De La Soul na Audio: uma viagem nostálgica que provou que o hip-hop ainda respira como nunca
Na última quarta, 2 de outubro, o De La Soul transformou o Audio Club, em São Paulo, num templo de nostalgia e celebração. A casa, lotada até o último canto, recebeu um público que parecia embarcar numa máquina do tempo direto pros anos 90 — mas sem perder o pé no presente.
Antes do trio subir ao palco, quem abriu os trabalhos foi o Zudizilla, acompanhado de Stefanie, dois nomes que representam bem a nova geração do rap nacional: beats firmes, letras afiadas e presença de palco.
O aquecimento seguiu nas mãos do lendário DJ Nuts, que fez uma verdadeira aula de história com um set que misturava Wu-Tang Clan, Cypress Hill, A Tribe Called Quest e Beastie Boys. A pista, claro, virou uma pista de dança de lembranças.
Quando Maseo assumiu os decks e as luzes baixaram, a sensação era de que algo especial estava prestes a acontecer. E aconteceu. Um a um, os integrantes tomaram o palco e abriram o set com “Say No Go”, seguido de “Potholes in My Lawn” e “The Grind Date”. Bastaram os primeiros compassos pra plateia entender que não seria um show qualquer: era um reencontro com uma parte da história do hip-hop que parecia distante, mas que estava ali, viva, pulsando.
Entre uma música e outra, Posdnuos fazia pausas pra conversar com o público, rir, improvisar, e até distribuir autógrafos em vinis e tênis que voavam do meio da galera. Era aquela vibe rara em que o artista e o público parecem fazer parte do mesmo rolê — todo mundo ali por amor.
O ponto alto veio quando Talib Kweli subiu de surpresa pra dividir o microfone em “Stakes Is High”. A casa veio abaixo. A partir dali, o clima virou pura catarse coletiva: mãos pra cima, rimas em coro, abraços entre desconhecidos. O rap, no seu melhor estado: comunhão.
O De La Soul ainda homenageou Trugoy the Dove, membro original do grupo que faleceu em 2023, num dos momentos mais emocionantes da noite. Silêncio, aplausos, e logo depois a explosão: “A Roller Skating Jam Named Saturdays”, “The Magic Number” e “Me, Myself and I” encerraram o set com o público em transe, como se ninguém quisesse ir embora.
Teve quem reclamasse de problemas no som — e realmente, em alguns momentos os vocais ficaram embolados — mas nada que tirasse o brilho do show. O que se viu ali foi uma aula de carisma, repertório e resistência. Um lembrete de que o hip-hop alternativo ainda pulsa forte, não só na lembrança dos fãs, mas no presente de quem ainda acredita na força de uma batida bem feita e de uma rima com propósito.
No fim da noite, a sensação era uma só: o tempo passa, mas o som do De La Soul continua sendo um ponto de equilíbrio entre o passado e o agora. E São Paulo respondeu à altura — cantando, vibrando e provando que, quando o rap é feito com alma, ele nunca envelhece.
SETLIST
Change in Speak
Eye Know
Say No Go
Potholes in My Lawn
Pass the Plugs
The Grind Date
Oooh
Much More with Talib Kweli
Never Been in Love (Talib Kweli cover)
The Blast (Reflection Eternal cover)
Down for the Count (Reflection Eternal cover)
Get By (Talib Kweli cover)
A Roller Skating Jam Named “Saturdays”
Ring Ring Ring (Ha Ha Hey)
Dinninit
Rock Co.Kane Flow
Me Myself and I
The Magic Number (Pos and the crowd sang Happy Birthday to Talib Kweli before the performance)