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Killing Joke ::: 23/09/18 ::: Carioca Club
Postado em 29 de setembro de 2018 @ 00:36


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

E quem foi que disse que piada velha não tem graça?

Killing Joke no Brasil? Agora, após 40 anos? Parecia até piada… mas antes tarde do que nunca! E pode ter certeza que muitos dos que foram assistir ao grupo londrino no Carioca Club, em data única no país, não tinham mais esperanças de um dia vê-los aqui, muito menos com a formação original: Jeremy ‘Jaz’ Coleman (vocais), Kevin ‘Geordie’ Walker (guitarra), Martin ‘Youth’ Glover (baixo), ‘Big’ Paul Ferguson (bateria), com a adição andrógina de Reza Uhdin (teclados), sem apelido, mas no conjunto desde 2005. Como nem tudo é alegria, foi uma pena a apresentação do quinteto rolar na mesma noite em que outros três shows dividiam os fãs em São Paulo, ainda que os públicos não fossem necessariamente os mesmos: Shaman (na Audio, em show extra da reunião); Marduk (Manifesto); e Nervosa/Destruction (Espaço 555). Assim, aquele fanático que curte de tudo foi forçado a escolher (sem contar a imprensa especializada pulverizada para cobrir tantos eventos).

Sem banda de abertura, o show começou com toleráveis dez minutos de atraso, às 19:10, com Love Like Blood e Jaz aclamado ao pisar no palco de braços abertos, vestindo um macacão estilo frentista, com seu nome costurado no peito, do lado esquerdo e uma aranha nas costas. Ao seu término, saudou os fãs que enchiam a casa, sem lotá-la: “Bem, é nossa primeira vez no Brasil! Ouvi muito sobre vocês. Estamos muito felizes!”. Após a dançante European Super State, o vocalista agradeceu e indicou o que viria, na primeira de uma série de associações inteligentes de cunho político que pautariam a noite: “Não há mais liberdade. E liberdade é a coisa mais linda no mundo. Este é um local livre. Esta é uma Autonomous Zone”.

Antes de Eighties, cantada pela galera, um empolgado fã destacou a atual semelhança física entre Jaz e outro vocalista (talvez pelo corte de cabelo do inglês), ao gritar: “Vai, Alice Cooper!”, despertando risos em quem o cercava. E prosseguiam as dicas sobre o setlist, para quem captasse: “Bem, vocês sabem, há uma nova guerra fria. Há tanta interferência na política brasileira. Uma nova guerra fria começou, uma guerra por recursos. Ela quer todas suas árvores, seus minerais e riquezas e está vindo para o Brasil. New Cold War!”. Após a canção de Pylon (o mais recente lançamento), como em um túnel do tempo, partimos de 2015 para 1980, ao som de Requiem, e pela década de 80 ficamos com Follow The Leaders, após o vocalista ironizar, sem perder a seriedade: “Vocês curtiram as eleições americanas? Eu não quero uma porra de nova ordem mundial. Eu gosto de diversidade”. E aí saltou aos olhos (ou aos ouvidos) a variedade de estilos no som dos caras, com definições encontradas pela internet indo do New Wave ao Post Punk, passando pelo Gothic Rock. Certamente a faixa retirada de What’s THIS For…! tem um pé no que depois seria batizado metal industrial.

Em Bloodsport, a versatilidade performática de Jaz ganhou, de vez, ares teatrais à la Tia Alice, com a manifestações para o público reagir e fazer barulho, até obter um “Hey, hey, hey, hey” da massa depois das provocações. Diferente da versão instrumental de estúdio, menos cantando e mais falando, o vocalista arriscou verbalizar sentenças como: “Às vezes eu odeio, odeio tanto que eu quero matar. Há escuridão na alma das pessoas” em seu começo, e por aí foi até Jaz mostrar conhecimento da causa ecológica antes de Butcher: “Quando ouço que estão pondo abaixo lindas florestas do tamanho de Portugal, a cada ano, aqui neste país, isso me parte o coração. Vocês me entendem? Penso nas florestas todos os dias”. E dobrando a metade do espetáculo, após agradecer, o cantor garantiu que “a próxima nós escrevemos sobre 9/11. Ela se chama Loose Cannon”. Dando prosseguimento à festa, ela foi a primeira de Killing Joke (de 2003, não o de 1980 – há na história outro grupo com dois álbuns ‘xarás’ que também sejam o seu nome?). Por ser mais contemporânea, seus riffs lembraram Ministry (ou seria o contrário? O Ministry foi influenciado pelo Killing Joke? Pouco importa, foi um puta som!!)

Labyrinth foi a primeira de Pandemonium, voltou a agitar e seu final foi um pandemônio sônico (com o perdão do trocadilho), emendada a Corporate Elect, em porrada ainda mais acelerada do que em MMXII, após rápida confabulação entre os músicos. Misturada aos aplausos da anterior, a pesadíssima Asteroid fez o que parecia impossível: acelerou ainda mais o andamento, beirando a insanidade! Lindo de se ver e ouvir!! E então chegou o momento para a talvez mais famosa obra do Killing Joke, ainda que pela forcinha do Metallica ao incorporar The Wait em The $5.98 E.P. / $9.98 CD: Garage Days Re-Revisited (e posteriormente em Garage Inc.). Pois bem, a espera por ela valeu a pena, fazendo entender porque a ‘maior banda de garagem do mundo’ a escolheu, tão suja quanto ótima ao vivo. Falando em covers, raridades e EPs, antes do encore tocaram exatamente o B-side de Wardance (lançado antes de Killing Joke – o álbum), após Youth pedir a palavra, agradecer, dizer que era uma das primeiras músicas e imitar um lobo (ou seria um cachorro?), para então dividir os vocais com Jaz quando não tinha de fazer suas partes no baixo em Pssyche, levando os fãs à loucura.

Voltando ao palco, as clássicas Primitive e Wardance mantiveram a vibe de 1980, ambas mais corridas do que no álbum e com a intensidade que só o passar dos anos traz. Outra pancada, a excelente Pandemonium foi a pá de cal. Ela pode soar dançante, cadenciada, pesada ou industrial, mas foi, de fato, o último prego no caixão, perfeitamente associável ao estilo do Nine Inch Nails, se for para falar de pregos. O quinteto saiu ovacionado sem dizer mais nada, deixando seu público heterogêneo (em estilo e idade) em êxtase após pouco mais de fantásticos oitenta minutos em um show que contou apenas com os músicos e seus instrumentos, sem outro tipo de decoração ou adereço (o horrível telão da casa sequer foi ligado). E a piada mortal, ops… final foi ver todos indo embora ao o som do rapper americano The Notorious B.I.G. na discotecagem. Espera-se poder rir do e com o Killing Joke de novo, em breve, pois não teria graça alguma esperar por mais quarenta anos!

 

Setlist

01) Love Like Blood

02) European Super State

03) Autonomous Zone

04) Eighties

05) New Cold War

06) Requiem

07) Follow The Leaders

08) Bloodsport

09) Butcher

10) Loose Cannon

11) Labyrinth

12) Corporate Elect

13) Asteroid

14) The Wait

15) Pssyche

Encore

16) Primitive

17) Wardance

18) Pandemonium

 

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