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Brant Bjork :::17/10/19::: Fabrique
Postado em 22 de novembro de 2019 @ 13:33


Papa do stoner estréia no país saciando a fome de (quase) todos os seus fãs!

Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Agradecimentos a: Erick Tedesco; Felipe Junqueira e George Reina (Mother Trouble) e Gustavo Macedo (Blackdust)

Chegar antes da abertura dos portões propicia ao resenhista o contato com os fãs mais sedentos que não medem esforços para ver seu artista favorito e sabem apreciar oportunidades raras, possivelmente únicas. Socializando do lado de fora, ouviam-se depoimentos como: “Coisa fina”; “Hoje vamos ver ‘O Cara’”; e “É o ano dos shows improváveis”. Faz sentido, pois era a estréia no país de Brant Bjork, nada mais, nada menos do que um dos fundadores do Kyuss e, portanto, pedra fundamental do stoner, embora na época ninguém no grupo desse bola para isso. E refletindo, 2019 trouxe Daughters, Graveyard, Baroness (todos na Fabrique, mas separadamente), Mineral (Jai Club), Trail Of Dead (Sesc Pompéia) e King Crimson (Espaço das Américas), além do próprio Brant. Então, sim, foi o ano para ver atrações que talvez nunca mais para cá retornem (vai saber?). E fica a dica: jamais assista a algo na Fabrique muito perto da primeira pia ali do bar, a mais próxima ao palco! Pode ser fatal ao seu estômago…
Surpreendentemente, pela importância de Brant, a casa comportou meia lotação em seu show, com todos confortavelmente espalhados pelo recinto, mas dando reflexo em ambas as bandas de abertura. E se por um lado o público foi escasso para ver o Mother Trouble dar início aos trabalhos às 19:33, praticamente pontual em relação ao horário divulgado, por outro, quem entrou apoiou e pôde curtir o belo set de quase meia hora do trio paulistano formado em abril. Foram apenas cinco músicas, quatro das quais (Voodoo, Home, Time Machine e Reasons – single lançado em 04/10) estarão em seu primeiro EP, “More Than Trouble…, um trocadilho com nosso próprio nome”, título revelado por Felipe Junqueira, vocalista a cargo do baixo de cinco cordas, em conversa por Whatsapp. Time Machine se diferencia por ser inspirada na série alemã Dark e a única do show ainda sem registro em estúdio, Mother Jam, sobre a qual Felipe discorreu, foi justamente a que o inaugurou, escrita após a entrada do baterista Danilo Lima: “Ela surgiu numa jam mesmo, nos ensaios, e a curtimos muito por ela dar uma idéia de abertura de show mesmo, para aquecer. Apesar de ter abertura para improvisos, ela tem uma métrica e não fica solta”.
O lançamento será em 29/11 e já há planos para um segundo EP: “Já temos quatro músicas novas sendo trabalhadas, ainda não terminadas. Começaremos a gravar em dezembro ou janeiro. Sobre os nomes de músicas, já posso adiantar um: Enemy Of God. Ainda estou escrevendo a letra, mas trata-se do preconceito que existe com pessoas que seguem estilos de vida diferentes, que não têm uma crença ou tenham orientação sexual distinta. Pessoas que acabam se tornando um ‘Inimigo de Deus’. É uma viagem na letra e a sonoridade é bem stoner, aquela coisa que o Black Sabbath meio que criou, então o som está bem pesadão e diferente do que apresentamos no show. Ela está sendo feita mais no capricho e foco na letra”.
Ainda na casa, abordamos o terceiro membro do grupo, George Reina. Atencioso, o guitarrista nos atendeu por Whataspp e tirou uma dúvida relacionada à pronúncia em inglês de seu cantor, alguns tons acima da média em artistas brasileiros: “Ele é professor de inglês, cara! Quando nos conhecemos, fiquei impressionado com a qualidade musical e o inglês dele”. Ele ainda aproveitou para esclarecer que a camiseta do Black Sabbath do batera não era coincidência: “Nós tocamos na Loud’in, um projeto tributo ao Black Sabbath e ao Deep Purple, há uns cinco anos. Inclusive o Danilo não era da Mother Trouble, mas o antigo baterista se desligou e a gente o arrastou para a banda”. George também deu detalhes sobre o processo de seleção para o evento: “A Abraxas fez uma seletiva em duas fases com bandas independentes e nacionais de rock e stoner. A primeira era pelo engajamento e a galera postava trechos de músicas enviadas (vídeo ou single) ou depoimentos sobre porque queriam abrir, mostrando as caras e o público decidia reagindo aos stories e publicações da Abraxas. A gente compartilhou o som, pediu aos seguidores que dessem uma força e acho que isso cativou o pessoal. Vimos resultado e dinâmica bons da galera e isso nos motivou. A segunda foi decidida pela própria Abraxas com a Tenho Mais Discos Que Amigos, Powerline, Programa A Hora Do Chá Mutante e Obscur.Cult. Eles selecionaram seis bandas e todas tocaram no programa A Hora Do Chá Mutante, dia 01/10. Daí duas foram escolhidas por decisão de todos os envolvidos e a Abraxas nos contatou dois dias depois, quando saiu o resultado formal no blog do Tenho Mais Discos Que Amigos”. Caíram como uma luva, em apresentação melódica, pesada e interessante, com clara influência setentista. Olhos bem abertos a seus próximos passos!
No intervalo rolaram Karma, Pale Moon, Little Fly e Disappear, dos suecos do Asteroid – a caminho da Jai Club em 06/12 – e a playlist passeou por III (2016), II (2010) e S/T (2006). Na terceira, Brant Bjork adentrou a casa com sua trupe sem ser incomodado (talvez nem notado ou reconhecido, mas, com certeza, respeitado). Três minutos antes das 20:30, horário oficial do show, veio ao palco o Blackdust de Gustavo Macedo (vocal), Jonathan Gonçalves e Arthur Avelino (guitarras), Sérgio Igarashi (baixo), e Lucas Jäger (bateria), de São Paulo e juntos desde 2016. Causaram impacto visual e sonoro imediato com a maquiagem no rosto do vocalista e o fato de ele puxar a intro tocando um surdo, de escolas de samba mesmo.

Por Whatsapp, ele comentou os temas: “A maquiagem foi uma coisa meio de última hora, decidida uma semana antes. Queria fazer algo diferente, como a intro com o surdo. Como íamos abrir para um cara da gringa, era uma ótima oportunidade de mostrar algo e chamar atenção, não só com a música ou a performance. E a maquiagem foi mais temática por causa do Halloween, mas não quis deixar isso claro na hora do show, pois não achei que precisava. Temos um som pesado e gritado e achei que botar uma maquiagem dark com uma performance enérgica ia dar um pouco do que a gente faz e o pessoal da banda achou legal já que ia causar, no mínimo, curiosidade, fazer as pessoas olharem e: ‘Nossa! Por quê?’. E às vezes nem tem uma explicação muito certa”.
Em pouco mais de meia hora, o set de sete músicas contemplou seis das oito de Blackdust (2016), álbum de estréia, mais Poisoned, single de 2017. As não tocadas do play foram Heavy Rain e Galaxy Dust, limadas pelo urgir do tempo, mas presentes no setlist de palco, a provar que Christiane Torloni e seu chavão histórico chavão do Rock In Rio de 2011 vieram para ficar, pois, abaixo do repertório, a banda deixou um divertido “Dia de destruir tudo, bebês”. Acerca de sua performática atuação com influências hard rock, o vocalista contextualizou: “Tenho outra banda autoral, de hard rock anos 80, a Desert Dance. E aí essa coisa é bem mais explícita: é safadeza e farofeira total. A galera das duas bandas se conhece, já fizemos eventos juntos, mesmo não tendo muito a ver o som. Sempre gostei de uma performance mais enérgica, tanto que minha primeira referência de performance é o Anthony Kiedis, do Red Hot, ou a banda toda, que pula, se joga, é engraçada e gosto bastante disso. Eu me inspiro muito no Freddie Mercury, naquelas poses que ele fazia, na presença dele. Gosto muito de caras como David Lee Roth e, vocalmente, de Robert Plant. Gosto muito também de Bruce Dickinson, David Coverdale, rock clássico em geral. Tenho também referências mais modernas, como Blind Guardian, Linkin Park, Incubus. Red Hot também, apesar de eu não usar tão sonoramente o vocal”.

Finalizando o papo, pedimos um parecer sobre a experiência no evento e o contato com Brant: “Foi muito legal e é sempre bom tocar com estrutura legal: técnico de som no palco, equipamento bom, retorno, gente te ajudando, catering com uma menina super legal que fez um trabalho muito bom. Fomos muito bem tratados, todo mundo atencioso, tudo que a gente precisava nos foi entregue. Particularmente não gosto muito de ficar tietando, até porque eu não era um grande conhecedor da música do Brant, mas sabia da importância dele para o stoner e queria que a interação fosse natural. Então demos uma camiseta a ele e o deixamos na boa, mas estávamos comendo e eventualmente comentávamos algo sobre os patês, os doces. Comentamos coisas genéricas, naturais e ele nos disse que não fumava mais, por causa da voz”.
No novo intervalo, a trilha sonora ficou por conta de The Byrds e, às 21:15, Brant Bjork em pessoa brotou no palco para fazer alguns ajustes, mas a festa mesmo só começaria meia hora depois e quinze minutos atrasada. O mais legal foi observar o pontapé inicial, com ele, Bubba DuPree (guitarra), Dave Dinsmore (baixo) e Ryan Güt (bateria) checando afinações, dedilhando acordas aqui e acolá, em meio a algumas batidas, assim já iniciando o set e, sem se dar conta, você já se envolvia e curtia o crescendo embalado de Swagger & Sway, de Mankind Woman (2018), full length da turnê e mais contemplado da noite, com cinco músicas. Como decoração no telão de fundo, a capa da edição remasterizada de Jalamanta (1999) e outras informações promocionais do evento (só causou estranhamento ver o nome do ausente Sean Wheeler como convidado especial). Too Many Chiefs… Not Enough Indians viria emendada e, de Tao Of The Devil (2016), Humble Pie foi tiro certeiro e bem aplaudido.
Após Brant pedir barulho, Lazy Wizards mostrou-se um pouco mais acelerada do que em estúdio e não pense que o músico focou apenas em álbuns solo, pois Stokely Up Now, de seus tempos na Brant Bjork And The Low Desert Punk Band, veio a seguir, com tudo funcionando às mil maravilhas e um encadeamento em transição esperada entre canções, fazendo imperar o maior clima de paz na pista. Biker No. 2 manteve a pegada e, mesmo com o show em seu curso natural, alguns aspectos paralelos saltavam aos olhos, como espertinhos de plantão fumando no recinto. Até aí, sem novidades e ‘faz parte’, mas o mais bizarro foi notar o ato ilícito ser cometido com uma sutil ironia: havia um segurança tentando observar o que se passava, mas, caolho (sim, parece piada, só que é sério!), o pobre coitado não tinha como dar conta de ver tudo e coibir os infratores, claramente sacando e tirando proveito da situação. Tragicômico!
Alheio às agruras do mundo cão, Brant mandava ver com a viajante Mankind Woman, reconhecida por entusiasmados fãs, seguida da sabbathiana Chocolatize e de The Gree Heen, com começo mais arrastado e palmas espontâneas da galera, em auxílio, até encorpar em peso. E foi aí que a noite teve uma súbita guinada… não, no palco tudo seguia transcorrendo a contento, mas jamais se posicione ao lado da primeira pia do bar, à frente da pista. Sem ter jantado, este escriba por pouco não mandou as obrigações de resenhista às cucuias e passou a se concentrar mais no que acontecia à esquerda: o trabalho de Lo Scar (a caterer elogiada por Gustavo Macedo) fatiando cenouras e pepinos para o consumo, com limão, dos músicos no backstage. Mas e o show, que, na hora, não parecia mais importar tanto (seria a fome?)? Dos idos de Brant Bjork And The Bros, a hipnotizante Let The Truth Be Known contagiava o povo, botando-o a chacoalhar o esqueleto, na catarse da letra e seu “and get stoned” após o título.
E se Brant economizava nas palavras, no som era generoso, dando à heterogênea platéia, no quesito idades, o que ela queria: stoner qualificado! Assim Somebody veio emendada, numa vibe anos 70, com pitadas de Jimi Hendrix, em outro exemplo de sonoridade encorpada conforme prosseguia, levando a galera a explodir em aplausos no final. Outra de sua Brant Bjork And The Low Desert Punk Band, Controllers Destroyed foi a última do set fora de sua carreira solo e não seria exagero dizer que, apenas em seu começo, há até um pouco de Slayer e Seasons In The Abyss. O fato foi que a faixa extraída de Black Power Flower (2014) judiou dos pescoços e soou fenomenal. E se alguém ainda duvidava ser possível melhorar, Low Desert Punk trouxe a resposta em versão alucinante que pirou de vez a massa. Até o dono da festa endoideceu e tirou os grossos óculos do rosto para, com certeza, nada mais enxergar.
E quando este escriba parecia voltar a se concentrar nas questões musicais, sua atenção outra vez se desviou para o que acontecia ao lado, com uma verdadeira obra de arte de Lo Scar, usando rúcula de guarnição para tomates-cerejas, mussarela, presunto, salame, peito de peru, todos lindamente fatiados, e azeitonas (verdes, sem caroços, e pretas), além de algo misterioso aos não iniciados. Em meio a olhares a este espetacular banquete, eis que o americano finalmente resolveu dar o ar da graça e falar (mas em que hora!), após recolocar seus óculos: “São Paulo, muito obrigado por terem vindo esta noite”, antes de apresentar os músicos e prosseguir: “Levou muito, muito tempo para eu vir aqui cantar em São Paulo e me sinto muito bem. Amamos vocês e o prazer é nosso. Vejo vocês na próxima”. E assim surgiu a dobradinha inicial de Jalamanta, colada como no álbum: Lazy Bones e Automatic Fantastic, esta um tanto mais rápida do que em estúdio, mais longa, viajante e com final apoteótico!
Paralelamente, nem notando este humilde repórter, Lo Scar ainda resolveu experimentar uma fatia do salame, despertando de vez a vontade de roubar a bandeja de frios e sair correndo ou ser expulso da casa. Controlando o instinto, mal percebemos que Brant Bjork e banda haviam partido às 23:07, cravando pouco mais de oitenta minutos, sem encore, em imponente apresentação que saciou a fome de (quase) todos os presentes! E foi gratificante descobrir que mais gente passava vontade, ao vermos um atrevido fã se insinuar objetivamente, fitando os quitutes: “Se precisar provar para ver se está envenenado, estou bem aqui”. Por fim, indagando do que tratava o componente ainda não identificado, este escriba ganhou a noite ao ser presenteado com uma fatia de… lombo! Showzaço! Que Brant Bjork não demore a regressar à cidade. Afinal de contas, não teríamos estômago para outra longa espera… Ah, 2020 terá mais artistas ‘improváveis’ estreando no país, todos em março e em eventos separados: Amenra (Fabrique), Black Flag (Carioca Club), Between The Buried And Me (Fabrique), Converge (Carioca Club), Sammy Hagar (Espaço das Américas) e Soen/TesseracT (Carioca Club)

Setlists
Mother Trouble
01) Mother Jam
02) Voodoo
03) Home
04) Time Machine
05) Reasons

Blackdust
01) Intro + Half Moon Woman
02) Home
03) Mindblower
04) Born To Die
05) Diamond
06) Poisoned
07) Black Door (No Turning Back)

Brant Bjork
01) Swagger & Sway
02) Too Many Chiefs… Not Enough Indians
03) Humble Pie
04) Lazy Wizards
05) Stokely Up Now [Brant Bjork And The Low Desert Punk Band]
06) Biker No. 2
07) Mankind Woman
08) Chocolatize
09) The Gree Heen
10) Let The Truth Be Known [Brant Bjork And The Bros]
11) Somebody
12) Controllers Destroyed [Brant Bjork And The Low Desert Punk Band]
13) Low Desert Punk
14) Lazy Bones
15) Automatic Fantastic

 
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