Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Paula Cavalcante (@eyeofodin.photo)
Reggae Spys, Ganggajang e Hoodoo Gurus tiram os fãs para dançar esbanjando simpatia!
A mais recente passagem do Hoodoo Gurus por São Paulo havia sido no próprio Vibra São Paulo em abril/23 e, cerca de um ano e meio depois, o conjunto capitaneado pelo super carismático vocalista e guitarrista Dave Faulkner retornou à cidade encabeçando o Australian Connection Festival e novamente enchendo a casa!
A responsabilidade de abrir a festa coube ao Reggae Spys, na prática uma continuação do legado do Spy Vs. Spy, cujo maior mercado, veja,ainda é o Brasil! Marcado para as 22:00, o trio comandadopelo vocalista e baixista Craig Bloxom entrou com um minuto de antecedência inteirado por: Tekoi “TK” Tarawa, guitarrista natural de Kaimai Range, Nova Zelândia; e Young Chrissy Lowe, baterista oriundo de Cessnock, Austrália.
Esforçando-se bravamente para usar português, Craig chegou com tudo num “Alô, galera de São Paulo! É ‘nóis’!”, com Credit Cards em andamento e em roupagem não tanto rock e sim reggae, toada esperada conforme a proposta e o re-batismo da banda. Encerrada, outra comunicação em nossa língua: “Obrigado! Boa noite para nós e vamos ao sul! Músicas de rock do sul da Austrália! Austrália e Brasil, somos iguais!” – e fizeram Hardtimes, puxando uma dobradinha de Trash The Planet (89) ao emendarem a faixa-título.
Craig era só elogios antes de Harry’sReasons?: “Sempre muito bom voltar aqui a São Paulo! A comida aqui é deliciosa! Muitas culinárias diferentes, todas diferentes: italiana, chinesa, japonesa, alemã… Todas as comidas aqui em São Paulo, cidade grande e magnífica!”. Durante a composição do quase homônimoHarry’sReasons (86), sem a interrogação, uma moça abordou este abstêmio e incrédulo escriba querendo um “AfterAll”… Pesquisando, o drink pareceu apetitoso e quem mandou tomar notas no celular ao lado do bar e de dois caixas, também vestindo roupas pretas?
Voltando ao que realmente importava, o líder sinalizou: “Nós vivemos num planeta muito bonito, cheio de cores diferentes! É beleza por todo o mundo”, aludindo a All Over The World, do mesmo play. Após Working Week, apurou: “Estavam muito ansiosos por esta noite com Reggae Spys, Ganggajang e Hoodoo Gurus? Uma boa festa em São Paulo! Muitos anos atrás…”, e cortou a interação, certamente indicando 1984, ano de lançamento do EP Meet Us Inside, de onde resgataram OneOf A Kind, seguida de Don’t Tear It Down.
E dá-lhe dedicatória pré-ClarityOf Mind: “Esta música é para nosso grande amigo, todos vocês sabem bem dele. Todos nós conhecemos Michael Weiley, guitarrista do Spy Vs. Spy, um grande amigo e guitarrista maravilhoso. Esta música é para Michael Weiley! Michael, venha conosco!”. O clássico teve até invocaçãona forma de “Cantem com Michael! Michael está aqui!” e era impossível não berrar: “Reality is a matterof a clarityof mind”! A saideira foi A.O. Mod, virtualmente instrumental, exceto pelos gritos de “Ei! Ou!” auto-explicativos em função do título. Umasolicitação de foto frente à platéia marcou o adeus e, de todos os full-lengths dogrupo, Fossil (93) foi o único preterido.
Escalado como segunda atração, o Ganggajangagradou tanto quanto a primeira ao passear por todos seus discos (ok, sabemos, são poucos) e tocar o débutauto-intitulado de 1985 na íntegra, embora fora de ordem, acrescido de uma de cada um dos sucessores: Gangagain (87), Lingo (94) e Oceans AndDeserts (02). Como intro, a voz de Peter Sellers desenrolava os versos de A Hard Day’s Night, dos Beatles, porém emulando Laurence Olivier em Richard III (55), colada a meros doze segundos de You’re No Good, de The Swinging Blue Jeans, bruscamente interrompida.
Mark “Cal”Callaghan, membro fundadora cargo do vocal e do violão, já veio apresentando os companheiros e simplificando: “Boa noite! Tudo bem? Esta música se chama Distraction”, “somente” cantada, sem utilizar seu instrumento – deixaremos tais marcações no setlist abaixo. Concluída, cravou, transbordando simpatia: “Esta música é do filme de surfe Mad Wax e se chama Initiation”, também incluída no citadoGangagain. Em suma, o ponto era: todo mundo resolveu aprender português?
The Bigger They Are ficou bem bossa nova, To The North manteve o clima descontraído e Cal mostrou seu lado galanteador: “Beleza! Muito bom estar aqui com vocês, em São Paulo, Brasil! As paulistas são as mais lindas! Esta música se chama: Me Dá Um Pouco De Amor; Gimme Some Lovin’”. Do álbum de estréia e numa só tacada, vieram Maybe I e AmbulanceMen e Carioca Girl, do mencionado Oceans AndDeserts, foi ocasionalmente rebatizada como Paulista Girl, com a colaboração na percussão de Pedro Félix Petrucci, tour manager da Australian Connection Festival.
Ainda de Ganggajang, mandaram HouseOf Cards e Shadow OfYour Love, com Cal indo para os braços do povo na pista premium e retribuindo o carinho: “Ei, galera! Estou cercado por mulheres muito bonitas! Brasileiras!”. No meio de SoundsOfThen (ThisIs Australia), dois fãs ao lado deste repórter professavam suas predileções entre a gravata borboleta do baixista Peter Willersdorf e a boina do tecladista Geoffrey Stapleton!
GiverOf Lifetrouxe um solo de Cal ao violão e, fechando o repertório, HundredsOfLanguagesrepresentouLingo. Evidentemente, ele se despediria: “Obrigado! Boa noite! Por favor, uma foto com vocês? Obrigado, amigos!”. Musicalmente, caíram feito uma luva e partiram aplaudidos, especialmente pelo respeito e empenho em usar nosso idioma.
Era além de meia-noite e meia quando o Hoodoo Gurusdeu as caras ao som de trechos de The SoundsOfHatari e Crocodile, Go Home, ambas de Henry Mancini e da trilha sonora de Hatari! (62), como intro. De partida, foram para StoneageRomeos (84) com I WantYou Back e,terminada, Dave deu claro indício: “Esta noite nós vamos levar vocês para um outro mundo”, referindo-se à perfeita Another World.WakingUpTired e a pancada The Right Time a sucederam até o músico revelar o assunto da bela Night Must Fall: “Esta música é sobre pessoas queridas que não estão mais com a gente”.
Novos comentários? “Escrevi esta música quando tinha vinte e dois anos”, My Girl, com a ótima I Don’t Mind a tiracolo, fazendo a alegria coletiva. E viriam mais detalhes: “Esta próxima música é sobre a morte, embora seja realmente mais sobre o luto e sobrevivência”, Death Defying, surpreendentemente alegre para o tema e, quem sabe, quebrando propositalmente a letra tensano refrão. E superando meia hora, a aceleradaIf Only… antecedeu ChariotOf The Gods, do mais recente trabalho, de mesmo nome e de 2022.
Out ThatDoortrouxe um tremendo solo de guitarra de Brad Shepherd e Dave contextualizou: “Esta foi o nosso primeiro single, Leilani”. Nela, surgiu um pedido complementar bastante engraçado: “Vocês querem se juntar à nossa tribo? Quando nós falarmos ‘Katumba’, vocês gritam ‘Hey!’. Quando nós falarmos ‘Macumba’, vocês gritam ‘Ho!’”. Brad assumiria os vocais em Equinox, outra de ChariotOf The Gods, assim por ele descrita: “Oi, amigos! Esta é uma canção de esperança. Esta é uma canção de boa sorte, galera”.
Ambas de Kinky (91), fizeram Castles In The Air e Miss Freelove ’69, chegando a uma hora no relógioe, acabando o set regular, detonaram em Bittersweet, What’sMyScene e Like Wow – Wipeout, a mais punk rock no geral e com início à laDo YouRemember Rock ‘N’ RollRadio?, dos Ramones. Good Times abriu o encore e, ao se declararem num “Mais uma vez, nos divertimos muito! Amamos o Brasil!”, finalmente deram à massa o que ela esperava: as sensacionais 1000 Miles Away e Come Anytime.
Beirava duas e dez da manhã quando deixávamos a pista ao som da outro Pygar’s New Wings, gravada pela The Bob Crewe Generation Orchestra e trilha sonora deBarbarella (68), constatando que, em sua discografia, deixaram de lado Mach Schau (04) e PurityOfEssence (10). E se as duas primeiras vindas ao país foram em 1995 e 1997, para só estrearem em São Paulo em 2023, quenunca mais demorem a regressar, pois há demanda pela energia deseu rock australiano! Bastava olhar nos rostos dos presentespara constatar a felicidade dos que dançavamdeixando os problemas para trás!Por fim, já pensou se encaixassem o Midnight Oile/ou o Men At Work no pacote?
Setlists
Reggae Spys – 57’ / Previsto: 22:00 / Real: 21:59
Craig Bloxom (vocal/baixo), Tekoi “TK”Tarawa (guitarra) e Young Chrissy Lowe (bateria)
01) Credit Cards
02) Hardtimes
03) Trash The Planet
04) Harry’sReasons
05) All Over The World
06) Working Week
07) OneOf A Kind
08) Don’t Tear It Down
09) Clarity Of Mind
10) A.O. Mod
Ganggajang – 55’ / Previsto: 23:10 / Real: 23:13
Mark “Cal”Callaghan (vocal/violão), Robert “Robbie” James (guitarra), Peter Willersdorf (baixo), Geoffrey Stapleton (teclados) e Graham “Buzz” Bidstrup (bateria)
Intro 1: A Hard Day’s Night [Peter Sellers]
Intro 2[cortada]: You’re No Good [The Swinging Blue Jeans]
01) Distraction *
02) Initiation
03) The Bigger They Are
04) To The North
05) Gimme Some Lovin’
06) Maybe I *
07) AmbulanceMen
08) “Paulista” Girl [Carioca Girl renomeada]
09) HouseOf Cards
10) Shadow OfYour Love *
11) SoundsOfThen (ThisIs Australia)
12) GiverOf Life
13) HundredsOfLanguages
* Mark Callaghancanta sem tocar violão
Hoodoo Gurus – 1h31’ / Previsto: 00:30 / Real: 00:33
Dave Faulkner (vocal/guitarra), Brad Shepherd (guitarra), Rick Grossman (baixo) e NikRieth (bateria)
Intro 1: The SoundsOfHatari [Henry Mancini]
Intro 2: Crocodile, Go Home [Henry Mancini]
01) I WantYou Back
02) Another World
03) WakingUpTired
04) The Right Time
05) Night Must Fall
06) My Girl
07) I Don’t Mind
08) Death Defying
09) If Only…
10) ChariotOf The Gods
11) Out ThatDoor
12) Leilani
13) Equinox [Brad Shepherd Canta]
14) Castles In The Air
15) Miss Freelove ‘69
16) Bittersweet
17) What’sMyScene
18) Like Wow – Wipeout
Encore
19) Good Times
20) 1000 Miles Away
21) Come Anytime
Outro: Pygar’s New Wings [The Bob Crewe Generation Orchestra]