another
2Nigel Hitter
3Concrete
4The Lick
5One Rizla
6Cowboy Supreme
7Tasteless
8Human, for a Minute
9March Day
10Friction
11Dust on Trial
12Lampoon
13Gold Hole
14Angie

Elza Soares

Encerrando a décima edição do Balaclava Fest 2019, o posto de headliner foi de um dos principais nomes da música brasileira, que coroou o encerramento do festival com um bom show. Mantendo o caráter diversificado, o Balaclava Fest 2019 trouxe Elza Soares no seu line up justamente no período em que o público alternativo, característico do festival, está mais apegado a obra da artista. Tem sido assim desde o lançamento do álbum Mulher do Fim do Mundo em 2015, que marcou um retorno triunfante de Elza ao respaldo de seu trabalho.

Desde então, suas apresentações também tem sido focadas desse marco de carreira em diante, numa sequência que ainda rendeu os álbuns Deus é Mulher, lançado ano passado, e Planeta Fome esse ano, tendo inclusive seu show de estreia justamente no Balaclava Fest 2019. Dado o cenário, o show não poderia ser decepcionante. Elza, que comovia o público com apenas sua presença, tem uma banda que cumpre o papel de reproduzir o caráter impactante presente em seus discos. As músicas novas tomaram ao vivo a pujança necessária, dando início ao show a mesma sequência que abre Planeta Fome: ‘Libertação’, ‘Menino’ e ‘Brasis’.

Foto: Luan Gomes

Impacto

Apesar da performance da banda e do impacto de seu conteúdo no público, ver Elza Soares aos 82 anos sentada, cantando às vezes de forma não contínua e falha, é algo que intriga. Porém, para muitos dos fãs, os de longa data e os recentes, os presentes no Balaclava Fest 2019 e os ausentes, isso é uma imagem de inspiração, e certamente as limitações físicas de Elza são compreensíveis. A mais significante expressão desse sentimento é expressa na música símbolo dessa nova fase da artista: ‘Mulher do Fim do Mundo’, onde Elza brada “Até o fim, eu vou cantar. Eu vou cantar até o fim”.

Elza também chamou a atenção pelas falas entre as músicas. Ela questionou o público sobre a situação sócio-política do país, e a conformidade das pessoas com isso. Enfatizando a importância do simbolismo da nação, e de como isso foi deturpado no cenário político dos turbulentos anos recentes. Ao final do show, um pouco do clímax foi se perdendo, principalmente na reprise da música ‘Blá Blá Blá’. Mas ainda assim, no geral Elza cativou o público e o fez dançar e refletir, com toda a importância que carrega, encerrando de maneira digna a décima edição do Balaclava Fest 2019.

Setlist da Elza Soares

1Libertação
2Menino / Brasis
3Comportamento Geral
4A Carne
5Não Tá Mais de Graça
6Maria da Vila Matilde
7Se acaso você chegasse
8A Mulher do Fim do Mundo
9Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória
10País dos Sonhos
11Blá Blá Blá
12Volta por Cima (Paulo Vanzolini cover)
13Blá Blá Blá (reprise)

 
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