Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Paula Cavalcante (eyeofodin.photo)
Noite de guitarristas para guitarristas!
A julgar por suas apresentações mais recentes em São Paulo, Kiko Loureiro está determinado a focar em sua carreira solo. Já havíamos resenhado sua performance no Sesc Avenida Paulista em 08/12 [https://onstage.mus.br/website/kiko-loureiro-sesc-avenida-paulista-08-12-23], infelizmente perdendo o replay na noite seguinte, mas testemunhamos sua palestra intitulada Music Business – A Arte De Gerenciar Uma Carreira no Sesc Vila Mariana a dois dias do primeiro show. De diferente, desta vez, Thiago Baumgarten substituiu Junior Braguinha, além da presença de ilustres convidados, mas tudo em seu tempo…
Antes, porém, inaugurando a tríade de guitarristas despejando talento no evento,Luiz Toffolideu as caras e, se já o tínhamos visto abrir para o Angra em novembro/23 no mesmo Tokio Marine, daquela vez para esta, o vocalista Leo Leal e o baixista Douglas Maximocederam seus postos a Cássio Marcos e Marcos Janowitz, além da inclusão do tecladista Léo Carvalho – em termos práticos, somente Pedro Tinellopermaneceu na bateria. Simplificando, o repertório se baseou em seu play de estréia e, de EnigmaGarden(23), extraiu quatro das seis faixas mostradas, a começar por GrandOpening, tocada, em vez de utilizada como intro, e Human.
Um sutil “Boa noite, São Paulo!” quebrou a ordem do álbum, retomado com I’mAlive e BothWorlds. A inédita GatesOfTheUnderworlddesceu super bem e,como se a influência de John Petrucci não estivesse óbvia o suficiente, fizeramAs I Am, causando relativa surpresa ao se tornar a última, tanto pelo súbito anúncio do conjunto quanto pelo fato de o setlist de palco conter FreneticFreake Vs Final(uma orquestração de BeautifulEnding) para o final, com o perdão do trocadilho, bem como Paradise Love e ChasingDreams, estas como quarta e sétima no geral, ambas previamente riscadas no papel e ainda sem registro em estúdio.
Sobrou técnica para ninguém botar defeito e, por WhatsApp, apuramos com o promissor músico curitibano que seu futuro full-lengthjá possui título, guardado a sete-chaves, mas sem previsão de lançamento. Aproveitamos a chance para colher suas impressões: “É sempre um prazer subir ao palco com um público espetacular! Agradeço aos meus parceiros: Pedro Tinello, Marcos Janowitz, Cássio Marcos, Léo Carvalho e Rodrigo Silveira. Também agradeço ao Kiko Loureiro e à produção da Top Link pela oportunidade”. Olho nele, pois em breve surgirá material de qualidade!
Com as pistas um pouco mais cheias em relação a seu antecessor e tão bem aceito quanto, Gustavo Di Padua veio sem vocalista e tecladista e calcou o set no début instrumental The Stairs (08), de onde tirou cinco das nove tocadas a partir deSecondFloor, Insight, a faixa-título e a belíssima baladaSpiritual Lesson. Ele era apenas agradecimentos: “Valeu, galera! Muito obrigado! Muito legal estar aqui! Que prazer absurdo estar aqui fazendo este show de abertura para o grande Kiko Loureiro, que, já, já, vai estar quebrando tudo aqui neste palco. É isso aí! Vamos que vamos! A gente vai trazer algumas boas novidades, coisas inéditas, coisas do meu próximo álbum, que vocês vão ouvir em primeira mão. Ninguém ouviu, mas vocês vão, vocês vão ouvir!”.
As duas próximas foram releituras disponibilizadas em um trabalho do ano passado, com a primeira assim explicada: “Lancei, muito recentemente, no meu canal no YouTube, um quadro chamado Rock In Quinta, em que trouxe clássicos do rock em versões instrumentais. Vou mostrar a vocês, tenho certeza que vocês conhecem este som. Estamos juntos, então! Tenho certeza que vocês conhecem este som. Vamos nessa” – uma versão vitaminada de Paranoid, seguida de WastedYears.
Dando continuidade à festa, vieram as inéditas WelcomeTo The Next Stage(não a confunda com Next Stage, última do citado The Stairs) e Elephant. Por e-mail, verificamos: “O álbum está pronto! Ainda não temos uma data de lançamento definida, mas tudo indica que será no primeiro semestre de 2025. São doze faixas e conto com participações de Gabriel Triani na bateria e de DamienRainaud, que, além de tocar bateria em uma das faixas, também foi responsável pela mixagem e masterização. Estou muito feliz, animado e ansioso para revelar esse novo trabalho ao mundo”.Também perguntamos sobre a Intro, efetivamente tocada:
“Ela foi montada para o show. Na hora de fazer o set, muitas vezes acabamos definindo as músicas por conta do tempo do show e uma delas seria Life’sChanging, single que lancei em 2017 e que ficou na parte final desta introdução. A primeira parte é outra faixa do Rock In Quinta, uma versão de Roadhouse Blues. Costumo fazer esta introdução em algumas situações e optei por fazê-la neste show. Fiz um arranjo exclusivo unindo as duas idéias. Tenho algumas introduções que já utilizei em vários outros shows e workshops, mas neste quis fazer com esta introdução porque achei que ela tinha a dinâmica e o feeling que eu queria para conectar com SecondFloor. É uma experiência legal montar um set para um determinado show ou situação com o tempo que tínhamos para fazer. Foi para tentar amarrar e aproveitar da melhor forma. Ela não tem nome e é uma junção”.
A saideira foi 2008 e uma pena não ter sobrado tempo para material de O Outro Lado (15) e Tem Rock No Samba, Vol. 1 (22). Por fim, pedimos a visão de sua atuação: “Foi maravilhoso voltar a São Paulo e fazer esse show tão especial, abrindo para o Kiko Loureiro, que está arrebentando em carreira solo. E, cara, a recepção e a energia do público foram incríveis! Já estou ansioso para voltar e, inclusive, apresentar mais do meu próximo álbum, Elephant”. Que regresse em breve, pois o set esbanjou destreza e melodia, agradando em cheio ao público!
Sob gritos de “Tesouro! Tesouro!” às22:04 e com palco decorado com seu nome no bandeirão e arte idêntica na pele do bumbo, Kiko Loureirobrotou com Overflow e baixo cavalar do citado Thiago Baumgarten. Completando o time, o guitarrista Luiz Rodrigues e o prodígio Luigi Paraventi na bateria ajudaram a detonar na sensacional Pau-De-Arara e em Reflective, até as primeiras palavras do chefe:
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“Oi, São Paulo? Boa noite! Tá todo mundo bem? Obrigado! Pô, estou muito feliz de estar aqui tocando para vocês nesta casa em que já fiz alguns shows. Recordar é viver! Eu estava me lembrando dos camarins e tal, tinha outro nome, nem me lembro mais… Fiz o DVD do Angra aqui, né? Muito bom estar com vocês, vocês fazem parte da minha história. Este lugar faz parte da minha história, estou bem contente de tocar estas músicas para vocês. Agora vou fazer a música que meio que deu origem a esta idéia maluca de fazer uma carreira solo, né? Que é o álbum No Gravity, a faixa-título, No Gravity”, linda balada a tirar um pouco o pé do acelerador.
Vital Signsgerou uma rápida incursão do músico ao pit dos fotógrafos para de lá tocar perto da galera e, de volta, contextualizar: “A gente sempre tem que pensar que devemos viver o presente, fazer as coisas pensando no futuro, mas sempre é bom relembrar as músicas que a gente compôs ao longo da carreira, que tocou, gravou… Agora, esta é a hora em que quero dar aquela volta no tempo, né? Meio que relembrar… Tive que treinar! Tenho que falar: tive que treinar para tocar estas partes que gravei vinte, trinta anos atrás. Então vamos lá! Vamos ver se vocês conhecem esta aqui. Quero ver!” – na prática, um bem elaborado medley de canções do Angra: CarryOn,Spread YourFire,Nova Era,Morning Star,EvilWarning e Speed.
Du Monde trouxe Kiko inicialmente ao violão e, encerrada, ele era pura alegria: “Muito bom! Esta música que acabamos de tocar se chama Du Monde e lancei o Open Source durante a pandemia, então não tive oportunidade de tocar as músicas deste álbum ao vivo. Então, obrigado por proporcionarem esta possibilidade de tocar estas músicas para vocês. Esta noite vai ser longa, hein? Tudo bem? Amanhã é domingo, né? Não é isso? Então está tudo certo!”. A continuação foi sobre influências e o primeiro convidado:
“É o seguinte: comecei a tocar guitarra e ouvir heavy metal, aí comecei a carreira e depois as pessoas me perguntavam sobre minhas influências. Então você fica sempre buscando as bandas inglesas e americanas, os guitarristas da Califórnia para dar como exemplo e, muitas vezes, nem percebe que fica muito influenciado pela música que está à sua volta. Quero convidar ao palco um cara que me influenciou muito porque a trajetória dele se confunde com a própria história do rock brasileiro, de que gosto muito – algumas bandas nem tanto. Então queria chamar ao palco para fazer uma música dele o senhor Lobão, por favor!”, que retribuiu a gentileza:
“Boa noite, rapaziada! É uma honra e alegria inenarráveis estar aqui com o Kiko neste ciclo solo em que ele bota o pé na estrada e participar deste projeto aqui é uma alegria e honra. Então vamos comemorar, rapaziada: Mais Uma Vez”. Por não ser um virtuoso, ainda que seja um guitarrista, ele destoou um pouco no pacote. E se ninguém o vaiou em função de prévios e polêmicos posicionamentos políticos, também não se pode afirmar que tenha sido efusivamente ovacionado.
O dono da festa indicou o que viria: “Agora é hora de fazer algumas músicas que fiz mais recentemente, né? Deste período em que fiquei dentro do Megadeth, tive a oportunidade de compor e gravar, ganhamos um Grammy, fomos indicados duas vezes ao Grammy, então vou mostrar um pouco deste meu lado aqui. Vamos lá!”. De Dystopia (16), fez ConquerOr Die!,outra com Kiko de cara ao violão; e cantouKilling Time, de The Sick, The Dying… And The Dead! (22).
Superando uma hora no relógio, Dreamlike foi concluída com renovado apoio na forma de “Tesouro! Tesouro!”, forçando o ídolo a entrar na onda: “Só no Brasil para ser chamado assim!”. Em seguida, checou se havia guitarristas no recinto, se espantou com a imensidão de braços levantados na casa cheia e escolheu um fã para mostrar seu talento. A não ser que tenha sido combinado, o que não pareceu ter ocorrido, o convite, que poderiater virado um mico, mostrou-se interessantíssimo, com Felipe simplesmente debulhando e tendo seu nome berrado pela massa! Tentando dar prosseguimento ao baile e quase se transformando num autêntico mestre de cerimônias, aceitou um presente de alguém na grade: um desenho dele tocando uma guitarra quadrada!
Quer mais participações especiais?“É o seguinte: esta noite é cheia de convidados ilustres, fico muito feliz por isso! Queria convidar ao palco um grande amigo, grande cantor. Com vocês, Alírio Netto!”, paraRebirth. Dilemma foi a próxima e quem não poderia faltar? “Agora é o seguinte: é um momento muito importante para mim porque… Cara, eu estava tentando fazer as contas e queria chamar ao palco este amigo de longa data, mas que a gente não toca junto, não subimos no palco, há exatos vinte e cinco anos… E nada melhor do que aqui em São Paulo para a gente celebrar essa amizade que veio lá de 1991. LuisMariutti, por favor! Agora a gente vai fazer aquela, né? Vamaê!”, simplesmente NothingToSay e com Alirio no vocal! Melhor não dizer nada e só apreciar!
Novamente alternando Angra com carreira solo, rolou Enfermo e então surgiria o único gringo do evento: “Agora está na hora de convidar este guitarrista de quem sou super fã. Sou muito fã dele e conheci este ‘garoto’… Fui para a França e ouvi falar deste cara, aí fui ouvir os álbuns dele, fiquei impressionado e depois o vi tocar pelo Guns N’ Roses, Sons Of Apollo… Um talento incrível! Quero convidar ao palco meu grande amigo, guitarrista incrível. Por favor, Ron Thal ‘Bumblefoot’”, com beloinstrumento de dois braços para apavorar em Escaping.
A despedida veio emStormbringer, do DeepPurple, deste modo anunciada: “Vamos fazer aquela última da noite, pode ser? Estava pensando nas músicas para tocar neste show, nesta turnê, e fiquei me lembrando desta, coma qual comecei a gostar deste estilo de música. Nos meus onze, doze anos de idade, eu pegava uns vinis do Led Zeppelin, Black Sabbath, Pink Floyd… Fui conhecendo essas bandas e um destes álbuns era o Made In Europe, que me marcou bastante, então vamos fazer uma música dele”, a princípio, com Alirio e Bumblefoot, até Luis e Lobão se juntarem à “bagunça organizada”.
Enquanto íamos embora com exatamente com duas horas de um senhor espetáculo ao som de Choro De Criança como outro, lembrávamos que, em relação ao mencionado set do Sesc, Kiko limou Feijão De Corda, mas adicionou Dilemma e Killing Time, fora o cover derradeiro, o Angra Medley e Rebirth. E, para a surpresa de quase ninguém e alegria de toda a “Família Angra”, dois dias depois, eleconfirmaria [https://www.instagram.com/p/C-kRxTNxELM]sua presença no show acústico de seu ex-grupo no Espaço Unimed no sábado seguinte.Nos vemos por lá!
Setlists
Luiz Toffoli – Anunciado: 20:00 / Real: 20:01 – 30’
Cássio Marcos (vocal), Luiz Toffoli (guitarra), Marcos Janowitz (baixo), Léo Carvalho (teclados) e Pedro Tinello (bateria)
01) Grand Opening
02)Human
03)I’mAlive
04) Both Worlds
05) Gates Of The Underworld
06) As I Am [Dream Theater]
Gustavo Di Padua – Anunciado: 21:00 / Real: 20:48 – 45’
Gustavo Di Padua (guitarra), Marcus Filipe (guitarra), Thiago Fernandes (baixo) e Gabriel Triani (bateria)
Intro
01)SecondFloor
02) Insight
03) The Stairs
04) Spiritual Lesson
05)Paranoid [Black Sabbath]
06)WastedYears [Iron Maiden]
07)WelcomeTo The Next Stage
08)Elephant
09) 2008
Kiko Loureiro – Anunciado: 22:00 / Real: 22:04 – 2h00’
Kiko Loureiro (guitarra), Luiz Rodrigues (guitarra), Thiago Baumgarten (baixo) e Luigi Paraventi (bateria)
Intro: Overflow
01) Overflow
02) Pau-De-Arara
03)Reflective
04) No Gravity
05) Vital Signs
06) Angra Medley [CarryOn / Spread YourFire / Nova Era / Morning Star / EvilWarning / Speed]
07) Du Monde
08) Mais Uma Vez [Lobão] [Com Lobão Na Guitarra E Cantando]
09)ConquerOr Die! [Megadeth]
10) Killing Time [Megadeth] [Com Kiko Loureiro Cantando]
11)Dreamlike
- xx) Guest – Felipe
12)Rebirth [Angra] [Com Alirio Netto]
13)Dilemma
14)NothingToSay [Angra] [Com LuisMariutti&Alirio Netto]
15) Enfermo
16)Escaping [Com Ron “Bumblefoot” Thal]
17)Stormbringer[DeepPurple] [Com Alirio Netto,Bumblefoot, LuisMariutti& Lobão]
Outro: Choro De Criança
