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ENTREVISTA ::: HELMET
Postado em 24 de abril de 2025 @ 12:09


No próximo dia 30 de abril, o icônico Page Hamilton desembarca em São Paulo para uma noite  única e  histórica: o líder do Helmet subirá ao palco para apresentar o álbum Betty na íntegra, celebrando três décadas de inovação sonora que redefiniram o rock alternativo. Lançado em 1994, Betty representa um momento de transição ousada para a banda, mesclando riffs cortantes, grooves precisos e letras introspectivas que ecoam até hoje na cena underground.

Desde a fundação do Helmet, em 1989, Hamilton tem se destacado não apenas pela sua técnica impecável na guitarra, mas também pela capacidade de conduzir a banda por territórios sonoros pioneiros — de batidas quase mecânicas a explosões de pura distorção. Em Betty, essa dualidade alcança seu auge: faixas como “Milquetoast” e “Biscuits for Smut” unem densidade e melodia de forma única, enquanto “Wilma’s Rainbow” e “Tic” escancaram a versatilidade que faz de Hamilton um dos nomes mais respeitados do gênero.

Nesta entrevista exclusiva, Page Hamilton revisita o processo criativo por trás de Betty, revela curiosidades dos bastidores da gravação e conta como a obra considerada por muitos um clássico cult — ainda ressoa com novas gerações de fãs.

Prepare-se para conhecer de perto as inspirações, desafios e a visão que transformaram Betty em um marco da música pesada e alternativa.

Por: Flávio Santiago

FS: Obrigado por essa entrevista, pra começar vamos falar um pouco de Betty, álbum que traz a banda ao Brasil para esse show: Se voce pudesse elencar em uma lista de álbuns preferidos gravados pelo Helmet em qual posição estaria Betty?

PH: Bem, essa é uma pergunta muito difícil de responder porque sou muito orgulhoso dos álbuns que gravei, especialmente os 2 últimos trabalhos : Dead to the World (2016) e Left (2023) mas tenho que admitir que dos álbuns antigos Betty é um álbum muito bom e gostei bastante do resultado dele, soa divertido e isso é algo bacana.

FS: Falando sobre curiosidades do Betty, pelo que pesquisei a capa do álbum é uma foto de um fotógrafo chamado Dennis Hallinan que foi tirada em 1965, de quem foi a idéia de colocar essa foto na capa do álbum ?

PH: A ideia foi minha ( risos) , eu tive a ideia de ter uma mulher em um jardim inglês com uma cesta de flores. Na minha visão, imaginei que ela estaria perto de um lago. Sabe aqueles, tipo, em uma grande propriedade no alto de uma colina, com aquelas piscinas ou tanques de agua  formando  um espelho d’água reflexivo, sabe? Era mais ou menos isso que eu tinha em mente, mas não encontrei nada exatamente assim.

Aí achamos esta coleção de fotos de um fotógrafo, com essa mulher, e eu achei perfeito. Ficou muito bom, né? Gostei bastante, ficou bem legal. É bem diferente pra música pesada, sabe? Ter uma capa assim em vez de ter algo clichê , acho tão piegas essa coisa de a galera ficar tão insegura, sabe, que toca música pesada e acha que tem que ser tudo preto, caveiras, ossos cruzados, ‘ah, tem que ter cabelo comprido, tatuagem’ e tal. Mas por que não mostrar um pouco de humor, sabe?”

FS: Olhando para essa capa me remete a álbuns de bandas de rock progressivo dos anos 80, jamais imaginaria que seria sobre um álbum de música pesada, pensei que fosse um álbum do YES (risos)]

PH: A idéia foi essa, ter algo fora dos clichês ( risos)

FS: Ainda falando sobre a atual turnê de aniversário do Betty, vocês tem tocado em grandes arenas mas também em clubes menores, como tem sido a sua percepção em relação aos fãs mais velhos e sobre essa nova geração de fãs, percebe alguma diferença entre essas gerações ?

PH : É difícil lembrar de reações específicas da plateia, mas eu realmente, sabe… como posso dizer…  Fico  agradavelmente surpreso e  feliz com a reação deles, com o fato de estarmos lá e de haver muitos jovens na plateia. Posso citar Londres, por exemplo: tocamos no Electric Ballroom, esse clássico e incrível local, e foi muito legal ver garotos de, tipo, 13, 14 anos cantando, cantando e cantando músicas que eu escrevi, sabe, há uns 30 anos atrás Foi bem maneiro e recompensador e é sinal que ainda fazemos algo relevante.

FS: Na época do lançamento de Betty (1994) e após o sucesso de Meantime (1992) (álbum antecessor)  você se recorda de sofrer algum tipo de pressão da imprensa ou da gravadora para que o álbum seguisse a mesma fórmula de sucesso de Meantime?

PH: Sabe, havia pressão, mas, para mim era desnecessária. Quero dizer, acho que a pressão que as pessoas colocavam em nós ou em mim, como compositor era exagerada. Tivemos sucesso  com o Meantime, que ganhou disco de ouro e ainda recebemos uma indicação ao Grammy; com isso, todo mundo ficou mais interessado e passou a opinar sobre o que eu deveria fazer. Mas eu simplesmente contei com meus companheiros de banda, John e Henry, no que dizia respeito à música. Eu ainda escrevia as canções, mas nos reuníamos e eu me encontrava com o Henry para mostrar meu método de composição, sabe? Usando um gravador multitrack, um gravador de fita cassete, ou o que fosse.

O mesmo acontecia com o John, pois eles queriam participar mais do processo de composição. Se eu pudesse fazer tudo de novo, acho que faria de forma diferente; provavelmente tornaria as músicas mais colaborativas. Porque o John é um baterista fenomenal e o Henry é um músico incrível, e sinto que poderíamos ter continuado nesse caminho. Mas acho que, sobre a pressão de que você fala, sinto que o mercado da música acabou destruindo a banda, sabe? Foi meio que o começo do fim, infelizmente. A decisão de afastar o Peter foi, para mim, irrelevante, porque ele não era um grande guitarrista e também não era uma boa pessoa — ele era, enfim, não quero entrar em detalhes –, mas foi difícil, porque o Henry, que era amigo dele, concordou que era o certo a fazer. Isso foi diferente, sabe? Porque o Peter era meu amigo antes da banda existir, e por isso ele entrou nela, mas depois se tornou alguém de quem eu não gosto.

Rolaram todos os tipos de pressão, sabe? Ser integrante de uma banda de rock às vezes parece uma novela. Eu curto muito o Fleetwood Mac, e o álbum Rumours deles vendeu milhões de cópias. E tudo o que eles passaram — tinham dois casais na banda que acabaram se separando — foi drama demais; eles, porém, fizeram um álbum incrível. Comparado a isso, nós tínhamos drama de sobra.

FS: Se existisse uma máquina do tempo e você pudesse voltar ao ano de 1994, qual conselho daria ao jovem Page Hamilton?

PH: Se eu fosse me dar um conselho, eu diria: confie em si mesmo; ignore qualquer pessoa que tenha a ver com o ramo da música — e isso não é para faltar com o respeito, mas sabe, aqueles que trabalham na sua gravadora, sua equipe de management, seus advogados, seus gerentes financeiros… todas essas pessoas não deveriam participar das decisões artísticas.

Eu confio no meu julgamento melhor do que eles, e melhor do que muita gente. Mantenha-se fiel a isso. Quero dizer, até ouço o que falam, mas não vou permitir que influenciem o meu direcionamento ou minhas escolhas. Toda vez que deixei isso acontecer, acabei me arrependendo, de certa forma estranha. Não que se deva olhar para trás e se arrepender, mas faça: confie no seu coração e nos seus próprios instintos. Ok?

FS: Page, você é um musico muito versátil e multifacetado, já fez parte do Band of Susans que tem uma sonoridade bem diferente do que faz no Helmet e em algum momento da sua carreira foi guitarrista em uma das turnês do David Bowie, dito isso, há algum projeto paralelo seu para extrapolar toda essa criatividade?

PH:Estou trabalhando em um álbum solo agora.


FS: Sério?

PH: Sim, sim mas ainda não terminei, acho que tenho umas 13 ou 14 músicas. Estou trabalhando nisso neste momento, até agora são 13 faixas.

FS: Como é o som?

PH: Não é nada como o Helmet. Tive muita sorte de trabalhar ao longo dos anos com o compositor Elliot Goldenthal, e aqui em Los Angeles também com o Patrick Kirst, professor da USC, ali no centro. Com eles, pude explorar muitas “experimentações  sonoras”, usando pedaleiras e guitarras com afinações estranhas para criar paisagens sonoras interessantes.

O primeiro filme que fiz trilha foi “Heat”(1995 – Fogo contra Fogo) , com Robert De Niro e Al Pacino, dirigido pelo Michael Mann — um filme incrível. Isso me levou até aqui: desde os anos 90, são quase 30 anos tocando esse tipo de música, o que me permitiu desenvolver algo meio esquisito e único.

FS: Essa é a quarta vez que o Helmet vem ao Brasil qual das vindas ao país você mais curtiu  e claro que histórias engraçadas não devem faltar, pode compartilhar alguma delas para nós?

PH: Sim, foi na praia em um festival 

FS: Sim, foi em um festival chamado M2000 Festival patrocinado por uma marca de tênis e que ainda contou com o Rollins Band , Lemonheads e Mr Big

 PH:  O palco ficava aqui e o mar à minha esquerda. Era como se tivéssemos o oceano e 150.000 pessoas ao mesmo tempo. Foi incrível. Nunca, nunca vou esquecer isso. Lembro que, no dia seguinte, tivemos folga em Florianópolis. Fomos à praia e pudemos simplesmente aproveitar o lindo sol brasileiro e nadar no mar. Foi inacreditável e é uma lembrança muito querida.

Mas também tivemos várias experiências malucas. Uma história engraçada: fomos a uma churrascaria — um churrasco brasileiro — num almoço grande com toda a nossa equipe, nossos promotores, e o pessoal que nos ajudava. Eles nos perguntaram o que queríamos fazer à noite e dissemos que queríamos sair, ir a um bar onde houvesse garotas, cerveja, conversar, mas sem strip clubs, porque eu detesto strip clubs, acho muito brega.

Então eles nos levaram a um lugar e, quando entramos, eu pensei: “Parece um strip club”. Mais tarde, o Danny, meu outro guitarrista, veio até mim e disse: “Acho que é um bordel”. E não era que era isso mesmo! Eles ouviram “garotas e bebidas, sem strip clubs” e entenderam “nos leve a um bordel”! Ficamos tipo: “Meu Deus, que incrível!”, de tão surpresos com a situação e com a barreira do idioma.

Uma das pessoas da equipe de promoção, uma mulher, estava de legging – você sabe, aquele tipo de calça de ioga. Um dos caras bateu no bumbum dela e ela pegou o copo, arremessou o que restava na cara dele. Foi hilário, ridículo! Aquele foi, sem dúvida, um dos finais de noite mais engraçados e inusitados. Depois disso, a próxima ordem foi: “Sem strip clubs, sem bordéis, só um bar normal.” Foi realmente muito divertido!

FS: Page, estamos indo para a ultima pergunta dessa entrevista, portanto deixe uma mensagem para os fãs brasileiros e o que o público pode esperar desse show?

PH : Bem, nós vamos tocar Betty  na íntegra do começo ao fim sem palavras. Quer dizer, sem falar nada. Vamos apenas tocar o álbum e depois faremos músicas de todos os outros álbuns. E estamos muito, muito empolgados para voltar.

Nós amamos o Brasil, eu gostaria que pudéssemos ficar mais tempo e ir a mais lugares, como Brasília e Rio. Eu ainda nunca estive no Rio. Está na minha lista. Preciso ir ao Rio antes de morrer. Mas estamos muito empolgados. Vai ser incrível.

FS: Eu tenho um pedido para esse show, se puder tocar “Pure” do After Taste serei muito grato (risos)

PH: Ok, vou anotar aqui e tentar lembrar (risos)

FS: Muito obrigado pela entrevista e nos vemos no show

PH : Muito obrigado pela oportunidade e até lá

SERVIÇO

Helmet – Turnê 30 anos de Betty em São Paulo
Data: 30 de abril de 2025 (quarta-feira)

Horário: 19h (abertura da casa)

Local: Carioca Club – São Paulo/SP

Abertura:  Treva e Debrix

Ingressos: https://fastix.com.br/events/helmet-betty-30th-anniversary-tour

Valores:

Pista: R$ 180,00 (meio entrada estudante), R$ 200,00 promocional – mediante doação de 1kg de alimento, 1º lote) e R$ 360,00 (inteira, 1º lote)

Camarote: 280,00 (meio entrada estudante), R$ 300,00 promocional – mediante doação de 1kg de alimento, 1º lote) e R$ 560,00 (inteira, 1º lote)

Classificação: 18 anos

 
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