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The Flower Kings :::16/11/18 ::: Carioca Club
Postado em 27 de novembro de 2018 @ 20:11


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Fernando Yokota

Agradecimentos: Lucas (Overload)

The Flower Kings mostra descontração e quebra protocolos em noite informal

 Ao ver o setlist, a reação poderia ser: “Só oito músicas? Que pouco!”. Não no rock progressivo e não em performance maiúscula de duas horas do Flower Kings (até porque foram dez, com duas junções, pelos tamanhos). A lamentar apenas o baixo comparecimento de público, com menos da metade do Carioca Club tomado. E até é fato que a data não ajudou, caindo entre emenda de dois feriados na cidade, mas sorte deu quem testemunhou o show praticamente particular, sobrando educação do público e informalidade, com algumas quebras gerais de protocolo: não havia qualquer tipo de separação (cordas, barricadas, correntes ou até mesmo os seguranças da casa) entre palco e platéia, que se comportou exemplarmente, sabedora de seu lugar dentro do espetáculo; fãs dirigiam-se diretamente aos suecos (e recebiam respostas), tendo apenas de falar um pouco mais alto; dois fiéis saíram da primeira fila no gargarejo para comprar cerveja e voltaram ao ‘seu lugar’, sem que ninguém precisasse dar uma de esperto, se aproveitando da situação; e apresentar os companheiros só no final? Para quê? Pois se podia ser feito após catorze minutos, antes da segunda música, o guitarrista/vocalista Roine Stolt assim o fez. Simpático (de óculos e cabelos presos, ele não lembra Geddy Lee?), ao entrar no palco, esbanjou carisma: “Como vocês estão? Venham mais perto. Faz bastante tempo que tocamos aqui. Não me lembro, talvez quinze anos?”. A rigor, dezoito longos anos, mas a espera seria recompensada.

Sem banda de abertura e sem qualquer tipo de adereço decorativo (exceto o bizarro paletó vermelho do baixista Jonas Reingold, com caveiras vermelhas nas mangas e costas pretas), a música falou por si só pontualmente a partir das 21:05 (cinco minutos caracterizam atraso?) com Last Minute On Earth como uma bela entrada não concluída e sim juntada a What If God Is Alone, um interessante combo que facilmente passou como uma peça só. Ao comunicar-se outra vez, Roine foi educado: “Muito obrigado! É ótimo estarmos de volta e, na verdade, tocarmos juntos novamente porque, não tocávamos há quanto tempo? Cinco anos?”, mostrando realmente não ser muito bom de conta, para ser corretamente corrigido por Jonas: “Acho que foi em 2015 a última vez. Mesmo assim, muito tempo”. Prosseguindo, Roine apresentou o baixista, o canhoto guitarrista e vocalista (alternado consigo mesmo) Hasse Fröberg, os dois novos integrantes (o baterista napolitano Mirkko DeMaio e o tecladista americano Zach Kamins) e deu um spoiler: “Focaremos majoritariamente em músicas antigas, gravadas entre 1994 e 2002. Esperamos que vocês gostem das que escolhemos para hoje e a próxima é do Retropolis”, There Is More To This World, de 1996.

Então evidenciou-se o padrão estabelecido pelo porta-voz Roine para o concerto: interagir a cada final de canção e contar um pouco sobre a seguinte: “Vamos nos adiantar no tempo para 2002 e outro álbum duplo. Não sei o quão familiarizados vocês estão com a música do Flower Kings”, até ser surpreendido por um fã no gargarejo erguendo uma cópia de Unfold The Future e continuar: “Aí está o álbum real e podemos entrar para a história como a banda que mais lançou álbuns duplos…” Tudo ia bem até ser interrompido por um afoito fã, em inglês: “E mais bateristas” [nota: drummers], causando espanto no músico, por ter entendido e questionado: “What? Rubbish? Trouble?”, até entender e discordar: “Não sei! O Spinal Tap é a primeira e a gente vem em segundo, o que é bom o suficiente. Tocaremos uma deste álbum, você pode mostrá-lo a todos”, dirigindo-se ao fã com o play, e veio The Truth Will Set You Free, em versão de quase vinte e quatro minutos e cinco partes.

Em nova interação, ao ouvir do mesmo empolgado fã de outrora que ele compunha músicas espetaculares, Roine brincou: “Obviamente que sim!”. Realista, ponderou: “Quero dizer, para ser sincero, eu fiquei surpreso, eu diria. Pois eu não ouvia nenhum dos álbuns e não estava em contato com a música do Flower Kings há bastante tempo e tudo começou quando nossa gravadora na Europa, a InsideOut Music, perguntou se queríamos sair para tocar pelo seu aniversário de vinte e cinco anos [nota: outro erro de conta de Roine com a criação do selo alemão em 1996]. Eles queriam trazer duas das bandas que meio que começaram com eles: o Spock’s Beard e nós. Eu não tinha nada em mente, mas comecei a falar com o Jonas e o Hasse, que disseram que poderíamos tocar algumas músicas antigas. É o que tínhamos intenção de fazer e trouxemos esses caras e eles são ótimos”, apontando para os novos membros. Ao explicar a próxima, foi sincero: “Ela praticamente começou tudo para o Flower Kings. Se me lembro bem, foi gravada em 1993, quando alguns de vocês eram bem pequenos e eu não tinha a menor idéia de que as pessoas gostavam desse tipo de som chamado progressivo e que assim eu alcançaria cantos diferentes do mundo. Foi uma grande surpresa para mim. E então mais bandas surgiram tocando este tipo de ‘música de aventura’, que é adorável. Enfim, vamos tocar a faixa de abertura de nosso primeiro álbum”, The Flower King (sem o ‘s’ mesmo, em curiosa constatação que, para Roine, o álbum The Flower King, de 1994, não é seu terceiro trabalho solo, sendo por ele considerado o primeiro lançamento oficial do conjunto sueco, talvez por contar com Hasse Fröberg no line-up). O fato foi que, como Last Minute On Earth, ela não foi inteiramente tocada e sim emendada a My Cosmic Lover.

Em outra pausa explicativa, Roine contextualizou: “De 1995 agora vamos um pouco para frente, até um álbum chamado Stardust We Are. Acho que foi um trabalho decisivo para nós, de algum modo. Fomos ousados em fazer um álbum duplo com tantas músicas malucas e fomos para os Estados Unidos tocar pela primeira vez, algo que meio que colocou a banda no mapa, como eles dizem por lá. Ainda gosto muito deste álbum e esta é a faixa de abertura, In The Eyes Of The World”. E talvez você não acredite, mas em vez de prestarem atenção, duas digníssimas malas sem alça destoavam na pista, a tagarelar em voz alta enquanto o músico discorria sobre o tema, alheio às loiras sem noção de tempo e espaço. Felizmente elas se separaram e não atrapalharam ninguém em nova elucidação do cordial Roine: “Vocês notaram que todas as músicas são meio longas? É algo que depende do ponto de vista. Há uma canção que era, para ser sincero… ela não cabia no final de um CD e durava uns trinta e cinco minutos, meio longuinha. E quando passamos a trabalhar nela, ela se tornou uma piada: ‘Vamos por mais cinco minutos aqui, mais dois minutos ali’ e então Tomas [nota: Bodin, ex-tecladista] e eu trabalhávamos em meu escritório e acabamos resumindo-a. Vamos tocá-la e ela segue longa: Stardust We Are”, a última antes do encore. Ao término de sua primeira parte, houve um breve momento com apenas Roine e o tecladista no palco, até o retorno geral para a retomada e conclusão de sua linda versão integral. Deixando o palco, Roine reapresentou seus colegas e agradeceu a todos pela presença.

Rapidamente o quinteto retornou para executar a parte final de Life In Motion – na prática, os últimos quatro minutos e meio de seu registro de estúdio em No Sum Of No Evil (2007) – a única pós-2002 a romper o que havia sido dito anteriormente. A saideira I Am The Sun (cuja soma de suas duas partes chega a quase vinte e seis minutos) também foi editada, contendo a primeira metade de sua primeira parte (e mais pesada de toda a noite, por assim dizer), colada à segunda metade da parte dois (na real, pouco mais de seus quatro minutos finais), totalizando assim algo em torno de treze minutos. Ao seu término, Roine re-reapresentou seus colegas, agradeceu e quando finalmente entendeu que aquele fã com o exemplar de Unfold The Future ansiava por autógrafos, o músico jurou regressar em cinco minutos para atender ao pedido, mas este escriba não aguardou, contando com a boa fé dos suecos. E aí caiu a surpreendente ficha de que outra ‘regra básica’ (a derradeira) não havia sido cumprida, uma vez que não houve qualquer troca de baixo ou guitarra em todo o set: Roine só se apresentou com uma Fender Telecaster vermelha; o canhoto Hasse usou somente uma Gibson Les Paul marrom clara; e Jonas tocou apenas seu baixo Rickenbacker vermelho (e não é que o instrumento combinou com seu paletó de caveiras?).

Setlist

01) Last Minute On Earth / What If God Is Alone

02) There Is More To This World

03) The Truth Will Set You Free

04) The Flower King / My Cosmic Lover

05) In The Eyes Of The World

06) Stardust We Are

Encore

07) Life In Motion [Final Apenas]

08) I Am The Sun [Partes 1 e 2 Combinadas]

 
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