Pompeu: Exato!
Rodrigo: “Ah, mas você acha que é legal?”. Cara, se for legal ou não, você que é o escritor e tem que ver isso.
Dick: Faz parte da história.
Pompeu: Ele teve uma liberdade bem grande para escrever assim, fazer o livro da forma como ele imaginava. E para a gente acabou se tornando diferente também. Não ter aquela coisa, sabe, tradicional.
Rodrigo: Teve muita coisa que ele chegou para cortar e falou: “E aí? Corto ou não corto?”. E a gente falou: “Não, cara! Faz do jeito que você achar melhor. A gente não está proibindo nada”. A gente não tem nada a esconder. Se a pessoa está contando a história da banda, não tem porque cortar. “Ah, mas tal pessoa vai ficar chateada”. Cara, aí é problema de tal pessoa. Você entendeu? O público tem que saber a verdade da banda. A gente tem que ser verdadeiro com o público.
Rodrigo: Ser verdadeiro. Acho que é um livro verdadeiro. Isso é legal, de ponta a ponta.
Dick: Parece um CD, o lançamento de um CD!
Pompeu: Parece um disco novo do Korzus, mas é um livro, tá ligado? Eu estou vendo que vou acabar fazendo a turnê do livro, a ‘Livro Tour’, entendeu?
Dick: Uma ‘Tour Book’!
Pompeu: Mas os nossos planos, além do livro, são fazer uma coletânea com as principais músicas que já foram de setlists da banda, de todos os discos, entendeu? Do Disco Vermelho [nota: alusão à capa de Ao Vivo (1986)], do Sonho Maníaco…
Rodrigo: E não é uma coletânea simples, como pegar as músicas que já foram gravadas e colocar ali, não. É regravar.
Pompeu: Nós vamos regravar todas as músicas e vai ter um pouco de todos os discos, mas só as músicas que já foram para setlists da banda em show.
Rodrigo: E se não for unânime, acabou. Não sai!
Pompeu: Não rola!
Rodrigo: Tem uma música nova nossa que já tem dois anos que está mixada, pronta e: “Vamos lançar o single?”.
Pompeu: Não é unânime!
Rodrigo: Tem um dia que um acha: “Puta, animal!” e aí um outro fala: “Não é tão legal!”. Passam-se três, quatro meses e um que não gostava já gosta e o que… aí a gente não lança. Está paradaaté hoje, há dois anos.
Pompeu: A gente tem uma música pronta e agora a gente vai regravar a guitarra-base dela, tá ligado? Temos até um vídeo-clipe meio que já engatilhado para fazer, só que o som da guitarra-base não nos agrada. Só agrada ao guitarrista, menos ao batera, ao baixista, ao vocal… então a gente está forçando a barra para regravar. E provavelmente vai ter esse vídeo-clipe também aí em 2020, entendeu? Porque aí vem com uma cara um pouco de um trabalho novo, mas ao mesmo tempo vai ter essa coletânea e logicamente o livro, o livro, o livro, o livro…
Java: … e o livro! De repente uma reedição do livro com mais estórias?
Pompeu: O livro está vendendo bem pra caramba. Acho que é bem provável que… como se fala?
Java: Uma segunda tiragem?
Pompeu: [nota: brincando] Em livro é: ‘se-gun-da e-di-ção’!
João Gordo: Ou fazer um filme?
Pompeu: [nota: rindo] Vamos fazer um filme! Gordo, você faz a direção do filme?
Gordo: Direção? Não, põe ele aí [nota: apontando para o autor do livro].
Pompeu: Não, põe o Gordo, pô!
Java: Maravilha, gente! Obrigado!
Pompeu: É isso aí?
Java: É isso aí. Hoje foi rapidinho. Brigadão!
Rodrigo: Valeu, Java! Obrigado.
Java: A gente se vê na estrada aí.
Rodrigo: Com certeza!
Pompeu: Sonoridades aí com a gente, sempre fechado junto!
Dick: Ah, você não vai fazer nenhuma pergunta para o escritor?
Java: Depois vou fazer uma entrevista só com o escritor! É sério!
Dick: Legal pra caramba, cara! Está acima da expectativa. Ficou mais legal do que a gente esperava e, pô, o Maurício Panzone é meu amigo. A gente é amigo há mais de trinta anos e quando ele começou a fazer o livro, eu fui quase que o braço-direito, né, dele. Acompanhei toda essa ‘memorabilia’ que tem dentro do livro, 90% é dos meus arquivos, né?
Onstage: De fotos?
Dick: De fotos, crachás, cartazes… eu tenho desde o primeiro show até hoje! Eu sou, na real, um colecionador, né? Da minha própria banda.
Onstage: E quanto tempo levou o projeto, até o livro ficar pronto?
Dick: Acho que uns dois anos e meio para quase três, viu, cara?
Onstage: O que é mais fácil então: tocar ou fazer esse trampo todo para o livro?
Dick: Tocar, né? Não sou escritor, cara. Para mim, papel e lápis ou caneta sempre foi para desenhar! Você pega meus cadernos de escola, de moleque, é tudo desenhado, meu. Eu só desenhava…
Onstage: …logo de bandas, provavelmente!
Dick: Não apenas! Eu desenhava o tempo todo, desde moleque. Mas eu tenho um caderno do terceiro colegial que tem a capa do Speak Of The Devil que eu desenhei a lápis, cara [nota: álbum ao vivo de Ozzy Osbourne lançado em 1982]! E eu tenho todas essas tralhas guardadas! Então, para mim, escrever é um terror. Meu negócio é desenhar mesmo.
Onstage: E o que falta para o Korzus? Vocês tocaram em Monsters Of Rock, Rock In Rio, agora têm o livro, uma carreira consolidada. O que falta fazer?
Dick: Acho que nada, né, meu? A gente faz o que a gente gosta, né? Se diverte, transformou em trabalho e só de você saber que está com todo esse tempo de banda e ainda existe gente interessada em você, cara, isso é gratidão!
Onstage: Dick, obrigado!
Dick: Obrigado a você! Legal que você está aqui!
Onstage: E aí, como você está com relação ao livro? Feliz com o resultado?
Rodrigo: Estou mais feliz do que o esperado! Eu esperava que ia ser legal, afinal de contas o Maurício já é brother há muitos anos, ele conhece a história a fundo do Korzus, mas o resultado final, quando eu peguei o livro na mão, foi surpreendente. Eu esperava algo bom, mas nem tanto: a qualidade, o bom gosto, o jeito que ele fez o livro. Estou muito contente e a repercussão que está dando está muito legal.
Onstage: Sobrou alguma coisa que ainda dá para usar? Ficou de fora alguma estória que vocês se lembraram depois, um “Putz, faltou aquela!”?
Rodrigo: Cara, tem mais um livro fácil! Dava para encaixar depois do livro. A gente está pensando em talvez numa segunda edição, fazer algo maior ou fazer um gibi, com cada página dele contando uma estória a mais, fazer algo diferente.
Onstage: E você toca no Armored Dawn também. Como você concilia as agendas?
Rodrigo: Cara, já estou há três anos e meio fazendo isso, então é super tranqüilo. As duas bandas se gostam muito, tanto que a gente já fez turnês juntos pelo Brasil. E agora em maio vamos sair para a estrada, temos acho que oito shows que vão ser Armored Dawn e Korzus. Acho que essa união, independentemente do estilo, é metal. E essa união é muito importante. Só a união vai conseguir mudar alguma coisa, mudar a cena. Fazer essa união igual a várias vezes que você viu. Na época de Woodstock era uma união. A época do grunge era uma união daquelas bandas de Seattle que demoraram sete anos para acontecer alguma coisa. Então acho que está faltando essa união aqui e estamos tentando unir outras bandas para sairmos para a estrada juntos.
Onstage: Obrigado!
Rodrigo: Opa, de nada!
Pompeu: Estou bem feliz, bem feliz! Está bem além do que a banda esperava.
Onstage: E o que ainda falta fazer na carreira do Korzus? Já tem livro, participação em festivais, carreira consolidada…
Pompeu: Falta fazer mais um disco, falta chegar a quarenta anos de carreira, no mínimo!
Onstage: E tem mais alguma coisa que sobrou do livro e que dá para colocar?
Pompeu: Sempre tem uma ou outra estória, né? Mas se a gente ficar colocando isso, aquilo, pára tudo para fazer, encaixar na cronologia, não ia acabar nunca. Então está aí o grosso, a verdadeira história da gente.
Onstage: E é mais fácil se lembrar de tudo isso, caçar material ou cantar?
Pompeu: É mais fácil cantar!
Onstage: É isso! Muito obrigado!
Pompeu: Valeu!
Onstage: Vamos por partes: o Dick me falou que você é amigo dele, mas de onde vocês se conhecem?
Maurício Panzone: Putz, velho… na verdade é o seguinte: nos anos 80, em 1985/86, eu comecei a fazer um fanzine, o Mayhem…
Onstage: …o nome é igual à banda Mayhem?
Maurício: Exatamente isso [nota: na página 248 do livro há uma reprodução da capa do quarto número de Mayhem – Infernal Noise Magazine trazendo o Korzus]! Aí, fazendo o fanzine, eu fazia matéria, ia a ensaios e fomos virando amigos. Passamos a ter amigos em comum e, velho, na edição número três, ele me ajudou com a parte da arte. A amizade nasceu dali. Eu nem assistia muito a shows do Korzus.
Onstage: E de onde surgiu a idéia do livro?
Maurício: Então, eu sempre gostei de escrever, cara! Eu trabalhava em escritório, fiquei quase trinta anos na mesma empresa e tal, e aí à noite eu ficava escrevendo. Estava escrevendo sobre a cena, né? Tudo que eu assistia nos anos 80, os lugares, como: Teatro Mambembe, Projeto SP, Black Jack, Rainbow, Aeroanta, Dama Xoc… eu já tinha, sei lá, umas oitenta, noventa páginas… não, umas setenta, por aí, e pensei: “Cara, eu tenho muita coisa sobre o Korzus. Vou escrever sobre o Korzus! Eles vão fazer trinta e cinco anos, vou escrever sobre eles”. E aí procurei o Dick porque a gente já tinha contato, a gente se encontrava normalmente em final de ano, as famílias passavam meio juntas e falei: “Cara, tô pensando em fazer um livro!”. E quando teve o show do Slayer em Interlagos [nota: a segunda e última edição do Maximus Festival, no Autódromo, em maio/17], eu falei com o Pompeu. Aí ele ficou até meio surpreso: “Um livro?”. E eu falei: “É, um livro, velho!”. Aí eles falaram: “Beleza, sinal verde!” e foram dois, quase três anos ralando, contando estórias, gerando material.
Mauricio: Sim! O livro da cena não sai da minha cabeça. Eu tenho vontade de contar essa história. Não sei se vai ser exatamente um livro sobre a cena ou, se eu tivesse como, fazer aí um trabalho de pesquisa gigante e falar sobre todas as bandas que eu vi, um “De A a Z” das bandas e eu mesclaria com a história. Citar todas as bandas que a gente viu dos anos 80 e 90, 2000 e atuais, mas é muita coisa. Aí não sei se caberia, se teria condições de fazer, pelo tamanho. Eu falo isso pelos livros gringos, tenho um “De A a Z” gringo que é lindão! E aí, pô, deveria ter um nosso aí. Alguma coisa nós vamos fazer.
Onstage: Você disse que trabalhava em escritório, o que você fazia ou faz exatamente?
Mauricio: Cara, quando eu fazia o fanzine, eu entrei numa multinacional de cosméticos, isso em 1989. E eu fui tocando, junto com o fanzine, eu fazia uns releases para o selo Estúdio Eldorado quando saíam discos. Nem lembro mais as bandas… o Voivod, que a Eldorado lançou aqui, e eu fazia os releases [nota: referência ao LP War And Pain (1984), aqui lançado em 89 pelo selo]. Só que eu já trabalhava e comecei a tirar o pé, né? Não dava para fazer o fanzine. Fiz só mais uns dois números e me afastei um pouco da cena, né? Nesse sentido de atuar, mas sempre indo a shows, vendo os amigos.
Onstage: E hoje, além do livro, você trabalha com o que?
Mauricio: Eu saí da empresa e hoje estou trabalhando com projetos. Peguei esse que estava engavetado e foi o primeiro que eu fiz.
Onstage: Cara, é isso, muito obrigado!
Mauricio: Obrigado a vocês!