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Turbonegro ::: 15/09/19 ::: Carioca Club
Postado em 23 de setembro de 2019 @ 23:28


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Agradecimentos:  Costabile Salzano Jr / Liberation

O dia em que João Gilberto virou deathpunk!

Quando na vida você imaginaria sair de casa para ver um grupo abrir seu show falando sobre… pizza? Pois é, para tudo há uma primeira vez e assim estrearam os noruegueses do Turbonegro em solo brasileiro, com direito a um sonho bem punk rock relatado pelo vocalista Tony “Duke Of Nothing” Sylvester. Abrindo a noite, o Corazones Muertos entreteve os poucos que se arriscaram a entrar cedo no Carioca Club e assistiram à energética apresentação, iniciada pontualmente às 19:30, pautada num divertido rock ‘n’ roll que fez os vinte e cinco minutos do conjunto argentino-brasileiro voarem. Antes, porém, não custa registrar a inovação no merchan: a venda de caxangás (chapéu usado por marinheiros) brancos a sessenta e cinco reais e que, vistos dos camarotes, traziam um diferencial à festa, tamanha a adesão ao souvenir.
Merecendo mais gente na casa e com doze bandas citadas como influências no perfil do Facebook, Joe Klenner (vocal e guitarra), Ziggy (guitarra), Índio (baixo) e Jeff Molina (bateria) deram o pontapé inicial com No Mercy, extraída do split Corazones Muertos & Turbocoopers – Shout America, e lançada como single em julho. Educado, o frontman deu as boas-vindas: “Boa noite! Muito obrigado a todo mundo que está aqui. Somos o Corazones Muertos e essa é Spikes & Dogs”, com Índio e Ziggy ajudando nos backing vocais da primeira faixa de Carnival Killers (2017), o mais recente álbum. Do mesmo play veio Death & Glory, contagiante e um risco a quem assiste a shows parado, emendada a Home Alone, ainda indisponível no YouTube e no Spotify, outra espirituosa canção incluída no split com o Turbocoopers.
Famosa pelo Clash, composta por Sonny Curtis (Crickets) e registrada em estúdio também por Bobby Fuller Four, Dead Kennedys – com sutil alteração no refrão – e Green Day, I Fought The Law manteve o lado punk do grupo em evidência e foi seguida por Fly Away, a primeira de Alive From The Graveyard (2014) no set, com pitadas de Offspring. Do mesmo álbum, mas regravada e fechando Carnival Killers, veio justamente o tema da camiseta branca de Ziggy: Don’t Kill Rock ‘N’ Roll, a saideira.

Contando apenas com um adesivo de seu logo em coração estilizado a decorar a pele da batera, o quarteto apostou em sua sonoridade e se deu bem. No mais, os outros únicos apelos visuais eram o chapéu de Joe e o boné do MC5 na cabeça de Índio. Despedindo-se, o vocalista cravou: “No dia 29 estaremos tocando no Z, aqui no Largo da Batata, com o Situation Nine e o Copa 13. Colem por lá!”. Saíram aplaudidos! Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a banda, há uma entrevista de julho/17 com Joe Klenner em https://www.rockarama.com.br/corazones-muertos-o-rock-pulsante-que-se-recusa-a-morrer.
Em expediente não adotado previamente, as cortinas se fecharam no intervalo de quarenta minutos, gerando expectativa. No primeiro camarote à direita, Jão, guitarrista e temporariamente vocalista do Ratos De Porão, pacientemente tirava fotos. Na pista, num típico caso de ejaculação precoce, fãs faziam coro e, com aquela típica ansiedade que apenas atrapalha determinadas performances, gritavam “I Got Erection”, que fecharia a apresentação.

Com míseros cinco minutos de atraso, as cortinas se reabriram e, com as luzes apagadas, imagens brotavam no telão até a primeira interação do baixista Thomas “Happy-Tom” Seltzer (o único com um caxangá), que recitou os versos inaugurais da já citada The Age Of Pamparius, abrindo assim os trabalhos e indo muito além da básica meia muzzarella / meia calabresa, com uma pitada de The Who em suas guitarras. A reação? Insanidade pura de quem se aglomerava, pulava e cantava alto na frente da pista e se espalhava confortavelmente pelo meio e fundo.
Puxada na guitarra por Rune Grønn, o “Rune Rebellion”, Part II: Well Hello inaugurou uma trinca de RockNRoll Machine (2018), com o tecladista Haakon-Marius Pettersen, ou “Crown Prince Haakon-Marius”, dando uma palhinha num pandeiro. No telão, o nome da banda brotava com fontes e cores diferentes, em procedimento nada recomendável a quem sofre de epilepsia. Part III: RockNRoll Machine veio colada, desacelerando um pouco o show, e então o frontman falou pela primeira vez, anunciando a faixa que encerraria as três do álbum da turnê: “Brasil, São Paulo, bem-vindos! Viemos do norte para entretê-los. Aqui é rock ‘n’ roll! Como vocês estão? Esta é sobre esportes radicais e se chama Hurry Up & Die”, com começo de guitarra e bateria que lembrou Highway Star (Deep Purple).
Tommy Akerhold, ou “Tommy Manboy”, fez a levada de Back To Dungaree High em seu kit, com uma caveira controlando marionetes no telão de fundo, e então seu quase xará, Tony voltou a se dirigir ao público: “Deus do céu, Brasil! Obrigado. Tocamos algumas do RockNroll Machine, conhecem esse álbum? Querem ouvir uma antiga? O que acham? Talvez uma realmente antiga”. Mal deu tempo de prosseguir e já se ouvia o piano de Bohemian Rhapsody (Queen), com a platéia fazendo sua parte na cantoria até “Nothing really matters”, pois, a partir daí, foi a vez da batida de City Of Satan (ao vivo ainda mais semelhante a We Will Rock You) dar o ar da graça e a dica do que viria, sob óbvias luzes vermelhas, combinando com a regata do vocalista, onde que se lia: “Marine Corps League – Semper Fidelis – Terre Haute, Indiana”.
Do mesmo play, Party Animals (2005), viria a próxima, não sem antes o frontman dar detalhes sobre um sonho: “Isso é uma loucura, estamos num fuso horário diferente. Estávamos no backstage e tive um sonho, uma visão. Nela, estou andando numa trilha pelas selvas do Brasil. Sim, é lá que estou. E, à distância, vejo um fantasma. Vejo o espírito de João Gilberto! Ele chega para mim e diz: ‘Tony, sou o rei da bossa nova e você é o rei do deathpunk!’. Eu digo: ‘Obrigado, João’. E ele me diz: ‘A propósito, você pode me arrumar um pouco de cocaína?’. E eu: ‘O que????’. ‘É porque não há cocaína no Paraíso!’. E digo: ‘Se não há cocaína no Paraíso, não quero ir. Porque, onde quero estar, quero ser soprado, quero que me soprem: Blow Me (Like The Wind)’”, com discreto erguer em sua camiseta para mostrar a tatuagem em sua barriga.
Hot For Nietzsche trouxe o álbum da tour novamente às paradas e exibiu o talento do tecladista até a guitarra de Knut “Euroboy” Schreiner juntar-se à de Rune e fundir The Who a AC/DC. E não que a galera não estivesse curtindo, mas All My Friends Are Dead explodiu de vez a pista, gerando até um princípio de roda, com todos cantando em uníssono. Atento, Tony atiçou ainda mais: “Estão prontos? Are You Ready (For Some Darkness)?”. E antes de Fist City, com guitarras e bateria à la The Cult, já que o assunto era punho, o vocalista usou o seu fazendo movimentos como se acelerasse uma motocicleta. Ao anunciar Wasted Again, foi sincero: “Nem sei que dia é hoje! É domingo? Pode mesmo ser domingo? Meu Deus, o início do final de semana brasileiro, que começa agora”, acompanhada de outras frases impossíveis de se entender devido ao som embolado de seu microfone enquanto falava. Durante a canção, divertidas versões marinheiras de Patolino e Gaguinho no telão faziam a alegria geral.
Sell Your Body (To The Night) representou Scandinavian Leather (2003), mas a arte no telão era a capa de Sexual Harrassment (2012), o full length da estréia de Tony, curiosamente ignorado no set. Apresentando Denim Demon, que integra tanto Stinky Fingers – o EP split de 1995 com o Flying Crap cuja capa e título tiram sarro de Sticky Fingers (1971), dos Rolling Stones – quanto Ass Cobra (1996), Tony destacou: “Esta é nossa primeira vez na América do Sul, sabiam disso? Muito bom! Vemos chapéus de marinheiros, jaquetas com patches e vocês fazem com que nos sintamos bem-vindos. Muito obrigado!”.

Mais punk, foi o esporro que fez chover cerveja na pista, com copos esvoaçantes. Get It On foi cantada (e pulada) bem alto e, ao seu término, o baixista verificou: “St. Pauli, ainda estão conosco?”, em trocadilho alusivo ao time de Hamburgo que disputa a segunda divisão da Bundesliga e possui fortes ligações ao movimento punk (historicamente foi a primeira equipe alemã a banir a entrada de torcedores nazistas em seu estádio.

Para mais detalhes gerais: https://www.theguardian.com/music/2018/jun/20/fc-st-pauli-how-it-became-the-football-team-of-punk-and-techno).
Reforçando o “Turbonegro – Oslo 1989” (além de um caxangá) nas costas da jaqueta jeans de Happy-Tom, Tony continuou: “Conseguem acreditar? O Turbonegro está na ativa há trinta anos! Acho que esses países da América do Sul são mais jovens do que isso! Enfim, não sei nada sobre geografia ou história, mas sei de uma coisa e é sobre o Turbonegro e os estudos de deathpunk, senhoras e senhores. Quero apresentar a vocês uma tese, uma tese de doutorado.

É de uma pesquisa feita para Apocalypse Dudes, conhecem? É sobre deathpunk e vou lê-la para vocês agora. Ela se chama Selfdestructo Bust!”. Ainda houve tempo para mais brincadeiras do cantor enquanto Haakon-Marius tocava a trilha sonora de Carruagens De Fogo (1981) ao fundo: “Tudo bem até aqui? Estão se divertindo? Sabem, chega um ponto da noite em que precisamos falar sobre algo infeliz: há pessoas que nascem estúpidas, retardadas, que não são como vocês. Sentimos que podemos dar algo a elas um presente, algo como a dádiva da educação, a Special Education”, feita com um quepe de formatura na cabeça do vocalista, que, sucinto, despediu-se: “Senhoras e senhores, somos o Turbonegro. Obrigado!”.
Prince Of The Rodeo marcou o retorno para o encore com outra roda na frente da pista, mais chuva de cerveja e I Got Erection finalmente levantou a galera, agora sim no momento propício. Contribuiu para a excitação ela ter sido entrecortada por trechos de Enter Sandman – seguida de um espontâneo coro por parte dos fãs: “Ei, Bolsonaro, vai…”, em rima com chuchu – e de (You Gotta Fight) For Your Right (To Party), dos Beastie Boys.

Na retomada da saideira, Tony saiu-se com um trocadilho, arrematando a noite: “Vamos dividir a platéia ao meio. Precisamos de espaço, senhoras e senhores. Vamos fazer algo chamado Wall Of Deathpunk. Estão prontos? Hora de esquentar as coisas! Quero ver sangue, lágrimas e caos”. Obviamente, tudo em tom de brincadeira, mas foi interessante notar a não necessidade do comando final para a colisão, com os fãs pacientemente esperando a hora certa do embate. Imediatamente após o final da faixa retirada de Ass Cobra, Simply The Best (Tina Turner) explodiu na casa com os músicos se despedindo após pouco mais de noventa minutos de espetáculo. Era a hora de ir para casa comer pizza, dormir e talvez sonhar com um João Gilberto deathpunk rock!

Setlists
Corazones Muertos
01) No Mercy
02) Spikes & Dogs
03) Death & Glory
04) Home Alone
05) I Fought The Law [The Crickets Cover]
06) Fly Away
07) Don’t Kill Rock ‘N’ Roll

Turbonegro
01) The Age Of Pamparius
02) Part II: Well Hello
03) Part III: RockNRoll Machine
04) Hurry Up & Die
05) Back To Dungaree High
06) City Of Satan [Snippet de Bohemian Rhapsody (Queen)]
07) Blow Me (Like The Wind)
08) Hot For Nietzsche
09) All My Friends Are Dead
10) Are You Ready (For Some Darkness)
11) Fist City
12) Wasted Again
13) Sell Your Body (To The Night)
14) Denim Demon
15) Get It On
16) Selfdestructo Bust
17) Special Education
Encore
18) Prince Of The Rodeo
19) I Got Erection [Snippets de Enter Sandman / (You Gotta) Fight For Your Right (To Party) (Metallica / Beastie Boys)]
xx) Simply The Best (Tina Turner) [Utilizada Como Outro]

 

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