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Narnia / Stryper :: 14/09/19 ::: Tropical Butantã
Postado em 12 de outubro de 2019 @ 14:04


Texto : Vagner Mastropaulo

Fotos: Marcos Bulino

Metal Cristão também tem vez!

Quiseram os deuses do metal que, uma semana após o Setembro Negro e um dia após uma sexta-feira 13, tomasse forma um evento de temática cristã no Tropical Butantã, com abertura de luxo do Nárnia e fechamento dos veteranos do Stryper. White e black metal costumam sofrer preconceitos quando o que deveria de fato contar é a música e se você curte as letras e partilha dos preceitos, seja lá de qual lado, curtir o show é um direito, a vida segue e o que importa é haver respeito. No mais, com tantos eventos recentes da EV7 indo para a casa do chapéu, graças a Deus ao menos este vingou, com o perdão do trocadilho. E como Deus ajuda quem cedo madruga, adolescentes armaram suas barracas numa organizada fila na lateral da casa, mas não por amor ao metal e sim para ver o Pentagon na grade no dia seguinte…
Quinze minutos antes do horário de início divulgado, às 19:45 Andreas “Habo” Johansson tomou lugar atrás do kit posicionado à frente da bateria do headliner, com uma única decoração de palco: o nome do Narnia na pele do bumbo. Na seqüência surgiram Jonatan Samuelsson (baixo – cinco cordas), Martin Härenstam (teclados), Carl Johan Grimmark (guitarra) e Christian Liljegren (vocal) e o que impressionou de cara foi a impecável qualidade de som, ouvindo-se todos os instrumentos cristalinamente. Faixa de abertura do recém-lançado From Darkness To Light (2019), A Crack In The Sky inaugurou o set e então Christian conferiu: “São Paulo, estão prontos para detonar? Não consigo ouvi-los. Estão prontos para detonar?”. Com explosão de gritos em anuência, os suecos tocaram Sail Around The World, outra primeira de álbum, esta de Course Of A Generation (2009) – não confunda o título com o da música Curse Of A Generation – que judiou dos pescoços alheios com batida marcante e combinação de riffs que lembrou In Flames. Cativante, o frontman não deixava para interagir apenas nos intervalos, mas pediu palmas e sentenciou: “São Paulo, o Narnia está de volta à cidade”.
Comunicativo, o vocalista prosseguiu: “Fantástico! Estão se divertindo? Sabem, estivemos aqui dois anos atrás, mas agora retornamos com o Stryper! E, vocês sabem, servimos a Ele e apenas a Ele, o Rei Jesus Cristo. Aí vai uma música de Long Live The King: The Mission”, mais arrastada, quebrada, com timbre de voz que, sem exagerar, lembrou Dio e belíssimos agudos de Christian perto do final. Sincero, o porta-voz elogiou: “São Paulo, muito obrigado! Sabem, de novo tivemos uma viagem maravilhosa para a América do Sul. E as pessoas aqui, seus corações e sua paixão por música e metal aqui é maravilhosa. Brasil, voltamos e vamos em frente com uma do penúltimo álbum. Sei que vocês sabem cantar aqui em São Paulo, estão prontos? Aí vai I Still Believe”, com coro espontâneo da massa no começo e bumbos rapidíssimos de Andreas – já que o clima era de retorno, não custa citar que a turnê anterior gerou We Still Believe – Made In Brazil (2018), gravado em abril/17 no Granfinos, no centro de Belo Horizonte.
Garantindo estar na cidade pelos fãs e “para assinar discos, camisetas e o que mais fosse”, Christian anunciou a animada You Are The Air That I Breathe, verdadeiro teste para quem não queria agitar e que fez pular quem tomava mais da metade da casa nas duas pistas e camarotes. A bela Shelter Through The Pain teve o refrão cantado por boa parte dos fãs e, antes do belo solo de CJ, o frontman apresentou seus companheiros e a si mesmo. Com o batera marcando o andamento com We Will Rock You no bumbo e caixa e Jonatan sacando o celular para filmar fãs e banda, Christian passou a cantar o clássico do Queen, mas como intro para Reaching For The Top. Fiel a seus princípios, o vocalista mais uma vez discorreu sobre a viagem: “Nos divertimos muito indo à Argentina, ao Chile, alguns dias atrás, e hoje estamos em São Paulo, Brasil. Sabem, o fogo em nossos corações, no Narnia, é porque queremos espalhar as mensagens sobre Jesus, Ele que trinfou na cruz por vocês e por mim. A próxima música é realmente sobre o Rei a quem servimos porque Ele quer se encontrar com vocês e comigo aqui esta noite. Então damos boas-vindas ao Espírito Santo neste lugar e aí vai The War That Tore The Land. Deus os abençoe, São Paulo”. Com início tocante, a belíssima faixa teve seu início outra vez filmado pelo baixista e o coro de “Hallelujah” entre fãs e banda talvez tenha sido o ponto alto do set.
Into This Game representou Enter The Gate (2006) e a temática foi mantida em Dangerous Game, que voltou a acelerar o baile, com linhas de teclado combinadas à melodia de guitarra e à rápida bateria que podem ter inspirado o Stratovarius em Infinite, lançado no ano seguinte – especialmente em Phoenix e Glory Of The World. Cantarolando “I wanna live, wanna fight”, Christian introduziu a cadenciada Long Live The King, título escrito nas costas de seu casaco preto, e reconduziu a cantoria um pouco adiante, agora usando o uniforme amarelo de nossa Seleção, sem nada na parte de trás da camiseta. Perto do final do show, o frontman seguiu proferindo: “Vida longa ao Rei! Ele é o salvador, é único e é meu capitão, mesmo nos tempos mais sombrios. E é único quando nos sentimos deprimidos e solitários. Ele conhece a sua Inner Sanctum”, única amostra de Desert Land (2000).
Feitos os agradecimentos, os músicos prostraram-se frente aos fãs, tiraram fotos ao som de Gates Of Cair Paravel, parecendo uma despedida, até Christian declarar: “São Paulo, somos gratos. Amamos vocês, Brasil! Estão prontos?”. Então Andreas voltou ao seu instrumento e o mestre de cerimônias anunciou Living Water, como na seqüência do play, esta sim a saideira que botou o público a pensar se não se tratava de um encore sem deixar o palco. Com pouco mais de setenta minutos de show e com Utvandrarna, uma das bônus tracks do relançamento de Narnia em 2017, rolando no som ambiente, os suecos partiram.
Quase às 21:30, com trinta minutos de intervalo, a versão do Stryper de Battle Hymn Of The Republic (Glory, Glory, Hallelujah) ecoou pela casa, indicando a entrada dos Sweet, Michael (vocal e guitarra) e Robert (bateria), juntos a Oz Fox (guitarra) e Perry Richardson (baixo – cinco cordas). Com uma bíblia arremessada pelo vocalista ao fundo da premium e a bateria de seu irmão posta de lado (algo similar apenas a Brad Wilk tocando de costas nos primórdios do RATM, como relatou Paul Stenning em Guerreiros Do Palco), Soldiers Under Command abriu a noite e o que saltava aos olhos era o cuidado com os tradicionais detalhes em preto e amarelo a partir dos três instrumentos da linha de frente, além dos sapatos, PR no colete e palhetas tão amarelos de Perry quantos as de Oz, em contraste às pretas de Michael, centralizado, e o 777 amarelo e vistoso em seu pedestal, como seu microfone. Indo além, dava até para se ater ao fato de haver dois loiros e dois morenos no grupo e o ponto alto era o belo bandeirão com o nome da banda estilizado, a citação a Isaías 53:5 e o triângulo, tudo em amarelo e preto, é claro.
Do EP The Yellow And Black Attack (1984), Loving You sucedeu a faixa um do primeiro play dos caras e então o frontman deu o recado: “Deixem-me ver a platéia. Aí estão! Olá, São Paulo, como estão? É ótimo estar aqui, amamos vocês. Quantas pessoas aqui viram o Stryper antes? E quem nunca nos viu? Uau, que loucura, um monte de gente que nunca nos viu. Isso sempre me faz pensar porque alguém esperaria trinta e seis anos para ver uma banda. É muito tempo, cara! Para nós é um prazer estarmos aqui esta noite, somos sempre honrados e amamos São Paulo, cara! Vocês sempre trazem um nível diferente de energia, é incrível! Vocês são muito passionais com relação à música e amamos isso em vocês. Que Deus abençoe a todos vocês, imensamente! Há alguém aqui que sinta falta de 1986, em especial? Quem sente saudades dos anos 80? Eu sinto. Há um monte de coisas que sinto falta e outras que não, mas uma das que sinto saudades é a música, guitarristas cantando músicas que viravam número um na MTV e seus vídeos. Essa é uma que alguns de vocês pedem, vamos tentá-la e vocês terão que nos mostrar que, de algum modo, a conhecem, ok? Vamos à loucura! Sabemos que as pessoas em São Paulo vão à loucura, então o façam. Esta é Calling On You”, emendada a Free, com Oz virando as costas da guitarra, com seu nome nela escrito. As cores? Adivinhem…
More Than A Man contou com participação: “Traremos agora um amigo verdadeiro, nosso tour manager, que, por acaso, é brasileiro e virá aqui dar um rápido alô a vocês. Seu nome é Mike Kerr e ele está numa banda chamada FirstBourne. Aí está você, cara. Diga ‘Olá’”, algo de fato feito pelo guitarrista com uniforme de nossa seleção, seu nome às costas e o número 777: “Fala, galera, é um prazer estar aqui com o Stryper, banda que cresci ouvindo, e ver uma porção de amigos aqui. Vamos fazer um som”. Retomando, Michael brincou: “Eu sei o que ele disse: que o Robert é o maior baterista do mundo, certo? Ok, Mike Kerr para a jam, com sua música favorita e que também é uma de nossas favoritas. Estão prontos? Não estou ouvindo vocês esta noite. Vamos lá! Quero ouvi-los mais alto”. E antes de All For One, única de Against The Law (1990) no set, o vocalista discorreu sobre arremessar mais duas bíblias, seguido de Oz e Perry, em seus setores: “Sabem, as jogamos desde 1983. Ali, quem quer uma? É novinha. Aí vai! Maravilha. Quem tem o maior sorriso aqui? Enfim, estão se divertindo? Aí no fundo? Em cima?”.
Com poderosos riffs iniciais, Surrender colocou Soldiers Under Command (1985) de novo em pauta, seguida por elogios: “Vocês estão pegando fogo, galera, ótimo!”, apresentação dos companheiros de Michael concluída no ex-FireHouse e anúncio de All She Wrote. Curiosamente, sem sua guitarra, ele apenas vocalista o cover retirado de FireHouse (1990) e Perry arremessou outra bíblia. Abordando o contemplado, verificamos que de fato se tratava da New International Version – New Testament With Psalms & Proverbs, com o logo da banda na capa e um “History Tour 2019”. Ainda sem seu instrumento, o cantor assim descreveu a linda Honestly: “Esta talvez seja nossa música mais popular. Com certeza, a mais popular nas estatísticas e talvez seja aqui também, não sei, ela vai para todos vocês”, feita com o piano no som ambiente. Voltando a tocar, Michael pediu para que todos erguessem as mãos ao abrir dobradinha de In God We Trust (1988): a portentosa faixa-título colada a Always There For You, que acalmou um pouco os ânimos. Primeira de God Damn Evil (2018) no set, Sorry veio praticamente junto, sem pausa e com riffs que, ao vivo, lembraram Mötley Crue. Outra com riffs poderosos e caminhando para o encore, Yahweh representou Fallen (2015) e foi emendada a Sing-Along Song, mais rápida do que em To Hell With The Devil (1986) e com coro feito pela platéia, justificando o título.
Regressando ao palco ao som de Abyss (To Hell With The Devil), como intro, Michael checou se todos estavam prontos para mais, The Valley foi nova demonstração do potencial de riffs cortantes e To Hell With The Devil fechou o show de quase oitenta minutos. Enquanto mais bíblias eram distribuídas, o porta-voz despediu-se comentando a longa ausência desde a vinda ao Carioca Club em dezembro/14: “Muito obrigado a todos por virem hoje. Gostaríamos de dizer que tentaremos voltar em breve, em um ano. Vamos ver como será, pois demorou muito desde a última vez, mas planejamos voltar logo. Vocês virão nos ver se regressarmos ano que vem? Trabalharemos duro nesse sentido, ok? Sentimos a falta de vocês ao partir e é muito triste deixá-los. Vocês são pessoas sensacionais e amamos vocês, do fundo dos nossos corações. Que Deus abençoe a todos vocês! Boa noite, São Paulo”. Enquanto o cover do The Vandals para So Long, Farwell, de A Noviça Rebelde (1965), rolava no som ambiente, os fãs lentamente tomavam o rumo de casa e alguns acenavam para Juninho Afram, guitarrista do Oficina G3, nos camarotes. Saindo vagarosamente às 22:50, testemunhamos Christian Liljegren ainda com os fãs no merchan e pudemos contar sete barracas das fiéis fãs do Pentagon. Que Deus as abençoe!

Setlists
Narnia
01) A Crack In The Sky
02) Sail Around The World
03) The Mission
04) I Still Believe
05) You Are The Air That I Breathe
06) Shelter Through The Pain
07) Reaching For The Top [Intro De We Will Rock You (Queen)]
08) The War That Tore The Land
09) Into This Game
10) Dangerous Game
11) Long Live The King
12) Inner Sanctum
Intro: Gates Of Cair Paravel (Introduction)
13) Living Water
Outro: Utvandrarna

Stryper
Intro: Battle Hymn Of The Republic (Glory, Glory, Hallelujah)
01) Soldiers Under Command
02) Loving You
03) Calling On You
04) Free
05) More Than A Man [Participação Especial De Mike Kerr]
06) All For One
07) Surrender
08) All She Wrote [FireHouse Cover]
09) Honestly
10) In God We Trust
11) Always There For You
12) Sorry
13) Yahweh
14) Sing-Along Song
Encore
Intro: Abyss (To Hell With The Devil)
15) The Valley
16) To Hell With The Devil
Outro: So Long, Farwell (The Vandals) / East Bound And Down (Jerry Reed) / Hit The Road Jack (Buster Poindexter)

 
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