ONSTAGE - Official Website - All Rights Reserved 2017-2022
Website by Joao Duarte - J.Duarte Design - www.jduartedesign.com

Slayer ::: 02/10/19 ::: Espaço Das Américas
Postado em 17 de outubro de 2019 @ 00:07


Texto: Vagner Matropaulo

Fotos: Stephan Solon/Move Concerts

Slayer tritura oito mil fãs e já deixa saudades

20 músicas de 10 álbuns diferentes em 95 minutos cobrindo 36 anos para mais de 8200 ensandecidos. Assim posto, fica gelado o resumo numérico da calorenta quarta-feira que virou uma sauna dos infernos no abarrotado Espaço das Américas para o que, até onde se prove o contrário, foi a derradeira passagem do Slayer por São Paulo. A temperatura já vinha elevada durante a semana com a repercussão do comunicado oficial da Move Concerts bancando que “não será permitido moshing e crowd surfing”. Logo o estarrecimento virou piada, o humor do brasileiro tratou de transformar tudo em memes e a vida seguiu até a entrada no recinto, quando o fã mais observador notava um aviso de “Itens e atitudes restritos” vetando: “facas, tasers, gás de pimenta, correntes ou itens de vidro”. Fala sério, precisava chegar a tanto? Era necessário comunicar? Se alguém vai a um show armado (seja lá do que, de qual banda ou estilo musical), que seja preso e ponto final. O que inquietava mesmo era tentar se colocar no papel dos organizadores e antecipar o nível da hecatombe na cabeça deles. Na real, nada mais era do que a sétima vinda do conjunto americano à cidade (94, 98, 06, 11, 13, 17 e 19), mas as últimas duas linhas do informe acalentavam a alma: “Todas as pessoas passarão por revista antes da entrada”. Aí sim toda a comunidade headbanger, segura, sossegou e deu as mãos! Em todo caso, foi melhor mesmo garantir, pois, hoje há quem vá ver Rambo no cinema e ache violento…
Nem aí para nada disso, Marcus D’Angelo (vocal e guitarra), Rafael Yamada (baixo) e Caio D’Angelo (bateria) desceram a marreta a partir das 20:45, como prometido, contando com o apoio da casa, já bem cheia. Na estrada desde 1993, o trio de Leme mandou ver com Swamp Loco após divertida e curta intro – até com um sambinha e sons de cuíca – e o frontman meter o pé na porta: “São Paulo, filha da puta! Vamos detonar essa porra! Claustrofobia”. Ainda na faixa do EP homônimo de 2018, Marcus proferiu o comando fundamental: “Vamos abrir a roda aí, caralho! Vai!” e o que se viu, em resposta à teórica proibição, foi uma carnificina na frente da pista, sem divisão entre ‘comum’ e ‘premium’, mas com uma transponível barricada ao meio. De Peste (2011), dominante no set, Bastados Do Brasil veio colada e, ao anunciar Thrasher, única do play homônimo, o vocalista foi incisivo: “Sem palavras, São Paulo, muito obrigado! Satisfação em estar aqui hoje, porra! Queria agradecer a cada um de vocês aí que escreveu pedindo para por o Claustro aqui nesse palco hoje, de coração, muito obrigado! Também gostaria de agradecer à galera de fora. Não é só São Paulo que está aqui hoje e eu tô ligado. Muito obrigado! Vamos tocar aí porque não tem tempo para conversinha hoje, não”.
“Somos todos vira-latas”, assim Marcus apresentou Vira Lata, single lançado no começo de setembro, e então viria uma trinca arregaçante de Peste, conforme vociferado por ele: “E aí, quem está muito louco aí? Vamos tirar o Pinu Da Granada aí, ó!”, com pausa em seu meio, e clamor por nova roda: “Vamos abrir essa porra aí. Tem espaço? Vamos abrir isso aí!”, pedido mais do que aceito. Metal Malóka incendiou de vez a pista e a saideira foi convocada em meio a mais sinceros agradecimentos: “Muito obrigado, São Paulo! Sem palavras. Todo mundo que veio de fora aí, casa cheia. É nóis representando o legítimo metal brasileiro: ‘É pior que febre, Claustrofobia é Peste!’”, cravando pouco mais de alucinante meia hora. Enquanto o trio se despedia, um trecho da instrumental Nota 6.66 rolava no som ambiente, literalmente fechando as cortinas para um show que trouxe ‘apenas’ os músicos no palco, o “C” da capa de Vira Lata usado como bandeirão de fundo, com o nome da banda acima, e mais dois “Cs” estilizados do logo do grupo, virados um para o outro, nas peles dos dois bumbos de Caio, irmão de Marcus.
Com três míseros minutos de atraso, as cortinas se reabriram às 21:48 para o começo do adeus ao Slayer ao som da instrumental Delusions Of Saviour, de intro, enquanto quatro cruzes brancas giravam numa espécie de telão frontal (mesmo recurso adotado por Steven Wilson no Carioca Club, em maio/18, e no espetáculo Lazarus, em cartaz até 27/10) até suas totais inversões e substituição por quatro imagens do logo da banda em movimento, unificadas no centro. Por fim, uma explosão de luzes sincronizada à bateria de Paul Bostaph fez o fino pano tombar em Repentless, inaugurando o massacre, e, para quem estava junto ao palco, a sensação, sem exageros, era de simplesmente estar num moedor de carne (lindo de morrer!). Como não poderia deixar de ser, bastou uma música para eclodirem rodas pela pista, com a impressão de estarem mais intensas do que o usual, em nova e clara afronta à tentativa de coação, sem nenhuma intervenção dos agentes de segurança, graças a Deus (ou ao Capiroto).
O clima insano no gargarejo persistiu em Evil Has No Boundaries, World Painted Blood e Postmortem, que não foi sucedida por Raining Blood – dando um nó no cérebro em função de infinitas audições a Reign In Blood (1986) – e sim por Hate Worldwide, e foi justamente durante o solo de Kerry King na faixa que os ânimos se amainaram, seja por cansaço ou por vontade de passar a prestar mais atenção ao que faziam os já citados batera e guitarrista, Tom Araya (vocal e baixo) e Gary Holt (guitarra), regressando à cidade exatamente um mês após fechar a primeira noite do Setembro Negro com o Exodus no Carioca Club. Sem se dirigir ao público até então, o vocalista finalmente deu o ar da graça, primeiro em português: “E aí, porra?”, para continuar em inglês: “Muito obrigado por virem hoje. Estão se divertindo? Estão prontos? Estou tentando me aprontar, mas vocês estão prontos, certo? No três, quero todos gritando: ‘War’, ok? Prontos? Um, dois, três: ‘War’”, dando a dica para War Ensemble, matadora como sempre e trazendo o segundo bandeirão de fundo (seriam quatro ao total). Única efetivamente autoral do álbum de covers Undisputed Attitude (1996), Gemini foi bem-vinda chance de respiro até os riffs iniciais e batidas de Disciple arregaçarem tudo outra vez e a obrigatória Mandatory Suicide seguir agradando aos fãs, em ótima junção a Chemical Warfare, como se fossem um só petardo.
Sereno, por mais estranho que posso soar, Araya voltou a interagir com a massa: “Já estão cansados? Vou dizer uma coisa: a próxima é Payback. Sabem do que se trata? Payback is a bitch, motherfucker!”. Temptation talvez tenha sido a mais lado b do set e cumpriu o propósito de abrir a trinca final de Seasons In The Abyss (1990), com Born Of Fire e a faixa-título – exatamente como em estúdio – mas com a última colada a Hell Awaits, em perfeita combinação. Durante breve pausa para hidratação, o começo de South Of Heaven rolou no som ambiente, gerando ansiedade, até ser de fato tocada, mas expectativa mesmo surgiu com as triplas batidas de Paul Bostaph, o ‘tum-tum-tum’ de Raining Blood, simplesmente alucinante e que fez renascer as rodas na pista. Sem oportunidade para a adrenalina baixar, Black Magic veio emendada e as duas últimas todos já sabiam: Dead Skin Mask, sem o vocalista precisar citar Ed Gein, e Angel Of Death. O grito do início? Segue impecável, tornando ainda mais suspeita a aposentadoria.
Terminada a apresentação, a reação geral era, na verdade, de negação, pois é impossível aceitar e difícil assimilar que o grupo pendure os instrumentos em plena forma. Lombardo faz falta? Sim! E Jeff Hanneman ainda mais… mas Bostaph e Holt os suprem sem reprovação. A incredulidade perto do suposto fim era tamanha que Tom Araya permanceu quase seis minutos olhando os fãs, sorrindo, acenando e se despedindo a ouvir: “Olê, olê, olê, olê! Slayer, Slayer” (não é pouco tempo – faça um teste em casa e fique três minutos, que sejam, imóvel fitando algo). Antes de partir, ainda disse: “Sentiremos falta de vocês. Tchau!”. Também sentiremos, mas tomara que seja um adeus tão definitivo quanto os de Ozzy e Scorpions de tempos atrás. Ah, e as correntes na indumentária de Kerry King? Não o avisaram que elas estavam proibidas…

 

Setlists
Claustrofobia
xx) Intro
01) Swamp Loco
02) Bastardos Do Brasil
03) Thrasher
04) Vira Lata
05) Pinu Da Granada
06) Metal Maloka
07) Peste
xx) Nota 6.66 [Utilizada Como Outro]

Slayer
xx) Delusions Of Saviour [Utilizada Como Intro]
01) Repentless
02) Evil Has No Boundaries
03) World Painted Blood
04) Postmortem
05) Hate Worldwide
06) War Ensemble
07) Gemini
08) Disciple
09) Mandatory Suicide
10) Chemical Warfare
11) Payback
12) Temptation
13) Born Of Fire
14) Seasons In The Abyss
15) Hell Awaits
16) South Of Heaven
17) Raining Blood
18) Black Magic
19) Dead Skin Mask
20) Angel Of Death

 
ONSTAGE - Official Website - All Rights Reserved 2017-2022