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Celebrando 50 Anos Do Jethro Tull Com Martin Barre ::: 05/03/2020 ::: Espaço Das Américas
Postado em 21 de abril de 2020 @ 20:04


Texto: Vagner Mastropaulo

Martin Barre ainda bate um bolão!

A regra da substituição de jogadores no futebol já foi musicada por ninguém mais, ninguém menos queo duo Vinícius de Moraes e Toquinho em Regra Três, de O Poeta E O Violão (1975). Lançando mão dela, eram 17:39 quando este escriba foi informado que deveria se concentrar e rumar ao Espaço das Américas para resenharMartin Barre tocando Jethro Tull, pois o titular, por razões emergenciais,estava sem condições de jogoe a única exigência da cartilha era se credenciar entre 20:30 e 21:00. Missão dada, missão cumprida!Após as instruções a respeito de como seria a cobertura, o primeiroponto a chamar atenção foi a playlistmontada para matar o tempo. Não que ela fosse ruim, muito pelo contrário, mas a maioria das escolhas se encaixaria melhor num Lollapalooza da vida e claramente não tinhamnada a ver com o perfil do público, haja vista que a média de idade facilmente beiravaos cinqüenta anos. Tivemos o cuidado de deixá-la no final damatéria, mas, em números frios, das nove músicas ouvidas a partir de 20:58, sete sãode artistas que iniciaram a carreira neste século eas únicas exceções são os falecidos: Terry Callier, contemporâneo do Jethro, embora em estilo musical bem diferente; e Chris Cornell, mas com trabalho de 2015, cortadoàs 21:33 para o apagar das luzes e os avisos de segurança.

Na luta desde 1967, o Jethro Tull lançou vinte e um álbuns oficiais (fora incontáveis‘ao vivo’ e coletâneas), então imagine a dificuldade embolaroset.Aliás, desde já,um adianto: o texto não entrará na seara de quem temo direito de tocar as canções dos ingleses (ou não), ou se alguém já deveria ter pendurado as chuteiras (ou não).Quem ganha é o fã, seja de Martin Barre ou Ian Anderson, a personificação do conjunto(há como discordar?), e o que importa é poder assistir adois bons espetáculos. Posto isto, o pontapé inicial foi dado em A Song For Jeffrey, de ThisWas (1968), estréiafulllength ironicamente escrita sem participação do guitarrista, já com sensível diferença em relação ao estúdio, uma vez que,sem a flauta ao vivo, a soluçãoencontrada foi criarum arranjo pautado nos riffs.Enquanto isso, no aspecto visual, imagens antigas dos músicos, casas de espetáculos e crachás ‘All Access’ eram projetadas nos telões laterais e, do mesmo play e símbolo de onde tudo começara, por se tratar da faixa um do lado A, tocaram MySunday Feeling.

Então o dono da festa fez seu primeiro pronunciamento: “Muito obrigado. É algo muito especial para nós estarmos na América do Sul, estarmosde volta ao Brasil e a São Paulo. Temos um lugar especial no coração para vocês. Fazia muito tempo, estivemos longe por muitos e muitos anos e vou consertar isso começando hoje à noite. Vocês nos verão bastante, juro a vocês. Então muito obrigado por sua lealdade porque ela vem dos olhos, vocês vêem o que vêem, ela vem dos ouvidos, mas também do coração e é isso que nos faz tão especiais. Temos um grande lugar em nossos corações para vocês e espero que, até o final da noite, vocês sintam o mesmo por nós. Estamos muito, muito felizes por estarmos aqui, temos muitas músicas para tocar para vocês esta noite e vamos meio que voltar no tempo, para o começo do catálogo do Jethro Tull, com algumas canções dos primeiros álbuns, começando por um chamado Stand Up. Vocês se lembram dele? Bem, eu me lembro”, e dele fizeram três: Back To The Family, comum belo mini-solode bateria; For A Thousand Mothers, bem contemporânea, muito em função da ótima interpretação vocal, e com o ‘final falso’ do álbum reproduzido a contento, mas sem o fade out; e NothingIsEasy, outra com alguns indícios de que terminaria, só encerrada com prorrogação e quase pênaltis.

Como num tempo técnico, visando se hidratar e recuperar o fôlego, o mestre de cerimônias pediu a palavra: “Obrigado! Ok, agora estou um pouco cansado, mas só um pouquinho. Deixem-me apresentar os caras aqui no palco esta noite: no baixo, Alan Thomson; na bateria, Darby Todd; nos teclados, Dee Palmer; também nos teclados, Adam Wakeman; e, nos vocais e guitarra, Dan Crisp”, efusivamente aplaudidos pela massa que tomava as dependências, mas sem ocupação total, visto que as cadeiras laterais, mesmo nos setores mais perto do palco, permaneciam vazias. O guitarrista retomou: “Vamos seguir por um álbum que gravamos na Inglaterra. Nós fomos para os Estados Unidos e tivemos bastante sucesso por lá, aí voltamos à Grã-Bretanha e gravamos um álbum chamado Benefit. Lembram-se dele?”, a primeira a contar com dois tecladistas no palco – apenas Adam Wakeman tocara até então – e um registro raro deve ser feito: se você freqüenta shows, já deve ter visto aquele simpático casal de velhinhos que, ajudados pelo filho, vendem camisetas pelos arredores. Enfim, saiba que elesamam Jethro, pois foi bem em ToCryYou A Song, com imagens bem psicodélicas nos telões, que a duplachegou e se sentou ao lado deste escriba.

Tocando a bola para o clássico lançamento de 1971, vieram:Hymn, mais pesada ao vivo e com imagens de crucifixos e cruzes no interior de igrejas, aludindo à letra; e o maior hino do grupo, com o perdão do trocadilho, sua famosa faixa-título, assim anunciada por Martin Barre: “Muito obrigado! Sim, pulamos para o próximo álbum, Aqualung. Acho que seria melhor tocarmos outra faixa deste álbum. O que acham? Talvez, talvez essa…”. E nem é preciso dizer a comoção gerada pela honesta versão executada, com imagens de mergulhadores e peixes brotando nos telões (por que será?). Simplesmente ovacionada!A partida estava ganha, mas a festa não parou, agora com Dee Palmer mostrandoseriedade emWar Child, do álbum homônimo de 1974, em um soturnomini-solo de teclado, com as sirenes, rajadas e sons de helicópteros do álbumao fundo, e bombardeios no telão, seguidos por tropas e cavalaria, em referência à letra da música em que Dan Crisp concentrou-se exclusivamente em cantar, talvez devidoà importância do tema.

Até para quebrar o clima, o guitarrista resolveu conversar e dar créditos: “Obrigado, Dee Palmer nos teclados. Obrigado! Fiz muitas entrevistas para a América do Sul e ouso dizer que a imprensa aqui pareceu um pouco obcecada pelas palavras ‘progressivo’ e ‘música prog’. Eu nego tudo, não tinha nada a ver com isso de forma alguma, mas se há uma música do Jethro Tull em que há uma chance de eu achar quepoderia ser ‘prog’, é a próxima. E a minha definição de ‘música prog’ é uma música que é incrivelmente difícil de tocar, mas ainda mais difícil de se ouvir. Então, aí vaium prog feliz”. Coincidentemente (ou não), o que se via nos telões eram reportagens de jornais e revistas sobre a banda enquanto tocavam Sealion, de fato mais experimental emais difícil de assimilar, para os padrões da noite. Encerrando-a, ele ressaltou, tirando sarro: “Avisei vocês!”.Voltando a Aqualung, e conseqüentemente quebrando a cronologia dos álbuns, trouxeram algo já coverizado até pelo Iron Maiden, como lado b do single The Trooper (1983):Cross-Eyed Mary, com uma vesguinha nos telões (por que será? – parte 2) e Dan Crisp apenas cantando outra vez.

Lembrando Ozzy Osbourne, Martin Barre comunicou-se outra vez: “Eu não consigo ver vocês. Ainda estão aí? Ótimo! Não consigo ouvir vocês”, forçando o acender de luzes na platéia, que respondeu com gritos e palmas. Ele prosseguiu, dando uma leve pisada na bola (ou seria um gol contra?): “Eu estava tão preocupado. Pensei, por um segundo, que todos vocês tinham partido. Meu Deus do céu, obrigado! Enfim, acho que é a hora de abordarmos os anos em que fizemos música complicada, ainda que melodicamente, em dois grandes álbuns feitos na Inglaterra nos anos oitenta. Vamos tocar as faixas-título destes dois álbuns que fizemos. Vocês devem reconhecer essa”, Heavy Horses, de 1978 e com carruagens e cavalos soltos no campo nos telões (por que será? – parte 3). Incompleta, ela foi com o instrumental até pouco além do verso “withthe living horseman’scry”, literalmente emendada a SongsFrom The Wood, de 1977,mutilada e reduzidaàs duas primeiras estrofes e refrão e com matas e florestas nos telões, contextualizando quem porventura não a conhecesse ou não tivesse total compreensão do inglês.

Do mesmo registro em estúdio, rolou Hunting Girl, com pontos de destaque para as linhas de baixo, e antes que se criassem expectativas, o anfitrião baixou a bola da galera: “Ok, obrigado. Estamos um pouco fora de ordem, historicamente, mas,sabem, que se dane. Está tudo bem.Este será um excerto muito pequeno de uma música bem grande. E nos demos conta de que a tocamos ocasionalmente, uma vez a cada trinta shows, quando é uma noite especial! E acho que hoje pode ser especial. Sim, é!”, e fizeram mais ou menos metadede Thick As A Brick, Part I, a partir de “The poetandthepaintercastingshadowsonthewater”, com um belo instrumental fazendo o meio-campo, e os melhores momentos ‘do primeiro tempo’ da faixaa jogaram em “I seeyoushuffle in thecourtroom”, indo até “For a paperbackeditionofthe boy scout manual” e novo instrumental, a concluir tudo, sob aplausos, e a estratégia não poderia ser diferente, pois os lados A e B do clássicolong play de 1972 inteiravam quase quarenta e quatro minutos.

Sem cera, manteve-setática das faixas-título, agora com Minstrel In The Gallery (1975), com especial destaque ao baixo de Alan Thomson, reduzida a pouco além da metade em versão que, por mais estranho que soe, lembrou gravações de coverdo Living Colour. Faixa a substituir AliveAndWellAnd Living In na prensagem americana de Benefit,Teacher compôs o elenco e o ‘técnico’ enalteceu o elenco, afinal de contas, em time que está ganhando não se mexe, ainda mais sob aplausos: “Muito obrigado! Observem bem os caras aqui em cima porque todos vocês os verão de novo, e de novo, e de novo, espero que no ano seguinte ou no próximo”,em reconhecimento e reapresentando quem tocava cada instrumento, até um fã gritar o nome do músico, para que ele também se identificasse, forçando-o a brincar e terminar: “Tanto faz! Vamos deixá-los com duas músicas, uma do começo e uma do fim, a primeira é deStand Up e a segunda, de CrestOf A Knave. Quais serão elas?”, respectivamente esgotando o tempo regulamentar no blues de A New Day Yesterday (relativamente pesada e de cara com um tremendo solo de guitarra) e em Jump Start, assim concluída: “Muito obrigado por uma noite maravilhosa, em nome de todos nós. Obrigado”.

Já nos descontos, com o povo das primeiras fileiras se levantando e gerando um efeito cascata, o encore foi praticamente imediato, com breve citação do ‘professor’: “Adam Wakeman nos teclados. Obrigado!”, para que o filho do lendário Rick Wakemanpuxasse LocomotiveBreath,encerrada quase às 23:25, cravando uma hora e cinqüenta minutos no palco. Enquanto o sexteto se despedia ao som de Come FlyWith Me (Frank Sinatra), este escriba, sem pressa alguma de ir embora, finalizava umas batatas-fritas, ainda em tempo de ouvir no som ambiente: Perhaps, Perhaps, Perhaps (Doris Day), New York, New York (Frank Sinatra), com um casal dançando alegremente nas cadeiras, BesideYou (Dean Martin) e Magic Moments (Perry Como). Deixando as dependências, surgiam as reflexões e não podem passar batido: a excelente iluminação, durante toda a apresentação; e a educação dos fãs, confortavelmente acomodados e tranqüilamentecurtindo o set, sem excessos. É claro que a ausência mais sentidafoi o som da flauta (como ser diferente?) e, em se tratando de Jethro Tull,correr o risco de fazer as músicas sem ela tinha tudo para ser uma verdadeira bola nas costas. Porém, invertendo o jogo, os outros instrumentos cobriram os flancos, o saldo foi positivo e Martin Barre e sua trupe, muito além de ex-músicos em atividade, com os preparos físico e musical em alta, saíram vencedores. Agoraresta ao guitarrista cumprir a promessa e voltar ao país do futebol. E ainda tem o show de Ian Anderson no Tom Brasil!

 

Setlist

01) A Song For Jeffrey – 3’10” [3’22” em ThisWas (1968)]

02) MySunday Feeling – 3’32” [3’43” em ThisWas (1968)]

03) Back To The Family – 3’59” [3’48” em Stand Up (1969)]

04) For A Thousand Mothers – 3’43” [4’13” em Stand Up (1969)]

05) NothingIsEasy – 5’06” [4’25” em Stand Up (1969)]

06) ToCryYou A Song – 4’58” [6’09” em Benefit (1970)]

07) Hymn 43 – 3’29” [3’14” em Aqualung (1971)]

08) Aqualung – 6’55” [6’34” em Aqualung (1971)]

09) War Child – 4’46” [4’35” em War Child (1974)]

10) Sealion – 3’58” [3’37” em War Child (1974)]

11) Cross-Eyed Mary – 4’19” [4’06” em Aqualung (1971)]

12) Heavy Horses – 6’01” [8’58” em Heavy Horses (1978)]

13) SongsFrom The Wood – 3’13” [4’52” em SongsFrom The Wood (1977)]

14) Hunting Girl – 5’19” [5’11” em SongsFrom The Wood (1977)]

15) Thick As A Brick, Part I – 9’43” [22’40” em Thick As A Brick (1972)]

16) Minstrel In TheGallery – 4’31” [8’13” em Minstrel In TheGallery (1975)]

17) Teacher – 5’08” [3’57” em Benefit (1970)]

18) A New Day Yesterday – 4’54” [4’10” em Stand Up (1969)]

19) Jump Start – 5’05” [4’55” em CrestOf A Knave (1987)]

Encore

20) LocomotiveBreath – 5’23” [4’23” em Aqualung (1971)]

Outro: Come FlyWith Me [Frank Sinatra]

 

Playlist Da Espera

01) T = 0 (TallShips), deEverythingTouching (2012)

02) The Woodpile (FrightenedRabbit), de Pedestrian Verse (2013)

03) The John Wayne (Little Green Cars), de Absolute Zero (2013)

04) Feeling Ok (Best Coast), deCaliforniaNights (2015)

05) TrainsToBrazil (Guillemots), deThrough The Windowpane (2006)

06) Diamonds (The Boxer Rebellion), dePromises (2013)

07) You’reGoin’ Miss YourCandyman (Terry Callier), deWhat Color Is Love (1973)

08) KeepYour Head Up (Ben Howard), de EveryKingdom (2011)

09) NearlyForgotMyBroken Heart (Chris Cornell), de HigherTruth (2015)

 
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