Texto e Fotos: Flavio Santiago
Drug Church ao vivo no Brasil – Uma estreia suada, barulhenta e inesquecível
Fazia tempo que eu esperava por esse momento: ver o Drug Church ao vivo. Desde que a banda foi confirmada na turnê sul-americana, fiquei com aquele frio na barriga, aquela ansiedade boa de quem sabe que vai presenciar algo especial. E não deu outra — a estreia dos caras em solo brasileiro foi tudo o que eu esperava e mais um pouco.
Antes do Drug Church subir ao palco, quem aqueceu os motores foi a banda paulistana Ouse Morrer, que tem feito barulho na cena underground com seu som direto e uma entrega sincera. Com influências que vão do hardcore clássico ao screamo, eles fizeram um set coeso, energético e emocionalmente denso. Era nítido que muitos presentes estavam ali também por eles — e a banda não decepcionou. Um aquecimento com alma, suor e gritos que preparam bem o terreno para o que viria a seguir.
Para quem ainda não conhece, o Drug Church é uma banda de Albany, Nova York, que mistura hardcore melódico, pós-hardcore e punk rock de uma forma única. Eles conseguem soar agressivos, sarcásticos e melancólicos ao mesmo tempo. Liderados pelo carismático Patrick Kindlon — que mais parece um frontman de stand-up punk do que um vocalista tradicional — a banda ganhou força com álbuns como Cheer (2018) e Hygiene (2022), recheados de letras ácidas sobre ansiedade, alienação e a mediocridade da vida adulta.
O show começou com “Grubby”, e ali já deu pra sentir que seria uma noite intensa. O público respondeu com mosh e gritos, e a banda parecia tão empolgada quanto a plateia. “Avoidarama” veio logo em seguida, com aquela mistura suja e cínica que só eles fazem — Patrick já mandava comentários irônicos entre uma música e outra, meio que quebrando a pose de “rockstar”.
“World Impact” e “Fun’s Over” mantiveram o clima lá em cima. Era suor, empurrões, gente cantando junto — mesmo quem não sabia a letra arriscava o refrão berrando. Em “Bliss Out”, a banda entregou uma das melhores performances da noite, com guitarras rasgadas e uma bateria que parecia atropelar tudo pela frente.
Mas foi com “But Does it Work?” e “Slide 2 Me” que as coisas realmente pegaram fogo. A conexão entre banda e público estava absurda. Kindlon, como sempre, se movimentava pouco, mas seu jeito de falar direto com a plateia tornava tudo mais íntimo, quase como se estivéssemos num ensaio barulhento na garagem de um amigo.
A reta final veio como um soco bem dado. “Mad Care” e “Demolition Man” mantiveram o gás, e as sequências “Unlicensed Guidance Counselor” e “Unlicensed Hall Monitor” provaram que o Drug Church tem punch, peso e inteligência em partes iguais. A galera já estava em transe.
“Million Miles of Fun” foi um dos momentos mais altos da noite. O refrão ecoou em coro, e era impossível não se deixar levar pela catarse coletiva. A sequência final com “Tillary”, “Myopic” e “Weed Pin” foi o fechamento perfeito — essa última, aliás, foi cantada do início ao fim por todos. Um hino do underground moderno.
Saí do show com o corpo moído, a garganta destruída e o coração cheio. Ver o Drug Church pela primeira vez no Brasil foi mais do que assistir a uma banda ao vivo — foi participar de um ritual de barulho, sarcasmo e verdade. E espero, de verdade, que eles voltem logo. O Brasil já é deles.
SETLIST
Grubby
Avoidarama
World Impact
Fun’s Over
Bliss Out
But Does it Work?
Slide 2 Me
Mad Care
Demolition Man
Unlicensed Guidance Counselor
Unlicensed Hall Monitor
Million Miles of Fun
Tillary
Myopic
Weed Pin
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