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Death To All – Carioca Club – 23/03/24
Postado em 29 de março de 2024 @ 15:12


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Gustavo Diakov, cedidas pelo site do Igor Miranda

Vida longa ao Death To All e ao legado do grande Chuck Schuldiner!

Chuck Schuldiner nos deixou em dezembro/01 (caramba, como o tempo voa!) aos trinta e quatro anos e sua obra ainda reverbera nas mentes e corações dos que apreciavam sua maneira bastante particular de compor metal. E se o Death To All tem o aval da senhora Jane Schuldiner, sua mãe, para manter vivo seu legado, e se há demanda dos fãs, quem somos nós para contestar a existência atual do quarteto? Portanto, sequer vamos entrar no embate “É cover ou não?”.

O que jamais saberemos é como teria sido a continuação de sua carreira… Teria ele mantido o nível de evolução forçadamente interrompido no seminal The Sound Of Perseverance (98)? Resgatado as raízes de Scream Bloody Gore (87) e Leprosy (88)? Expandido fronteiras com mais lançamentos do Control Denied além de The Fragile Art Of Existence (99)? Ou simplesmente se acomodado, satisfeito com o que alcançaria?

Enfim, meras especulações e, quem, em sã consciência, perderia o retorno do tributo a São Paulo, sobretudo com as presenças de Steve Di Giorgio (baixo) e Gene Hoglan (bateria)? Max Phelps (vocal/guitarra), que havia passado pelo mesmo Carioca Club no São Paulo Metal Fest com o Cynic em abril/23, e Bobby Koelble (guitarra) fechariam o line-up idêntico ao da estréia em setembro/14 no extinto Via Marquês, à época também com participação de Steffen Kummerer, doObscura.

Relativamente cedo para os padrões de um show sem banda de abertura e prometidos para as 19:00, a sinistraWindfall, do Dead Can Dance, foi usada com intro antes do horário, a partir de 18:56, preparando terreno para Open Casket, enquanto observávamos a casa bem cheia e o nome doconjunto no telão de fundo e nas peles dos bumbos como decoração. Na boa, bastou uma música e a performance alucinante de Di Giorgio, transformando seu instrumento fretless num brinquedo, pagou o ingresso!

No mesmo combo, The Philosopher foi reconhecida de imediato e Hoglan dava a impressão de ser fácil tocar como ele, seguida de Suicide Machine e, pasme: a galera fez um dedilhado “comum” de guitarra virar coro! Nela, notamos o baixista adotando uma bandana com o nome do grupo que, posteriormente, desapareceria tão subitamente quanto surgiu. Antes de Living Monstrosity, com direito a um final falso, Gene se divertia fazendo uma cruz invertida com as baquetas e, encerrada, veio a primeira interação, porém a cargo do monstruoso homem das cinco (por vezes três!) cordas:

“Ei, todosnvocês! Como vão? Uau! É ótimo ver vocês e estar com vocês, então obrigado por virem e por estarem aqui. Olhem para vocês, da frente ao fundo, muito obrigado, São Paulo! Vocês detonam! Sabem, adoramos tocar músicas de death metal, mas o que fazemos aqui é nostálgico. Sabem, isso tem muita relevância hoje em dia porque vemos que vocês amam ouvir estas músicas e, para nós, amamos tocá-las para vocês!”. Com a platéia berrando “Chuck! Chuck! Chuck! Chuck!”, ele se alongou:

“A gente vem fazendo, parando e retomando este tributo há doze anos, então alguns de vocês já devem ter nos visto antes, mas, para alguns de vocês, deve ser a primeira vez. Quem está aqui pela primeira vez? Legal! Então, para os que já sabem e para os que estão prestes a descobrir, estamos aqui somente por um motivo: rememorar, imortalizar e celebrar nossa amizade com nosso saudoso irmão Chuck Schuldiner”. Com mais gritos de “Chuck! Chuck! Chuck! Chuck!”, ele arrematou:

“De novo: tudo isso é apenas pelo Chuck. É tudo pelo qual ele trabalhou, é o que ele visualizou e estamos aqui para levar adiante seu legado musical. E embora ele não possa estar aqui conosco, sabemos que ele pode ver e sentir o amor de todos vocês! Temos muitas músicas para tocar para vocês esta noite, muitas músicas, de todos os discos do Death. Há algo para todo mundo, tenho certeza, e esta próxima é a faixa-título de um álbum gravado com alguns amigos meus, quase que com nós três aqui. Mas esta vocês talvez reconheçam como Symbolic”, clássico com final cavalar.

E a simbologia de ouvir ao vivo uma pedrada de vinte e nove anos atrás é fácil de captar: o Death nunca veio ao Brasil! No máximo, passou pelo Chile em novembro/98 promovendo The Sound Of Perseverance no Chile Metal Fest (que inveja!) e há um registro bootleg integral no YouTube [https://www.youtube.com/watch?v=gFPIjvVGVSk]. Continuando, Infernal Death foi o arregaço mais curto do repertório e as pausas ligeiramente extensas entre as músicas, ocasionalmentesuperando trinta segundos de silêncio absoluto, tinham duas razões:hidratação, embora a onda de calor tivesse dado lugar à garoa e relativo frio (pois é!), alémda chance de todos respirarem. Afinal de contas, arrepiar na velocidade da luz como faziam os quatro cansa tanto quanto agitar incessantemente na pista.

Para alguns, a festa mudou de ares em Scavenger Of Human Sorrow , a ponto de um fã ao lado deste escriba comentar entre amigos: “Com todo o respeito ao que tocaram até aqui, o show começa agora!”. Na prática, o desempenho absurdo igualzinho ao do CD teve a galera cantando insanamente a plenos pulmões! Tentando fazer tudo voltar ao normal outra vez, Di Giorgio novamente se comunicou com o público:

“Ainda estão acordados? Certo! Querem saber? Viajamos um longo caminho lá do norte até aqui para tocarmos para vocês e, cacete, está valendo muito a pena! Vocês fazem a gente se sentir tão bem vindo até aqui para tocar para vocês! Muito obrigado! São Paulo, vocês detonam! Espero que estejam curtindo o show. Espero que a gente tenha escolhido as faixas que vocês gostam. Esta próxima nos leva a um jovem com vinte e seis anos de idade antes de ele se tornar o fenômeno que virou, certo? 1993! Este é um álbum que vocês talvez já tenham ouvido a respeito: Individual Thought Patterns, certo?”. Ele ainda fez uma conta de zoeira: “Esse álbum completa quarenta e sete anos este ano! Ou parece isso… Não, sério, é uma ótima faixa: Overactive Imagination”.

Mantendo a pegada, praticamente numa só tacada (exceção feita a um ou outro eventual intervalo) e sem dirigir uma palavra à massa, executaram: Within The Mind; Baptized In Blood, beirando uma hora de pancadaria em dez torpedos; e Flesh And The Power It Holds, mais longa do set e verdadeira obra-prima com três finais falsos para quem caíra de pára-quedas no Carioca Club sem conhecê-la, emendada a um rápido solo de Steve Di Giorgio (como se tudo ele que fizera até então não tivesse sido assombroso o suficiente) e aLack Of Comprehension, tijolada prontamente identificada e apoiada em renovado coro.

E se você questionava por que Steve falava ao invés de Max, provavelmente era para poupar o seu gogó, pois vá emular Chuck tão bem assim lá longe! Sério, ele segura a onda nos riffs e capricha nas linhas vocais! E por falar em guitarra, que não passe despercebidaaatuação de Bobby Koelble, também na ponta dos cascos! E dá-lhe, Di Giorgio: “Vocês estão se divertindo? Nós certamente sim e vocês podem ver isto! Então, gostaria de pegar este momento para seriamente pensarmos em cada um de vocês: todos na frente assistindo, todos lá atrás assistindo, todos aí em cima nos camarotes, os que estão no circle pit, enfim, todos vocês, por fazerem algo de que nos lembraremos para sempre! Muito obrigado, São Paulo! Esta é a parte do set em que estamos quase prontos para dizer adeus, mas temos mais algumas”.

Ele prosseguiu: “Sim, algumas, mas antes de irmos, antes de darmos ‘Boa noite!’, quero que se atentem a alguém que faz este som ser incrivelmente possível. O cara posicionado no centro do palco, que toca todas as notas do Chuck, canta todas suas letras e faz um excelente trabalho. Quero que aplaudam nosso garoto Max Phelps! Max está um dia mais velho do que ontem e ontem foi seu aniversário”, sinalizando para que o povo cantasse parabéns a Maxpor seus trinta e seis anos. E concluiu: “Sim, Max está ficando velho! Certo! Então, deixem-me dizer: antes de deixarmos vocês partirem, vamos tocar outra do álbum cujo aniversário de lançamento foi há dois dias, como algumas pessoas sabem. Ouçam, esta é do Symbolic e ela se chama Crystal Mountain”.

Para o encore, o baixista regressou empunhando uma caipirinha, de fazer inveja geral, até emplacarem Zombie Ritual. Ele primeiro tiraria onda imitando Lemmy Kilmister, como se anunciasse “Ace Of Spades!” e então cravou: “Esta é a parte em que dizemos ‘Boa noite!’. De toda forma, vocês detonaram e odiamos partir, mas temos que ir. Então vamos deixá-los com duas músicas: uma da última parte do Death e a outra do começo do Death. Espero que vocês gostem delas e que tenham se divertido. Nós nos divertimos, obrigado! E esta é SpiritCrusher”.

Colada, a saideira foi Pull The Plug e eles realmente puxaram o plugue da tomada, com o perdão do trocadilho, com Max soltando um “Obrigado a todos! Boa noite!” num urro surpreendente na única vez em que se dirigiu diretamente aos fãs. O petardo foi terminado com um snippet de YYZ, do Rush, e fontes fidedignas nos garantiram que eles haviam feito a passagem de som com The Spirit Of Radio – já pensou? Ainda que “meio atropelado”, de acordo com o relato. Edeu tempo de Steve se despedir: “Obrigado, galera! É sério, São Paulo, vocês foram sensacionais! Tenham uma ótima noite, cuidem uns dos outros e nos veremos na próxima vez!”.

Com You Dropped A Bomb On Me, da The Gap Band, de outro, nos encaminhávamos à saída após uma hora de cinqüenta minutos que voaram pensando que deve existir uma nova mania entre baixistas gringos vindo a São Paulo: Di Giorgio tocou tão descalço quanto Marko Hietala, quinze dias antes no Tokio Marine Hall, esquentando o clima para a apresentação de Tarja. Ah, Josh Kiszka, frontman do Greta Van Fleet, seria outro a ignorar os calçados como headliner do palcosecundário do Lollapalooza uma noite depois…

Por texto, não há como expressar o show fantástico que os caras fizeram, candidatíssimo ao Top 3 de 2024! Se quiser ter uma noção do que rolou no Chile sete dias antes, apeleao YouTube [https://www.youtube.com/watch?v=PsHnsiUAH1I], em filmagem com setlist idêntico e Di Giorgio até “hablando um poquito”. E sendo objetivo, as escolhas foram bem distribuídas entre todos os discos: três de Scream Bloody Gore (87) e The Sound Of Perseverance (98); e duas de Leprosy (88), Spiritual Healing (90), Human (91), Individual Thought Patterns (93) e Symbolic (95). Faltou algo? Na verdade, alguém: Chuck… Ele faz uma tremenda falta!

 

Setlist

Intro: Windfall [Dead Can Dance]

01) Open Casket

02) The Philosopher

03) Suicide Machine

04) Living Monstrosity

05) Symbolic

06) Infernal Death

07) Scavenger Of Human Sorrow

08) Overactive Imagination

09) Within The Mind

10) Baptized In Blood

11) Flesh And The Power It Holds

12) Lack Of Comprehension

13) Crystal Mountain

Encore

14) Zombie Ritual

15) Spirit Crusher

16) Pull The Plug

Outro: You Dropped A Bomb On Me [The Gap Band]

 
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