Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: @rafaelstrabelli

Quando o Alter Bridge regressar a São Paulo, permita-se experimentar. Te fará bem, acredite!

“Você vai ao AlterBridge amanhã?”. Pois é…Há tantos shows em São Paulo, especialmente neste final de ano insano, que somente ao serindagadopeloamigo que cedeu fotos para ilustrar o texto, este repórter se deu conta do passar do tempo embaralhandoo cérebro na véspera da cobertura do grupo de Myles Kennedy (vocal/guitarra), Mark Tremonti (guitarra), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria). E vendo-os debutaremem apresentação solo na cidade, o saldo foi de uma grata surpresa num ótimo astral!

Voltando por aqui desde a estréia no São Paulo Trip de setembro/17, sem banda de abertura eprometidos para as 21:00, a princípio ficou confuso seThe Offering (Sleep Token) eBabylon (Normandie) eram o término da discotecagem ou intros, mascom a segunda encerrada abruptamente e o apagar das luzes, ficou evidente que o quarteto entraria pontualmente com uma base pré-gravada irreconhecível até para o Shazam oficialmente disparada como intro e seguida de Silver Tongue.

A lamentar o fato de sequer ter dado para ver os músicosocuparem seus postos, tamanha a quantidade de celulares erguidos – será que algum dia o brasileiro vai aprender a apreciar o momento ao invés de realizarfilmagens inúteis e chacoalhadas de qualidade duvidosa?Em todo caso, apenas não subestime os caras, pois ainda que possuam o estereótipo dos“bons moços”que qualquer sogra adoraria ter como genros, quiçá como marido, sobram atitude e peso no som deles –Addicted To Pain que o diga, cantada a plenos pulmões e agitando a galera.

Amainando um pouco os ânimos, a belíssimaGhost Of Days Gone By manteve aajuda popular em nível elevado e,em meio a gritos efusivos de “Al-ter Bridge! Al-ter Bridge!”, o maravilhado Myles se expressou de modo mais elaborado: “Olá, São Paulo! Uau! Que porra é essa? Isso é incrível! Vocês são incríveis! Incríveis pra cacete! Viajamos uma longa distância em aviões e carros para chegarmos aqui e digo a vocês: tudo valeu a pena pelos últimos doze minutos de nossas vidas e vocês são a causa disso! Muito obrigado! Essa é Sin After Sin”. Densa e arrastada, ela corria o risco de quebrar o clima, porém a platéia comprou a idéia e a curtiu enquanto observávamos a capa de Pawns & Kings (22) como única decoração no backdrop.

Broken Wings foi tiro certeiro para os casais e eles eram muitos espalhados pela casa a ponto de sua letra ter sido vociferada!Burn It Down teve troca de funções: Myles solou eMark detonouno vocal e tocando. Aceita uma dica? Ouça A Dying Machine(18) e Marching In Time (21), trabalhosda banda Tremonti – você não irá se arrepender!Cry Of Achilles gerou apoio em palmas e botou a pista a pular conforme ela se encorpava. Inaugurando uma curta seção acústica, primeiro o frontman se encarregou da linda Watch Over You em voz e violão e então contou com o suporte de Mark paraIn Loving Memory, escrita por ele sobre a morte de sua mãe. Ambas ficaram perfeitas e automaticamente viraram sérias candidatas ao ponto alto da noite!

Com direito a um teaser da faixa homônima dos Beatles executado por Myles,o início da soturnaBlackbirdlembrou de leve as linhas vocais de Chris Cornell e foi outra campeã de audiência, novamente com o time inteiro esuperando uma hora de espetáculo. Simplificando, do latim:“Puta musicão da porra!” e, do mesmo álbum, tornaram a meter o pé no acelerador em Come To Life. Atendendo a um pedidopor fora do setlist de palco feito por um fã no gargarejo, Myles explicou:

“É o seguinte, quero tocar uma música porque esse cara quer que toquemos Lover, é isso que está dizendo? Ok, este é o acordo: não a tocamos juntos há anos, mas quero tentar chegar a uns versos simplesmente por você. Isso pode tornar o show uma merda porque nem sei se consigo me lembrar dela. Vamos ver… Esperem…Quero tentar!”. E puxou-adedilhando as cordas bem devagar, naturalmente inseguro de como tocá-la. Na ponte, Brian e Scott deram uma força acompanhando-o, Mark entrou no refrão e a impressão era de que os quatro iam se recordando do que fazer com ela em andamento. Eles poderiam ter fingido demência e dado de ombros, mas encararam o desafio e, para um impreciso improviso, ficou muito boae foi assim auto-avaliada por Mr. Kennedy:

“Foi para você! O show ficou uma merda, mas nos divertimos e isso é o que importa, certo? Agora vamos para uma música que, de fato, nós conhecemos. Ela se chama Pawns & Kings”. A excelenteIsolationcontinuou martelando as cabeças e judiando dos pescoços e, concluindo a parte regular do set, ele “apenas” cantou Metalingus, deixando seu instrumento de lado, como fizera antes em Broken Wings. A propósito, seu refrão seria uma espécie de prima distante de Anastasia, em que empresta a voz aoconjunto de apoio de Slash? Prestes a abandonar brevemente o palco, elogioucom um quê de Tina Turner: “Vocês são simplesmente os melhores! Obrigado!”.

Retornando para o encore, mandaramduas clássicas: a encantadoraOpen Your Eyes(não a confunda com o fantástico hit do Snow Patrol, que, por sinal, surgiu depois), com Mark debulhando no solo e era impossível não sair no embalo de “Will they open their eyes and realize we are one?”; e a saideiraRise Today. Visivelmente emocionado, o frontman despediu-se de maneira sincera: “Obrigado! Fiquem em segurança. Amamos vocês! Vocês foram sensacionais! Jamais nos esqueceremos disso, muito obrigado! E, por favor, partam em segurança”. Econômico? Sim, ele não pertence à ala dos palestrantes ou dos coaches motivacionais. Na verdade, que figura fofa!

Uma hora e cinqüenta e oito minutos no relógio, houve quem se espantasse com My Way escolhida de outro. Originalmente registrada por Claude Françoissob o título de Comme D’habitude e eternizada em inglêspor Frank Sinatra, escute asensacional versão do guitarrista em Mark Tremonti Sings Frank Sinatra (22).O play inclui uma música composta por Tom Jobim, consagradapor Ol’ Blue Eyes e reinterpretada por Mark. E se quiser se aprofundar no rolê aleatório, confira também Christmas Classics New & Old (23).

Enfim, tremenda performance! E se você reparou, só preteriram material de The Last Hero (16) e Walk The Sky (19). Ah, quer apostar? Dois meses voarãode novo, você mal notará e verá o vocalista de volta à cidade em 31/01, no mesmo recinto com Slash Feat. Myles Kennedy And The Conspirators. Prestigie-os! O evento pode te fascinar e, sem medo de errar, você irá embora melhor do que chegou!

Setlist

Intro: ???

01) Silver Tongue

02) Addicted To Pain

03) Ghost Of Days Gone By

04) Sin After Sin

05) Broken Wings

06) Burn It Down [Mark Tremonti Canta]

07) Cry Of Achilles

08) Watch Over You [Acústica] [Só Myles Kennedy]

09) In Loving Memory [Acústica] [Myles Kennedy & Mark Tremonti]

10) Blackbird [Snippet De Blackbird (The Beatles)]

11) Come To Life

12) Lover

13) Pawns & Kings

14) Isolation

15) Metalingus

Encore

16) Open Your Eyes

17) Rise Today

Outro: My Way [Frank Sinatra]