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Sioux 66 – Audição de MMXIX – Steel Bar – 15/10/19
Postado em 22 de novembro de 2019 @ 12:41


Abram alas para o Sioux 66, buscando mais do que Diversão, em pleno MMXIX

Agradecimentos a: Ricardo Batalha

Audições não têm nada a ver com futebol, mas são “uma caixinha de surpresas” por não possuírem formato específico e não serem como um show ou entrevista, embora possam incluir ambos. Além do óbvio fato de se escutar material inédito, não há como prever o que mais faz parte do pacote. Com esse espírito, rumamos ao Steel Bar em Moema – bairro-sinônimo do saudoso Palace, para os ‘mais experientes’ – para o pré-lançamento de MMXIX, novo trabalho do Sioux 66 e sucessor de Diante Do Inferno (2013) e Caos (2016). Chegando dez minutos antes das 20:00, horário oficial do evento numa terça-feira garoenta, observando o que parecia ser a costumeira clientela do recinto, a primeira impressão era: “Será que é aqui mesmo?”, mas a garantia de estarmos no local certo veio ao notarmos rostos familiares de jornalistas. Abrindo os trabalhos, a Steel Band, que conta com o próprio frontman do Sioux, Igor Godoi, no violão e microfone, fez set de duas entradas a partir de 20:20 – com intervalo de vinte e cinco minutos – focando no Blues e no Classic Rock. E se a missão fosse apenas cobrir a apresentação dos caras, já teria valido a pena, de tão rica que foi! O sexteto é completado por Leandro Delpech (guitarra), Theo Anzelotti (baixo), Marcos Grevy (bateria) e dois membros que curiosamente não cabiam no palco, devido à sua proporção diminuta e toda a parafernália do conjunto por ali disposta, incluindo os amps: Edu Ferreira (trompete) e Marcos Melitto (sax).
“Eu toco aqui toda terça às 20, e domingo sim, domingo não às 19”. Assim o solícito e competente vocalista começou o papo conosco a respeito do show que teve participação de dois colegas do Sioux na parte final: o baterista Gabriel Haddad, que fez Don’t Let Me Down (The Beatles), e Yohan Kisser, nas guitarras em Good Times Bad Times e Rock And Roll, clássicos do Led Zeppelin (em respeito aos músicos, o setlist completo encontra-se no final da matéria). Inteiram o grupo paulistano formado em 2011 o baixista Fabio Bonnies e Bento Mello, que traz nos genes o rock de Branco Mello, dos Titãs. Só não caia na tentação de limitar o jovem guitarrista a isso, pois na rápida conversa que tivemos com ele acerca do álbum de oito faixas (sete inéditas e um cover), sacamos que, falante e reflexivo ao mesmo tempo, ele sabe muito bem de onde veio, o que faz e aonde quer chegar, sempre trilhando seu próprio caminho:

Onstage: Vocês já possuíam uma dinâmica de trabalho com relação ao processo de composição. Como o Yohan se encaixou nisso? O que mudou a partir da entrada dele?
Bento Mello: Cara, ele agregou muita coisa porque ele tem referências muito diferentes das nossas. E ele entrou com sangue, a fim de fazer um lance e encaixá-lo na estrutura que já tínhamos, mas trazendo o lance dele e isso era uma coisa que queríamos e precisávamos muito.
Onstage: MMXIX traz um cover de Diversão, dos Titãs. Por que essa faixa em especial? E quem teve a idéia de incluí-la?
Bento: Isso surgiu quando fomos fazer o show no Teatro Folha no ano passado. Fizemos um ‘Sioux e Mattilha Juntos’, baseado até naquele esquema feito no Palco Sunset [nota: dia 11/10/18, como parte do “Quinta Justa”]. Era um projeto no qual eu estava trabalhando, uma curadoria do meu pai, Branco Mello, no Shopping Higienópolis, e era para fazer shows especiais. Pensamos em fazer as duas bandas juntas, já que somos brothers pra caralho e tínhamos acabado de lançar Sem Tempo Ruim em conjunto. Aí pensamos em fazer um coverzão também, mas não queríamos fazer nada gringo e quando lançamos O Calibre, um amigo nosso falou: “Porra, foi foda, mas vocês tinham que fazer Diversão!” e eu fiquei com isso na cabeça. Gosto muito, especialmente do show que os Titãs fizeram no Hollywood Rock com os Paralamas do Sucesso e acho até que a música que abriu a parceria deles foi Diversão. Pensamos em fazer uma versão como aquela, mas nossa [nota: Bento refere-se à edição de 1992 do festival: o show era oficialmente dos Titãs, mas no encore foi feita uma jam com os Paralamas, iniciada por Diversão tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. A faixa também inaugura Paralamas E Titãs Juntos E Ao Vivo, gravado na Marina da Glória (RJ) em janeiro/08].
Onstage: Diversão foi tocada pelos Titãs no Palco Sunset do Rock In Rio, dia 28, inclusive.
Bento: Isso, com o Edi Rock, dos Racionais, numa parceira doida. E aí a gente pegou bem a faixa e gostou de tocá-la. Fizemos meio que no improviso e está gravada no Showlivre até [nota: há dois registros do grupo no Spotify no Estúdio Showlivre: o primeiro, só do Sioux, é de 16/03/17; o segundo, com o Mattilha, é de 23/10/18]. Já tínhamos feito O Calibre, um cover nacional, uma coisa legal que a gente gostava, mas depois já não estávamos mais na vibe dela porque ela marcou muito a fase anterior da banda. Estávamos olhando para frente, já querendo botar a cara dessa formação no repertório, e começamos a tocar Diversão nos shows. Foi ficando legal e pegando bem, tanto que, no Rock In Rio, ela foi uma das músicas mais quentes.
Onstage: Falando nisso, vocês tocaram na Rock District, no ‘dia metal’. Eu estava lá, mas indo de palco para palco entre o Mundo e o Sunset. Como foi a recepção da galera?
Bento: A gente pegou o mesmo horário do Torture Squad. Estava bem cheio e a recepção foi muito quente, maior do que eu esperava até. Tinha muita gente nos esperando e isso foi uma coisa louca. Era um palco menor, mas a área era grande e me lembro que, na hora em que fui pegar a guitarra, antes do show, consegui dar uma espiadinha, tinha uma galera grande esperando a gente e pensei: “Nossa, mano! Que doido isso!”. Foi legal porque muita gente que eu sei que gosta da banda, mas é de outras cidades onde nunca fomos tocar, estava lá. Isso se juntou a uma área de passagem e a galera foi ficando. Foi uma experiência foda!
Onstage: Vocês abriram o show do Aerosmith no estádio do Palmeiras…
Bento: Três anos hoje!
Onstage: Exatamente hoje? Que legal! Como foi a experiência? Você diria que foi o maior show que já fizeram?
Bento: Sim, é o maior show que a gente já fez, em termos de público. Mesmo que na área ali do Rock In Rio tivesse coisa de algumas mil pessoas, mas no Allianz Parque foi sold out! Amigos e familiares queriam ir e não tinha mais ingresso.
Onstage: Não deu um certo cagaço ali na hora, com tanta gente? Ou foi tranquilo?
Bento: Foi o primeiro show grande mesmo que a gente fez, mas… baseamos até o show de agora naquele porque estávamos com ele muito ensaiado, muito redondo. A gente parou, focou, ensaiou cada passo. A gente tinha aquele medo de a recepção ser fria, mas foi quente até. Botamos na cabeça: “Foda-se! Vamos fazer um puta show e se a galera não gostar, foda-se. Mas a imprensa vai falar que o show foi legal” e fizemos a nossa parte. Fomos com esse espírito e quando chegamos lá, foi indo uma atrás da outra e nem vi o show passar, de tanta adrenalina. Eu me lembro que o barulho vindo da galera era algo quente, positivo. Foi um momento bom para a banda e aprendemos muito [nota: curiosamente, na primeira noite do Hollywood Rock de 1994, Branco e os Titãs também ‘abriram’ para o Aerosmith, com o Poison entre as bandas].
Onstage: Eu estive no workshop do Yohan com o Andreas no Sesc Guarulhos [nota: maio deste ano, transcrito em matéria aqui no site]. Perguntaram como era carregar o nome Kisser e ele foi super sincero: “Do caralho”. Como é para você trazer toda a herança musical do seu pai?
Bento: Para mim é um pouco diferente do Yohan porque, por exemplo, eu nunca fiz um trabalho com o meu pai. Essa foi a primeira participação, de fato [nota: Branco é convidado especial em Diversão, com Gabriel Martins, vocalista do Mattilha, e Cyz Mendes, do Hit Rock Billy Pops e ex-Turnê]. Ele já nos ajudou a fazer um clipe [nota: Outro Lado, dirigido por Branco], mas nunca como ‘o Branco Mello, dos Titãs’, nunca cheguei a trabalhar com ele dessa maneira, sabe? Eu sempre busquei fazer o meu caminho, freqüento os cenários de hard e heavy desde que eu tinha uns catorze anos, assim, por mim. Conheci o Bonnies na época da The Best [nota: banda cover do Guns ‘N’ Roses da qual Bento e Bonnies fazem parte], quando eu era moleque e aí conheci o Gabriel e o Igor. Sempre fiz o meu caminho e acho “do caralho” também, como o Yohan. Aprendo muito, sou um cara que gosta de absorver as coisas, mas não sou tão próximo do trampo dele como o Yohan é do Andreas, até porque eles têm a banda juntos. Muita gente acha… por exemplo, quando abrimos para o Aerosmith, a Vejinha fez aquela coluna Terraço Paulistano comigo e meu pai e nos achincalharam na imprensa, tipo: “Só está abrindo o show porque é filho do cara!”. E não é assim, meu pai sequer foi ao show porque estava tocando…
Onstage: Mas esse tipo de coisa te incomoda ou você tira de letra?
Bento: Tiro de letra. Já me incomodei mais. Eu quis fazer o meu lance, mas a gente tem que estar perto. Pensando no rock brasileiro, a gente tem que estar todo mundo perto. As bandas grandes têm que estar em união com as pequenas. Foi até natural então fazer Diversão e meu pai fazer o baixão com os backings clássicos ali dele, sacou? E é legal, só que eu tento não me aproximar. Sou o Bento Mello.

Aproveitando o ensejo, antes de Yohan dar sua palhinha com a Steel Band, trocamos palavras com o guitarrista:

Onstage: Laico é uma composição só sua. Você já estava com ela escrita ao entrar na banda ou a fez depois que entrou no Sioux 66?
Yohan Kisser: Não apenas ela foi escrita depois que eu entrei como foi uma das últimas a serem feitas para o álbum, acho até que a última. Foi uma necessidade que vimos de ter mais músicas para querer fazer um álbum completo. Aí veio a decisão de fazermos Diversão e essa intro. Foi uma coisa que pensei para o álbum mesmo. Estávamos decidindo a capa juntos e meio que amarramos tudo isso. Ela tem mais ou menos um minuto e meio e abre o álbum [nota: a arte da capa é assinada por Bruno Ferreira, baseada em escultura sem nome de Fernando Zarif].
Onstage: E como foi sua adaptação ao já existente processo de composição da banda?
Yohan: Foi rolando, cara. A gente foi se encontrando e a parte da amizade aconteceu muito rápido. Então nos encontrávamos muito para falar de música, algo inevitável, e as composições foram vindo. Agora faz mais de um ano que estou na banda e já estávamos com o álbum meio que quando eu fiz um ano de banda. Então eu tive um tempo para me adaptar.

Às 22:00 em ponto, Igor pediu a palavra e fez breve discurso de apresentação antes que a audição de MMXIX, propriamente dita, tivesse início: “Boa noite! Eu queria agradecer ao pessoal do Steel Bar, que abriu a casa aqui para a gente. Para quem não sabe, eu toco aqui toda semana, então essa é a minha segunda casa. E hoje estou aqui com meus irmãos do Sioux 66 e vamos apresentar para vocês o nosso novo trabalho. Espero que todo mundo goste dessa nova fase da banda, da nova formação, e vamos que vamos.

Em poucas palavras, queria agradecer a todo mundo que ajudou nesse processo e a todos vocês que estão aqui neste evento maravilhoso. É isso! É o primeiro disco com o Yohan na banda, um disco de rock ‘n’ roll simples. Ele não é preso a nenhum conceito, tema ou estilo e vocês vão sentir isso agora. 2019 tem sido um ano muito bom para a gente, ao mesmo tempo em que é um ano um pouco estranho para o mundo, e foi por isso, por essa ambiguidade que a gente decidiu por esse título e chegamos à conclusão desta arte.

Hora de rolar o som. Alguém quer falar alguma coisa ainda?”. E Yohan Kisser quis: “Enjoy!”. Dado o recado, MMXIX rolou com a capa projetada no telão e laçamos o vocalista para resumir a produção e o lançamento do play, assuntos que haviam ficado de fora nas conversas acima: “O álbum será lançado agora dia 18/10. Ele foi produzido por Nobru Bueno e o Sioux 66 no Estúdio Pub, em Santo André, e, pô, sem palavras para o trabalho que o Nobru desenvolveu. Junto com a banda, ele conseguiu captar toda a essência que a gente queria colocar, todos os timbres.

Fomos atrás de todos os timbres de guitarra que queríamos, de voz, de referência. Foi a primeira vez que trabalhamos com ele e tenho certeza que vão vir mais trabalhos futuros. Ficou impecável e aí vai nosso muito obrigado a ele também”.

Finalizando, há de se destacar o clima de total descontração do evento, sem qualquer tipo de rigor formal. A atmosfera amistosa era tamanha que as pessoas, fossem familiares ou amigos dos músicos, clientes do bar em si, ou imprensa especializada, transitavam livremente pelo ambiente, optando por ficar mais para dentro ou fora dele em função da garoa, do conforto de permanecer sentados ou de um ângulo específico para ver o palco.

O acesso aos integrantes do Sioux 66 possibilitou que os repórteres realizassem suas entrevistas e, complementando o que foi dito por Igor sobre a produção do terceiro trabalho do grupo, vale ressaltar que as músicas foram conjuntamente escritas pelo quinteto, exceto: Laico, de Yohan; Jaz, também de Yohan, mas em parceria com Igor; e Aqui Estamos, composta pelo grupo inteiro junto a Jack Fahrer, ex-Trezzy. O que vem pela frente? O primeiro passo imediato foi a participação na Horror Expo (em breve resenhada no site), encerrando a trinca de shows com Furia Inc. e Venomous, dia 19/10. E se você está sentindo falta de algo, o que não rolou foi o faixa-a-faixa comentado e aberto a perguntas e respostas e tentar palpitar sobre cada um dos títulos mataria seu prazer de ouvi-los individualmente. Em todo caso, o tracklist de MMXIX, já disponível no Spotify, é:

01) Laico – 1’42”
02) Paralisia – 3’41”
03) Respostas – 4’13”
04) O Corre – 3’19”
05) Virtual/Realidade – 4’24”
06) Diversão – 3’25” [cover dos Titãs]
07) Jaz – 4’08”
08) Aqui Estamos – 3’51” [mais recente single, lançado em 26/08]

Setlist – Steel Band
Primeira Entrada
01) Queen Of California (John Mayer)
02) A Horse With No Name (America)
03) Ain’t No Sunshine (Bill Withers)
04) Pride And Joy (Stevie Ray Vaughn)
05) Wicked Game (Chris Isaak)
06) The Thrill Is Gone (B. B. King)
Segunda Entrada
07) You Can’t Always Get What You Want (The Rolling Stones)
08) Don’t Let Me Down (The Beatles) [Participação De Gabriel Haddad]
09) Good Times Bad Times (Led Zeppelin) [Participação De Yohan Kisser]
10) Rock And Roll (Led Zeppelin) [Participação De Yohan Kisser]

 
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