Texto e Fotos : Vagner Mastropaulo
O que resta para o Circus Maximus virar um autêntico expoente do prog metal mundial?
“Você não conhece o Circus Maximus? Se você realmente curte prog metal, tem que ir ao Hangar 110 amanhã!”. Foram deste modo que este escriba foi convencido por um amigo a ver o fortíssimo candidato norueguês ao topo do estilo. Porém, não desta vez, e sim em setembro/16! Pois é, a estréia também havia sido no Hangar e, graças a Dio, o argumento de outrora foi poderoso e convincente.Estranhamente, desde então, os caras lançaram somente IsolatedChapters, single comPhasingMirrors e Endgame, não mostradas em São Paulo, e o ao vivo Nine Live, ambos de 2019…
Ao contrário do DeepPurple no Espaço Unimed na mesma data, o quinteto regressava a São Paulo em praticamente exatos e demorados oito anos de espera e totalmente desvinculados do Rock In Rio, como o TesseracT no Carioca Club nas duas noites seguintes.A título de comparação, doze pedradas se repetiram do show anterior para este, com duas a menos na soma em relação a 2016. Na prática e de diferente, lá atrástocaram:GloryOf The Empire, HighestBitter e Alive; e agora Wither.
Sem banda de abertura e com um minuto de “atraso” de acordo com o horário divulgado de 21:00, por falta de uma intro, foram duas: MainTitleDeconstruction, de Planet Of The Apes (01) e assinada por Danny Elfman – sim, ofiguraça que comandava o OingoBoingo; e Forging, que pavimentou o caminho para Architect Of Fortune começar a inundar a platéia com um prog metal requintado! Durante sua execução, ocorreu algo peculiar: o baterista TrulsHaugenjá sinalizou para que a galera acendesse as lanternas dos celulares –cedo assim, este redator jamais havia visto!
Como decoração, só o backdrop com nome e logo do grupo e,em sua interação inaugural, o vocalista Michael Eriksen foi sucinto: “Olá, Brasil! Oi! Vocês querem mais? Sim? Vamos nessa!”, com Sin, primeira faixa do début The 1stChapter (05) e única dele no repertório, a agitar a massa. Aliás, repare na arte de sua capa, pois o álbum saiu antes de A DramaticTurnOfEvents (11), do Dream Theater… Nunca houve polêmica e o colega Marcelo Araújo discorreu a respeitodo tema em postagem de janeiro/15 no Whiplash.net [https://whiplash.net/materias/curiosidades/217659-dreamtheater.html]. Havoc manteve o público animado e o vocalistachecou e anunciou:
“Estão bem? Porque adoramos quando vocês vão à loucura e esta será uma ótima noite. Vocês e nós estamos juntos esta noite. Ok, agora vamos levá-los ao segundo álbum”, pousando em A DarkenedMind, de Isolate (07), sucedidapor Abyss, como no play. Uma pena as linhas do tecladista Lasse Finbråten ao vivo terem ficado tão sobrepostas pelas pancadas vindas da bateria em seu início, mas ele teve seu mérito reconhecido com o frontman apresentando-oe destacando-o no meioda faixa. Michael, a propósito, ainda pegou o celular de um fã e saiu gravando no decorrer da canção e o povo entrou na onda e colaborou na cantoria de “I stand ontheedgeoftheabyssand I amwaitingtofall”. Concluída, houve a primeira pausa mais alongada para hidratação com trinta e cinco minutos no relógio.
The One foi a mais curta do set e Michael brincou com sua equipe em seu idioma: “Falamos numa língua secreta! Sim, não sabemos o que ele disse, mas foi bom! Dissemos ao nosso engenheiro de som que esta é a melhor platéia em todos os tempos! Sim, ele disse isso em norueguês. Vocês estão chegando lá e estão ótimos esta noite. Sabem, estivemos em Santiago ontem à noite. Sim, eu sei, vocês tinham que estar lá, mas eles cantaram esta próxima música feito loucos e queremos vê-los fazer o mesmo. Estão prontos para ela? Estão prontos para superar Santiago? Vamos nessa!”.
Isto para introduzir a dançante Namaste, desde que você encontrasse seu andamento, e que teve de tudo: quemocupava pista ecamarotes berrava a letra; o baterista provisoriamente assumindo o vocal; um tremendo solo do guitarrista MatsHaugen, irmão de Truls; e Michael filmando novamente e tirando sarro ao chamar São Paulo de Santiago para depois deixar claro saber onde estava. Na seqüência, mandaram Wither, não a do Dream Theater e sim a autoral presente no citadoIsolate, pois cover, de fato, deveria ter sido Screaming In Digital, do Queensrÿche, incluído no setlist de palco neste ponto e preterido, possivelmente pelo urgir do tempo.
O mestre de cerimônias pediu a palavra: “Estão bem? Nós também aqui no palco! Está muito quente aqui dentro e gostamos assim. Gostamos do calor porque somos da Noruega e é muito frio lá, então é bom sentirmos calor. Vamos ver, vamos tocar mais músicas para vocês. Primeiro de tudo, vocês querem mais algumas músicas? ‘Tudo bem’? Falo português fluentemente, sim! Sim, estamos apenas nos aquecendo. Conhecem essa música? Vamos ver se já a ouviram! Todos! Muito bem! Um, dois, três, quatro!” – para a contagiante, I Am, super bem recebida, e ele se comunicou de novo:
“Vocês são sensacionais! Obrigado por terem vindo se divertir aqui conosco nesta sexta à noite em São Paulo. Foram sete?Oito anos? Muito tempo, hein? Setenta e oito? Estamos ficando velhos. Ok, vamos nessa! Quero ver vocês enlouquecerem nesta como fizeram em Santiago. Não preciso dizer isso, mas acho que vocês farão melhor. Vocês nessa, galera, sentir um pouco de amor. Estão prontos para um pouco de amor? Eu disse: ‘Estão prontos para um pouco de amor?’. Porque estamos em São Paulo esta noite!”.
Beirando uma hora, a alusão era a ArrivalOf Love, com um pezinho no AOR e, por falar no gênero, com o perdão do trocadilho, você já escutou The Magnificent (11), magnífico projeto paralelo do líder do conjunto? Dê uma conferida!Rumando ao final do set regular, se saíram com mais duas: Chivalry, com direito a mais dois celulares pegos por Michael e outro fantástico solo de Mats a criar atmosfera perfeita para o encerramento catártico com coro coletivo; e Game Of Life, outra bela composição com “Ô, ô, ô, ô” para fazer a alegria geral.
Para o encore, uma rápida zoeiradando a entender que fariam The Final Countdown, do Europe, e uma verificação: “Então vocês querem mais uma música? Esta noite foi sensacional, estamos muito felizes por finalmente estarmos aqui mais uma vez. Obrigado, São Paulo! Ok, vamos fazer mais uma música, galera! Mais uma música! Muito obrigado, São Paulo!” – Ultimate Sacrifice, terminando a festa com, em suma: cinco do mencionado Isolate e Nine (12); duas de Havoc (16);e, conforme dito, uma de The 1stChapter.
Até rolou uma outro, desconhecida por este repórter,tampouco detectada pelo Shazam e certamente não se tratando da versão de LastGoodbyedisponível em Nine Live, como apontado no site Setlist.fm em Bogotá. Enfim, após uma hora e meia bastante agradável, ecoava na discotecagem Your Love, clássico dos saudosos Tony Lewis e John Spinks, vocalista/baixista e guitarrista do grupo londrino The Outfield, enquanto íamos embora refletindo. Afinal de contas, com tamanho potencial, o que ainda é necessário para o CircusMaximus se consolidar como referência no metal progressivo?
Setlist – 1h30’ (21:01 – 22:31)
Michael Eriksen (vocal), Mats Haugen (guitarra), Glen Mollen (baixo), Lasse Finbråten (teclados) e Truls Haugen (bateria)
Intro 1: Main Title Deconstruction [Danny Elfman]
Intro 2: Forging
01) Architect Of Fortune
02) Sin
03) Havoc
04) A Darkened Mind
05) Abyss
06) The One
07) Namaste
08) Wither
09) I Am
10) Arrival Of Love
11)Chivalry
12) Game Of Life
Encore
13)Ultimate Sacrifice