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City And Colour – Vivo Rio (Rio de Janeiro) – 14/06/24
Postado em 18 de junho de 2024 @ 02:28


“Eu disse a John e Leon que estes seriam uns dos melhores shows que eles fariam nas vidas deles!”

Texto: Vagner Mastropaulo

Agradecimentos ao Whiplash.net pela liberação das fotos de Gabriel Ramos (@gabrieluizramos)

O City And Colour não passava pelo Rio de Janeiro desde 2016, quando tocou no Circo Voador em 29/04 e, capitaneado por Dallas Green, o projeto esteve confirmado para o Lollapalooza 2020no Autódromo de Interlagos, porém a edição acabou não vingando devido à pandemia e o cantor/guitarrista chegou a se apresentar com o Alexisonfirenum LollaParty na Audio em companhia do A Day ToRemember e integraro line-up de 2022, na retomada do festival. Em termos práticos, eram longos oito anos de espera que nos fizeram cruzar a Dutra no próprio dia do show exclusivamente para cobrirmos a volta ao país.

Para quem mora em São Paulo, base de nosso site, e nunca foi ao Vivo Rio, a casa lembra o Tokio Marine Hall e, rumando à pista às 21:10, com ela ainda relativamente vazia, a impressão era a de que ficaria por aí a presença de público. Talvez seja algo cultural entrar em cima da hora na Cidade Maravilhosa, mas, em todo caso, a galera foi chegando e se espalhando sem apertos.Ajudandoapassar o tempo, a seleção de BetoLeães, o DJBetoArtista,trouxe: Overdue [The Get Up Kids], Clairvoyant[The Story So Far], Jesus Christ [Brand New], Walk On The Wild Side [Lou Reed),Tangled ]Up In Blue [Bob Dylan],If It Means A Lot To You [A Day To Remember], December[Neck Deep], First Day Of My Life[Bright Eyes], Táxi Lunar [Geraldo Azevedo&ZéRamalho], My My, Hey Hey (Out Of The Blue) [Neil Young & Crazy Horse] eSoul Meets Body [Death Cab For Cutie].

Programado para as 22:00 sem abertura, um insignificante minuto de atraso em nada atrapalhou a divulgação do mais recente e sétimo trabalho de estúdio do grupo, The Love Still Held Me Near (23), do qual, aliás, foram extraídas cinco canções. A primeira? Após Something (Can’tShakeLoose), de O. V. Wright, como intro e um sucinto “Rio, vamos ficar emotivos!”,MeantTo Be, faixa inicial do disco, com apoio maciço do povo, principalmente no refrão. E o que se escuta no play é mostrado ao vivo, com uma diferença grandiosa: as linhas vocais soam ainda mais cristalinas!

Acostumado a ver Dallas elaborar longas respostas sinceras, como num episódio do Guitar Center Sessions [https://www.youtube.com/watch?v=UviiJiznhIk&t=1252s], em agradável bate-papo com NicHarcourt, foi um pouco estranho vê-lo agradecer sutilmente soltando um ou outro “(Muito) Obrigado”. Porém, suas falas mais extensas estão todas transcritas abaixo. E assim foi para a entrada da segunda, Living In Lightning, com um breve… “Muito obrigado!”.

Para Northern Blues, jocosamente grafada como Northern Boots no setlist de palco, em algum tipo de piada interna ou o corretor ortográfico pregando peça, o anfitrião assumiu a guitarra, em substancial ganho de peso e uma checagem pré-Thirst, reconhecida de imediato, também com ele no instrumento: “Quem vai dançar de sapatos?”.

Completando o quinteto, John Sponarski (guitarra), Matt Kelly (guitarra e teclados), Erik Nielsen (baixo) e Leon Power (bateria) e cabe um adendo, pois Dallas e Matt possuem uma dinâmica bastante específica: o primeiro sempre toca violão ou guitarra; em função disso, o segundo ou vai para os teclados ou fica nas seis cordas; e nada impede que ambos formem uma parede sonora de riffs juntando forças a John, se necessário, exatamente como na recém-encerradaNorthern Blues, por exemplo, pois em MeantTo Be e Living In Lightning, Dallas tocou violão – a título de curiosidade, deixaremos tais indicações no setlist abaixo.

The Love Still Held Me Near e TwoCoins foram bem-vindos momentos de calmaria antesda primeira interação mais extensa surgir: “Obrigado! Como estão todos? Só quero dizer que, primeiro de tudo, é tão maravilhoso voltar a este lindo país, então muito obrigado por nos receberem. Desculpem-me por ter demorado tanto para que voltar, mas aqui estamos, então… Se eu pudesse dizer rapidamente, esta próxima música…Para aqueles de vocês que me entendem, vocês estão encarregados de dizer a todos os outros”.

Atribuídaa tarefa, explicou: “Esta música é simplesmente sobre tentarmos ser mais simpáticos uns com os outros, ok? Por todos nós que estamos aqui, vamos cantar esta música juntos, beleza? Todos nós acordamos hoje e tivemos que tentar entender esta coisa chamada vida, que é dura, e precisamos dar uns aos outros mais compaixão e mais compreensão. Então cantem esta conosco, estendam um pouco da bondade em seus corações aos estranhos próximos a vocês e, se alguém não consegue suportar isso, acho que a porta está bem ali” – e fizeram WeFoundEachOther In The Dark, maravilhosamente tocante, ponto alto até então, mas haveria forte concorrência adiante.

Weightless trouxe um tremendo solo de John (talvez ele já tivesse se destacado sozinho antes, mas, viajando enquanto tomava notas, pode ter passado batido a este repórter) e Matt também teve espaço para, com calma,exibir seu talento nos teclados.Foi muitíssimo bem recebida e concluída em gritos de “Dallas, eu te amo!”, incompreensíveis da parte dele, mas jamais ignorados ao contextualizar Underground: “Não consegui entender, mas amei isso! Certo, esta música é sobre estar bem aqui, neste exato momento, nesta sala, ok? É isso, é tudo que temos, este momento. Cantem esta com a gente se a conhecerem”.

Não exatamente de fácil reconhecimento instantâneo, Astronaut ofereceu trecho de pura magia instrumental com um quê de jam, gradativamente se transformando num arregaço após a repetição do verso derradeiro “There’spoison, there’ssilver, that’s home”. A bela The Grand Optmist, a princípio em violão e voz, foi outra reconhecida de prontidão e apoiada pela massa.

Pelo menos para este escriba, que não foi a fundo em vídeos de internet visando preservar o impacto de vê-los pela primeira vez, Nutshell foi grata surpresa, mesmo sabendo da existência deversões disponíveis de RainWhen I Die online. E se o clássico do EP JarOfFlies (94) ainda teve a graça de ter sido assim anunciado: “Esta é uma das minhas músicas favoritas! Esta não é uma das minhas musicas”, ele foi curiosamente grafado como Nutschell no setlist de palco e marcou a primeira hora no relógio, chegando à metade de um senhor espetáculo. O cover soou um tantinho mais acelerado do que o original e, ainda que mantendo a essência melancólica, foi menos soturno, pois seria impossível competir com o saudoso LayneStaleyna linda homenagem ao Alice In Chains.

Agora, se você quer mais emoção, Little Hell levou fãs às lágrimas, superando o ápice prévio de WeFoundEachOther In The Dark. Simplesmente não há como expressar sua força e beleza… Quebrando o transe, o próprio frontman resgatou o público de outra dimensão: “Muito obrigado! Ainda conosco? Ok! Esta próxima música, acho que é uma má reputação, sabem? Digo, é uma daquelas músicas que realmente fizeram muitas pessoas pensarem que eufosse este triste filho da puta, o que não sou…”.

Ele retomou: “E acho que as pessoas que pensam isso, na verdade, não estão escutando estas músicas porque elas são sobre alegria e esperança, sobre acreditar que há algo do outro lado nos momentos difíceis em nossas vidas. E acho que todos vocês que estão aqui entendem isso e é por isso que estão aqui cantando comigo. Então, esta música é para todo mundo que entende o que acabei de dizer e acredita que pode superar. Se vocês conhecem esta, cantem-na conosco, ok?”, e não foi que a platéia, de fato, cantou Waiting…?

Embora um pouco mais discretamente Hard, Hard Time foi outra com maravilhoso final com pinta de banda em jam. Antes dela,o vocalista fez questão de apresentar seus colegas destacando se tratar dasestréias de John e Leon no Brasil e cravou: “Certo, esta é uma música nova e se ela não os fizer sacudirem os quadris, não sei o que fazer por vocês”. E tornando a citar os debutantes, garantiu: “Certo, só quero contar que eu disse a John e Leon que estes provavelmente seriam uns dos melhores shows que eles fariam nas vidas deles. Então, obrigado por provarem que eu estava certo”. Admitimos: a retirada do “provavelmente” da fala enaltece o título – ossos do ofício. Dallas foi além:

“Esta é uma música muito, muito antiga que escrevi ainda “criança”, viajando por aí, cantando de frente para ninguém, esperando que um dia alguém escutasse o que eu tinha a dizer. E ficar em pé aqui no palco, duas décadas depois de escrevê-la, e ouvir todos vocês a cantando é… Não consigo expressar em palavras o quão grato sou. Obrigado! Esta é para todos que vêm conosco desde o comecinho. Aprecio isso!”. E se saíram com a magnífica e tão aplaudida, mas tão aplaudida, e cantada a plenos pulmões,Hello, I’m In Delaware, que causou espanto ele silenciar, dar um tempinho e puxar Bow Down To Love, mais longa da noite, última do set regular e também a contarcom término em sensacional “momento banda detonando conjuntamente”. Outra estranheza? A quantidade de gente conversando ao invés de curtir a vibe única…

Regressando para o encore, se a audiência humildemente pedia por “One more song”, viriam quatro! A primeira, Northern Wind, foi executada só por Dallas no formato voz e violão, com renovados agradecimentos sinceros: “Muito obrigado, galera! Bem, realmente não tenho muitas maneiras mais de tentar explicar o quão lindo isto é, então apenas vou dizer ‘Obrigado!’ de novo e, se vocês conhecem esta próxima, cantem-na, beleza?”.

Dueto entre Matt na guitarra e Dallas ao violão, Comin’ Home teve seu final somado a um pedaço de ThisCould Be Anywhere In The World, do Alexisonfire, cantado em uníssono. Em Lover Come Back, a galera não apenas os acompanhou como berrou e demonstrou apoio incondicional nas palmas no retorno do time completo, até porque o dono da festa havia feito uma provocação em tom de brincadeira: “Obrigado! Certo, vamos tocar mais duas para vocês e agradecemos muito. Facilmente esta é a parte do set em que eu diria: ‘Amaríamos o máximo de participação da platéia nestas duas últimas!’, mas não acho que eu tenha que dizer isso a vocês… Mas adoraríamos o máximo de participação da platéia nestas últimas duas músicas, certo? Então, se você está sentado num canto, agora, por favor, cante junto. Esta é a hora, beleza? Obrigado por estarem aqui”.

Preparando terreno paraSleepingSickness, brotou o mini-discurso de despedida: “Muito obrigado a todos, esta vai ser a última música. Agradecemos! Nós nos vemos pela estrada. Se conhecem esta, por favor, cantem conosco com tudo que têm, beleza? Muito obrigado!”. Partiram merecidamente sobpalmas coletivas! Faltou algo? Teve quem clamasse por Sam Malone e, para o gosto deste que vos escreve,SorrowingMan e especialmente DayOldHateteriam caído feito luva. Na prática, foram cinco de LittleHell (11) e The Love Still Held Me Near (23); e duas de Sometimes (05), Bring Me Your Love (08), The Hurry And The Harm (13), If I Should Go Before You (15) eA Pill For Loneliness (19). Vinte, certo? Houve ainda a releitura do Alice In Chains e o snippet do Alexisonfire.

Indo embora na transição de The Northern, do Alexisonfire, paraFaces In Disguise, do Sunny Day Real Estate, na discotecagem, pensávamos: alguém poderia dizer a Mr. Dallas Green que o Canadá não é tão distante do Brasil, seja para uma noite só de City And Colour por aqui ou como atração num festival de grande porte, pois este certamente foi um dos melhores shows nas vidas de muitos dos ali presentes!

 

Setlist

Intro: Into Something (Can’t Shake Loose) [O. V. Wright]

01) Meant To Be

02) Living In Lightning

03) Northern Blues *

04) Thirst * / **

05) The Love Still Held Me Near * / **

06) Two Coins **

07) We Found Each Other In The Dark *

08) Weightless * / **

09) Underground * / **

10) Astronaut * / **

11) The Grand Optmist **

12) Nutshell [Alice In Chains] **

13) Little Hell

14) Waiting…

15) Hard, Hard Time

16) Hello, I’m In Delaware *

17) Bow Down To Love *

Encore

18) Northern Wind [só Dallas Green em voz e violão]

19) Comin’ Home / This Could Be Anywhere In The World [Alexisonfire] [só Dallas Green em voz e violão e Matt Kelly na guitarra]

20)Lover Come Back * / **

21)SleepingSickness

* Dallas Green na guitarra – as sem marcação são no violão

** Matt Kelly nos teclados – as sem marcação são na guitarra

 
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