Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Gabriel Gonçalves (Sonoridade Underground)
Mestres do thrash alemão provam por que permanecem no topo
Pelos mais variados motivos, este repórter havia perdido as duas apresentações do Destruction em São Paulo anteriores a esta: em setembro/22, no mesmo Carioca Club, com suporte de Ancesttral e BurningWitches; e no extinto Espaço 555, com apoio da Nervosa, novamente em setembro, porém de 2018 – fora a vinda de maio/16, que sequer ocorreuna capital e sim em Limeira. E a noite apenas não foi perfeita porque, ao sacarmos que haveria abertura, inexistia tempo hábil para chegarmos no horário. Apurando a situação e colocando os fatos em perspectiva cronológica, os dados recebidos ao pegarmos a confirmação do credenciamento eram: “Abertura da casa: 19h” e “Show time Destruction: 21h” – assim, nos organizamos para estar nas redondezas do Carioca Club em torno de 20:00.
Para piorar, nem era de nosso conhecimento que o Sextrash estava originalmente escalado e, por total acaso, ao coincidentemente encontrarmos um amigo na Estação Paulista da Linha Amarela na volta da votação para o primeiro turno das eleições municipais, pegamos a informação de que o grupo já não estavano pacote… Além disso, arevelação garantia o adiantamento dos alemães para as 20:15 e,somente rumando para casa, vimos um print no WhatsApp cravando o Válvera como open act.Neste cenário confuso e com tudo aparentemente dando errado para este redator, conseguimos assistir adezesseis minutos da robustaperformance dos caras a partir do final de The Damn Colony.
Ao menos deu para ouvirmos se tratar da estréia do quarteto no recinto e conferirmos: ReckoningHasBegun, inédita e que estará no novo álbum; NothingLeftTo Burn; e DemonsOf War.Abordando Glauber Barreto na pista, apuramos que eles começaram o set de vinte e sete minutos às 19:30, sem intro, e pegamos com ele o setlist disponibilizado logo abaixo.
A propósito, quando este resenhista prontamente se identificou admitindodesconhecer que eles estariam no rolê, sincero e carismático, o vocalista/guitarrista sintetizou: “Nem nós sabíamos! Descobrimos às 13:30!”.
Na prática, o Destructionveio ao palco às 20:35 usandoCurse The Gods como intro, até o som cavalar dela própria mandar tudo pelos ares. Como decoração, um backdrop com o nome da banda atrás do kit de Randy Black e a bateria centralizada entre dois banners enfeitados com a arte encontrada em seu perfil oficial do Facebook e um “StrongerThan Ever” em vermelho na parte inferior. Um sutil “Como estão, São Paulo, Brasil? Boa noite! É ótimo estarmos de volta!” do vocalista e baixistaSchmier foi a ligação da faixa inaugural de Eternal Devastation (86) a Invincible Force, também primeira, mas do début Infernal Overkill (85), que arregaçou de vez a roda.
Ainda nela, exatamente com dez minutos no relógio, este escriba olhavaao redor e testemunhoualgojamais vistoem trinta e umanos freqüentando casas de espetáculo: um cidadão decidiu abrir uma lata de cerveja com os dentes e, pela posição, fazendo bom uso dos caninos direitos… Entenda: não foi uma mera retirada do lacre, que muitas tias e avós usam em artesanato. O cabra simplesmente roeu, por completo, o tampo superior do invólucro, fazendo da latinha um copo de alumínio! Sim, você leu corretamente esta crônica mundana douniverso thrash metal!
E que tal uma seqüencia incluindo a perfeita NailedTo The Cross e, segundo Schmier, “o primeiríssimo riff para o Destruction. Esta se chama Mad Butcher”? Por curiosidade, qual versão dela você prefere? A do EP SentenceOf Death (84) ou a regravação em Mad Butcher (87), outro EP? Sem pararem de tocar, o único membrofundador restante no line-upcontextualizou: “Vocês são ótimos, São Paulo! Como sempre, a capital do metal no Brasil! Estamos filmando esta noite, vocês viram, certo? Estamos filmando para nosso próximo vídeo e São Paulo estará nele! Vocês são headbangers, São Paulo? Esta é uma música para vocês baterem cabeça. Ela vem deEternal Devastation: Life Without Sense”, maravilhosa paulada eautêntica parede sonora das duas guitarras ritmadas nos riffs.
Batendo em vinte e oito minutos gerais que voaram, sua conclusão foi a primeira pausa para os músicos, sem um zumbido, acorde ou batida rolando! Sim, quase meia hora ininterrupta e chance de respiro atéBeyondEternity brotar como intro paraRelease FromAgonysoar como mais do mesmo, graças a Dio. Aliás, que mão direita de Randy na caixa! Ave Maria!E conforme previamente anunciado [https://www.destruction.de/news-mobile/135-video-shoot-in-sao-paulo-on-sunday], chegara o momento da gravação de conteúdo para lançamento futuro:
“Muito obrigado, São Paulo! Ouçam! Estamos filmando um vídeo esta noite para um clipe que sai mês que vem. Sim, queremos que vocês sejam parte do vídeo porque São Paulo está aqui, no coração do Destruction. A gente vem para cá há muitos anos e é sempre sensacional! Vocês são fantásticos, então, muito obrigado! Para esta próxima música, ela se chama Destruction.Agora quero que vocês sejam parte do vídeo e cantem ‘We’reDestruction!’”.
Rapidamente ensaiaram para otimizar a captação de áudio e a coisa ficou um pouco estranha quando Schmierindicou: “Vocês são foda! Muito obrigado, São Paulo! Isso estará em nosso próximo vídeo e esta música se chama Armageddonizer”, outro moedor de carne! Houve quem achasse que o registro fosse para a faixa de Day OfReckoning (11) e não para o mencionado novo material batizado de Destruction. Em todo caso, como na ordem do citado EP Sentence Of Death, Intro (SentenceOf Death) pavimentou o caminho para a arrasa-quarteirãoTotal Desaster, com “e” ao invés de “i”.
Como parada técnica para breve descanso, DamirEskic puxou um solo e rapidamente obteve ajuda de Martin Furia, seu companheiro nas seis cordas, e de Randy Black para o que acabou se tornando uma jam bastante interessante. A retomada das cacetadas se deu na forma de Eternal Ban, durante a qual Schmier exibiu uma bandeira do Brasil com nome do quarteto grafado no topo. Ele assegurou: “Esta próxima música é nova, muito nova, para o próximo álbum. É uma música sobre os políticos do mundo, na Alemanha, no Brasil, a mesma merda. Que eles todos se fodam! No Kings – No Masters”, por ora, um single entregando aos fãs o que do Destruction se espera: outro hino recém-nascido ecandidato a clássico! Que pedrada! Genuíno atropelo!
Indo de umacomposição novinha em folha a mais conteúdo do début para fechar o set regular, detonaramcom Antichrist, dando a errada impressão de calmaria, e Death Trap. Para o encore, Under The Spell no sistema de som sinalizou que a seguinte seria Diabolical. Houve espaço para a instrumental Thrash Attack e a pancada derradeira foidesta maneira introduzida: “Uma música muito importante está faltando, certo? Uma música importante. Talvez mais, talvez mais de uma… Esta música é do Infernal Overkill novamente e vocês todos se lembram dela, tenho certeza. Esta se chama Bestial Invasion”, dedicada por Schmiera Mãozão, grande admirador doconjunto e falecido em 2017 [https://www.facebook.com/destruction/photos/we-got-the-sad-news-from-some-brazilian-fans-that-rodrigo-mãozão-big-hands-passe/1617178681674293] aos trinta e nove anos em decorrência de um ataque do coração.
A saideira? A alucinante Thrash ‘Til Death e, enquanto íamos embora após uma hora e meia de um puta show, duas outroseram disparadas: Ave Satani (From “The Omen”), de Jerry Goldsmith e tema principal da trilha sonora de A Profecia (76); e Strangers In The Night, na voz deFrank Sinatra – ou seja, as outros de Live Attack (21), depois de Total Desaster no ao vivo.Em suma, desempenho arrebatador mostrando que o Destruction é como vinho e, envelhecendo, melhora!
Quanto à distribuição na discografia,foram: cinco de Infernal Overkill (85); três de Eternal Devastation (86); duas do EP SentenceOf Death (84) e deThe Antichrist (01); e uma de Release FromAgony (87),Day OfReckoning (11) e Diabolical (22). Falta uma, certo? Oreferido single No Kings – No Masters (24) cujo lado b é um cover de Fast As A Shark, do Accept, e que, como dito, integrará o próximo play, provisoriamente sem título e agendado para o início de 2025. Fazendo as contas, das dezesseis selecionadas, dez foram do primeiro EP e dos full-lengthsnúmeros um e dois – repertório paraninguém oldschool botar defeito!Tacada de mestre!
Setlists
Válvera – 27’ / 19:30 – 19:57
Glauber Barreto (vocal/guitarra), Rodrigo Torres (guitarra), Gabriel Prado (baixo) e Leandro Peixoto (bateria)
01) The Skies Are Falling
02) Bringer Of Evil
03) The Damn Colony
04) Reckoning Has Begun
05) Nothing Left To Burn
06) Demons Of War
Destruction – 1h30’ / 20:35 – 22:05
Schmier (vocal/baixo), Damir Eskic e Martin Furia (guitarras) e Randy Black (bateria)
Intro: Curse The Gods
01) Curse The Gods
02) Invincible Force
03) Nailed To The Cross
04) Mad Butcher
05) Life Without Sense
Intro: Beyond Eternity
06) Release From Agony
07) Armageddonizer
Intro: Intro (Sentence Of Death)
08) Total Desaster
09) Solo De DamirEskic
10) Eternal Ban
11) No Kings – No Masters
12) Antichrist
13) Death Trap
Encore
Intro: Under The Spell
14) Diabolical
15) Thrash Attack
16) Bestial Invasion
17) Thrash ‘Til Death
Outro 1: Ave Satani (From “The Omen”) [Jerry Goldsmith]
Outro 2: Strangers In The Night [Frank Sinatra]