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HAVOK + NERVOSA ::: 15/06/18 ::: ESPAÇO 555 / SP
Postado em 24 de junho de 2018 @ 20:00


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Bárbara Martins

Agradecimentos: Rodrigo (Line Up Shows)

Formado em 2004, divulgando Conformicide (de 03/17), e promovendo a Conformicide Latin American Tour, com 18 datas em junho passando por 11 países em 24 dias, o Havok inaugurou a perna brasileira da turnê no Espaço 555 em São Paulo, dia 15/06. No dia seguinte tocariam no Estelita Bar, em Recife, e dia 17 no Stonehenge Bar, em Belo Horizonte, com a Nervosa se apresentando antes nas três noites. Note: não ‘abrindo as noites’, pois o nível alcançado pelo trio nacional atualmente é tão alto que não seria justo citá-las como mera ‘banda de abertura’.

A casa estava com lotação mediana quando a intro de Downfall To Mankind começou a rolar às 20:25, antes de Fernanda Lira (baixo e vocal), Prika Amaral (guitarra) e Luana Dametto pisarem no palco e detonarem com Horrordome, que abre seu mais recente álbum, seguida de …And Justice For Whom?. Infelizmente, o vocal de Fernanda estava praticamente inaudível até então, assim como o som vindo da caixa de Luana, embolado, mas nada disso impediu o surgimento da primeira roda da noite. Saudando todos em um gutural de respeito, Fernanda deu o recado: “Boa noite, São Paulo! Como vocês estão, porra?”, para então prosseguir, agora com sua voz normal: “É sempre uma honra tocar em casa. Valeu demais por estarem aqui hoje. E uma honra maior ainda fazermos o primeiro show de lançamento do disco novo aqui em casa. Muito obrigada!”, antes de anunciar Bleeding, que escancarou as habilidades de Luana, simplesmente detonando ao executá-la.

Saindo da trinca inaugural de músicas novas, antes de descrever a próxima como “uma velha, que fala de morte”, Fernanda, extremamente bem-humorada, continuou a festa: “Um brinde a vocês, que são muito lindos aqui, né? Cadê os copinhos? Ninguém bebendo? Ai, como vocês são saudáveis, gente!”, obtendo uma enxurrada de copos erguidos em resposta. A pausa em Downfall Of Makind só durou em Death mesmo, com Enslave vindo a seguir e funcionando muito bem ao vivo, logo de imediato, apresentada pela frontwoman de modo objetivo e engraçado: “Essa próxima fala sobre o maior problema que tem no planeta Terra: nós! O planeta estava bonitinho, funcionando. Chegou a gente aqui pra desgraçar e pra causar. Então essa é sobre a gente, no lado negativo”. Ao seu término, a vocalista identificou Marcão, do Claustrofobia, na pista e agradeceu pela presença de todos os amigos de bandas na casa. Dando prosseguimento à pancadaria, a galera passou a mostrar apoio incondicional com uma roda insana em Hostages, introduzida de maneira singela: “Quem aqui nunca tomou no cu na fila de um hospital que atire a primeira pedra, né? É sobre isso que fala nossa próxima música: o nosso sistema de saúde que é, olha, uma bosta!”.

Foi curioso vê-la tocando de modo similar a Steve Harris, dobrando a perna e apoiando instrumento sobre ela, em Masked Betrayer, a mais antiga do set, primeiro single e parte do EP Time Of Death (2012). Se, por um lado, a caixa de Luana seguia baixa, por outro, o timing acelerado de seus blast beats comandou a roda em Never Forget, Never Repeat. Fernanda explicou-a melhor: “Como eu estava dizendo em outra faixa, a gente veio pra Terra pra causar, né? E aí, cara, a gente fez um monte de merda pelo caminho: escravidão, Holocausto, essa porra toda. E, no final, a gente não aprende com as merdas que a gente faz e vem uma galera com umas idéias muito loucas em pleno 2018. Essa é pra dar uma lembradinha, em nome de todos que morreram injustamente na história da humanidade”. Um verdadeiro rolo compressor com o lindo e longo grito terminal de Fernanda, que ainda alertou sobre os impressionantes 320 bpms da música! Bastará a galera assimilá-la por completo para se tornar obrigatória no futuro! Finalizando a primeira entrada, Vultures foi assim descrita: “Esta é para aquela galerinha que passa por um acidente e dá uma freadinha pra olhar o morto, vê vídeo de gente morta, essas coisas. Vamos parar, né, gente? Porra!”.

Com o trio fora do palco, vieram, no som ambiente, os discursos introdutórios de Raise Your Fist!, um futuro hino. Arrogance foi outra música em que Luana simplesmente destruiu! Antes de Kill The Silence, com a casa já praticamente tomada, a própria líder da Nervosa se assustou e brincou: “Caraca, tá meio que já no fim do set. Passou rápido, né? Vamos fazer o quiz do metal: agora o nosso mais recente vídeo clipe. Alguém aí lembra o nome?” Ao terminarem, Fernanda apresentou suas companheiras, com menção especial à “responsável por desgraçar tudo no disco novo”: Luana Dametto, que fez um mini-solo e manda ver tão bem ao vivo que deveria ser rebatizada como: ‘Luana Dá Medo’ (como toca essa menina!!). Fear, Violence And Massacre abriu a enésima roda da noite; Intolerance Means War foi dita ser “sobre a pior bosta que tem”; e Into Moshpit terminou de arregaçar tudo de uma vez com Fernanda agradecendo a presença de familiares, amigos e fãs (“sem vocês a cena metal não é porra nenhuma”), explicando que a canção era “sobre duas das coisas mais lindas que existem: thrash metal e mosh pit”. Zoando, prosseguiu: “Então vamos lá! Eu ia falar: ‘Abre a roda’, mas ia ficar um pouco sem graça”. Mensagem captada, show de inesquecíveis setenta minutos finalizado, passando tão rapidamente quanto as músicas da Nervosa.

Então veio o maior problema da noite: entre a saída das meninas e o começo efetivo da apresentação do Havok (regressando à cidade após estréia em 03/14 no saudoso Hangar 110), passou-se uma hora, com os próprios integrantes do quarteto fazendo todos os ajustes e improvisando uma interminável passagem de som, fato que trouxe prejuízos à parte final de seu set, uma vez que havia um horário limite para que tudo se encerrasse. Alheios a todos esses detalhes, os pacientes fãs aguardaram a banda sair do palco e retornar, de bate-pronto, às 22:30, com o efeito surpresa totalmente diluído. Mesmo assim, David Sanchez (vocais e guitarra), Reece Scruggs (guitarra), Nick Schendzielos (baixo) e Pete Webber (bateria) voltaram insanos, com o vocalista já falando em mosh pit e wall of death, dando instruções, com ressalvas, para que todos se divertissem sem contusões e uma roda imensa foi aberta de cara, matando a pau ao som de Fatal Intervention.

Hang’Em High manteria o pique da remada com Nick Schendzielos puxando seu começo, até que um fã mais afoito subiu ao palco, cantou um trecho da letra e fez um stage diving. Aberta a porteira, outro fã resolveu se aventurar, enlouquecendo o pobre roadie que tentava por ordem na casa. O nível se manteve com Prepare For Attack explodindo a roda, reconhecida pelos fãs já nas primeiras batidas de Pete Webber. A introdução dedilhada de F.P.C. traria respiro de alguns míseros segundos, com trechos mais dançantes e swingados (que lembraram os bons tempos do Infectious Grooves) em um show que só contava com os músicos, seus instrumentos, os fãs e um bandeirão simples do conjunto pendurado atrás da bateria (repetindo o procedimento adotado pela Nervosa). Out Of My Way conservou o padrão de alternância entre canções de Time Is Up (2011) e Conformicide e sua bateria acelerada foi a senha para mais uma roda apavorante com os músicos detonando. Então ficou claro o porquê do exagero ao passar o som, pois todos os instrumentos soavam perfeitamente equalizados, podendo-se ouvir, inclusive, o baixo, em meio a riffs alucinantes, pancadas na bateria e o vocal esganiçado de David Sanchez, como nos álbuns (não seria absurdo apontar Bobby Blitz como influência) e em total harmonia com a proposta massacrante do grupo.

Covering Fire deixou a roda violenta (mesmo!), algo que não intimidou as garotas que entraram na brincadeira, e Point Of No Return, do EP homônimo (2012), seria o próximo petardo, não abalado nem com a sutil queda no som da guitarra de Reece Scruggs. Você se lembra daquele primeiro fã a dar o ar da graça? Ele voltou a roubar a cena, agora em um crowd surfing na pista, conduzido até o palco, de onde fez novo stage diving (haja coragem!). Antes de Ingsoc, ouviu-se um trecho conhecido como Final Warning, retirado de Orwell: A Life In Pictures, documentário da BBC sobre o escritor inglês, autor de 1984 e A Revolução Dos Bichos: “In our world there will be no emotions except fear, rage, triumph, and self-abasement (…) There will be no loyalty, except loyalty to the Party, but always there will be the intoxication of power. Always, at every moment, there will be the thrill of victory, the sensation of trampling on an enemy who is helpless. If you want a picture of the future, imagine a boot stamping on a human face – forever. The moral to be drawn from this dangerous nightmare situation is a simple one. Don’t let it happen. It depends on you”. A faixa foi reproduzida a contento, até em suas partes mais elaboradas, e contou com mais uma participação especial do efusivo fã maluco de antes, agora arriscando uma dancinha na pista e tomando um chão.

Unnatural Selection foi a única do álbum homônimo (2013), seguida por outro arregaço: From The Cradle To The Grave (tão autoral quanto a faixa-título do EP Point Of No Return, que ainda traz covers de Arise, do Sepultura, e Postmortem/Raining Blood, do Slayer), precedida pelo segundo momento de interação de David Sanchez com a platéia, primeiro em português: “Obrigado, São Paulo”, e depois em inglês mesmo: “Muito obrigado por virem ao show hoje. Estamos felizes em estar aqui com as garotas do Nervosa. Estamos em turnê com elas por alguns dias. Não trouxemos camisetas, então comprem as delas”. Então o vocalista anunciou que Pete Webber faria o início da faixa. Finalizando a noite, Intention To Deceive teve a mesma introdução ouvida em Conformiced, contou com as únicas palavras de Reece Scruggs ao público: “Beleza, São Paulo! Quero ver vocês bangueando as cabeças e quebrando os pescoços”, e teve outro wall of death. Ao seu término, o frontman fez a apresentação: “Somos o Havok, de Denver, Colorado. Muito obrigado por virem ao show. Comprem o merchan da outra banda. Nos veremos novamente com um novo álbum. Boa noite!”. E assim se encerrou o curto set de uma hora do conjunto, deixando gosto de quero mais e ar de algo inacabado. Subitamente, Get Down On It, do Kool & The Gang surgiu no som ambiente enquanto os músicos se despediam e aquele mesmo fã de outrora dava outro show na pista, mostrando versatilidade e arriscando seus próprios passos ao som da banda disco americana.

Como saldo para a noite, dois verdadeiros atropelos, com respeito do começou ao final do evento: não se ouviu qualquer menção sexista às meninas da Nervosa e ninguém reclamou enquanto o Havok afinava os instrumentos em pleno palco. Também não houve descontentamento com a retirada das duas possíveis músicas que encerrariam seu show: D.O.A. e Time Is Up, limadas em função do toque de recolher da casa. A impressão que se teve foi que a banda tinha intenção de tocá-las, contando com alguma tolerância de atraso, mas ficou para a próxima… Em suma, a Nervosa fez um show nervoso, no melhor sentido, e o Havok entregou o que prometia em seu próprio perfil do Facebook, tocando seu “fast heavy metal” ou “Colorado thrash metal”. Noite memorável!!

 

Setlists

Nervosa

01) Intro [do álbum Downfall Of Mankind]

02) Horrordome

03) …And Justice For Whom?

04) Bleeding

05) Death

06) Enslave

07) Hostages

08) Masked Betrayer

09) Never Forget, Never Repeat

10) Vultures

11) Raise Your Fist!

12) Arrogance

13) Kill The Silence

14) Fear, Violence And Massacre

15) Intolerance Means War

16) Into Moshpit

 

Havok

01) Fatal Intervention

02) Hang’Em High

03) Prepare For Attack

04) F.P.C.

05) Out Of My Way

06) Covering Fire

07) Point Of No Return

08) Ingsoc

09) Unnatural Selection

10) From The Cradle To The Grave

11) Intention To Deceive

 
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