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BLACK FLAG ::: 08/03/2020 ::: CARIOCA CLUB
Postado em 11 de março de 2020 @ 23:38


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Agradecimentos: Erick Tedesco e Powerline

Black Flag tarda, mas não falha: aos 44 anos de vida, 23 petardos em quase 85 minutos.

Embora no ato da escrita deste texto, o boato do cancelamento da vinda de Sammy Hagar tenha se tornado uma dura e triste realidade, em meio à enxurrada de shows pela cidade em março, após quarenta e quatro descontínuos anos na ativa, houve espaço para um début que deveria ter acontecido em 07/07/19, adiado “devido a circunstâncias que fogem ao nosso controle”, segundo o comunicado do próprio Black Flag em 25/06 último.

E mesmo só restando Greg Ginn da formação original, o povo não quis nem saber e, com significativa parcela feminina, marcou presença em bom número no Carioca, contrariando a impressão visual inicial da entrada às 19:30, com pessoas pulverizadas pelos ambientes e ainda do lado de fora da casa, chegando a dar impressão de que haveria pouco público.
Sem abertura e conforme divulgado, Thiago DJ, do programa Heavy Pero No Mucho da Rádio 89, cuidava da discotecagem desde as 18:00, foi além do prometido para as 20:00 e não ficou claro se as seis canções de Frank Sinatra tocadas nos últimos vinte e cinco minutos, até cortarem I’ve Got You Under My Skin, ainda tinham sua assinatura ou se já se tratavam de intros da banda que, além do citado guitarrista, trouxe ao palco Mike Vallely (vocal), Joseph Noval (baixo) e Isaias Gil (bateria) exatamente às 20:37. Um adianto sobre o setlist, já que nem tudo foi tirado dos álbuns regulares do conjunto, ao melhor estilo ‘do it yourself’: oito canções vieram de EPs, uma de uma coletânea e a saideira de um single; e a mais ‘recente’ foi de 1989, então imaginem a alegria geral só com velharia na orelha!
Depression abriu a festa e de cara constatou-se que o estilo de Mike trazia influências de Henry Rollins – a rigor, tinha como ser diferente? Ainda em sua execução, algo inusitado: um fã foi ao palco em direção ao vocalista, que não gostou, e sua reação foi tão intempestiva que o próximo a se arriscar por ali foi dezenove músicos mais tarde e por um ótimo motivo – mais a respeito no devido tempo. No Values chamou atenção pela roda bem à frente da pista, pois elas normalmente se formam pelo meio do setor no Carioca, agora com dois ‘mini-telões’ laterais e um de fundo com o nome do artista da vez, nova iluminação e uns ‘cubos’ no teto, também com o logo do Black Flag, o mesmo projetado como decoração no telão atrás da bateria – repare no novo layout da casa em sua próxima ida.
I’ve Had It antecipou Black Coffee, de Slip It In (1984), a primeira reconhecida em urros coletivos, melhor elaborada e mais comprida para os padrões do grupo, até Fix Me revelar-se o antídoto, acelerar a roda e incendiá-la de vez em meros quarenta e dois segundos de pura combustão! Gimmie Gimmie Gimmie foi cantarolada pelo povo já a partir das batidas de Isaias (não a confunda com Gimme! Gimme! Gimme!, do Abba) e seguida por Loose Nut, White Minority e Six Pack, esta a despertar um frisson desde a linha inicial de baixo, talvez pelo sugestivo título. E já que o assunto era cerveja, ou havia muito mais gente calibrada do que a média de shows de metal, por exemplo, ou a turma do caneco resolveu se amontoar bem ao lado deste escriba. Bastante aplaudida, Bastard In Love finalizou o ‘primeiro ato’, por assim dizer, com a primeira pausa para hidratação em pouco menos de vinte e cinco minutos e dez pancadas! E houve tempo para Greg colar à beira do palco e cumprimentar alguns afortunados e para Mike autografar um shape azul a ele erguido no gargarejo.
A pausa foi simbólica, até porque a esporrenta Room 13, outra bem aplaudida, voltou a acelerar tudo, mas foi em Slip It In que a banda se superou! Mais longa dentre todas as versões de estúdio para as faixas do set, com 6’17”, por incrível que pareça, só seu início já virou uma sensacional jam de quase seis minutos até que Mike iniciasse sua parte! Primeiro o destaque foi para o baixo e a bateria e depois para a guitarra, com todos os músicos perto de Isaias, incluindo o vocalista, agitando em versão que passou de mágicos dez minutos e meio de um bofetão sem luvas de pelica na cara de quem ainda pensa que o estilo é ‘simples demais’ e que punk rockers não sabem tocar. Como virar a página? Tocando I Can See You, a ‘novinha’ do show, do EP homônimo de 1989, e pulando para uma mais antiga, Damaged II, em clima de santa paz refletido pelas costas da camiseta de um fã à frente deste escriba: “No place for: homophobia, fascism, sexism, racism, hate”.
Única de In My Head (1985), Retired At 21 veio sob irônicas luzes verdes e amarelas, depois azuis e amarelas… ou você acha que vai se aposentar tão cedo por aqui? Não, nem mesmo o animado fã do camarote, dançando como se não houvesse amanhã e nem aí para a hora do Brasil! Ao seu término, o cantor finalmente comunicou-se com a massa via um “Olá! Obrigado!”, se apresentou, fez o mesmo com seus colegas e ainda tirou onda com o baixista, a quem tratara por “Joe”, com uma lata da cerveja que desce quadrado atrás de si: “Você merece uma cerveja melhor!”. Revenge detonou a roda de novo e foi praticamente colada a Clocked In, da coletânea The First Four Years (1983), seguida de Jealous Again, outra porrada, até Can’t Decide representar My War (1984), em outra ‘amostra jam’, esta com oito minutos e mais um aplaudidíssimo final!
Caminhando para o final da apresentação e simbolizando o começo de tudo para o quarteto, veio Nervous Breakdown e, com o perdão do trocadilho, a terceira e última do primeiro e homônimo EP de 1979 na noite (única faixa do Lado A, para os mais old school) reexplodiu nervosamente a roda – até cerveja voou, duas vezes! Falando nisso, agora sim, em iniciativa de se tirar o chapéu após o protesto do vocalista com o que seu baixista bebia, um fã tentou a sorte e foi ao palco entregar a um roadie algumas garrafas de Budweiser! O ato forçou merecida pausa e só então “Joe” pôde degustar um ‘suco de cevada’ digno de respeito, acompanhado de Greg, Isaias e Mike, todos brindando em saudação a quem fizera a atenciosa oferenda.
Em meio a tudo isso e antecipando o que naturalmente viria, a galera gritava “TV Party tonight”, dando a deixa para TV Party, e foi atendida. Festejando, uma garota foi ao palco e se jogou, sem maiores intercorrências, até Rise Above, maior clássico do grupo e justamente a faixa de abertura de Damaged (1981), o play mais contemplado do set, mandar tudo pelos ares e dinamitar a casa pela última vez – para se ter uma idéia, mais duas latas de cerveja passaram voando e Mike sequer havia começado a cantar… é claro que mais gente resolveu fazer stage diving, causando certo alvoroço e receio por parte dos técnicos, trabalhando para não haver danos aos equipamentos e ninguém acertar os músicos.
A saideira foi Louie Louie, single de 1981 da composição de Richard Berry no longínquo 1955, que já teve outras versões em estúdio que valem uma conferida, indo de renomados artistas como Motörhead (em single de 1978) a Joan Jett & The Blackhearts, Iggy Pop e Robert Plant, este na trilha sonora de Wayne’s World 2 (1993), Quanto Mais Idiota Melhor 2 por aqui. Mais latas voavam e o cover acabou se tornando a terceira e derradeira ‘jam’ da noite, em mais de doze minutos e mais gente tentando escalar o palco para se jogar (ainda que seja uma minoria, quando esse tipo de ‘fã’ vai entender que seu lugar não é ali em cima?). Seu final foi, de certa forma, melancólico, com os músicos pela área, mas sem deixar claro se seguiriam tocando ou se as cortinas seriam fechadas, pouco além das 22:00.
Deixando o recinto, após um tour geral no merchan (CDs, compactos e LPs do Black Flag saíam por 20, 50 e 100 reais, respectivamente, e shapes por 300 reais – um deles autografado), uma grata surpresa enquanto Generator (Bad Religion) rolava no sistema de som: sorridente, Greg descera à pista e tirava fotos com quem o abordasse e, acredite, o número de pessoas ali no burburinho era pequeno, até porque a maioria já havia saído. A questão que resta é saber se esta se tornará a única passagem do Black Flag por aqui, ainda mais em meio ao tenebroso cenário de cancelamentos das chegadas de artistas americanos devido à quarentena imposta por seu governo para o regresso de quem deixar o país rumo a locais onde a presença do Coronavírus já foi detectada. É esperar para ver…

Setlist
01) Depression
02) No Values
03) I’ve Had It
04) Black Coffee
05) Fix Me
06) Gimmie Gimmie Gimmie
07) Loose Nut
08) White Minority
09) Six Pack
10) Bastard In Love
11) Room 13
12) Slip It In
13) I Can See You
14) Damaged II
15) Retired At 21
16) Revenge
17) Clocked In
18) Jealous Again
19) Can’t Decide
20) Nervous Breakdown
21) TV Party
22) Rise Above
23) Louie Louie [Richard Berry Cover]

 

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