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Bruce Dickinson – Vibra São Paulo – 04/05/24
Postado em 26 de maio de 2024 @ 16:52


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

O casamento e a química de Bruce Dickinson com São Paulo não são meros acidentes…

Eram vinte e cinco anos sem podermos conferir ao vivo os clássicos solo do vocalista do Iron Maiden por aqui e sua obra é tão cultuadapelos admiradores do grupo que os radicais enxergam um desvio de rota: FearOf The Dark(92), AccidentOfBirth (97), ChemicalWedding (98) e BraveNew World (00), preferindo ignorar TheXFactor (95) e VirtualXI (98), ambos gravados comBlazeBayley. Feitos os cálculos, na prática, desde que retornou à Donzela de Ferro, Bruce jamais viera ao Brasil para cantar material próprio, daí os ingressos terem se esgotado e o elevado nível de expectativa dos fãs, muitos dos quais, acompanhados dos pais, nunca o tinham visto fora de uma das grandes bandas de heavy metal em todos os tempos, se não for a maior.

Pois bem, antes de seus hits se combinarem às canções de TheMandrakeProject (24), oNoturnall se encarregou da abertura a partir de 20:47, dois minutos “atrasado”em relação ao prometido, e mandou sete pedradas em quarenta e trêsminutos capitaneado por Thiago Bianchi (vocal),em substituição ao Clash Bulldog’s, que originalmente faria as sete datas do artista inglês pelo país,forçado a desistir dos showsno Rio de Janeiro, Ribeirão Preto e São Paulo devido a questões de saúde não detalhadas envolvendo um de seus membros.Completando o quarteto, o baixista Saulo Xakol,o baterista Henrique Pucci e,na guitarra, Victor Franco, que havia detonado na vaga de Roberto Barros na passagem de Edu Falaschi [https://onstage.mus.br/website/edu-falaschi-tokio-marine-hall-27-01-24]pelo Tokio Marine Hall em janeiro/24, à época internado para cuidarde uma infecção na perna e já recuperado, como mostrara na sexta-feira do Summer Breeze.

Try Harder, No Turn At All e Fight The System, única de Back To Fuck You Up!(15) no repertório, começaram a festa, até as primeiras palavras de Thiago: “Valeu, São Paulo! Muito obrigado! Que noite incrível, que sonho estar aqui! É um sonho, cara, para um vocalista… Para qualquer um, mas para um vocalista… O que está acontecendo? A gente caiu de pára-quedas e é isso. O ‘cara’ simplesmente veio falar comigo no primeiro show e disse: ‘Você consegue esquentar a galera? Deixá-los bem quentes?’. Aí pergunto  a vocês: topam me ajudar nessa empreitada? Estão prontos para enlouquecer hoje? Vamaê! Legal! Esta próxima música, lançaremos dia nove, tem muito a ver com esta noite e se chama CosmicRedemption. Vamos juntos, ok?”.

Wake Up!foi a amostra singular de9 (17) e o frontman checou: “Vocês curtem speed metal? Assim insano, velocidade doida a mil por hora? Curtem? Então esta é para vocês: ResetTheGame”, de imediato com um solo alucinante no qual Victor debulhou! Comunicativo, o vocalista era pura alegria: “Muito obrigado, São Paulo, pela presença e carinho, por apoiarem uma banda local. Vocês sabem a dificuldade de fazer qualquer coisa no Brasil, especialmente ser metaleiro, cara! É uma loucura, difícil pra cacete! Muito obrigado, vocês são o motivo de a gente estar aqui. Esta é nossa última música da noite, gostaria que vocês chegassem junto com a gente para estremecermos, abalarmos as estruturas, para que eles ouçam e chamem bandas brasileiras de novo para abrir. Tem que ter um espaço nosso, que vocês fazem. Se vocês mostrarem que vale a pena, eles chamam. É assim que funciona o business, tá bom? Muito obrigado a todos vocês, a gente ama São Paulo e o Brasil! Muito obrigado, São Paulo!”.

Despediram-se comNocturnalHumanSide cumprindo o papel de aquecer a massa esaíramsuper aplaudidos ao som de Training Montage, escrita por Vince DeColae na trilha sonora de Rocky IV (85), como outro. Na realidade, a tática adotada foi selecionar petardos diretos, equilibrando e passeando por toda a discografia. A prova cabal da pegada nas escolhas foi o fato de quatro faixas seremas de númeroum ou dois dos plays, normalmente abertos com o pé na porta por qualquer artista. Precisam tocar na cidade novamente, pois representaram o metal nacional com galhardia!

Com onze minutos de atraso conforme o divulgado, eram 22:11 quando a voz de William Woodson na narração inicial da série The Invaders (67/68) ecoou peloVibra São Paulo: “Alienbeingsfrom a dyingplanet. Their destination: The Earth. Their purpose: To make it their world. David Vincent has seen them. For him, it began one lost night on a lonely country road, looking for a shortcut that he never found. It began with a closed deserted diner, and a man too long without sleep to continue his journey. It began with the landing of a craft from another galaxy. Now, David Vincent knows that the Invaders are here, that they have taken human form. Somehow, he must convince a disbelieving world, that the nightmare has already begun…”.

Não houve pesadelo algum após Toltec7Arrival de intro e autêntica explosão de emoções em AccidentOfBirth, berradaa plenos pulmões! Quer evidências? Mal se ouvia Bruce Dickinsonpor causa da alta cantoria coletiva! Colada e mantendo o espírito de voadora no lustre, a não menos potente Abduction foiinteirada pela primeira interação do dono da noite: “Oi, São Paulo! Como diabos vocês estão esta noite?Beleza? Tudo bem? Vamos voltar ao pátio da escola agora, o treino que vocês tiveram para serem selvagens: Laughing In The Hiding Bush”.

Nova contextualização surgiria: “Esta música é sobre o fim do mundo. Na verdade, não! É uma música sobre o que acontece depois do fim do mundo”, TheAfterglowOfRagnarok, inesperadamente dando uma baixada na animação da galera sem ficar clara a razão… Correria diária dificultando a memorização das letras de The Mandrake Project? Pouco distanciamento temporal na formação da memória afetiva com o material inédito? A comparação sequer precisou ir tão longe, bastando ver a comoção da platéiana perfeitaChemicalWedding.

Auxiliada por Mistheria (teclados) e Dave Moreno (bateria), quem verdadeiramente roubou a cena foi TanyaO’Callaghan com performance magnetizante. Papo sério, eraimpensável tirar os olhos da competente baixista irlandesa também do Whitesnake – curiosamente, três integrantes da banda de David Coverdale estiveram em São Paulo em menos de um mês: ela; o tecladista Dino Jelusick no Summer Breeze com o conjunto que leva seu sobrenome; e o guitarrista Joel Hoekstra junto ao Accept no Carioca Club por duas vezes e com um “chorinho” em Santo André. Soltando um spoiler, Tanya foi a mais celebrada na apresentação da The House Band OfHellpré-saideira.

Roy Z fez falta? As atuações dos guitarristas Philip Naslund e Chris Declercq foram tão boas que este escriba ousa afirmar que sua ausência não foi tão sentida. A seu favor, o fato de ter sido o produtor do álbum em promoção e co-autor de além da metade de suas faixas, fora a antiga parceira com Mr. Dickinson. E se a temporada de spoilers foi inaugurada, quem sabe ele não vem para cá num futuro próximo? Mais sobre o assunto logo abaixo, pois Bruce tinha o querelatar:

“Bem! Que público maravilhoso esta noite, meus amigos. Esgotamos os ingressos aqui em São Paulo. E não sei quantas pessoas cabem aqui, talvez seis mil seiscentas e sessenta e seis ou algo assim, não sei. Esta poderia ser a capacidade porque, meus amigos, apenas lembrem-se: há muitas, muitas, muitas, muitas… eu disse ‘muitas’? Eu quis dizer um monte, mais de duas, portas para o inferno”, remetendo a ManyDoorsToHell – não a confunda com RoadToHell, a substituta de Laughing In The Hiding Bush em Ribeirão Preto dois dias antes.Outras explicações?

“Esta é outra música inspirada em William Blake e o personagem em seu poema se chama Urizen”, sem precisar explicar se tratar de GatesOfUrizen e, a título de informação, em Ribeirão Preto e Porto Alegre, rolou Jerusalem em seu lugar, tocada em São Paulo em abril/23 na mesma casa e como parte do espetáculo The Music Of Jon Lord And DeepPurple. Voltando ao full-length da tour, Bruce indagou: “Então, quem é Dr. Necropolis? E quem é Professor Lazarus? E o que é Mandrake Project? E quem são ResurrectionMen?”. No meio dela, ele entrou numa viagem: “Há vida aí em cima nos camarotes? Há vida aqui embaixo? Há vida em Marte? Ninguém sabe, só David Bowie. Uma curiosidade: vamos trazer David Bowie à casa, pegar uma pequena bola de cristal e vamos olhar, perguntar a ele: ‘Sr. Bowie, há vida em Marte? Há vida aqui em São Paulo?’”.

Só tomando notas você se reparano quanto ele se expressaantes das composições: “Passei um pouco do meu tempo andando em cemitérios, conversando com poetas mortos e quem iria saber? Antes mesmo de eu virar um poeta,pensei: ‘Talvez este possa ser o diabo num disfarce’”, introduzindo RainOn TheGraves, emendada a um curto solo de Dave Moreno e ao cover de Frankenstein, jam divertidíssima – para se ter uma idéia, o sexteto quase dobrou a duração da instrumental encontrada no trabalho de estréia de The Edgar WinterGroup, TheyOnly Come Out At Night (72).E nem valeria a pena tentar descrever o sensacional resgate se registros estão disponíveis no YouTube, mas podemos citarque o vocalista foi para a percussão centralizada ao fundo, entre os teclados à direita e a bateria à esquerda,ao fitarmos o palco da pista, e depois para o teremim, instrumento eletrônico cuja característica marcante é não existir contato físico com seu operador!

Surpreendia a habilidade do frontman em estabelecer conexões entre o que acabara de tocar e a seguinte, como em: “Senti uma química musical! No passado, de fato, químicos seriam presos como agentes do diabo porque eles não eram realmente químicos, é claro. Eles eram alquimistas”. Captou? The Alchemist. Encerrada, Philip assumiu o violão e exibiu introdução sombria para provavelmente a música mais aguardada: TearsOf The Dragon. Concluindo set regular, o ponto alto veio em DarksideOf Aquarius, cantada em uníssono tal qual a anterior, mas ainda assim de modo distinto: na boa, ela parecia ter vida própria e se conduzir sozinha,tamanha a devoção geral.

Regressando para o encore, agradecimentos, revelações e ponderações: “Bem, poderíamos ter ficado longe mais tempo, mas, meus irmãos, cacete, aí estão vocês! Estou tão triste, esta é a última noite no Brasil, por ora, mas voltaremos, ou obviamente, eu voltarei a São Paulo com o Maiden em dezembro. E estamos fazendo planos para que nós…Pois o Maiden não estará aqui em 2025, mas eu estarei em breve! Só um segundo: fizemos um show, no começo desta turnê, em Porto Alegre e é triste demais ver o que está acontecendo por lá no momento. Então, por favor, apenas um pequeno instante só para refletirmos sobre o que as pessoas estão passando no momento, certo? Sim, mandem boas vibrações porque é o melhor que podemos fazer daqui com esta próxima música, que é uma linda canção de amor sobre o cosmos e Romeo e Julieta: Navigate The SeasOf The Sun”.

A penúltima teveanúncio soturno: “Nada, meus amigos, além de um sonho, mas isto é um pesadelo. Ao abrirmos para vocês The Book OfThel” – outra que pareceu “se mexer” por conta própria e com direito a fala similar em seu final: “E então fechamos para você, e você, e você, e você, e você, e você…Para todos vocês, fechamos The Book OfThel”. The Tower, a última, teve a mencionada apresentação de sua The House Band OfHell somadaao reforço da revelação de outrora: “Então, São Paulo, talvez vamos tocar aqui no ano que vem de novo. Vocês todos vão trazer seus amigos para duas noites neste lugar, beleza? Estão prontos para esta? Não, parem com isso… Estão prontos para esta? Não… Estão prontos, cacete? Um, dois, três, quatro”.

Fomos embora com Fanlight Fanny, de George Formby, de outro em uma hora e cinqüenta e um minutos de lavarem a alma, refletindo se havia faltado algo e, para o gosto deste repórter: Starchildren (tocada em Porto Alegre e Brasília como a terceira do setlist), Taking The Queen, King In Crimson e/ou qualquer uma dos preteridos TattooedMillionaire (90) e Skunkworks (96) – que tal SonOf A Gun ou Born In ’58 e do primeiro e Back From The Edge ou Inertia do segundo para a volta sugerida em 2025? Ah, sabe o que poderia ter rolado um pouco mais? Foram poucas as solicitações de “Screamfor me, São Paulo [ou] Brazil!”, certamente poupadas para dezembro!Afinal de contas, Bruce, Maiden e Brasil têm absolutamente tudo a ver!

 

Setlists

Noturnall

01) Try Harder

02) No Turn At All

03) Fight The System

04) Cosmic Redemption

05) Wake Up!

06) Reset The Game

07) Nocturnal Human Side

Outro: Training Montage [Vince DeCola]

 

Bruce Dickinson

Intro 1: Narração De William Woodson EmThe Invaders (67/68)

Intro 2: Toltec 7 Arrival

01) Accident Of Birth

02) Abduction

03) Laughing In The Hiding Bush

04) Afterglow OfRagnarok

05) Chemical Wedding

06) Many Doors To Hell

07) Gates OfUrizen

08) Resurrection Men

09) Rain On The Graves

10) Solo De Dave Moreno

11) Frankenstein [The Edgar Winter Group]

12) The Alchemist

13) Tears Of The Dragon

14)DarksideOf Aquarius

Encore

15) Navigate The Seas Of The Sun

16) Book OfThel

17) The Tower

Outro: Fanlight Fanny [George Formby]

 
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