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Soto ::: 05/05/19 ::: Carioca Club
Postado em 27 de maio de 2019 @ 19:18


Texto por: Vagner Mastropaulo

Fotos: Leca Suzuki

Agradecimentos: Heloisa Vidal

Jeff Scott Soto segue cantando muito bem, obrigado, provando que não foi à toa o seu recrutamento para um dos inúmeros projetos de Mike Portnoy, vendo-o e ouvindo-o abrir para o Winery Dogs, conforme o baterista revelou ao público no show do quinteto em maio/2016. Prestes a lançar Origami oficialmente dia 24/05, terceiro álbum de sua banda Soto, o cantor voltou a São Paulo. Pena que o imenso público que conferiu tanto a citada vinda do trio Kotzen / Sheehan / Portnoy quanto a estréia do Sons Of Apollo na cidade, lotando o Tropical Butantã ambas as vezes, não prestigiou o americano desta vez. Os motivos não ficarem claros, pois o ingresso saía a oitenta reais no primeiro lote: excesso de shows por aqui? Grana curta pelo Rock In Rio? Preguiça? Falta de interesse pelo artista? Sorte de quem foi e participou de uma autêntica celebração ao hard rock!

Sem banda de abertura, pontualmente às 20:00, conforme prometido, para acompanhar Jeff Scott Soto, vieram ao palco os brasileiros Edu Cominato (bateria) e BJ (guitarra e teclados), o espanhol Jorge Salan na outra guitarra e o baixista americano Tony Dickinson, substituindo David Z, vítima fatal do trágico acidente com o Adrenaline Mob em julho/2017, e homenageado como “membro honorário” no About do Facebook oficial do grupo Soto. Abriu a apresentação, após retumbante intro (não tão épica quanto Divak), a ainda inédita HyperMania, faixa de abertura de Origami, de acordo com o tracklist divulgado pelo cantor à imprensa em 22/03. Uma pena o volume de seu vocal ter soado tão baixo, chegando a falhar, ainda misturado aos instrumentos (problema atenuado no decorrer da performance). Desta forma, não foi possível analisar Soto no início, com rigor de detalhes, mas constatou-se ser material Prog Metal empolgante o suficiente para abrir o álbum. Dando pitada mais hard rock, houve um grito intenso perto de seu final, quando o vocalista anunciou a seguinte: “Sejam bem-vindos ao FreakShow, São Paulo, Brasil”, com suas linhas intrincadas de guitarra. Como surpresa, o baixo de seis cordas de Tony desempenhou importante papel na canção, sendo possível sentir no corpo as vibrações geradas pelo instrumento.

Decorando o palco, apenas o nome do conjunto projetado no telão atrás do kit de Edu. Enquanto isso, Soto mostrava toda sua ginga: “Vamos ficar um pouco funky”, referindo-se à parte boa do termo e não à vertente carioca. E deu trabalho entender o que mais foi dito, por seu microfone ainda estar baixo e embolado, mas o cantor citou algo sobre “você querer mexer seu quadril” (acreditem, não era funk do Rio) e pediu para “mexerem a cabeça também”, no embalo da swingada 21st Century, primeira do catálogo sob seu nome próprio no set e única de Beautiful Mess (2008), agora com BJ nos teclados, deixando a guitarra de lado ao ajudar Tony nos vocais de apoio. Drowning, contagiante, imprópria para ser ouvida ao volante e outra da discografia Jeff Scott Soto, veio emendada, chegando a ter todos os músicos nos backing vocals, com BJ de volta à guitarra.

Finalmente comunicando-se de modo mais desenvolto, Soto foi simpático: “Obrigado, São Paulo”, em português mesmo, até prosseguir: “É ótimo estar em casa de novo. Mas só um segundo, falta algo… Caipiroska!”, ao mesmo tempo em que um fã o atiçava: “Vira, vira, vira…”. Então Soto continuou: “Sabem, minha voz não desperta até eu tomar uma dessas. Vocês começaram, eu vou terminar: ‘Vira, vira, vira…’”, deixando o “…vira, vira, vira, virou” para os fãs, ao enxugar apenas o primeiro drink da longa noite, cumprindo o prometido em vídeo no Facebook da promotora do evento. Retomando após brindar, repetiu as saudações em meio a lembranças: “Enfim, sejam bem-vindos ao segundo show de Soto aqui em São Paulo. Nossa estréia foi há alguns anos, com o Winery Dogs, e é ótimo estarmos de volta. E hoje é domingo à noite, onde diabos estão todos? Planejamos tocar um monte de coisas pensando que todo mundo viria, mas cadê a galera? Quer saber? Dane-se esse povo maldito, pois vocês estão aqui e vamos detonar! Vamos tocar uma do primeiro álbum e ela se chama Wrath”, pedindo ajuda nos gritos de “Hey! Hey! Hey” e também no coro posterior na poderosa canção de Inside The Vertigo (2015), sucedida por Weight Of The World e seu refrão grudento, no melhor sentido do termo, mantendo a energia em alta.

Segunda e última de Lost In Translation (2004), Soul Divine foi perfeita amostra de hard rock bem feito ao aliar peso, riffs, melodia, excelente uso de backing vocals, trecho mais lento e um belo solo! Fazendo o público marcar o tempo em palmas, o vocalista bebericou sua segunda caipiroska e descreveu o que viria: “A próxima música é sobre aquele momento em que alguém tenta por você para baixo, bem devagar e você diz: ‘Vá se foder! Não vai rolar, pois é VOCÊ que vai cair’”, aludindo a The Fall, outra com o baixo de Tony acentuado. Soto chegou a se ajoelhar de olhos vendados, realçando sua interpretação, antes de mais um extraordinário agudo perto de seu final e, ciente do carinho existente por seus tempos de W.E.T., foi sincero ao dedicar o medley de quase sete minutos do supergrupo: “São Paulo, esta é para vocês!”. Curiosamente, foi escolhida uma de cada álbum: Watch The Fire, de Earthrage (2018), alternando os vocais com BJ; Learn To Live Again, de Rise Up (2013); e a linda One Love, de W.E.T. (2009), com BJ nos teclados. Sensacional!!!

Enquanto banda e público recuperavam-se de tanta comoção, Soto agradeceu e apresentou os músicos enfatizando as origens: Tony, de Denver, Colorado; Jorge, de Madrid, o “alcoólatra residente” (em algum tipo de piada interna); e os nativos Edu e BJ, este “nos teclados, guitarra, vocais e caipiroskas”. Bem-humorado, Soto fez seu merchan em meio a um desabafo: “Em algumas semanas lançaremos um álbum do Soto novinho em folha. E estou farto de ler na imprensa e de ouvir as pessoas dizendo: ‘Ei, cara, seu novo projeto, sua nova banda solo’. Soto é uma banda, não apenas eu, mas todos nós. Enfim, ao ouvirem este novo álbum, eu espero que vocês curtam. Ele se chama Origami e a próxima se chama Origami”, segundo single do play e com lyric vídeo disponível.

Ao apresentar a única de Prism (2002), o cantor destacou o equilíbrio: “Vocês receberam algo novo, agora daremos algo antigo. Querem? Senão podemos tocar só material novo. Querem algo velho? Podemos levá-los até Eyes Of Love?”. Após terminá-la, livrou-se de um incômodo fio de cabelo e viu algo interessante: “Desculpem-me. Não paro de me engasgar com meu cabelo. Ei… um segundo”, parando tudo para ser presenteado com uma camiseta branca e seu rosto desenhado na estampa. Ao exibi-la, dançou e cantou um snippet de Rosanna, do Toto, até bruscamente interromper seus colegas: “Chega! Não somos o Weezer” (que zoou uma fã gravando o cover em maio do ano passado após ela pedir, pelo Twitter, para que eles fizessem Africa). No timing das covers, Soto exigiu seriedade: “Preciso dizer uma coisa e é a única hora em que fico sério porque é algo importante: da última vez que tocamos em São Paulo, tínhamos outro membro no palco conosco. Esse cara amava o Brasil, seu povo, sua comida, sua energia e a única coisa que ele não curtia era… caipiroska, pois ele não bebia. Ele ainda está em nossos corações e na banda: Mr. David Z”, provocando aplausos, até prosseguir: “O que vamos tocar foi idéia do David. Ele dizia: ‘Caras, eu amo Michael Jackson e acho que devíamos gravar essa música porque dá para fazê-la de um jeito Soto’. Então a faixa original executada por David Z estará em Origami e ela é dedicada a David esta noite, o restante da turnê é dedicado a ele e vocês a conhecem”, em indicação a Give In To Me, enquanto o cantor pendurava no bumbo a camiseta branca recebida. Belíssima homenagem!

Colada veio Cyber Masquerade, quando o vocal voltava a soar baixo e o baixo ironicamente se sobrepunha. Provando não estar bebendo limonada ou chá gelado, Soto fez um fã provar sua nova dose de caipiroska, redestacando seus miraculosos poderes de cura: “Quando estou assim: ‘Merda, não conseguirei cantar hoje’, isto me faz chegar lá!”. Então simulou voz fraca, cansada e grave: “Para melhorar, eu tomo um gole de caipiroska, subitamente o céu se abre e fico assim”, em portentosa linha vocal para o verso “Livin’ the life I was born to live, givin’ it all I’ve got to give”, de Livin’ The Life, do Steel Dragon, composta por Peter Beckett (Little River Band e Player) e Steve Plunkett (Autograph) como trilha sonora de Rock Star (2001). E concluiu: “Então, a moral da estória é: continuem bebendo, meus amigos! Enquanto estou bebendo, estou cantando e quando canto, quero que vocês cantem”. E se você pensa que parou por aí, ledo engano: Soto repetiu a metade inicial do verso, pediu acompanhamento, marcou o tempo em palmas e, sem a ajuda de seus colegas ou uso do microfone, mandou o verso mais duas vezes, ecoando cristalinamente pela casa, até a banda voltar a tocar, levando os fãs à loucura. Insaciável, puxou um coro de “Yeah, yeah, yeah… hey, motherfuckers!” e riu de si próprio: “Eu não sei a razão, mas em qualquer lugar do mundo, quando canto ‘hey, motherfuckers’, a multidão adora cantar ‘hey, motherfuckers’ de volta”. Então disse ser hora do boa noite, retomou a canção e completou-a regendo Edu, erguendo e abaixando as mãos numa aula de como ter público (e banda) literalmente nas palmas das mãos.

Ao ausentar-se momentaneamente, o vocalista deu um aviso: “Vou deixar um pouco o palco. Jorge Salan tem algo a mostrar a vocês enquanto eu vou tomar outra caipiroska”. Na prática, o agora quarteto tocou a magnífica Risk, do terceiro trabalho autoral do espanhol: Chronicles Of An Evolution (2007). No regresso de Soto, um presente para deleite dos fãs de Talisman: um medley que emocionou um marmanjo bombado quase no gargarejo e durou incríveis vinte minutos em dez canções do grupo sueco, metade delas retiradas do auto-intitulado primeiro full length, de 1990, a partir de Break Your Chains, com a introdução rolando no sistema de som. Ainda rolaram duas de Genesis (1993) e os covers de Frozen (Madonna) e Crazy (Seal), de Truth (1998) e Life (1995). A lista ordenada está no final da matéria, mas vale registrar que, entre Day By Day e Give Me A Sign, o cantor vestiu aquela camiseta branca dada por Lucas Castro. Como a arte era bonita, com traços próprios, fica aqui seu Instagram, que estava abaixo do desenho: @olucastro. Parabéns, garoto!

Ainda sobre o medley, um breve resumo em quatro atos: a) impressionou a semelhança entre Colour My XTC e Give It Away, do Red Hot Chili Peppers, até pelo evidente baixo funkeado na versão ao vivo feita por Tony, que detonou no medley todo, a bem da verdade; b) o respeitoso discurso de Soto antes de Crazy: “Gostaria de agradecer a todos que vieram aqui esta noite e especialmente ao país que é o Brasil porque, não apenas temos dois brasileiros na banda, mas o cara que mixou nosso álbum, Adriano Daga, é do Brasil; c) ao identificar um amigo na pista, Soto foi taxativo: “O que você está fazendo aí? Venha aqui, motherfucker! Pule a barricada e seja homem! Este cara, além do BJ, é um dos maiores cantores que conheci aqui em São Paulo. Ele ainda é um puta cantor: Nando Fernandes” (ex-Cavalo Vapor e atual Sinistra), chamado para dividir os vocais em I’ll Be Waiting. A parte cômica foi um gaiato, pensando ser ele o convocado por Soto, pulando a grade, querendo subir para cantar junto e provando que arroz de festa há em todo lugar; d) por fim, ordenar as canções do medley foi fácil, tarefa inglória saber em qual copo de caipiroska exatamente já estava o vocalista. E vá lá saber quantas mais ele tomou no intervalo para o encore…

De volta, Soto sentou-se no kit de Edu e puxou a famosa batida de We Will Rock You, combinação que vem de longa data: o citado show do Sons Of Apollo teve um solo vocal (sim, apenas ele e público) com The Prophet’s Song e Save Me, esta gravada oficialmente em Dragon Attack – A Tribute To Queen (1997), sem contar a paródia Divak Rhapsody, feita para divulgar Divak (2016). E então Soto fez bombástica revelação, em primeira mão: “A única razão pela qual fiz isso foi para informá-los que tenho um anúncio a fazer: voltarei para cá dentro de dois meses, em julho. Terei BJ, Edu e Leo Mancini comigo no Manifesto fazendo um show-tributo ao Queen. Sim, é isso aí: voltarei a São Paulo em julho!” (quem quiser monstruoso aperitivo pode conferir no YouTube um DVD italiano de 2003 com mais de duas horas de conteúdo: The Jeff Scott Soto Queen Concert – Live At The Queen Convention). Após os urros de aprovação, continuou: “Tudo isso me faz querer me sentar e calar a boca, digo me levantar e gritar”, sinalizando Stand Up. Seria justo chamar de cover a faixa real da fictícia Steel Dragon? Para simplificar, digamos que o ‘cover’ encerrou a festa, não sem antes o vocalista reapresentar seus músicos e agradecer pela última vez: “Muito obrigado! Eu sei que fizemos isso para nos despedirmos da última vez. Eu não quero dar tchau, sair do palco e foda-se. Gostaria de cantar um adeus” e cantou o verso “Good night, sweetheart, well, it’s time to go”, de Goodnite, Sweetheart, Goodnite, originalmente gravada pelo The Spaniels em 1953, até retomar: “Então o modo como a banda Soto parte é como o Steel Panther gosta de se despedir” e os cinco cantaram o refrão de Community Property, do conjunto de Los Angeles, a cappella, antes de um “Adeus! Boa noite” cravar pouco mais de uma hora e cinqüenta minutos no palco.

Estranhamente, não tocaram BeLie (primeiro single de Origami e com lyric vídeo disponível), ainda mais por ela estar no setlist de palco, entre Soul Divine e The Fall, não sendo a única do álbum limada da lista, pois Detonate, quinta do futuro álbum (também com lyric vídeo pronto), constava entre a faixa-título e Eyes Of Love. E não deu para entender o que faziam os quatro umidificadores e/ou ventiladores na lateral direta da casa, ao lado do setor de merchandising, em direção ao fumódromo. Não foi a primeira vez, mas não é prática comum utilizá-los no Carioca Club, sobretudo num show vazio, no outono e sem a secura do ar. Alheios a isso estavam Mike Vescera e Kai Hansen, curtindo a festa nos camarotes do lado oposto, na cidade devido às participações no show de Edu Falaschi, no Tom Brasil na véspera. E aí cabe um adendo: deve ser ‘chato’ ser Kai Hansen: fundador do Helloween, pai do Power Metal alemão, o cara esteve na Festa de Aniversário da Top Link no Tropical Butantã na sexta, na gravação do DVD de Edu (esticando até o Manifesto, onde deram canja) e em outro show no domingo… Enfim, Soto em julho no Manifesto cantando Queen! Será que lota? O preço é camarada, apenas dez reais a mais. Na dúvida, chamem o Kai Hansen!

 

Setlist

  1. xx) Intro

01) HyperMania

02) FreakShow

03) 21st Century (Jeff Scott Soto Song)

04) Drowning (Jeff Scott Soto Song)

05) Wrath

06) Weight Of The World

07) Soul Divine (Jeff Scott Soto Song)

08) The Fall

09) W.E.T. Medley [Watch The Fire / Learn To Live Again / One Love]

10) Origami

11) Eyes Of Love (Jeff Scott Soto Song)

12) Give In To Me (Michael Jackson Cover)

13) Cyber Masquerade

14) Livin’ The Life (Steel Dragon Cover)

15) Risk (Jorge Salan Song)

16) Talisman Medley [Break Your Chains / Day By Day / Give Me A Sign / Colour My XTC / Dangerous / Just Between Us / Mysterious (This Time It’s Serious) / Frozen (Madonna Cover) / Crazy (Seal Cover) / I’ll Be Waiting]

Encore

17) Stand Up (Steel Dragon Cover)

 
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