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Ektomorf ::: 08/02/19::: Sesc Pompéia (Comedoria)
Postado em 05 de março de 2019 @ 16:13


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Agradecimentos: Sesc Pompéia

Ektomorf toma forma pela primeira vez no Brasil e materializa sua fúria no Sesc Pompéia

 De bate-pronto, o que você sabe sobre a Hungria? Se for fã de literatura, vai lembrar que a capital do país é título de romance de Chico Buarque; se manja de política, vai se recordar da Revolução de 1956 e de suas consequências no leste europeu; se for tarado por futebol vai imediatamente pensar na Copa do Mundo de 1954 e em Ferenc Puskás, o Major Galopante. E se nenhuma referência musical veio à mente, agora há o Ektomorf.

Só um fã mais hardcore de thrash (isso é possível?) conhecia a banda a fundo antes da confirmação das três datas no eixo Rio-São Paulo. E para os novatos, a pesquisa não deve ter sido fácil, pois o grupo inacreditavelmente “inexiste” no site Metal Archives e sua página oficial está fora do ar, ou melhor, redireciona a pesquisa ao Facebook dos húngaros. O mistério é tamanho que demorou para que os fãs reconhecessem Zoltán “Zoli” Farkas (guitarra de oito cordas e vocais) dando sopa na pista da Comedoria pouco antes de os shows se iniciarem. É claro que bastou um pedido de foto para que certa aglomeração se formasse e o atencioso Zoli atendesse a todos até que o serviço do Sesc anunciasse que tudo estava por começar e o único remanescente da formação original do Ektomorf puxasse o carro para não roubar a cena.

Pontualmente às 21:30, a curta intro que marcou a entrada do Lacerated And Carbonized continha sons caóticos e tipicamente familiares a nós brasileiros: rajadas de metralhadora e sirenes. E como ainda vivemos em uma democracia (sabe lá Deus até quando), o simples fato de a banda fazer metal extremo na terra do funk (o carioca, não aquele bom dos anos 70) já é louvável. A tática adotada por Jonathan Cruz (vocais), Caio Mendonça (guitarra), Paulo Doc (baixo) e Victor Mendonça (bateria) foi mandar logo as três primeiras de Core Of Disruption (2013), seguidas da trinca inicial de Narcohell (2016), cuja capa reproduzida no bandeirão de fundo decorava o palco. De cara, o mais impressionante foi a técnica e velocidade impostos por Victor, observado na lateral do palco pela audiência qualificada de Max Kolesne (Krisiun).

Disparos curtos – nenhuma das seis pedradas chegou sequer a três minutos – e, antes de Awake The Thirst, Jonathan deu o recado: “E aí, São Paulo, muito bom estar aqui de volta revendo velhos amigos e fazendo novos amigos. Estamos juntos, sempre”. Com o público ainda chegando, após Bangu 3 (misturando inglês e português), Paulo, que detonava nas cinco cordas e ainda ajudava nos backing vocals, pediu apoio e citou a barraquinha de merchan. O Ódio E O Caos seguiu misturando idiomas e abriu de vez a roda. BloodDawn soou levemente mais acelerada do que no álbum e após Severed Nation, Seeds Of Hate foi a primeira de Homicidal Rapture (2011) incluída no set, impressionantemente mais rápida ao vivo.

Decree Of Violence deveria ter sido a mais longa do set, mas talvez pela urgência do tempo, ao encorajar gritos de “Hey, hey, hey”, Jonathan deixou o palco para que ela começasse em sua parte instrumental do meio (por volta de 2’30” em estúdio). Hell De Janeiro foi a única exclusivamente em nosso idioma e, com seu gingado brazuca, não lembra Sepulnation de leve? Ao garantir que a próxima vinda do grupo a São Paulo seria com disco novo, como saideira, o vocalista anunciou outra do play de estreia: Mundane Curse. System Torn Apart constava no setlist fixado no chão do palco e seria a penúltima, mas não foi tocada. E depois de quarenta minutos de música extrema nacional, a banda deixou os fãs com inusitado tema rolando na área: Extraction Point, uma das dezessete faixas compostas por Hans Zimmer e Lorne Balfe para Call Of Duty – Modern Warfare 2. Saída de cena tão bélica e apoteótica quanto a entrada e enfim foi possível respirar um pouco antes de outro rolo-compressor tomar forma na casa.

Em entrevistas, Zoli já afirmou que sua maior influência metal é James Hetfield, que seu artista favorito é Johnny Cash, mas não tem jeito: as maiores semelhanças de sonoridade em Fury seguem sendo Soulfly e Sepultura da fase Chaos A.D. e Roots, com pitadas de Texas Hippie Coalition nas guitarras (ouça Pissed Off And Mad About It) e Machine Head (não à toa, a camiseta usada em São Paulo era da banda, com um ‘Fuck It All’ estampado). Às 22:30, o Ektomorf veio ao palco com um pedido do vocalista: “São Paulo, façam barulho! A hora chegou: The Prophet Of Doom”, já abrindo uma roda insana de imediato. Uma pena o som estar embolado, principalmente para vocal e as guitarras, ouvindo-se majoritariamente a bateria.

Completando o time, os novos membros Simon Szebasztián (guitarra de oito cordas), Csaba Zahorán (baixo) e Dániel Szabó (bateria) ajudavam a despejar a raiva do grupo de Mezökovácsháza (boa sorte ao tentar pronunciar). Com microfone erguido como Max Cavalera, que, por sua vez, homenageia o eterno Lemmy, Zoli chamou AK 47, outra porrada, e após soltar um “Obrigado”, em português mesmo, perguntou se todos estavam prontos e foi objetivo: “Quero ver todos no recinto pulando até o teto: Fury is my name” (exceto pelas brasilidades de Tribe, do Soulfly, elas não possuem certo parentesco?). A galera correspondeu, pulou e Bullet In Your Head veio colada, mais rápida ao vivo, mas sem a proeminência do baixo. Ao ouvir-se o riff inicial de Faith And Strength, com Zoli pedindo por pulos até o céu, ficou claro que a estratégia do Lacerated And Carbonized em tocar músicas seguidas dos mesmos álbuns também foi adotada pelo Ektomorf, mas em outro patamar, com Fury na íntegra, mesmo que o setlist colado no chão do palco trouxesse as faixas com algumas inversões de ordem.

Sem bandeirão, mas com uma câmera fixada atrás de Dániel, o massacre prosseguiu com Infernal Warfare, sob obrigatórias luzes vermelhas, e Tears Of Christ (e seu quê de Procreation Of The Wicked), após o vocalista perguntar como todos estavam e afirmar: “É nossa primeira vez no continente, na cidade. Estou muito feliz e muito obrigado a vocês que vieram aqui hoje”, com pedido por evil horns. Blood For Blood veio emendada, trouxe sutil melhor ajuste no som das guitarras e contou com a colaboração de Simon e Csaba nos vocais de apoio ao cantar o título. Repleta de riffs cortantes, If You’re Willing To Die lembrou Endangered Species e o arregaço Skin Them Alive fechou Fury em trinta e cinco furiosos minutos.

Sem dar tempo para recolher os destroços, Holocaust trouxe Aggressor (2015) para o set e teria sido enriquecedor registrar como Zoli a apresentou, porém, pelo fato de seu microfone seguir com o som embolado, só foi possível constatar a adaptação da letra, de “It was the time” a “deportation”, trocando “them” por “us” em “they’ve segregated all of them” (vale a pena conferir seu clipe, com belo e curto depoimento de uma sobrevivente e tristes imagens de um campo de concentração). De Destroy (2004), I Know Them, em versão mais poderosa, trouxe uma rápida pausa no meio para Zoli pedir por mais barulho, pela enésima vez. Enquanto isso, não é que um fã mirim pulou do palco em sua execução? Sim, uma criança, devidamente protegida com fones de ouvido, se divertindo e talvez fazendo seu primeiro stage diving!

Dando rara oportunidade para os fãs respirarem, Zoli deu uma breve parada e a galera bradou por You Can’t Control Me, faixa inicial de Retribution (2014), mas ele desconversou elogiando a postura da galera: “Vocês são sensacionais. Bem, essa é nossa primeira vez aqui e tem sido realmente espetacular. Do fundo do meu coração, São Paulo, muito obrigado!”. Então brincou ao analisar a seguinte: “Estão prontos para uma música bem zoada? Prontos para uma sobre satã? Vocês são metalheads, então vocês acreditam no diabo e em satã, não? Evil By Nature”, com Max (Kolesne, não o Cavalera) ainda prestigiando o show na lateral do palco. Exigindo maior participação, no meio do petardo, Zoli cravou que havia chegado a hora do circle pit, atendido após sua contagem de um a quatro, em nossa língua.

Do álbum homônimo, Black Flag veio a seguir, após o frontman pedir para que cantassem com ele a faixa “sobre uma bandeira que representa todos nós na porra da sociedade. Se você é ou pensa diferente, não dê a mínima e seja você mesmo. E foda-se essa sociedade de merda, tão ignorante”. Antes de deixar o palco, Zoli checou se todos ainda estavam vivos e anunciou a não menos intensa e mais curta do set, I Choke, de Outcast (2006), seguida da faixa-título, “sobre nunca se esquecer de escutar seu coração, assim você nunca estará sozinho”.

No rápido intervalo para o encore, repetiram-se os gritos por You Can’t Control Me, agora misturados a Set Me Free, a primeira de Instinct (2005), mas nenhuma das duas foi escolhida para o retorno, e sim Aggressor, após explicação do vocalista: “Só temos mais uma música porque o local está para fechar, mas devo dizer que agradecemos a presença de todos vocês aqui hoje. Mantenham viva a música pesada”. Encerrando os pronunciamentos: “Somos o Ektomorf, da Hungria, e amamos vocês. Nós nos vemos na próxima. Adeus e muito obrigado”.

Justificando a escolha de Johnny Cash como artista predileto de Zoli, The Man Comes Around rolava no som ambiente durante as despedidas e os fãs puxavam o carro às 23:40, na correria para tomar a condução ou dirigir mesmo. E assim se deu a passagem do Ektomorf por São Paulo, não mais um desconhecido do público metal, que agora sabe um pouco mais sobre a Hungria. E para quem seguir de cabeça aberta, em breve haverá mais shows interessantes no acessível circuito Sesc: The Stupids, para os fãs de punk (dia 01/03, Sesc Consolação) e duas datas do Nuclear Assault (provavelmente dias 25 e 26/04, ainda sem confirmação da unidade).

 

Setlists

Lacerated And Carbonized

01) L.A.C.

02) Third World Slavery

03) Awake The Thirst

04) Spawned In Rage

05) NarcoHell

06) Bangu 3

07) O Ódio E O Caos

08) BloodDawn

09) Severed Nation

10) Seeds Of Hate

11) Decree Of Violence

12) Hell De Janeiro

13) Mundane Curse

 

Ektomorf

01) Prophet Of Doom

02) AK 47

03) Fury

04) Bullet In Your Head

05) Faith And Strength

06) Infernal Warfare

07) Tears Of Christ

08) Blood For Blood

09) If You’re Willing To Die

10) Skin Them Alive

11) Holocaust

12) I Know Them

13) Evil By Nature

14) Black Flag

15) I Choke

16) Outcast

Encore

17) Aggressor

 
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