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Living Colour – Tokio Marine Hall – 12/10/24
Postado em 21 de outubro de 2024 @ 13:47


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Gustavo Diakov (Igor Miranda Site)

Black Pantera e Living Colour jamais decepcionam!

Sabemos que parece absurdo comparar um grupo tão influente como o norte-americano, com quarenta anos de carreira consolidada,a outro ascendente, ainda que há dez anos“no corre”,mas o título é fato: ambos detonaram!E considere que o trio nacional vinha de seqüência arrebatadora em setembro, por nós parcialmente conferida in loco: abrindo para o Sepultura na terceira data esgotada do Espaço Unimed, o domingo 8 [https://onstage.mus.br/website/sepultura-espaco-unimed-06-07-e-08-09-24]; e no Palco Supernova do Rock In Rio uma semana depois, sem resenha nossa – fora o dia 21, na Comedoria do Sesc Belenzinho, que, por compromissos familiares, perdemos com aperto no coração…

A fala de Mano Brown em A Vida É Desafio, indo até “Acorda pra vida, rapaz”,extraída de 1000 Trutas 1000 Tretas (Ao Vivo) (06), preparou terreno para o primeiro alô do vocalista e guitarrista Charles Gama num “Hell, yeah! Salve, salve, São Paulo! É ‘nóis’!”.Vendo-os e ouvindo-os de perto, a impressão de formarem uma unidade coesa e ímpar se amplificou de imediato em Provérbios, de baixo pulsante de Chaene da Gama e batidas precisas de Rodrigo “Pancho” Augusto, que, no decorrer da apresentação, quando mal se esperava, era visto tocando até em pé, tamanha a entrega!

Sem encerrá-la, o vocalista se pronunciou novamente: “Muito boa noite, São Paulo! Que honra estar aqui, caralho! Gratidão imensa, que massa! É o seguinte: vamos nos divertir por uma hora aqui com vocês, esquentando para o Living Colour, que já está ali prontinho, só aguardando para entrar e se divertir com a gente, o Black Pantera. Então, todos, cantem com a gente e, quem puder aí, se jogue – é tudo nosso! E quem sabe, ajude!”. Padrão É O Caralho merecia uma roda e não há como prever composições vindouras, mas o par com Provérbios rapidamente se transformou em amálgama perfeito para arrebentarem tudo, gerando um medinho neste que vos escreve: serãomantidas nesta ordemno futuro?Ou corremos o risco de elas serem separadas? Alheio ao dilema, Charles demonstraria respeito e reconhecimento:

“Começando bem? Estamos esquentando? Massa demais! Vocês são incríveis, obrigado por terem chegado cedo para poder ver a gente! Uma noite incrível para a gente, por muita representatividade, muita mesmo. A gente sabe por que: o Living Colour faz parte da nossa escola. O Black Pantera, sim, sinceramente, só existe mesmo porque o Living Colour fez uma parada muito massa lá atrás. A gente vem trazendo isso agora para as gerações futuras. Então, muito obrigado, Living Colour, por nos ensinar essa escola de rock que vocês são! Que bênção!”.

Single do ano passado, Dreadpool Zerofoi puxada no baixo que, na boa, lembrou Primus e,se quiser conferi-la, ouça também a versão em inglês, rebatizada sem o Zero. Boom!,por sua vez, não teve a sugestão de mosh atendido pela platéia e não seria exagero enxergar um quê de System Of A Down na faixa – se pensou na homônima do grupo capitaneado porSerjTankian, incluindo a exclamação, acertou em cheio!

Perpétuo foi cantada por Chaene, talvez para seu irmão descansar um pouco o gogó, e Fogo Nos Racistas foi antecipada por breve citação a Olho De Tigre, do também mineiro Djonga, iniciada nos versos: “Sensação sensacional! Sensação sensacional! Sensação sensacional! Firma, firma, firma, firma! Fogo nos racistas!”. Nela, a tradicional brincadeira de solicitar que todos se agachassem teve adesão quase total no setor premium e final apoteótico e incendiário, com o perdão do trocadilho, pela troca da letra para “Fogo nos nazistas!”, “Fogo nos fascistas!” e“Fogo nos machistas!”.

Homenagem a Dona Guiomar e oferecida às mães de todos e às mamães presentes, Tradução foi outra com o baixista no vocal e as lanternas dos celulares acesas trouxe nova vida àiluminada casa. Superando metade do show, September, do ótimo Earth, Wind &Fire, funcionou como intro super bem encaixada à cheia de swing Fudeu, seguida de Black Book Club, eSem Anistia finalmente gerou uma roda, feminina, e com o título alterado para “Só as minas!”.

Candeia foi a última na voz de Chaene e um snippet do baixo de Anesthesia (PullingTeeth) introduziu Revolução É O Caos, concluída num curto solo de Rodrigo. Nela, a proposta de Charles por um wallof death gerou efeito engraçado: a massa não captou a idéia e saiu correndo numa roda em sentido anti-horário! A saideira? Boto Pra Fuder, única de Project Black Pantera (15) no repertório.

Obviamente, não se tratava de uma maioria, mas houve quem por lá estava mais para vê-los do que para curtir a atração principal, incluindo um fã que largou a grade assim que o set se encerrou. Além disso, não era raro ver pessoas com camisetas do conjunto uberabense! De passagem, um empolgado cidadão comentava: “O show foi ainda melhor do que abrindo para o Sepultura!”. Pois é, a base de admiradores se amplia, os acompanha e já acontecem comparações de noite para noite…

E você acredita que, mesmo ainda fazendo seu nome em vôos cada vez mais altos, dá para cravar, com segurança e sem medo de errar, que faltou material? Mosha e, especificamente, Mahoraga, por terem selecionado oito das doze de Perpétuo (sendo treze o número total das tocadas) e terem a incluído nos shows mencionados a que havíamos assistido. Em suma, abram alas para o Black Pantera, imparável força da natureza!

Vindos de uma época em que o que falava mais alto eram basicamente música e letra, a decoração de palco do Living Colour era tão simples e objetiva quanto à do Black Pantera: backdrop preto com nome e, no caso dos americanos, arte adicional um tanto mais colorida. De resto, eram quatro músicos mandando bronca sem abusar de telões, dancinhas ensaiadas, piadas, causos, pedidos de casamento e sequer houve um cover, como CrosstownTraffic, de Jimi Hendrix, para indicar um.

Você certamente poderia argumentar: “Mas e o modelito colorido e chamativo de Corey Glover, com direito a terno de tigre-de-bengala branco?”. Sem forjar falso personagem, a vestimentafaz parte do espetáculo e sejamos sinceros: ele sempre foi despojado e, sem exagerar, debochado no ponto certo!Duvida? Divirta-se descobrindo ou rememorando seus trajes no YouTube, indo da estréia no Hollywood Rock [https://www.youtube.com/watch?v=izrwEn1fMVw] em janeiro/92 à, até então, mais recente vinda do quarteto ao Brasil no Rock In Rio 2022 [https://www.youtube.com/watch?v=K3yDyZrKOV4].

A intro foi The Imperial March, de John Williams, na prática o tema de Darth Vader em Star Wars, e houve quem enxergasse a “Starbird”, símbolo da Resistência da franquia, num dos pratos de Will Calhoun. De bate-pronto, veio a maravilhosa Leave It Alone, favorita deste escriba, seguida de Desperate People, e nela bastou um solo de Vernon Reid para o públicose deslocar ainda mais para frenteno setor premium.Num dado momento durante IgnoranceIsBliss, brotavam viagens mentais deste repórter, constatando que o ditado no título nem sempre se aplica, pois quem ainda desconhece o Black Panteranão tem noção do que está perdendo e, portanto, que bênção seria essa?

Outra observação: como canta Corey Glover! Ave Maria! Assim sendo, quando e como ele sacou que faria mais sucesso empunhando um microfone do que fazendo pontas como ade Platoon (86)? Na dançante Bi, caía a ficha: os caras professavam sobre liberdade sexual em 1993! Nela, houve trechos interessantes de guitarra sem distorção e espaço para Doug Wimbish desfilar seu talento no baixo, convocado pelo frontman e por ele apresentado no final.Ausländer trouxe início experimental e, como em Stain, foi sucedida por NeverSatisfied – quinta e última do álbum tocada entre as seis de até então!Já Funny Vibe teve um pedaço em super porretada, praticamente emendando-se a SacredGround.

O que estava muito bom subiu ainda mais de patamar em Open Letter (To A Landlord), épica mesmo sem ser “metal espadinha”, e seria impossível colocar em palavras a interpretação do vocalista em seu começo! Poderíamos tentar sintetizar seus onze minutos como“catarse” ou discorrer sobre fãs em transe, mas, simplificando, ela valeu o ingresso ao testemunhar-se o uso vocal como instrumento, praticamente num solo! O tema, aliás, envelheceu bem e permanece atualíssimo com a verticalização em São Paulo, por exemplo, bastando transitar por áreas com novas estações de metrô para compreender do que se trata o fenômeno. Em todo caso, apenas não perca de vista sua mensagem principal: “You’vegottofight for yourneighborhood!”.

Por falar em solo, Corey anunciou o próximo: “Senhoras e senhores, agora é hora da nona, décima e décima primeira maravilhas do mundo: na bateria, Mr. William Calhoun!”, sobrando batidas e viradas repletas de ginga. Não satisfeito em detonar em seu kit, programou uma bateria eletrônica, arriscou discretos passinhos de dança, coreografou palmas e voltou a tocar seu instrumento por sobre o loop gravado segundos antes. Puro entretenimento beirando a primeira hora no relógio!

Por outro lado, Flying trouxe leve sensação de “Vamos colocá-la para, além de SacredGround, termos outra de Collideøscope?”, play de 2003 – ao menos, não repetiram o “plano” ao ignorarem material de The Chair In The Doorway (09) e Shade (17). Um tanto lado b em demasia para o gosto deste redator, ela caiu nas graças de quem buscava variações, mas quebrou um pouco o clima e, dado o devido desconto, logo adiante eles pulariam para quase todos os hits dos quais vocêsentiu falta se resistiu até aqui. Antes, porém, com a palavra, Doug Wimbish:

“São Paulo! Sabem, é sábado à noite, certo? É sábado à noite! É sábado? Estão todos prontos para festejar por aqui? Certo! Vou tocar algumas músicas… Vamos tocar algumas músicas do meu passado. Fiz muitas gravações para artistas antigos de rap lá na cidade de New York, beleza? Então vamos festejar aqui e tocar algumas músicas lá de 1979. Estão comigo? Quero ver vocês festejando!”. Batizada como Doug Hop no setlist de palco, forampedacinhos de: White Lines (Don’t Do It); Apache; e The Message – respectivamente de Grandmaster Flash And Melle Mel; Sugarhill Gang; e Grandmaster Flash And The Furious Five.

A mistura foi bem recebida, só que erapelas conhecidas que o povo deixara o conforto do lar e a caixa de ferramentas foireaberta a partir da perfeitaGlamour Boys. Para a próxima, Vernon Reid tirou onda: “Esta música é sobre amor, assunto no qual Corey Glover é um expert!”, assim mesmo, tamanho o clima descontraído com a zoeira imperando. Antes de dizermos qual foi, viva a liberdade de um artista poder recriar sua obra, até para escapar da mesmice, e a maior prova foi citada acima com a arrepiante versão de Open Letter (To A Landlord). Porém, o próprio Corey errou um pouco a mão em Love Rears Its Ugly Head, reinterpretando-a de modo um tanto difícil para a galera acompanhá-lo…

As pancadas finais? Sem encore, mandaramTime’sUp, Cult OfPersonality e Type, saideira com trechinho reggae e previamente oferecidapelo guitarrista: “Sabem, antes de seguirmos adiante, gostaria de ouvir aplausos para o Black Pantera. Nós pegamos a passagem de som deles antes, então vamos tocar e dedicar esta ao Black Pantera”. Com Vapors, de BizMarkie, de outro, agradeceram ao público e partiram sem executarem SolaceOfYou, que constava no setlist de palco, e vale lembrar que ela jáficara de fora no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, se as informações no site Setlist.fm estiverem precisas.

Outras ausências? Quem sabe Middle Man e a seminal ThisIs The Life, ambas incluídas na referidapassagem anterior pelo país, no festival carioca dois anos atrás. Ou as não menos clássicas Elvis IsDead, Pride, Memories Can’tWait e What’sYourFavorite Color? (Theme Song), que rolou na Cidade Maravilhosa, confiando nos dados do Setlist.fm. Enfim, simplesmente não reduzam o que Black Pantera e Living Colour fizeram no Tokio Marine Hall meramente à importantíssima questão racial, pois as duas bandas estão voando e são fortíssimas candidatas ao topo das listas de melhores shows de 2024!

 

Setlists

Black Pantera – 59’ – Divulgado: 20:30 / Real: 20:38 – 21:37

Charles Gama (vocal/guitarra), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria)

Intro: A Vida É Desafio [Racionais MC’s]

01) Provérbios

02) Padrão É O Caralho

03)Dreadpool Zero

04) Boom!

05) Perpétuo

06) Fogo Nos Racistas

07) Tradução

Intro: September [Earth, Wind &Fire]

08)Fudeu

09) Black Book Club

10) Sem Anistia

11) Candeia

12) Revolução É O Caos

13) Boto Pra Fuder

 

Living Colour – 1h43’ – Divulgado: 22:00 / Real: 22:11 – 23:54

Corey Glover (vocal), Vernon Reid (guitarra), Doug Wimbish (baixo) e Will Calhoun (bateria)

Intro: The Imperial March (Darth Vader’sTheme) [John Williams & London Symphony Orchestra]

01)Leave It Alone

02)Desperate People

03)IgnoranceIsBliss

04) Bi

05)Ausländer

06)NeverSatisfied

07)Funny Vibe

08)SacredGround

09) Open Letter (To A Landlord)

10) Solo De Will Calhoun

11)Flying

12) Doug Hop: White Lines (Don’t Do It) / Apache / The Message

13) Glamour Boys

14) Love Rears Its Ugly Head

15)Time’sUp

16) Cult OfPersonality

17)Type

Outro: Vapors [BizMarkie]

 
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