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WATAIN ::: 18/01/19 ::: CARIOCA CLUB / SP
Postado em 30 de janeiro de 2019 @ 20:01


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Marcos Cesar “Bulino”

Agradecimentos: Costabile Salzano Jr / Overload (Lucas)

O que há de comum entre Setembro Negro, Extreme Hate Festival e a passagem do Watain por São Paulo? Além da obviedade sonora, tudo se passou no Carioca Club. E se, por mais estranho que pareça, o local atualmente seja sinônimo de heavy metal (sem radicalismos, é raríssimo um final de semana sem ao menos um evento do estilo por lá), gradativamente vai se abrindo espaço na casa para segmentos mais extremos, ainda que sem chegar ao ponto da associação direta a um gênero específico, como o Hangar 110 (hoje The House, sob nova direção) atrelava-se ao punk/hardcore.

Ao entrar na casa às 20:15 com a pista ainda vazia, na primeira ida ao merchan dos suecos, constatou-se que as camisetas saíam por exatos R$74,90. A rigor, a soma pouco importa, pois o artista tem o direito de valorar seus produtos como bem entender e cabe ao fã avaliar se a aquisição interessa, mas: por que os R$4,90 finais e não R$75,00, por exemplo? Para pedir que o fã facilite o troco? Perguntar se ele tem R$0,90 em moeda? Ou teriam os vendedores um saco de cinco e dez centavos delas? Se fosse em Portugal, faríamos piada… E ainda na seara das reflexões, outra não-musical, mas mais séria: por que o rigor na hora da revista é diretamente proporcional ao extremismo da vertente metal? Falando rapidamente em primeira pessoa, o segurança encasquetou com a fivela do cinto deste escriba (modelo padrão e sem qualquer tipo de “adereço metal”) para uma calça jeans comum, sossegando apenas após vê-lo, além de tocá-lo (WTF?!?!?!?). Enfim…

O que de fato importava era o show, que começou pontualmente às 21:00, sem banda de abertura. Antes do início, a impressão visual era a de duas cruzes douradas invertidas coladas às cortinas, mas ao abri-las, percebia-se que as mesmas eram parte da cenografia, que ainda incluía a capa de Trident Wolf Exercise (2018) como bandeirão atrás do kit de Håkan Jonsson e seis banners em tecido dispostos três à sua esquerda e três à direita, com letras individuais formando o nome do grupo. Acima de cada letra, uma vela vermelha acesa e um tridente estilizado realçavam o tom soturno do ambiente. Oriundos de Uppslava, completavam o quinteto o vocalista Erik Danielsson, os guitarristas Pelle Forsberg e Set Teitan e o baixista Alvaro Lillo. Curiosamente, a formação encontrada no Facebook oficial do conjunto contém apenas a primeira letra do nome de cada membro, ou seja: E., P., S. e A., além de H. na bateria, grafada como “battery” em vez de “drums”.

Mais mortal do que em Sworn To The Dark (2007), Storm Of The Antichrist abriu a caixa de ferramentas após uma intro com coros e todos os integrantes do Watain de costas para o público, confabulando com Håkan, exceto Erik, a fitar os presentes até começar a cantar, vociferar um ‘qualquer coisa,’ “São Paulo”, mais para o meio da música, e um “São Paulo, junte-se a nós! Esta é Nuclear Alchemy”, anunciando a seguinte e assim inaugurando as quatro do álbum da turnê (das onze do set). A faixa foi um show à parte de Håkan, detonando em seu kit e apenas visto por quem assistia frontalmente à sua performance, em função do espaço tomado pela decoração de palco.

Com luzes vermelhas em 90% do tempo (às vezes brancas com flashes azuis), o pau continuou comendo solto e assim Erik explicou o que viria: “São Paulo, Brasil, é uma honra estarmos diante de vocês aqui hoje. Esta noite, celebramos o começo da turnê Furor Diabolicus. E temos uma hora e meia da magia do black metal sueco. Estão prontos, São Paulo? Esta é The Child Must Die”, única de The Wild Hunt (2013) tocada e muito aplaudida pela platéia (ocupando menos da metade das dependências) a apoiar o quinteto. Também ovacionada, Puzzles Ov Flesh, de Casus Luciferi (2003), acabou sendo a mais antiga do repertório, precedida por um “Obrigado, São Paulo”, em português mesmo. Furor Diabolicus trouxe novamente o álbum da turnê para a pauta, com uma provocação do vocalista antes de sua execução: “Então, São Paulo, vejamos se vocês todos são capazes de fazer outra coisa além de tirar fotos com seus celulares e ficarem parados, pois a próxima é para os guerreiros, aqueles que não temem morrer”. Iniciada por Pelle, sob luzes brancas e de pé em suas caixas de retorno, mostrando o dedo do meio (evidenciando que Mick Jagger não foi o único a reparar que, na cidade, as pessoas assistem aos shows através de seus aparelhos celulares).

Trident Wolf Eclipse seguiu nas paradas representada por Sacred Damnation sob belíssima iluminação azul após Erik se ajoelhar enquanto seus companheiros outra vez punham-se de costas, com gelo seco tomando o palco. Visivelmente incomodado com a passividade de parte da platéia, o vocalista pediu por barulho e foi atendido. Com o quinteto deixando o palco para rapidamente regressar, Underneath The Cenotaph cativou a galera, que explodiu mesmo no primeiro acorde de Malfeitor, o ponto alto da noite considerando a participação coletiva em cantos e coros de “Hey, hey, hey, hey” (até o bombeiro da casa a curtiu – não a ponto de sair agitando, mas anuindo com a cabeça durante a execução). Caminhando para o final (ainda não ninguém soubesse disso), Towards The Sanctuary foi a última de Trident Wolf Eclipse tocada. Com uma rápida pausa para hidratação, Erik informou que a próxima era para os que haviam feito juras à escuridão, aludindo a Sworn To The Dark, também provocando urros de aprovação.

A saideira foi The Serpent’s Chalice e seu anúncio como a última por parte de Erik soou como brincadeira uma vez que o tempo de show cravava cinquenta e cinco minutos. Com o vocalista se despedindo: “São Paulo, obrigado. Somos o Watain até a morte!” e a banda deixando o palco às 22:05, o som ambiente tomou conta da casa, dando a impressão de se tratar de alguma intro para um possível retorno dos suecos. Após longos cinco minutos, o som foi cortado e as cortinas se cerraram, trazendo nova série de questionamentos: tudo bem que, para os músicos, tocar ao vivo é um trabalho e, sejamos sinceros, quem nunca teve aqueles dias em que tudo que você queria era ir embora ao cumprir o horário? Além disso, não se avalia a qualidade de um show apenas em função do tempo no palco, mas mesmo assim, não parecem destoantes sessenta e cinco burocráticos minutos de música e mais cinco com um som rolando e criando a frustrada expectativa de um bis que não ocorreu até as cortinas finalmente se fecharem? Só o mais fervoroso fã do Watain para defendê-los. Longa vida à música extrema no Carioca, mas com todos melhor preparados para os futuros eventos: de banda a fãs (mais tempo tocando e menos no celular, respectivamente), seguranças, venda de merchan e este escriba (que irá de moletom ao próximo show de black metal).

 

Setlist

01) Storm Of The Antichrist

02) Nuclear Alchemy

03) The Child Must Die

04) Puzzles Ov Flesh

05) Furor Diabolicus

06) Sacred Damnation

07) Underneath The Cenotaph

08) Malfeitor

09) Towards The Sanctuary

10) Sworn To The Dark

11) The Serpent’s Chalice

 
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