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Best Of Blues And Rock – Auditório Ibirapuera (Área Externa) – 03/06/23
Postado em 25 de junho de 2023 @ 16:11


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Encontro de gerações marca o segundo dia do festival

Se o primeiro dia do Best Of Blues And Rock já havia sido marcante, o que esperar de uma noite com Steve Vai e Buddy Guy? Antes, porém, o DeadFish, talvez a banda mais destoante do blues no line-up inteiro, foi a escalação que possivelmente mais agradoua quem curte música pesada e Rodrigo Lima e companhia simplesmente passaram o carro em cinqüenta e sete minutos! Pena que pouca gente resolveu encarar o calorzão das 14:22… Enfim,se você já os assistiu ao vivo tem três certezas: pulos insanos de Rodrigo; uma paulada atrás da outra; e manifestações políticas de esquerda.

Sim, teve tudo isso e bastou uma faixa, A Urgência, para brotar umaquestão na cabeça deste escriba: por que a má vontade com o quarteto e tamanha babação de ovo para, por exemplo, o movimento metalcore gringo, especialmente o norte-americano? As sonoridades não diferem tanto assim e cabe reflexão. Enquanto isso, no palco, o pau comia solto! Quer provas? Tão Iguais;Queda Livre;Asfalto;Molotov;SharkAttack, única em inglês do set; eZero E Um, com conclusão “blues”. Vestindo uniforme branco do Beşiktaş, Rodrigoexaltou a gracinha: “Esse final dessa música foi especialmente planejado para este festival!”. Aceita mais pauladas? Proprietários Do Terceiro Mundo;Sangue Nas Mãos;Não Termina Assim; eMulheres Negras. Onze pancadas em alucinante quase meia hora, pouco além da metade do repertório!

Sem perdão e feito um rolo compressor, mandaram:Venceremos;Hoje;Sombras Da Caverna;Contra Todos;Autonomia;Senhor, Seu Troco– certamente a mais curta dos três dias!;Você; Afasia; Sonho Médio;eBem-Vindo Ao Clube. Ufa! Sentiu a leitura do texto um tanto corrida? Foi proposital! Agora imagine como foi o show…Mal saindo do palco, Rodrigo encarou uma entrevista coletivaao lado de Artur Menezes e Steve Vai, em breve transcrita aqui no site. Haja fôlego!

Voltando dela, infelizmente perdemos cerca de quinze minutos da performance do citado Artur Menezes e,quando chegamos à pista, ele já executara Come With Me e HurtsLikeHell, mas deu tempo de conferir o finalzinho de Any Day, Anytime e ouvi-lo expressar a satisfação em dividir o palco com o baixista Fernando Rosa e o sensacional Cuca Teixeira na bateria. A partir daí, pegamosa maravilhosa ShouldNeverHaveLeft inteira e a primeira interação que testemunhamos foi: “Sou de Fortaleza, mas já moro nos Estados Unidos já tem mais de sete anos, acho. Sou de Fortaleza, então a gente tem a música nordestina muito forte. Escrevi essa música, que se chama Northeast, traduzindo, ‘Nordeste’, uma mistura de blues com baião e rock. Adoro tocar essa música na gringa, mas tocar no Brasil é mais legal!” – amostra instrumental que deve fazer os americanos pirarem!

Sua sucessora também em Fading Away (20), Fight For Your Lovefoi uma paulada a ponto de ser super interessante ver Cuca Teixeira descer o braço em seu kit! Realçando o fato de focar em conteúdo autoral, Artur anunciou SheCold, lançada na véspera e tocada pela primeira fez ao vivo ali no Ibirapuera. Emendadas, fez a ainda inédita Time, Change (outro single recente deste ano) e Blues In D Natural (Earl Hooker), meio interrompida quando o músico notou estar estourando o tempo.

Como a também cearense Nanda Moura na véspera, o guitarristamostrou-se escolha certeira e fascinou o exigente público. Ajudou o fato de o trio ser formado por uma cozinha absolutamente competente e a críticasingular residenas excessivas falas em inglês. Se porventura houvesse gringos na banda, até faria sentido, mas sendo brasileiro e aqui tocando, que interagisse em português mesmo! Querexemplos?“Fernando Rosa on the bass, come on!”; “Cuca Teixeira on the drums”; “Alright, so it goes like this”; “So beautiful here today”; e “This one is called Change”.Pelo belo show feito, está mais do que perdoado.

Às 17:12, veio ao palco a The Nu Blu Band Feat. Carlise Guy – sim, isso mesmo, a filha do homem! Após checar se a platéia estava bem, ela já comandou NeverMake A Move Too Soon (B. B. King). Sinceramente? Uma música e já havia a certeza de um tremendoset com umabanda azeitada e cheia de swing. Little By Little (Junior Wells) a sucedeu e, “apenas” na figura debacking vocalaté então,KenyattaGaines se encarregou de detonar em TeenyWeeny Bit (Carey Bell).

Carlise voltou a reger o grupo na maravilhosaI’m A Woman(Koko Taylor), na verdade uma adaptação de I’m A Man (Bo Diddley) a durar quase nove minutos, tempo mais do que suficiente para mostras gerais de talento, especialmente do pianista Daniel Souvignye do guitarrista Mark Maddox, com quem Carlise compôs a cadenciadaNew Day, com tremendo solo de guitarra e forte acento no baixo de Orlando Wright – a rigor, ele e Daniel integram a DamnRight Blues Band, de Buddy Guy.

E se você se perguntava se dava para melhorar, Mustang Sally (Mack Rice) botou o povo a dançar e a intimistaTennessee Whiskey(David Allan Coe)novamente trouxeKenyattaGainescomo voz principal. Pensa que acabou? Ainda rolaram I’ll Be Around (The Spinners) e a seminal GetUp (I Feel Like Being A) Sex Machine (James Brown). Cinqüenta e quatrominutossuper aprazíveis e, sem medo de errar, até pelo pouco conhecimento geral a respeito do conjunto, Carlise Guye companhia forama grata surpresa de todo o Best Of Blues And Rock 2023!

Promovendo Inviolate (22) e optando por uma introdução tocada de dois minutos até mandar pau com a arrepiante Avalancha, Steve Vai veio ao palco pontualmente às 18:40 acompanhado de músicos de primeira linha: Dante Frisiello (guitarra/teclados), PhilipBynoe(baixo) e Jeremy Colson (bateria) – este vestindo uma “ex-camiseta” transformada em regata com a capa de Chaos A.D. (93) do Sepultura. Trazendo riffs martelantes de Dante e baixo forte de Philip (discreto, ele agitou o show inteiro, oferecendo solidez para a cozinha com Jeremy), GiantBallsOf Goldfoi uma porretada até o regresso ao play em divulgação com Little Pretty e um céu estrelado no telão.

A primeira fala do guitarrista foi sincera: “O que está rolando aqui esta noite? Meu Deus do céu, vocês estão lindos, sim! Estão se divertindo neste festival? E estão se sentindo bem? Acham que se sentem tão bem quanto nos sentimos? Certo, quanto a isso, veremos… É muito bom estar aqui dando o pontapé inicial em nossa parte sul-americana da turnê. É ótimo estar aqui, muito obrigado! Vim aqui na noite passada, estava assistindo aos meus amigos Nuno e Tom Morello. Ele soou tão bem! Vocês os viram na noite passada? Sensacionais! Somos muito gratos por estarmos em turnê!”. Mantendo o clima leve, mandaram a melódica Tender Surrender, prontamente reconhecida e com Dante nos teclados.

Começando com um twohandsabsurdo, Building The Church tornou a acelerar o set e, chegando àsua metade,I’mBecoming foi a mais curta, apenas com Stevee encerrada com uma fotografia dele ainda criança no telão quando ninguém suporia quem ele “se tornaria”, com o perdão do trocadilho, até o próprio contextualizar: “Como estão até agora? Tudo bem? Nós também! Ouçam, é realmente um grande privilégio conseguir dividir o line-up com um dos maiores guitarristas icônicos do blues que já existiram. Sabem, quando eu era um garoto jovem, eu não tinha muito acesso ao blues. Era mais ao blues do rock: Led Zeppelin, Queen, DeepPurple – todas essas coisas boas. Então comprei um disco do John Lee Hooker, outro do BlindWillie Johnson e falei ‘Uau!’. Porém, nenhum deles estava realmente ‘tocando’ a guitarra, até eu ouvir Buddy Guy…”.

Ele se aprofundou: “Cara, é difícil quantificar e mesmo entender a contribuição que este homem deu à nossa maravilhosa guitarra. Foi nele que Jimi Hendrix se inspirou! Aí tenho que tocar antes dele [nota: fazendo cara de assustado]. Enfim, vamos tocar um pequeno tributo, meio que um blues, meu blues, que está mais para um Greenish Blues e este éo nome da música. Aproveitem!”, novamente com toda a banda para o belo tema sob iluminação azul e verde e telão com imagens majoritariamente voltadas às duas cores. A partir daí, o cenário apenas melhoraria, de cara com a projeção de um trecho de Crossroads (86), filme estrelado por Ralph Macchio com Steve interpretando o diabonum duelo de guitarras em que, na verdade,executa as duas partes e o eterno ator de Karate Kid (84) apenas o “dubla”. Isso para introduzir a fantástica BadHorsie, com Dante fora do palco a princípio e retornando para “fazer uma ponta”nos teclados mais para seu final.

Beirando uma hora de performance, um solo de bateria ofereceu oportunidade de breve saída para Steve, até todos retomarem seus postos com as luzes apagadas para a surpreendente, TeethOf The Hydra, com aHydrapré-posicionada – explicar seu funcionamento seria loucura e o YouTube está aí para isso! Caminhando para o final, Zeus In Chainsantecedeu a que todos queriam escutar: a inigualável e imbatível For The Love OfGod, com clipe ao fundo e desta vez com vocais iniciais em italiano feitos por Dani G., de sua equipe.Confessamos que beirou o bizarro escutar “Per l’amordiDio” em voz empostada, até porque o povo desejava ouvirversão similaràencontrada em PassionAndWarfare (90), como rolou do meio em diante.Apesar do leve “deslize”, foi um showzaço! Só doeu ver o setlist de Buenos Aires, onde o músico tocou três dias depois e fora de um festival, com dez músicas a mais…

Com o público espalhado entre os banheiros, bares e atrás de comida, até havia sinais de debandada similar à da sexta após o show do Extreme. Lego engano! A galera apenas confortavelmente se pulverizou e, às 20:31, com a The DamnRight Blues Band no palco, um estouro no alto-falante deu a impressão de ser necessário um novo ajuste, mas tudo não passou de um “barulhão” antes de Buddy Guy dar as caras e DamnRight, I’veGot The Blues (combinadaà “DamnRight” de sua correia) abrir set arrebatador de setenta e cinco minutos. A diversão apenas começava!

Em I’mYourHoochieCoochie Man (Muddy Waters), a lenda tirou sarro raspando a manga comprida direita da camisa nas cordas e depois a guitarra no próprio peito para tirar um som, tudo dentro do andamento estabelecido coletivamente.Humilde, no decorrer do clássico, deu passos para trás para que Ric Hall também brilhasse solando na guitarra e acomposição ainda foi “completada” por um trecho de She’sNineteenYearsOld(Muddy Waters).I Just Want To Make Love To You(Muddy Waters) veio na seqüência, bem como How Blue CanYouGet? (registro original de Johnny Moore’sThree Blazers e famosa na voz de B. B. King), com pequena adição de Five LongYears. Agora, se você quer saber em qual momentoeste repórter foi, de fato, fisgado, foi na linda SkinDeep, com a tocante letra sendo autêntica aula para que todos parassem e nela prestassem atenção.

Possível grande falha desta cobertura, não conseguimos identificar a composição que trouxe snippet de Sunshine OfYour Love,um espetáculo à parte: Buddy Guy simplesmente acomodou a guitarra sobre um amplificador e brevemente tocou, com uma baqueta,o riffprincipal do clássico doCream!Pegando o instrumento de volta, tocou-onovamente, desta vez com uma toalha!Ele ainda fechou o hino emendando um trecho de Take Me To The River(Al Green) e tinha mais: narrando a importância de cada artista, mandou trechos de Boom Boom (John Lee Hooker), Voodoo Chile (The Jimi Hendrix Experience) e StrangeBrew (Cream)!

A cereja do bolo foi Little By Little, na prática uma jamarrematada com versos de Someday Baby(R. L. Burnside) e especial devido à presença de seus filhos: o guitarrista Greg Guy, vestindo a número dez de nossa seleção às costas; e a cantora Carlise Guy – lembrando que a faixa de Junior Wells havia sido a segunda do set da The Nu Blu Band. Outra participação especial foi a do também guitarrista, o brasileiro Marcelo Zaine – de longe, um gaiato na pista pensou se tratar de Leo Jaime…

Buddy Guy até citou não curtir muito fazer jams e afirmou que Tom Morello e Steve Vai manifestaram interesse em participar, mas, informado de que eles não estavam mais no recinto, brincou: “Estão sussurrando no meu ouvido que vocês têm um toque de recolher. Eu tocaria a noite toda, mas parece que eles já foram embora!”. Outro momento interessante foi vê-lorevelar que seus filhos não tinham a menor idéia de quem ele era até completarem vinte e um anos, idade mínima para a entrada legal em clubes onde ele se apresentava nos Estados Unidos.Além disso, ele não os encorajara a seguir a carreira porque “a vida de um músico tem muitos altos e baixos, mais baixos do que altos”.

Por se tratar de sua “DamnRightFarewell Tour”, foi grande a comoção coletiva em ver uma das últimas lendas vivas do blues raiz ao vivo dando aula no segundo dia do festival, em que imperou o equilíbrio entre artistas consagrados e nomes em busca de espaço. E ainda haveria a conclusão no dia seguinte!

 

Setlists

DeadFish – 57’

Programado: 14:20 – 15:20 / Real: 14:22 – 15:19

Rodrigo Lima (vocal), RicMastria (guitarra), Igor Tsurumaki (baixo) e Marcão Melloni (bateria)

01) A Urgência

02) Tão Iguais

03) Queda Livre

04) Asfalto

05)Molotov

06)SharkAttack

07) Zero E Um

08)Proprietários Do Terceiro Mundo

09) Sangue Nas Mãos

10) Não Termina Assim

11)Mulheres Negras

12)Venceremos

13) Hoje

14) Sombras Da Caverna

15) Contra Todos

16)Autonomia

17) Senhor, Seu Troco

18) Você

19) Afasia

20) Sonho Médio

21)Bem-Vindo Ao Clube

 

Artur Menezes – 59’

Programado: 15:40 – 16:40 / Real: 15:42 – 16:41

Artur Menezes (vocal/guitarra), Fernando Rosa (baixo) e Cuca Teixeira (bateria)

01) Come With Me

02) Hurts Like Hell

03) Any Day, Anytime

04) Should Never Have Left

05) Northeast

06) Fight For Your Love

07) She Cold

08) Time

09) Change

10) Blues In D Natural [Earl Hooker]

 

The Nu Blu Band Feat.Carlise Guy – 54’

Programado: 17:10 – 18:10 / Real: 17:12 – 18:06

Carlise Guy (vocal), Mark Maddox (guitarra), Orlando Wright(baixo), Daniel Souvigny(teclados), Dan Henley (bateria) e KenyattaGaines (vocal de apoio)

01) Never Make AMove Too Soon [B. B. King]

02) Little By Little [Junior Wells]

03) Teeny Weeny Bit [Carey Bell]

04) I’m AWoman [Koko Taylor]

05) New Day

06) Mustang Sally [Mack Rice]

07) Tennessee Whiskey [David Allan Coe]

08) I’ll Be Around [The Spinners]

09) Get Up (I Feel Like Being A) Sex Machine [James Brown]

 

Steve Vai – 1h22’

Programado: 18:40 – 20:00 / Real: 18:40 – 20:02

Steve Vai (guitarra), Dante Frisiello (guitarra/teclados), Philip Bynoe(baixo) e Jeremy Colson (bateria)

01) Avalancha

02) Giant Balls Of Gold

03) Little Pretty

04) Tender Surrender

05) Building The Church

06) I’m Becoming

07) Greenish Blues

08) Bad Horsie

09) Solo De Jeremy Colson

10) Teeth Of The Hydra

11) Zeus In Chains

12) For The Love Of God [Dani G. Canta]

 

Buddy Guy &The Damn Right Blues Band – 1h15’

Programado: 20:30 – 22:00 / Real: 20:31 – 21:46

Buddy Guy (guitarra/vocal), Ric Hall (guitarra), Orlando Wright (baixo), Daniel Souvigny(piano) eTom Hambridge(bateria)

01) Damn Right, I’ve Got The Blues

02) I’m Your HoochieCoochie Man [Muddy Waters] / She’s Nineteen Years Old [Muddy Waters]

03) I Just Want To Make Love To You [Muddy Waters]

04) How Blue Can You Get? [Johnny Moore’s Three Blazers] / Five Long Years

05) Skin Deep

06) ??? / Snippet de Sunshine Of Your Love [Cream] / Take Me To The River [Al Green]

07) Boom Boom[John Lee Hooker] / Voodoo Chile [The Jimi Hendrix Experience] / Strange Brew [Cream]

08) Little By Little [Junior Wells] / Someday Baby [R. L. Burnside] [Com Carlise Guy, Greg Guy e Marcelo Zaine]

 

CONFIRA ABAIXO A GALERIA DE FOTOS DESSE SHOW

 

 

 
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