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Moons lança “Dreaming Fully Awake”
Postado em 19 de setembro de 2019 @ 23:02


Mudaram as estações e muita coisa também mudou para melhor na banda mineira Moons. O terceiro álbum do sexteto, Dreaming Fully Awake (lançado hoje nas plataformas digitais via Balaclava Records), é fruto de um misto de amadurecimento artístico, de crescimento pessoal, de senso coletivo, resultado de prazerosos encontros semanais e experiências nos shows. A essência permanece em seu estilo de música folk, melancólica, etérea, reflexiva, feita para apreciar com calma, mas dessa vez a experiência é menos introspectiva e mais orgânica.

* Ouça Dreaming Fully Awake:
https://ditto.fm/moonsdreamingfullyawake

Os mooners agora conseguiram retratar fielmente na gravação do álbum a dinâmica dos palcos. Para isso, André Travassos (letras, voz, guitarra e violão), Jennifer Souza (voz e guitarra), Bernardo Bauer (voz e baixo), Digo Leite (gaita, guitarra e lap steel), Felipe D’Angelo (voz, teclados, piano e guitarra) e Pedro Hamdan (bateria) se isolaram num sítio em intenso processo de criação e gravação das canções.

A trajetória do grupo se divide em três fases, uma para cada álbum. O primeiro, Songs of Wood & Fire (2016), foi classificado como disco de “banda de um homem só”, André Travassos, com convidados, totalmente gravado por partes em estúdio. O material do segundo, o elogiado Thinking Out Loud (2018), já com conceito de conjunto, foi gravado metade ao vivo após uma imersão em um sítio em Brumadinho, próximo de Belo Horizonte, cidade natal da banda.

De volta ao mesmo sítio, o sexteto gravou o terceiro inteiro em quatro dias num antigo gravador de fita de rolo Tascam 388, adquirido por Leonardo Marques (produtor dos três álbuns da banda). A ideia inicial nem era gravar um disco e eles foram uma espécie de cobaia para o produtor testar o gravador. Deu tudo certo e a experiência entusiasmou os integrantes da banda a compor, arranjar e gravar as canções ao vivo no sítio, todo mundo tocando junto.

Algumas dessas canções estavam prontas, outras foram feitas inteiras ou concluídas lá (todas com letras de André e melodias e arranjos divididos entre os seis). “Como não havia o compromisso de gravar o disco, estávamos mais relaxados, só criando. Era como se fosse uma pré-produção, pegamos as músicas e gravamos do jeito que elas estavam.” Até o pouco que precisou ser refeito por questões técnicas foi gravado em estúdio também na máquina de fita Tascam. Só mudou o lugar. A unidade do disco se manteve.

Boa parte do processo de gravação foi registrado em vídeo pelo designer Yannick Falisse (chamado de oitavo mooner, porque o sétimo é Leo, o produtor musical) e trechos desse material foram veiculados pela banda via redes sociais como teasers cativantes do álbum. Outro tanto deve fazer parte de videoclipes e pode até virar um mini documentário.

Sete das nove canções têm a voz-líder de André. Lançada como primeiro single em agosto de 2019, “Creatures of the Night”, que abre o disco e despontou como uma das mais belas de todas as canções do Moons, é cantada por Jennifer Souza e tem parentesco com Neil Young, Sade, Cowboy Junkies e Fleetwood Mac. “Earthquakes” remete a Paul Simon. “Sweet and Sour”, com vocal líder de Felipe D’Angelo, tem acento soul e parece saída de uma programação de rádio dos anos 1970.

A balada “Nobody But Me”, o segundo single, tem algo de Bob Dylan, uma das referências da banda. “No More Tears About It” foi inteira composta durante a imersão no sítio, arranjada e gravada em poucos minutos, e é uma canção para levantar o astral. André diz que suas letras (todas em inglês) saem espontaneamente, nunca pensa num determinado tema na hora de escrever. “Inside Out” aborda um assunto pessoal e íntimo (sobre o dia em que seus pais se separaram), mas “é um sentimento universal.”

A sonoridade meio retrô presente em Dreaming Fully Awakesempre foi uma vontade da banda, que antes não tinha o aparato necessário para isso. “Léo tem uns pré-amplificadores muito bons, uns microfones vintage, mas só que a gente gravava tudo no computador. Já estávamos nessa busca de fazer um disco absolutamente analógico. E quando vimos que funcionava, quisemos levar toda a história pra esse lado.”

As fotos do encarte e de divulgação são analógicas. As projeções que vão usar nos shows são pinturas, todas feitas à mão, bem como as letras das canções impressas no encarte do álbum. O conceito em torno disco é todo fora do processo digital. Por isso também é o primeiro da banda a sair em vinil (no Brasil e nos Estados Unidos). Em CD deve ter uma tiragem pequena para o show de lançamento do disco, que será no dia 13 de dezembro em Belo Horizonte.

“O ciclo desse disco está muito coerente de forma geral, tem a ver com o som que a gente faz, que é uma coisa atemporal. A música do Moons não é fast food. Conseguir lançar nosso disco nesse processo analógico e fazer com que que todo o processo artístico em torno dele siga esse caminho é muito legal. Dá muito trabalho, mas é bem prazeroso.”

Ainda que ele more na melancolia, é um álbum menos melancólico do que os demais. André diz que vinha escutando muito Sade, Simply Red e afins, “não que o disco beba tanto dessas influências, mas isso trouxe um brilho”. “À medida em que a gente foi tocando ‘Smooth Operator’ (hit de Sade) no show, isso trouxe um colorido diferente pro nosso trabalho. E a gente foi sentido aos poucos a necessidade de ter um show um pouco mais dinâmico e menos introspectivo.”  Do palco para as gravações, o resultado do álbum vai trazer outra perspectiva sobre a banda porque justamente se aproxima mais do que é o show. É um momento de afeto, cuidado e respeito, de realização musical e pessoal de coletivo. E quem vê e escuta se deixa arrebatar. Quando se une verdade e musicalidade a sedução é irresistível.

Ser bem-sucedido artisticamente cantando em inglês no Brasil é para poucos. Além do limite de interesse de mercado (público, patrocínios, locais para shows, espaço na mídia), há a questão do resultado artístico: estilo de composição, conteúdo de letras, afinação e adequação vocal, pronúncia, entonação (não confundir com sotaque). Por isso, Moons é expoente raro nessa categoria, trilhando caminho próprio sobre ótimas referências que incluem Nick Drake, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Fleet Foxes, Wilco, Ry Cooder,  e sua evolução com Dreaming Fully Awakeé notável.

Lauro Lisboa Garcia
Jornalista Musical

** letras e ficha técnica:
https://drive.google.com/open?id=1B_BtZeL102FHSrWqXlzWOKz9lCSS1VIR

 
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