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Sepultura::: 30/03/19 ::: Sesc Parque D. Pedro II
Postado em 03 de maio de 2019 @ 19:05


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: André Alves BG (Alquimia Rock)

E não é que a reprise permanece ótima? Sempre vale a pena ver (e ouvir) de novo

Todo mundo tem aquele filme favorito visto mais de quinze vezes (ainda mais hoje em dia com as plataformas de streaming e infinitas repetições). Aquele que, além de você saber como termina, já decorou as falas, conferiu os extras, comprou em VHS (para os mais velhos), DVD, blu-ray, baixou e mesmo assim você não resiste em ver gratuitamente em alguma reprise na televisão. Por vezes você descobre que algum amigo seu nunca o viu, então você dá aquela recomendada tendenciosa, assiste junto e ainda comenta depois. Pois bem, show do Sepultura – e de graça – não é muito diferente.

Sempre haverá aquele fã adolescente em inédita incursão ao vivo, mas a imensa maioria dos que foram ao Sesc Parque D. Pedro II não eram cinéfilos de primeira viagem, ops… marinheiros. Até porque, graças aos deuses do metal, a banda opta por apresentações em formatos distintos na capital, seja este na faixa (como no Vale do Anhangabaú ano passado), a 80 reais (Audio, por duas vezes, e Clube Atlético Juventus), ou o meio termo acessível do circuito Sesc, como as duas datas no Pompéia, no final do ano passado, a 50 reais. O ponto é: você sai de casa sabendo que o ‘filme’ termina em Roots Bloody Roots, mas e o resto do enredo? Mesmo previsível, a experiência é válida. Ainda mais ao saber que o quarteto logo partiria a mais um giro internacional (em locais inusitados como Cazaquistão, Mongólia, Quirguistão e Líbano, além de três datas na Ucrânia, seis na Rússia, uma na Turquia e um festival francês um tanto quanto alternativo) e talvez só toquem por aqui novamente no Rock In Rio, já com promessa de capa e música nova do próximo álbum.

Sem banda de abertura, pontualmente às 18:00, Derrick Green (vocais), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Júnior (baixo) e Eloy Casagrande (bateria) subiram ao palco após dois ‘curtas’, como intro: Polícia, dos Titãs, e The Curse, do longínquo Bestial Devastation, abrindo caminho para a faixa-titulo do split de 1985 com o Overdose. Troops Of Doom e Escape To The Void seguem clássicas, mesmo com uma leve pane na guitarra de Andreas nos riffs finais da primeira e com o ‘Diretor’ Derrick contando “1, 2… 1, 2, 3, 4”, em vez de dizer “Gravando”. Ainda era final da tarde na cidade, com contraste entre o céu cinzento e a espetacular iluminação colorida de palco, decorado com um bandeirão com a bela arte encontrada no meio do encarte de Machine Messiah (2017), cuja capa decorava também as peles dos bumbos de Eloy.

Beneath The Remains surgiu com a intro do álbum, mesmo expediente usado em Dead Embryonic Cells, e nesta ficou evidente que todos os instrumentos estavam perfeitamente equalizados, ouvindo-se claramente até o baixo do tão criticado Paulo. E foi incrível reparar como a faixa de Arise (1991) ainda tira a galera do chão, ainda mais após um “Are  you ready for this?” do vocalista como estímulo e pulando junto. Outro momento contagiante foi ver Eloy puxando a levada inicial do maior sucesso de Chaos A.D. (1993), seguida de um “São Paulo, listen up! This is your fucking Territory” e um posterior “Let me hear you” de Derrick e, ao melhor estilo Ozzy, um “I can’t hear you”, enquanto a luz natural já caía.

Attitude também teve seu começo com berimbau como intro, até que Andreas puxasse seu início no palco sob forte iluminação branca. Durante sua execução, um casal de motoqueiros mandava ver na pista, namorando ao som da ‘romântica’ segunda faixa de Roots (1996). Antes da seguinte, o guitarrista dirigiu-se aos fãs pela primeira vez: “Obrigado, São Paulo! Cara, que show! Que coisa mais sensacional estar aqui neste lugar no centro de São Paulo”. Morador da Zona Leste, Andreas prosseguiu: “Eu sempre estou preso nessa porra de trânsito aqui. Nunca tinha percebido este lugar e hoje a gente está fazendo esta festa sensacional celebrando trinta e cinco anos de Sepultura, graças a vocês, porra!!! Sensacional! Até aqui nós fizemos um setlist cronológico, do Bestial Devastation até o Roots, e agora vamos começar a fase Derrick Green. O primeiro disco que fizemos juntos foi em 1998 e esta música se chama Against”, agora com o céu totalmente escuro.

Então foi a vez de Derrick pedir a palavra, em português: “E aí, São Paulo? Nós vamos tocar uma música do disco Machine Messiah. A próxima música é para vocês: Sworn Oath”, quebrando a ordem dos registros de estúdio, com o recinto lotado e bem diferente do início, quando os fãs ainda chegavam e se acomodavam com o som rolando. Retomando o álbum posterior a Against, Derrick perguntou duas vezes se o público estava pronto e mandou um: “Let me hear you, Sepulnation”, representando Nation (2001). Tirando onda, Andreas puxou o começo de Another One Bites The Dust, na guitarra mesmo, até que o vocalista pedisse que o circle pit se abrisse para Corrupted, de Roorback (2003), dedicada por Andreas a um fã chamado Edílson, em seu octogésimo show do Sepultura. Seguindo o padrão ‘uma por álbum’ com as associações artísticas do conjunto, False foi extraída de Dante XXI (2006), lançamento inspirado em A Divina Comédia (obra de 1320 escrita por Dante Alighieri) e Andreas fez a apresentação de mais um referência cultural: “E aí? Chegamos ao Laranja Mecânica”, até Derrick gritar “What I Do!”, de A-Lex (2009), inspirado no livro de Anthony Burgess que deu origem ao filme de 1971 de Stanley Kubrick (seria esse o seu favorito?)

Dona de riffs poderosos, Kairos marcou o álbum homônimo de 2011 e, de talvez o álbum com título mais comprido em toda a história do metal mundial, os sinos de The Vatican também rolaram como intro prévia da matadora faixa de The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart (2013). Perto de fechar o ‘vale a pena ver e ouvir de novo’, a primeira repetição de um álbum em toda a tarde/noite veio em Phantom Self, de Machine Messiah, também com breve intro da bateria brazuca do começo. Foi curioso notar que as escolhas do setlist cronológico eram, em grande maioria, a primeira ou segunda faixas dos respectivos álbuns, exceto: Troops Of Doom e Escape To The Void (número quatro), Sworn Oath e Corrupted (seis) e False e What I Do! (ambas cinco).

Só não ficou claro se o que viria a seguir era o encore ou não, uma vez que os músicos não deixaram o palco. Então Andreas puxou um trecho improvisado de Orgasmatron, encerrada após sua primeira estrofe ao melhor estilo ‘Director’s Cut’. Trazendo mais seriedade ao set, Derrick explicou em português mesmo: “Nos vamos tocar uma música mais maluco (sic), mais figura, clássico do Sepultura”, até migrar para sua língua nativa: “Are you ready? What I want you all to do for me… I want you all to fucking Arise”. Refuse/Resist segue obrigatória e o clássico de Chaos A.D. foi encerrado com um improviso instrumental que surpreendeu até Derrick: “Caralho, que que é isso?”, até continuar em nosso idioma: “E aí, galera? Vocês querem mais uma? Cansados? Sabadão, São Paulo”, e Andreas entrar na onda puxando o começo de High ‘N’ Dry (Saturday Night), do segundo full length do Def Leppard, e o vocalista zoar: “Quase”. Após se desculpar, o guitarrista questionou: “Qual que nós vamos tocar aí, Fumaça?”, obtendo como resposta um “Toca aí então, ô Casagrande! Por favor” e Eloy puxar Ratamahatta, que ainda divide opiniões e foi cantada por Andreas (ou você imaginaria Derrick dizendo “Biboca, garagem, favela, fubanga, maloca, bocada” se o próprio título cantado por ele faz soa como “Passa a batata”?). O final do filme? Roots Bloody Roots, é claro… com banda e público se despedindo ao som de You Make My Dreams (Daryl Hall & John Oates).

Além de poder oferecer algo a uma parcela carente da população (sempre há os pobres mendigos da região agitando e curtindo o show do lado de fora da grade), show de graça do ‘Secultura’, ops… Sepultura tem suas características, como um número considerável de crianças. Sem a censura por idade imposta pelas casas de espetáculos, cabe aos pais decidirem o que é próprio (ou não) aos filhos e, surpreendentemente (ou não), alguns pequenos sabiam as letras de cor e como se portar nos ombros de quem os levantava, batendo palmas e fazendo evil horns, garantindo o futuro do metal. Outra peculiaridade é que o fã escolhe o que levar para beber, mas o custo disso ainda é muito lixo jogado no chão (sempre tem algum chinelo voador ou garrafa de plástico de vinho barato), além dos casos isolados de gente que exagera e importuna os outros, como dois ébrios imbecis ‘brincando’ e se encarando como dois rinocerontes com a cabeça de um grudada na do outro, confundindo a energia do show com desordem. Vai entender… Ou não, até porque aquele seu famoso filme favorito está para começar. É só ligar a TV!

 

Setlist

  1. xx) Polícia (Titãs) [Utilizada como Intro]
  2. xx) The Curse [Utilizada como Intro]

01) Bestial Devastation

02) Troops Of Doom

03) Escape To The Void

  1. xx) Beneath The Remains [Início utilizado como Intro]

04) Beneath The Remains

  1. xx) Dead Embryonic Cells [Início utilizado como Intro]

05) Dead Embryonic Cells

06) Territory

  1. xx) Attitude [Início utilizado como Intro]

07) Attitude

08) Against

09) Sworn Oath

10) Sepulnation

11) Corrupted

12) False

13) What I Do!

14) Kairos

  1. xx) The Vatican [Início utilizado como Intro]

15) The Vatican

  1. xx) Phantom Self [Início utilizado como Intro]

16) Phantom Self

17) Orgasmatron [Em versão reduzida]

18) Arise

19) Refuse/Resist

20) Ratamahatta

21) Roots Bloody Roots

  1. xx) You Make My Dreams (Daryl Hall & John Oates) [Utilizada como Outro]
 
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