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Skull Fist ::: Manifesto Bar – 17/06/19
Postado em 12 de outubro de 2019 @ 14:27


17 de junho de 2019 tinha tudo para ser um dia histórico em Toronto. Liderados por Kawhi Leonard, após o Raptors fechar a série final da NBA em 4×2 contra o bicho-papão Golden State Warriors havia quatro dias, a festa foi programada para a Nathan Philip’s Square, região central da cidade, mas desordem com tiroteio e até facadas provocou corre-corre, deixou quatro baleados e manchou a festa, por volta de 17:00 de Brasília. Como nossa realidade é mais dura e não ganhamos nada há tempos (Copa América conta?), sem o que comemorar, o máximo que podemos fazer é ouvir metal para aplacar a crise. E, em plena segunda-feira, após passagem pelo Fofinho Rock Bar em setembro/14, rolou a volta do Skull Fist à cidade e o quarteto de Toronto trouxe consigo o que tem de melhor a oferecer: speed metal de qualidade e diversão!
A rigor, graças aos deuses do metal, a oferta de shows por aqui tem sido generosa, em que pese impedir a adesão em massa a todos (ainda mais em pleno início de semana e em área não favorecida pelas linhas do metrô e/ou trem), mas quem foi ao Manifesto apoiou o grupo o tempo todo ao longo de dezesseis bordoadas. Sem banda de abertura, o show marcado para as 22:00 teve apenas cinco minutos de atraso e se o público não era dos maiores, esteve longe de decepcionar. Descendo as escadas de acesso ao palco sem alvoroço, Zach Slaughter (vocal e guitarra), Jonny Nesta (guitarra), Casey Guest (baixo) e JJ Tartaglia (bateria) abriram a festa a todo vapor com Ride Of The Beast, sem a intro falada que abre Head Öf The Pack (2011) e com o frontman fazendo alguma inaudível saudação, perdida entre os instrumentos.

Para quem acha seu vocal no play um tanto esganiçado, vale lembrar que até James Hetfield soava ‘ardido’ em Kill’Em All (1983), aos 20 anos. Depõe contra o canadense o fato de ele já ter 25 no primeiro álbum do conjunto, mas, em sua defesa, John Connelly canta de modo estridente no Nuclear Assault até hoje e é mera questão de estilo. O ponto é: o vocal do canhoto Zach se funde perfeitamente ao instrumental do grupo e até dá uma encorpada ao vivo, embora siga agudo.
Além das evidentes influências de metal tradicional, como Iron Maiden nas guitarras, também impressionava a alegria com a qual o quarteto se apresentava, especialmente Jonny, simplesmente contagiante (como é possível passar o show todo sorrindo?). E mais, contando apenas com a projeção do nome da banda na lateral direita da casa, tudo que eles tinham a mostrar era sua música. E a empolgação não diminuiu em Get Fisted, sacada do mesmo play, assim introduzida pelo vocalista: “Legal pra cacete! Estão bem? Vocês têm que trabalhar amanhã? Isso é foda, mas não se preocupem com isso. É segunda à noite, vamos dar tudo que tivermos e vocês nos darão tudo que têm. Será esse monte de gente aqui dando tudo que tem”. Foi quando começou a despontar a figura de JJ, detonando no bumbo com pedal duplo na velocidade da luz e, prestando atenção ao seu modo de tocar, um pertinente questionamento surgia: por que seus pratos ficavam tão altos (em altura mesmo, não em volume), demandando tamanho esforço? Ainda mais considerando a agilidade de movimentos que a própria rapidez das composições do grupo requer de um baterista. Visualmente é interessante e estiloso, mas é certo que, em alguns anos, os pratos estarão mais baixos (quer apostar?). Outro deleite para os olhos era a movimentação dos caras que, de tão incessante, complicava até os registros fotográficos via celular, constantemente borrados.
Então, após uma exaltada fã berrar e declarar todo seu amor a Zach, foi a vez de Jonny se dirigir à galera: “Estão se divertindo esta noite? Cara, fazia muito tempo que não vínhamos aqui e este é um dos meus lugares favoritos na porra do mundo para tocar. Muito obrigado! Sempre que a gente vem para cá, é muito divertido! Vamos tocar mais umas músicas, talvez uma ou duas, certo? Não aceitamos pedidos, sinto muito, mas vamos continuar a farra e façam o que estavam fazendo, galera”. Pena um reparo na guitarra de Zach ter brevemente cortado o barato imediato antes de Hour To Live. Tirando o ocorrido, a faixa que abriu Chasing The Dream (2014) no set foi puro arregaço e demonstrou a versatilidade de Jonny, temporariamente assumindo os vocais enquanto o frontman novamente sofria com problemas técnicos em seu instrumento e tentava superá-los. Na real, o que mais importava era dar prosseguimento à festa, sem deixar a peteca cair, e os caras conseguiram! Só causou espanto a faixa não abrir uma roda.
Puxada por JJ, a pancadaria seguiu comendo solta em You Belong To Me, primeira de Way Of The Road (2018) na noite, após curiosos gritos do público em apoio ao: “School Fist! School Fist!”. Reflexões à parte, palco e a pista eram pura alegria e, parecendo um pouco mais sério, Zach sentenciou: “Digo há anos, talvez ainda tenha que dizer e sei que vocês me entendem. Deve haver alguém assim na vida de vocês, você pensa, aborda o cuzão e diz: ‘Sabe de uma coisa, cara? Você vai pagar’”, aludindo a You’re Gonna Pay. Com início solado a mil por hora, I Am A Slave veio sem pregações e sim com declarações, desta vez da parte de Casey: “Querem mais? Vocês são maravilhosos. Amamos todos vocês”. A esta altura, sem afetar a performance em si, era bizarro constatar que o volume do microfone do vocal ainda permanecia baixo, se comparado ao dos instrumentos. Arregaçante, Like A Fox veio emendada, com o gracejo inicial nas guitarras e solos animais novamente lembrando a Donzela de Ferro. Em meio a pedidos divididos entre Sign Of The Warrior e Commit To Rock, por mais que Jonny houvesse garantido não ceder a pedidos, calhou de a segunda ser a próxima do set, com novidade: o baixista nos vocais, que não fez feio na faixa mais ‘desacelerada’ da noite, por assim dizer, beirando uma balada, dentro dos padrões do School… ops, Skull Fist.
Com o intuito de anunciar o que viria, Jonny buscou se comunicar: “Beleza! Desde que viemos aqui, todas as vezes…”, mas, sem querer, foi abruptamente cortado por seu parceiro de guitarras, que tentava definitivamente consertar seu equipamento e falava alto com um roadie: “Preciso de mais volume no vocal”. Incrédulo, fitando o colega e esbanjando bom humor, Jonny retomou: “Desde que estivemos aqui, todas as vezes, eu preciso de mais volume no vocal”, provocando gargalhadas, até concluir: “Notei, galera, que nos seus olhos e corações, vocês são pesados pra cacete! Talvez a platéia mais pesada que já vimos! Então esta vai para vocês”. Sem a guitarra de Zach, concentrado apenas em cantá-la, fizeram Heavier Than Metal, mais antiga do set e extraída do EP homônimo de 2010. Ao seu término, o agora exclusivamente vocalista brincou e assertiu: “Que legal! Vocês se lembravam dessa! Galera, vamos tocar algumas pesadas”, a começar por Commanding The Night, verdadeira aula de heavy metal oitentista nos riffs, ainda com a mesma configuração em apenas uma guitarra e notório show de interação, com Zach dando o microfone para que fãs diferentes cantassem o título por quatro vezes.
Ganhando tempo, em decisão inteligente para que banda e equipe sanassem, de uma vez por todas, os problemas na guitarra do vocalista, JJ fez seu curto e efetivo solo, emendado ao petardo Sign Of The Warrior, agora com todos os músicos devidamente aprumados e em espetacular desempenho do baterista no bumbo duplo, como no play. Antes de mandarem Bad For Good, que acalmou um pouco os ânimos com seu pezinho no hard rock, o frontman indagou se tudo transcorria bem e certificou-se: “Não estão cansados? Daqui vocês parecem cansados. Deixem-me ver: quem quer mais?”. Então Jonny encarregou-se de dar a notícia que ninguém queria receber: “Vamos lá, galera! Não queria dizer isso, pois estamos nos divertindo bastante, mas tudo tem que terminar em algum momento. Vocês querem mais uma música? Pode ser que rolem mais, se soarem convincentes. Vocês querem mais uma música?”. Tirando sarro, Zach continuou: “Esta próxima se chama ‘Bebam essa cerveja’, a favorita de todo mundo” e ‘doou’ uma latinha, jogando-a à pista, até retomar: “Era uma piada”. Seu discurso foi completado por Jonny: “Na verdade, temos mais duas músicas”. Outra com sensacional trabalho de pernas de JJ, Head Öf The Pack foi a primeira, com grito agudo inicial de fazer inveja a Detonator!
Após sutis agradecimentos de Zach e clamores certeiros pela próxima, o vocalista cogitou subir as escadas da casa para fazer aquele doce e retornar para o encore, mas, na real, nenhum dos quatro o fez, ficando no palco para a alegria de quem havia gritado por No False Metal, sem a intro falada no álbum, não sem antes o frontman protagonizar o ‘Momento Porquice’ da noite ao pegar uma rodela de limão perdida no palco, colocá-la na boca e cuspi-la em Jonny, com ambos rachando de rir. E se você pensava já ter visto de tudo em um show de metal, o inusitado surgiu com Zach se abaixando e dando apoio para que seu amigo guitarrista subisse em seus ombros para assim tocaram o restante da canção. Um breve: “Muito obrigado, galera! Vocês detonam” do vocalista pareceu encerrar o espetáculo, ainda mais com todos agora rumando aos camarins. Até houve quem caísse na pegadinha indo pagar a comanda, mas com tantos gritos, a banda retornou para a saideira, que ficou por conta de Call Of The Wild (sem gracinhas e com guitarras inspiradas numa certa banda inglesa já citada) após Zach se dirigir ao público: “Vocês pediram mais uma, então vamos fazer mais uma. Aqui vamos nós, mais uma. Vamos nessa”.
Às 23:20, Zach fez os derradeiros agradecimentos, os canadenses partiram de vez rumo ao backstage e não mais regressaram (mesmo em São Paulo, não cabia Heart Of Rio?). E quem saiu de casa disposto a cantar, do começo ao fim do espetáculo, talvez não tenha refletido acerca da duração do show. Uma banda tem todo o direito de tocar o que quiser e ficar no palco o tempo que achar justo, ou puder, mas não é estranho um grupo jovem executar set de meros setenta e cinco minutos, ainda que em performance incendiária? Outro ponto era: por que Skull Fist e Picture se apresentaram conjuntamente em Santigo (13/06, Teatro Ex Mundo Mágico), Limeira (15/06, Bar da Montanha) e Londrina (20/06, Valentino Bar), mas separados em São Paulo? Piora o cenário constatar que os holandeses gravaram um DVD oficial na véspera no próprio Manifesto. Por que duas datas seguidas no mesmo local na cidade e não uma só, com os dois grupos? Enfim, melhor partir para casa com o duro choque de realidade ao cair a ficha de que logo mais era ‘dia de branco’, pois até a festa em Toronto já havia minguado.

Setlist
01) Ride Of The Beast
02) Get Fisted
03) Hour To Live
04) You Belong To Me
05) You’re Gonna Pay
06) I Am A Slave
07) Like A Fox
08) Commit To Rock
09) Heavier Than Metal
10) Commanding The Night
11) JJ Tartaglia’s Drum Solo
12) Sign Of The Warrior
13) Bad For Good
14) Head Öf The Pack
Encore 1
15) No False Metal
Encore 2
16) Call Of The Wild

 
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