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Samsung Best Of Blues::: 16/09/18 ::: Auditório Ibirapuera (São Paulo)
Postado em 04 de outubro de 2018 @ 23:52


Por Renata Pen e Vagner Mastropaulo

Fotos: Leca Suzuki

Passava pouco das 17 horas quando os organizadores do Samsung Best Of Blues liberaram o acesso para repórteres e fotógrafos às dependências internas do Auditório do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, para a realização da coletiva de imprensa com Ana Morena (baixista do Camarones Orquestra Guitarrística), John 5 (guitarrista de Rob Zombie, no Brasil em shows de sua carreira solo), Tom Morello (guitarrista do Rage Against The Machine e do Prophets Of Rage, no país também divulgando seu trabalho solo) e Isa Nielsen (ex-guitarrista do Volkana e que já tocou com Detonator), sentados nesta ordem. Como esperado, a vasta maioria das perguntas foi direcionada à dupla americana, especialmente para Morello. Com fotos liberadas durante todo o evento e repórteres posicionados para ‘sabatinar’ os quatro músicos, o que se pode dizer é que todos esbanjaram simpatia. Porém, talvez a maior surpresa tenha sido a calma com que John 5 deu suas respostas, em atitude diametralmente oposta à imagem esperada de quem fez parte da banda de Marilyn Manson e suba ao palco maquiado e vestido como o guitarrista. Em tempo, havia a presença de um tradutor oficial do patrocinador, para quem não falava ou entendia inglês, mas as transcrições a seguir, tanto das perguntas feitas diretamente em inglês, quanto das respostas de John 5 e Tom Morello, foram traduzidas pela equipe da Onstage. Para simplificar, optamos por colocar as questões sem creditar os veículos por elas responsáveis. Sem mais delongas, vamos ao que de fato rolou na coletiva, em descontraído clima de bate-papo, na íntegra e em ordem cronológica:

 

John, você tem sua carreira solo, que é bem específica, mas também tocou com artistas diferentes de gêneros musicais bem distintos. Como você lida com esse processo?

Bem, eu sempre toquei para artistas diferentes, como Marilyn Manson, David Lee Roth e agora Rob Zombie, e eu quis sair e fazer música instrumental, algo que eu nunca tinha feito antes. É muito divertido, eu curto muito, e o mais importante é que as pessoas também curtam. Isto é o que realmente me faz feliz e eu faço pelo amor à guitarra e à música. É algo que se encaixa, pois quando o Rob Zombie está fazendo algum filme, eu tenho a chance de tocar guitarra para as pessoas.

 

Tom, você já está há vários anos com bandas conceituadas e está à frente de um novo projeto [nota: o repórter referia-se a seu novo álbum solo, The Atlas Underground]. Como você se sente neste momento de sua carreira?

Acho que é uma honra estar de volta ao Brasil e tocar para vocês. Estive aqui com Rage Against The Machine, Prophets Of Rage, agora como artista solo para tocar neste local e fritar na guitarra faz com que eu me sinta muito bem.

 

Tom, você vai lançar um álbum no mês que vem e, até onde eu consegui ler, há muita influência de EDM [nota: electronic dance music] nele. Como você vê a cena EDM? Talvez como um gênero musical para protestos?

Meu álbum solo, The Atlas Underground, sai dia 12 de outubro. Eu queria criar um híbrido, uma combinação do poder do rock amplificado com um som de baixo poderoso. A música EDM não é tradicionalmente politizada, mas eu não sou um artista convencional. Então a idéia é levar um novo gênero musical e um novo modo de criar música politizada, tanto para os moshpits quanto para as pistas de dança.

 

Isa, você toca em uma banda de heavy metal, a Volkana. Como é dividir o palco com artistas de outros estilos? E você também tem variação de estilos dentro de sua própria carreira. Como você organiza esses estilos na hora de se apresentar e de compor?

Primeiramente eu gostaria de informar oficialmente que eu não estou mais na Volkana e que estou voltada realmente para minha carreira solo. O meu gosto musical é muito variado. Eu gosto desde metal a blues, então, para mim, é até difícil seguir um estilo específico. Para mim, é muito fácil fazer coisas diferentes em estilos diferentes. Tanto é que a minha primeira música é bem diferente da que estou lançando agora. Na verdade, para mim é ao contrário: é mais fácil fazer coisas variadas do que fazer uma coisa só.

 

Tom, eu gostaria que você explicasse como você criou e começou a desenvolver seu estilo único de tocar, pois ele é bem percussivo. Eu compararia você a Stanley Jordan e Eddie Van Halen, caras que criaram um novo estilo. Como você explicaria esse desenvolvimento acústico?

Eu comecei a tocar guitarra razoavelmente tarde, quando eu já tinha 17 anos. Então eu tive de correr muito atrás e aí eu pratiquei o modo tradicional oito horas por dia, todos os dias, por anos. Mas foi só nos primórdios do Rage Against The Machine, quando eu era o DJ da banda, que eu comecei a pensar em ser um instrumentista não-tradicional. E eu nunca parei de ser não-tradicional.

 

Tom, sobre a mescla com música eletrônica em seu novo álbum, gostaria de saber como foi trabalhar com artistas como Knife Party [nota: dupla australiana do estilo] e o DJ Steve Aoki.

Diferentemente de outros lançamentos, para este novo, eu tive várias colaborações de diversos artistas, tais como: Steve Aoki, Knife Party, Bassnectar, Pretty Lights, Wu-Tang Clan, Killer Mike, Big Boi, Rise Against, Portugal. The Man, entre muitos outros [nota: Gary Clark Jr., Nico Stadi, Herobust, Marcus Mumford, Vic Mensa, Leikeli47, K.Flay, Whethan e Carl Restivo – seu guitarrista no show de logo mais]. Eu queria criar uma conspiração sônica, que seriam artistas de diversos estilos e diferentes identidades de gêneros, etnicidades e idades fazendo um álbum em harmonia e solidariedade, como um time, uma reunião de tribos.

 

Ana, vocês tem um papel importante na cena independente da música brasileira. Você teve a chance de trocar uma idéia com eles [nota: referindo-se a John 5 e Tom Morello] e recomendar algumas bandas daqui? E se não teve, recomende agora, por favor.

Eu consegui presenteá-lo [nota: apontando para Morello] com algumas coisas que a gente tinha. A gente fez um cartaz comemorativo e já entreguei a ele. O Tom é um grande inspirador, tanto ideológica quanto artisticamente. Acho que grande parte do trabalho do Camarones e de tantos de outros artistas da cena independente vem um pouco dessa inspiração. A gente está muito feliz em ser reconhecido aqui, ser trazido para cá, uma banda de fora do grande circuito e em sermos tratados de forma totalmente igual, então a gente está muito feliz. Ontem o show foi incrível e hoje acredito que vai ser também. E se eu tiver oportunidade hoje, quem sabe, indicarei várias bandas, principalmente as potiguares, que é de onde eu venho. Temos Camarones, Far From Alaska, Plutão Já Foi Planeta e uma série de bandas incríveis pelo Brasil, como o Water Rats, em uma cena muito efervescente. E se houver oportunidade, vou indicar sim.

 

Tom, você exibiu um “Justiça Para Marielle” ontem [nota: em sulfite, colada atrás de sua guitarra azul clara, no show em Porto Alegre da edição gaúcha do festival] e eu queria saber o que você tem acompanhado a respeito do caso e sobre o processo eleitoral no Brasil, que está bem pesado.

Muito parecido com os Estados Unidos, o Brasil está em um momento de crise democrática. O assassinato não-solucionado de Marielle é uma violação aos direitos humanos e eu apenas gostaria de expressar minha solidariedade e apoio a todos os brasileiros que amparam os pobres, lutam pelas classes trabalhadoras, defendem o meio ambiente e combatem o fascismo. Minha música tem sido sobre tudo isso por vinte e cinco anos e esta é a mensagem que continuarei a propagar hoje, no palco, e no futuro.

 

Tom, na última década, surgiu uma cena independente de vídeo games, como forma de protesto e de desenvolvimento não-tradicional. Qual a sua relação com a mídia de vídeo games atualmente e como essa relação mudou após sua participação na franquia Guitar Hero?

Eu virei um avatar no jogo Guitar Hero há uns anos e estranhamente isso mudou minha vida porque a idade da minha base de fãs diminuiu para garotos de cinco anos. Eu ia a supermercados e algumas mães me abordavam e diziam: “Meu filho adora jogar com seu personagem de desenho animado”. E até hoje, outro dia mesmo, aqui no Brasil, um homem se aproximou de mim e me disse: “Cara, eu detonei você no Guitar Hero!”, e eu respondi: “E você é um adulto e aquilo é um vídeo game”.

 

John, sua carreira é musicalmente muito variada. Você tocou hard rock (com o David Lee Roth), música industrial (com Rob Zombie e Marilyn Manson). Em termos de carreira solo, exceto pelos fãs dessas bandas, como você percebe o tipo de público que se sente atraído pelo seu trabalho solo?

Bem, quando eu faço meus shows, é uma variedade de pessoas que aparecem. Há shredders, guitarristas comuns, fãs de música instrumental, do Rob Zombie e também muitos fãs de country music porque eu faço muita coisa country tradicional. Então é uma platéia diversa e é maravilhoso ver isso. Vejo muitas crianças, também, que vêm ao show. Só me assusto quando trazem bebês… mas é uma platéia maravilhosa e diversificada de todos os tipos de amantes de música.

 

John, você já tocou com muitos artistas e eu gostaria de saber qual deles mais te surpreendeu.

Vejamos… qual deles poderia ter me surpreendido mais… sabe de uma coisa? Essa é uma ótima pergunta! Sabe, tocar com o Marilyn Manson era como a véspera de Ano Novo todos os dias. Você não sabia o que poderia acontecer. Era uma loucura completa! Acho que foi trabalhar com o Lynyrd Skynyrd. Eles me surpreenderam muito por serem tão gentis e somos amigos até hoje. Mas todos os artistas com quem trabalhei me surpreenderam de um modo ou de outro e foi muito bom trabalhar com cada um deles.

 

John e Tom, vocês são amigos e já fizeram shows juntos. Gostaria de saber se pensam em compor algumas músicas conjuntamente.

Tom: É uma ótima idéia!

John: Sim!

Tom: John, vamos fazer algo hoje.

John: Sim, compor algo entre agora e a hora do show.

Tom: Eu admiro John há muito tempo! Gosto do que ele faz desde lá atrás e é ótimo poder estar no palco e assistir a artistas que você admira e novos artistas que você descobre.

John: Para mim, e naturalmente eu já disse isso em várias entrevistas, eu vi os shows do começo da carreira do Rage Against The Machine e eu realmente acho… eu sempre disse que o Tom mudou totalmente o modo de se tocar guitarra. Mudou para mim e tantas outras pessoas.

 

Tom, você vem de uma família de grandes ativistas. Seu pai [nota: Ng’ethe Njoroge] foi o primeiro embaixador do Quênia na ONU e seu tio-avô [nota: Jomo Kenyatta] foi o primeiro presidente democraticamente eleito no Quênia após a revolução Mau Mau. Você nunca pensou em concorrer a algum cargo político, especialmente agora que os Estados Unidos precisam de pessoas sérias?

Antes de qualquer coisa, enquanto a tradução era feita, John e eu conversávamos sobre as perguntas muito bem pensadas que tivemos aqui e agradecemos por elas. Fazemos muitas entrevistas e às vezes as perguntas são apenas uma grande variedade de… nada. Com relação a se eu consideraria concorrer a algo, a resposta é: “Não!”. Eu trabalhei por dois anos como secretário de agenda de um senador americano [nota: o democrata Alan Cranston, em 1987 e 1988] e, muito embora ele fosse politicamente bastante progressista, eu pude ver, em primeira-mão, o quanto o dinheiro domina a democracia americana. E de modo tão sujo que eu quis ter um emprego em que eu pudesse autenticamente ser eu mesmo, sem ter que puxar o saco de alguém por dinheiro.

 

John e Tom, vocês já vieram ao Brasil algumas vezes com outras bandas e agora estão aqui em suas carreiras solo. Queria saber o que vocês pensam da energia e da recepção do público brasileiro nos shows.

Tom: Eu adoraria passar mais tempo aqui. Como disse, é minha terceira vez aqui e curti ir às favelas, aos ensaios das escolas de samba e, acima de tudo, gosto muito de fazer shows para os fãs que vêm nos ver.

John: Eu já estive aqui muitas vezes e sempre me sinto muito empolgado em voltar porque todos são tão legais, tão gentis… e as platéias são realmente as melhores do mundo. Então é, para mim, um verdadeiro prazer sempre voltar.

Tom: Gostaríamos de agradecer por suas perguntas e se vocês quiserem tirar fotos de nós quatro juntos, podemos nos levantar.

 

E foi assim que se deu a entrevista coletiva com Ana Morena, John 5, Tom Morello e Isa Nielsen, encerrada com o disparar dos flashes, vinte e cinco minutos após seu início, com tempo suficiente para que os artistas partissem para seus camarins e fizessem os preparativos para suas respectivas apresentações.

 

Clique aqui para saber o que rolou nos quatro shows.

 
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