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Flogging Molly ::: 06/10/18 ::: Carioca Club
Postado em 20 de outubro de 2018 @ 11:02


Fotos: Fernando Yokota

Texto: Vagner Mastropaulo

Agradecimentos: Costábile Salzano & Liberation (Marcos e Simone)

No pleito punk-celta, é Flogging Molly na cabeça! E não apenas nos pubs irlandeses…

Diferenças partidárias à parte, quem votou no Flogging Molly como opção de lazer para o final de semana do pleito presidencial viu um fortíssimo candidato a show do ano nas futuras eleições das revistas e sites especializados. Com boinas e camisetas verdes aqui e acolá, artefatos remetendo à Irlanda e o público em busca de festa, o hepteto irlandês-americano abarrotou o Carioca Club, sem exagero algum, e fez a alegria de um levante apaixonado sem sequer precisar de boca-de urna!

Abrindo o baile, o Rebels And Sinners veio ao palco dois minutos antes das 19:00 e fez set arrebatador de trinta minutos e sete músicas, deixando a galera com gosto de quero mais. E se você acha que os fãs entraram apenas para ver a atração principal, ledo engano… Em decisão acertada, prestigiaram o conjunto de Campinas formado por Fernanda Pfaffenbach (vocais e violino), Renato “Gordo” dos Santos (vocais e violão), Jonathas Peschiera (baixo), Felipi Silva (guitarra) e Gabriel Vaccari (bateria). Após sucinto “Boa noite, senhoras e senhoras!” de Renato, a instrumental Julia Delaney abriu a apresentação de modo tradicionalmente irlandês, emendada a duas de Day’s Just Begun, álbum de estreia do quinteto, lançado em maio de 2017: ‘Til The Bottle Strikes Me Dead e uma sensacional versão folk para Poison Heart! Com o jogo ganho após o cover do Ramones, Gordo (que por sinal é até magro) fez novas saudações: “Boa noite, São Paulo! Nós somos o Rebels And Sinners, de irish punk e música tradicional irlandesa. É uma honra estar aqui abrindo o show de nossa maior influência, o Flogging Molly, e é isso aí!”.

Follow Me Up To Carlow voltou a trazer ares irlandeses e foi seguida por mais duas de Day’s Just Begun: Mother Tree, que, segundo o vocalista, “mostra um pouquinho de nossas influências mais celtas” e outro cover, Zombie (The Cranberries), em aplaudidíssima interpretação de Fernanda. Perto do final do set, Renato discursou: “A gente está tocando hoje em um dia muito simbólico, afinal, amanhã é o dia em que a gente vai para a urna depositar nossa confiança em mais quatro anos de sei lá o que está por vir. Vamos tocar agora uma música que não é da Irlanda e nem nossa, mas que, assim como o repertório irlandês, traz carregado em suas letras um protesto feito por vizinhos na Europa que absorveram a música folk na época em que o fascismo começava a criar asas na Itália. Temos certeza que vocês a conhecem e não precisamos dizer mais nada. Amanhã, ele não!”, obtendo urros de aprovação antes de outra cantada pela vocalista, Bella Ciao, famosa por ser um hino da resistência a Mussolini e por ser entoada em momentos-chaves de La Casa De Papel.

Finalizando o ótimo show do Rebels And Sinners, a faixa-título Day’s Just Begun, “sobre sempre resistir, não importando a pressão que você sofra da sociedade, política ou religião. Sempre seja você mesmo”, como explicou Renato, que a cantou. Mais punk, impossível! Uma pena não terem tido tempo de fechar com The Devil Went Down To Georgia, da Charlie Daniels Band, retirada do set, assim como Sam Song, que não veio entre Mother Tree e Zombie. Após apresentação dos integrantes, o conjunto partiu agradecido, garantindo vários votos para seu futuro.

Pontualmente às 20 horas, como verdadeiro hino de batalha, There’s Nothing Left Part 1 veio forte como intro, enquanto os músicos do Flogging Molly ocupavam seus postos: Dave King (vocais, e violão), Bridget Regan (violino, rabeca e tin whistle), Dennis Casey (guitarra), Nathen Maxwell (baixo), Matt Hensley (acordeão, concertina e teclados) e Mike Alonso (bateria). Até que se prove o contrário, houve a abstenção, sem justificativa (ao menos em São Paulo), de Bob Schmidt e suas partes de banjo foram feitas por Spencer Swain, técnico de guitarra. Aclamados no primeiro turno, ops… já na primeira música, (No More) Paddy’s Lament explodiu a casa, pondo todos a pular, cantar e dançar. E a mistura de festa de São Patrício com ‘tira o pé do chão’ seguiu em The Hand Of John L. Sullivan, após o ex-vocalista do Fastway (junto do ex-Motörhead “Fast” Eddie Clarke nas guitarras e do ex-UFO Pete Way no baixo) pedir para que todos levantassem as mãos, percorrer o palco de lado a lado, ato que incendiou os fãs do gargarejo, e reger a coreografia de braços.

Então o simpático irlandês abriu a caixa de ironias, em ato de dar inveja a qualquer candidato, mas esbanjando bom humor ao soltar um “Saúde”, em português claro, e continuar: “Devo dizer que esta é provavelmente a cerveja brasileira mais gostosa que experimentei até agora!”, ao erguer um latão de Guiness… e demonstrando populismo, prosseguiu: “Hoje conheci dois simpáticos senhores que estiveram em Curitiba ontem e eu havia dito que lhes daria uma lata de Guiness. Sláinte!”. Cumprida a promessa de campanha, Dave apresentou Spencer Swain, que puxou o começo do banjo de Drunken Lullabies, favorita das pesquisas e cantada em uníssono. Carismático, o cantor pediu para que todos brindassem e dissessem um olá “para a amável banda que tocou antes de nós. Posso vê-los lá no fundo”, sob aplausos, antes de The Likes Of You Again, emendada a Swagger, outra eleita pela animação proporcionada e, a esta altura, já não se sabia quem se divertia mais: os músicos vendo a reação popular ou os fãs em resposta à canção. Empate técnico!

Depois de elogiar o modo como o público brasileiro cantava, o canhoto Dave esclareceu: “estamos misturando músicas antigas, novas e outras que não tocávamos há anos”, antes de The Days We’ve Yet To Meet, cantada por Nathen. Requiem For A Dying Song trouxe Spencer de volta ao banjo e o animado cantor seguiu brincando: “Como dizemos na Irlanda” e, em português mesmo: “Obrigado”, antes de continuar: “Gosto de dizer ‘Obrigado’. Tem uma sonoridade tão agradável” e, tendencioso, cravar: “Gostaria de apresentá-los à mais bonita de todas, a única e minha linda esposa Bridget Regan”, que tocou seu tin whistle em Life In A Tenement Square.

E chegara a hora de Dave fazer seu discurso discretamente politizado: “Eu sei que amanhã é um grande dia para vocês. Esta é uma canção sobre falar coletivamente e ser positivo, pois está mais e mais difícil agir assim atualmente: Float”, aos gritos de “Ele não! Ele não! Ele não!” e luzes verdes e amarelas no palco que não podem ter sido mera coincidência. Ao seu término, Dave vaticinou: “Sem sombra de dúvida, esta foi a melhor cantoria que já tivemos para esta música”, e antes de The Spoken Wheel, explicou que “gostaria de tocar uma sobre meu pai e meu filho, que nunca chegaram a se conhecer, pois meu pai morreu há muitos anos”. Emotiva, ela foi emendada à longa Black Friday Rule, um autêntico ‘voto-salada’, pois contou com: uma bela jam apenas entre Dennis Casey e o “trem Mike Alonso”, conforme citado pelo vocalista; um snippet de It’s A Long Way To Tipperary misturado aos gritos de “Olê, olê, olê, olé … Molly, Molly” da galera; e Dave em posse de seu bodhrán já para o seu final.

Mantendo o ‘momento família’ e provocando gargalhadas, Dave dedicou Life Is Good à sua mãe, “a Sra. Ellen King, falecida há pouco mais de dois anos, que, estando lá em cima, ou lá embaixo, está tomando uma…”, para seriamente prosseguir: “Digo para vocês que o maior conselho que ela deu a mim e a Bridget em seu leito de morte foi: ‘Façam-me um favor e curtam-se’”. Após seu final, pediu um brinde à Dona Ellen, que “quando eu era um jovem garoto, me fez ser coroinha”, para então puxar o reinício da festa em forma de Rebels Of The Sacred Heart, outra com Bridget na flauta, assim como Devil’s Dance Floor, com esperadas luzes vermelhas, e com direito a um evil horn de Dave, que ainda mandou um: “I’m on a highway to hell”, homenageando o AC/DC. Ressaltando a experiência no país (em São Paulo e Curitiba, e citando o Rio de Janeiro, onde tocariam no dia seguinte) e dedicando a próxima a todos os presentes, If I Ever Leave This World Alive foi cantada a plenos pulmões, assim como What’s Left Of The Flag, em começo quase acústico até virar uma locomotiva. Fechando a parte pré-encore, The Seven Deadly Sins reconvocou Spencer e seu banjo ao palco, precedida por novos e sutis gritos de “Ele não!”.

Com o retorno de seus companheiros, Dave cantarolou versos de Getting To Know You, (imortalizada na voz de Julie Andrews), agradeceu “por uma noite absolutamente fantástica, do fundo do meu coração” e anunciou Crushed (Hostile Nations), para a qual o “clima era dançar”, entrecortada por duas homenagens ao encaixar trechos de Respect e Think, “de uma linda senhora que perdemos semanas atrás” e We Will Rock You, indo “da rainha do soul à maior Rainha de todas”. Finalizando o set, em sua enésima demonstração de respeito, Dave fez dois pedidos: uma salva de palmas “para o incrível grupo de pessoas que, todo santo dia, quase sem dormir, mantém esse time funcionando: a nossa maravilhosa equipe”; e para que “até que nós do Flogging Molly vejamos vocês, lindas pessoas, novamente, por favor, cuidem-se”, antes de puxar Salty Dog e, também pela enésima vez na noite, a festa recomeçar, agora de forma derradeira. Ao som de Always Look On The Bright Side Of Life, do Monty Python, Dave tirou Mike para dançar enquanto seus colegas saudavam os fãs, distribuíam palhetas e partiam após uma hora e quarenta minutos de show. Espera-se que não demorem até a próxima eleição presidencial para retonar, muito menos os seis anos entre a estréia na cidade (em novembro de 2012 no extinto e saudoso Via Funchal) e o regresso de agora, pois, no pleito do Carioca deu Flogging Molly na cabeça. Eles, sim! Sempre!

 

Setlists

Rebels And Sinners

01) Julia Delaney

02) ‘Til The Bottle Strikes Me Dead

03) Poison Heart [Ramones Cover]

04) Follow Me Up To Carlow

05) Mother Tree

06) Zombie [The Cranberries Cover]

07) Bella Ciao

08) Day’s Just Begun

 

Flogging Molly

There’s Nothing Left Part 1 [utilizada como Intro]

01) (No More) Paddy’s Lament

02) The Hand Of John L. Sullivan

03) Drunken Lullabies

04) The Likes Of You Again

05) Swagger

06) The Days We’ve Yet To Meet

07) Requiem For A Dying Song

08) Life In A Tenement Square

09) Float

10) The Spoken Wheel

11) Black Friday Rule

12) Life Is Good

13) Rebels Of The Sacred Heart

14) Devil’s Dance Floor

15) If I Ever Leave This World Alive

16) What’s Left Of The Flag

17) The Seven Deadly Sins

Encore

18) Crushed (Hostile Nations)

19) Salty Dog

Always Look On The Bright Side Of Life [Monty Python – utilizada como Outro]

 
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