Texto e Fotos: Flavio Santiago
Na noite de 28 de setembro, o Terra SP se transformou em um altar dedicado ao metal extremo, reunindo três vertentes distintas do gênero — a jovem energia de um grupo emergente, a brutalidade clássica de um ícone do death metal e a teatralidade monumental de uma banda que transformou seu show em um verdadeiro ritual.
A jornada começou com o Nidhogg, que, mesmo ainda no início da carreira, trouxe um setlist coeso e carregado de simbolismos. A abertura com “Narcissus” deu o tom da apresentação: riffs densos e atmosfera introspectiva que lembram escolas do black metal europeu. Seguiram-se “Mental Lycanthropy and The Calling of Shadows” e “Transylvania”, faixas que demonstram como a banda busca equilibrar agressividade com momentos quase narrativos.
O vocalista, em performance visceral, não poupou energia, vestindo inclusive a camisa da Seleção Brasileira ao fim do show em um gesto de aproximação com o público.
Ao revisitar a fase inicial com “Wilczyca” e “Horda”, o Nidhogg mostrou respeito às próprias raízes. O ápice veio com os covers: “Wyrocznia”, que trouxe uma aura ainda mais sombria, e o poderoso encerramento com “Territory”, clássico do Sepultura, que fez a casa vibrar em uníssono. Ainda que a execução tivesse momentos de instabilidade devido o estado de saúde do vocalista que disse estar com febre e quase sem voz , a entrega emocional compensou, deixando clara a ambição artística da banda.
Setlist
Narcissus
Mental Lycanthropy and the Calling of Shadows
Dracula
Transilvania
Sic Luceat Lux
Wilczyca (Wilczyca cover)
Horda (Wilczyca cover)
Jeszcze Zemsci Sie Ziemia
Wyrocznia (KAT cover)
Territory (Sepultura cover)
Na sequência, o Deicide trouxe consigo a precisão quase clínica do death metal norte-americano. A abertura com “When Satan Rules His World” foi um soco no estômago: Glen Benton, com sua postura inabalável, comandou a massa sem precisar de discursos elaborados.
O set prosseguiu com a brutal “Carnage in the Temple of the Damned” e a incandescente “In Hell I Burn”, ambas reafirmando a vocação da banda para transformar técnica em pura violência sonora.
O peso cavernoso de “Satan Spawn, the Caco-Daemon” mostrou a solidez das linhas de baixo, enquanto “Sacrificial Suicide” trouxe uma resposta instantânea do público, que gritava cada palavra. O clássico “Dead by Dawn” foi recebido como hino incontestável, com rodas de mosh incendiando a pista.
O clímax da apresentação veio em “Scars of the Crucifix”, uma das composições mais simbólicas da discografia, seguida do encerramento devastador com “Homage for Satan”, que consolidou a aura blasfema e irredutível da banda. Houve falhas técnicas nos primeiros minutos, mas foram rapidamente superadas; o resultado foi uma performance direta, sem artifícios visuais, sustentada apenas pela brutalidade sonora.
Setlist
When Satan Rules His World
Carnage in the Temple of the Damned
Bury the Cross… With Your Christ
Behead the Prophet (No Lord Shall Live)
Once Upon the Cross
From Unknown Heights You Shall Fall
Sacrificial Suicide
Satan Spawn, the Caco-Daemon
Sever the Tongue
In Hell I Burn
They Are the Children of the Underworld
Scars of the Crucifix
Dead by Dawn
Homage for Satan
Por fim, o palco se transformou em templo quando o Behemoth deu início ao seu espetáculo. A introdução com “The Shadow Elite” já mostrou a direção: um show pensado como encenação, onde cada detalhe — iluminação, figurinos, projeções — funciona como parte de um ritual. “Ora Pro Nobis Lucifer” trouxe o público para dentro do culto, com coro coletivo ecoando cada verso.
A inesperada inclusão de “Demigod” logo no início quebrou as expectativas, transportando os presentes para a fase mais crua da banda. Na sequência, vieram “Conquer All” e “Blow Your Trumpets Gabriel”, construindo uma ponte entre a velha brutalidade e a fase mais moderna, marcada por arranjos complexos.
A força ritualística atingiu o auge em “Ov Fire and the Void”, quando o público parecia parte de um único organismo, absorvendo cada batida da bateria e cada entonação de Nergal.
As novas composições como “Lvciferaeon” e “Once Upon a Pale Horse” provaram que a banda não vive apenas do passado, e funcionaram bem ao vivo, mostrando o Behemoth em plena expansão criativa. O momento mais litúrgico veio com “Bartzabel”, quase um cântico, em que a plateia mergulhou em uma catarse coletiva.
A agressividade retornou com “Wolves ov Siberia”, enquanto “Christians to the Lions” reacendeu o fogo da velha escola. “Cursed Angel of Doom” e “Chant for Ezkaton 2000” completaram a trajetória sonora até que o bis trouxe o desfecho triunfal: “O Father O Satan O Sun!”, uma epifania em forma de música, com luzes, fumaça e um Nergal completamente tomado pelo personagem que encarna.
Setlist
The Shadow Elite
Ora Pro Nobis Lucifer
Demigod
The Shit ov God
Conquer All
Blow Your Trumpets Gabriel
Ov Fire and the Void
Lvciferaeon
Bartzabel
Wolves ov Siberia
Once Upon a Pale Horse
Christians to the Lions
Cursed Angel of Doom
Chant for Eschaton 2000
Encore:
O Father O Satan O Sun!
GALERIA DE FOTOS : BEHEMOTH
GALERIA DE FOTOS : DEICIDE