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Dark Tranquility ::: 02/09/17 ::: Clash Club / SP
Postado em 10 de setembro de 2017 @ 18:02


Texto e Fotos:  Renata Penteado

Agradecimentos: Costábile Salzano Jr / Liberation (Marcos e Simone)

Foram necessários mais de três anos e meio de espera para o retorno do Dark Tranquillity a São Paulo, coincidentemente no mesmo Clash Club onde haviam se apresentado em janeiro de 2014. Porém, mesmo que o local tenha sido mantido, algumas diferenças foram observadas, tais como: o público claramente menor, ocupando menos da metade da casa; a presença de novos integrantes, algo que afeta o entrosamento de qualquer banda; e a sensação de que ficou faltando algo para que o show do grupo de death metal melódico fosse tão energético quanto o já citado, ou até mesmo comparado à estréia dos suecos em solo brasileiro, em junho de 2010 no Carioca Club, também em São Paulo. Não que o grupo tenha decepcionado, não é isso, apenas não houve a mesma entrega das outras vezes, de parte a parte, pois a quantidade de shows na cidade com certeza esvaziou a casa, já que estamos no mês do SP Trip (sem contar os gastos com o Rock In Rio, para quem for), afetando a performance do grupo proveniente de Gotemburgo, por mais profissionais que tenham sido.

Ao entrar no Clash Club, via-se, projetado no telão, o DT estilizado da banda, usado como logo a partir de Construct (2013), demarcando o território para uma noite que não teria ninguém tocando antes ou depois. Pontualmente às 19:30, o Dark Tranquillity começou seu show com Force Of Hand e seu andamento de bateria todo quebrado, executado por Anders Jivarp, com todos seus integrantes já posicionados, exceção feita a Mikael Stanne, que só veio ao palco na hora de começar a cantar. Enquanto isso, o que acontecia no telão evidenciava que este não seria um show apenas para se ouvir, mas para se assistir também, pois, projetada em um fundo vermelho, havia a sombra de um homem em queda, lembrando os pôsteres antigos de Um Corpo Que Cai, de Alfred Hitchcock. A princípio, o som do baixo era proeminente, sobrepondo-se, em demasia, ao das guitarras (problema que seria gradativamente corrigido) e no trecho de maior destaque dos teclados, o vocalista se aproximou dos fãs no gargarejo, a fim de cumprimentá-los. Completando o grupo, Martin Brändström, nos teclados, e três novos membros em relação à passagem anterior por aqui: o baixista Anders Iwers, membro original do In Flames (onde era guitarrista) e o único dos estreantes a já ter vindo ao Brasil, em show que o Tiamat fez em novembro de 2009 no Carioca Club, abrindo para o Moonspell; o guitarrista Johan Reinholdz, que, embora não se saiba como, oficialmente ainda integra outras quatro bandas suecas (sim, QUATRO!!?!? A saber: Andromeda, Skyfire, Opus Atlantica e NonExist, cantando nesta última); e o outro guitarrista, Christopher Amott, fundador do Armageddon e do Arch Enemy (onde fazia a dupla nas seis cordas com seu irmão mais velho, Michael Amott, que também toca no Spiritual Beggars).

The Lesser Faith veio a seguir, com desenhos de caveiras humanas se movendo no telão, da direita para a esquerda, mas com as mãos dispostas como os famosos macaquinhos que não vêem, não falam e não ouvem. A canção de Fiction (2007) manteve a atmosfera intensa do show, mesmo com a constatação de que o palco do Clash Club era pequeno demais para um conjunto de seis integrantes, tornando suas movimentações um verdadeiro desafio. Ela também trouxe a primeira interação de Mikael Stanne com a platéia, mesmo que discretamente por meio de um “Hey, hey, hey, hey”, estimulando a participação coletiva. Em seu final, o vocalista se dirigiu a todos, agora por meio de palavras: “Como vocês estão? Parece que faz uma eternidade. É bom estar de volta. Vocês têm o último álbum? Então conhecem esta aqui”, referindo-se a Atoma, faixa-título do trabalho em divulgação da banda, a primeira com trechos limpos no vocal, intercalados com as linhas mais agressivas de Mikael Stanne, causando resposta positiva do público, que sorria receptivamente. A reação não foi em vão, pois, em seu término, o vocalista agradeceu dizendo: “Vocês estão insanos”.

The Treason Wall voltou a acelerar o andamento da apresentação, começando com um espontâneo coro em “Ô, ô, ô” por parte da platéia, feito que surpreendeu Mikael Stanne. Além disso, trechos de sua letra, como os versos “I don’t believe” e “I won’t believe” eram projetados no telão. A canção possibilitou a Johan Reinholdz destacar-se um pouco mais, mostrando seu arsenal de riffs, mesmo que o solo tenha ficado a cargo de Christopher Amott, executando-o com primor. Em seu final, o vocalista saudou a todos, antes de introduzir The Science Of Noise como um tema voltado ao “pensamento crítico”, porém os vocais em alguns de seus trechos foram estranhamente engolidos pelo alto volume dos outros instrumentos, especialmente o do baixo. Forward Momentum trouxe o mais recente álbum de volta à pauta e seu começo foi puxado por Anders Iwers, posicionado um pouco mais à frente do restante da banda. Curioso notar que, como outro baixista que recentemente tocou em São Paulo, John Campbell do Lamb Of God, o músico do Dark Tranquillity parece ser muito mais velho do que seus colegas, em função de seus longos cabelos e barba, ambos grisalhos, mesmo tendo nascido apenas sete meses antes de Mikael Stanne, por exemplo, enquanto que John Campbell sequer é o mais velho do grupo de Richmond. Novamente iniciada por vocais limpos, a música simbolizou o momento mais melancólico da apresentação (no bom sentido), sentimento realçado pelo clipe oficial mostrado no telão, com o abraço de despedida no vídeo entre dois caronistas e o próprio vocalista, que, após novos elogios e agradecimentos, disse que fazia todo sentido estarem em São Paulo, local de origem de tantas grandes bandas, antes de apresentar Terminus (Where Death Is Most Alive) como uma música sobre Gotemburgo, sua cidade natal. Fãs pulavam e bangueavam, felizes da vida durante sua execução, com novo destaque para os riffs da dupla de guitarristas Reinholdz-Amott, assim como para um trecho da letra, que foi interessantemente alterado por Mikael Stanne: “This is a ghost town” virou “São Paulo, ghost town”.

Após brincar com os presentes dizendo que haviam reconhecido a música anterior, o frontman pediu silêncio antes de anunciar The Silence In Between e, transcorrida meia hora de show, notava-se que não havia nenhum outro microfone no palco, uma vez que toda a comunicação entre banda e platéia era feita pelo carismático vocalista, sem sequer haver backing vocals durante as canções. Devido ao fato de a música ser um pouco mais cadenciada, a galera na pista mais assistia do que participava cantando. Então o vocalista comentou que era estranho tocarem tão cedo, fez graça perguntando se mesmo assim todos estavam bebendo, afirmou que esta era a primeira vez que a formação atual do Dark Tranquillity se apresentava na América do Sul e anunciou The Mundane And The Magic. Com destaque para a forte presença dos teclados e para o magistral solo executado por Johan Reinholdz, a canção acabou sendo a mais ‘leve’ da noite (dentro dos padrões death metal melódico, evidentemente), foi muito bem recebida e teve os vocais de estúdio do dueto com Nell Sigland, do Theatre Of Tragedy, sendo feitos em playback. Em seguida, a banda tocou a diretíssima Final Resistance, faixa de abertura de Damage Done (2002), uma das mais curtas da noite, estranhamente não tocada no show de 2014, embora tenha constado no setlist de 2010, mantendo o pique da galera e voltando a acelerar o show.

Monochromatic Stains seria apresentada com a sugestão de “uma pequena volta ao passado”, por parte de Mikael Stanne, comentário um pouco estranho, uma vez que ela é do mesmo álbum da música anterior. Ela foi mais intensamente cantada pelos fãs, mostrando-se uma excelente escolha para iniciar a segunda metade do show, levando-se em conta a empolgada resposta da platéia e suas palmas no final. Após mais agradecimentos sinceros do entusiasmado frontman, a aceitação foi mantida com Wonders At Your Feet, a única de Haven (2000), que teve direito a um joinha de Johan Reinholdz na parte mais melódica da canção, antecipando o belo solo tocado pelo competente e discreto Christopher Amott, mais jovem membro da banda. Após efusivos aplausos, o vocalista tomou um gole de cerveja, perguntou se os presentes se sentiam bem, se estavam prontos e anunciou outra das antigas: White Noise / Black Silence, também pautada nos excelentes riffs de guitarra, e com “Darkness sound” surgindo de tempos em tempos no telão, quando o verso “Wishing darkness was sound” era cantado, além de imagens similares a átomos e sequenciamento de DNA. A atmosfera estava tão leve que um fã subiu nos ombros de um amigo e assim chegaram até a frente da pista para cumprimentar Mikael Stanne, que, como um verdadeiro gentleman, retribuiu o gesto, sem nenhuma intercorrência pelo caminho. Ao limpar o rosto suado, o educado vocalista, agradeceu soltando um “Sweet”, antes de informar que tocariam mais uma do mais recente álbum, Atoma (2016), agora a rapidíssima Encircled, completando uma hora de show e servindo para finalmente gerar a primeira roda na pista, somente na décima quarta música do set. Ao vivo, graças à ótima interpretação de Mikael Stanne, ela pareceu passar por cima de todos tal qual um rolo compressor, impressão amplificada pela claustrofóbica sensação de tormento causada pelos teclados de Martin Brändström (de novo, no melhor sentido) e pelas fortes e aceleradas batidas de Anders Jivarp. Tomara que ela sobreviva ao teste do tempo e permaneça sendo tocada nas futuras turnês.

Mais lenta se comparada a Encircled (pois qualquer coisa soaria assim) e quase oferecendo oportunidade de respiro para banda e público, Clearing Skies seria a última de Atoma no set, após nova e merecida golada de cerveja. Uma pena que suas linhas vocais, como em The Science Of Noise, tenham soado baixas demais em meio ao volume dos instrumentos. Após elogiar seu público, classificando-o como incrível, Mikael Stanne disse que tocariam mais algumas músicas, afirmando não tocarem Endtime Hearts há bastante tempo. Foi o único momento da apresentação que não emplacou, pois não causou muitas reações da platéia, mesmo que os fãs tenham apoiado e aplaudido no final. Evidentemente, toda canção de qualquer conjunto terá lá seus admiradores, mas pensando de modo mais geral, se incluí-la no show foi um experimento, talvez a banda deva repensar sua decisão para o sucesso do restante da turnê. Então o vocalista perguntou quem os havia visto no Clash Club em 2014 e estimou que os braços levantados correspondiam a um terço da audiência. Antes de tocarem a última antes do encore, Mikael Stanne apresentou seus pares, destacando os “novos membros no palco”: Johan Reinholdz, Anders Iwers e Christopher Amott. Então ThereIn, a mais antiga do set e única extraída de Projector (1999), foi tocada, com sensível diferença de volume entre as guitarras, com o som de Christopher Amott mais alto. Novamente, a canção teve palavras retiradas de seu refrão para o telão (“solid”, “everchanging” e “different”) e foi cantada em uníssono pela platéia, antes que Mikael Stanne se despedisse desejando a todos uma ótima noite e deixasse o palco. Claro que ninguém levou a sério, sabendo que mais estava por vir.

Para o encore, o Dark Tranquillity tocaria três músicas, sendo State Of Trust a primeira delas, porém sem que membro algum dissesse coisa alguma à platéia após voltarem ao palco. Com começo comovente, nova alternância de estilos nos vocais, e com o telão utilizado como complemento à apresentação, transbordando luzes, deu-se mais um bombardeio de belas imagens, porém difíceis de serem descritas por conterem figuras geométricas padronizadas, mas de formato indefinido desta vez. Ao terminarem, Mikael Stanne mostrou toda sua simpatia e carisma, pela enésima vez, sinceramente agradecendo o carinho recebido, dizendo que amava a todos (em meio a alguns palavrões fofos para melhor se expressar) e anunciou “algo antigo e rápido”: Through Smudged Lenses, a única de Character (2005) no show, provocando a segunda e última roda na pista e vários evil horns entre os fãs. Tanto em seu começo quanto em seu final, a lindíssima capa para a versão digipack do álbum aparecia no telão, mais apropriada do que a original menos escura e com outro desenho. Antes de mandarem a saideira, Mikael Stanne disse: “Puta merda! Muito obrigado por terem vindo aqui e nos apoiado. Esperamos voltar em breve”. E então o vocalista perguntou se alguém iria ao show no dia seguinte, referindo-se à apresentação em Limeira, no Bar da Montanha, e garantiu: “Isto não é um adeus, mas sim um até logo. Temos mais uma música chamada Misery’s Crown”, que fez a platéia toda pular, levando o frontman a cumprimentar novamente os fãs que estavam na primeira fila da pista enquanto o telão mostrava um lindíssimo céu noturno azulado e estrelado, entrecortado pelo verso de maior incidência do refrão: “Don’t bring it”, quando o mesmo era cantado. Sua execução aproximou os guitarristas, que juntos tocaram sua melodia final enquanto Mikael Stanne interagia com o público, despedindo-se ao término da música dizendo: “Muito obrigado. Vocês são espetaculares. Nos veremos em breve. Obrigado por nos receberem”, recebendo aplausos e sendo o último membro do Dark Tranquillity a deixar o palco, por volta das 21:05, enquanto o som ambiente tocava a versão de Push The Sky Away, do álbum Live From Kcrw, de Nick Cave & The Bad Seeds.

De fato, Misery’s Crown fechou a noite, assim como em 2014, sendo também a última das quatro que foi tocada nas três turnês da banda pela cidade, junto a ThereIn, The Wonders At Your Feet e Terminus (Where Death Is Most Alive), que encerrou o concerto de 2010. A lamentar apenas o ridículo neon vermelho disposto em arcos por quase toda a extensão do Clash Club, comprometendo a iluminação da apresentação, em especial do final azulado na derradeira canção, por mais que o site oficial da casa garanta se tratar de uma “iluminação de LED digital de última tecnologia”. No geral, a noite foi distribuída entre sete dos onze álbuns de estúdio da banda, com seqüência idêntica ao que seria tocado no Bar da Montanha, em Limeira, no dia seguinte. Por fim, foi curioso notar que havia dois ‘remendos’ no setlist recolhido ao término da apresentação e entregue por um roadie, constatando-se que: a) The Mundane And The Magic foi colocada em substituição a Pitiless; b) Final Resistance foi antecipada e tocada no lugar de What Only You Know (que, assim como Lost To Apathy, fez falta, pois seria o mais próximo de uma ‘balada’ incluída no show); c) e Endtime Hearts ocupou a vaga originalmente destinada a Final Resistance. Quanto ao show em si, sobrou simpatia em todos os integrantes, em especial, por parte do vocalista Mikael Stanne, que exalou carisma pelos poros, para a sorte dos presentes. Porém, quando bandas como o Dark Tranquillity rarearem a se apresentar por aqui, devido ao fraco comparecimento do público, os mesmos fãs que não foram ao Clash Club, mas estavam presentes nas turnês anteriores, serão os primeiros a sentir falta da banda.

 

Setlist

01) Force Of Hand

02) The Lesser Faith

03) Atoma

04) The Treason Wall

05) The Science Of Noise

06) Forward Momentum

07) Terminus (Where Death Is Most Alive)

08) The Silence In Between

09) The Mundane And The Magic

10) Final Resistance

11) Monochromatic Stains

12) The Wonders At Your Feet

13) White Noise / Black Silence

14) Encircled

15) Clearing Skies

16) Endtime Hearts

17) ThereIn

Encore

18) State Of Trust

19) Through Smudged Lenses

20) Misery’s Crown

 
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