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Evan Dando – Sesc Paulista – 04/03/23
Postado em 13 de março de 2023 @ 14:33


   Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Evan segue Dando mole em São Paulo e aqui ele pretende morar!Seja bem-vindo!!

Quando um ídolo passaum bom tempo sem dar as caras em nosso país, é normal não sabermos direito o que esperar ao vivo. Relatos de amigos davam conta de situações curiosas na véspera, como o “liga/desliga” constantedo cabo noviolão, versões reduzidas das músicas e alterações do próprio setlist de palco – a rigor, um par de cartolinas pisoteadas praticamente durante todo o repertório, de tão grandes. Em contrapartida, havia a garantia de diversão e o que se conhecia a respeito de sua estada na cidade era devido a um tratamento dentário e o fato de estar namorando Antonia Teixeira, filha de Renato Teixeira, conforme reportado pelo G1 [https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2023/03/03/evan-dando-do-lemonheads-virou-genro-de-renato-teixeira-e-esta-no-brasil-para-shows-e-tratar-dentes.ghtml].

O esgotar dos ingressos em minutos elevou aexpectativa e, com ela alta,rumamos ao Sesc Paulista para conferirmos a segunda das duas noites do líder do The Lemonheads por lá. Com seis minutos de atraso, ele apareceu às 19:36, levando mais quatro para: saudaro público num “Olá a todos! Como estão?”; pedir um “momentito” para se organizar; papear com o pessoal no gargarejo (nenhum assunto profundo em específico); e finalmente plugar seu instrumento e arrancar gargalhadas ao soltar um engraçadíssimo “Ah, eu tô maluco!”, arrastando o sotaque.

No geral, o que se viu e ouviu foi uma sucessão de composições emendadas umas às outras, às vezes resumidas. Por exemplo, meio que ainda checando o som, puxou The Outdoor Type, efetivamente marcando a abertura dos trabalhos, colada a IntoYourArms, Hard Drive (realçando a terceira e última ocorrência do verso “ThisisthetownI’m living in”),SpeedOf The SoundOfLoneliness, Hospital (seus acordes iniciais não lembram La Bamba?), Break Me, If I Could Talk I’dTellYou, Rudderless e GloomySunday, quase inteira a cappellae seguramente inspirado em Billie Holiday ao invés do original em húngaro escrito por RezsőSeress.

Trocando de violão, adotou expediente incomum em apresentações,nestaprovavelmente ressaltado tanto na divulgação no site da casa, já fora do ar (“Dando, como sempre, costuma atender pedidos da platéia”), quanto no folheto na porta de acesso (“Show em voz e violão com hits do Lemonheads, pedidos da platéia, entre outras músicas”):reconhecendoum clamor feminino por My Idea, aceitou o desafio e simplesmente respondeu um “Ok!”. Começou-a e, descontente com o cabo, desconectou-o e foi executá-lajuntoaos fãs. Verificando se todos conseguiam escutá-lo, ali ficou e mandou Frank Mills e, pegando de volta o primeiro instrumento,tocouConfetti, antecipadapor um convitepara logo adiante: “Onde está o Chico? Chico, venha aqui para a próxima música, ok?”.

Se na noite anteriora participação especial foi deTex, neto de Renato Teixeira, desta vez tratava-se do irmão de Antonia,assim apresentado: “Galera, este é Chico Teixeira!”. Ele retribuiu: “É um prazer, cara! Quero cantar esta música para você, cara! Você sabe, hoje é seu aniversário”. Era mesmo, o qüinquagésimo sexto, única referência à data e estranhamente ninguém se empolgou numHappyBirthdayToYouou Parabéns A Você. O brasileiro roubou a cena a tal ponto em La Cigarra que primeiro o norte-americano se sentou para assisti-lo e depois se deitou para ficar mais confortável! A descontração era tamanha que, se você cerrasse os olhos, podia facilmente imaginar um brother entretendo a roda de chegados na praia sob o luar.

Terminada, Evan revelou: “Vocês vão ouvir uma música que talvez conheçam”. E ofilho de Renato Teixeira disparou: “Vocês ajudam aqui, né? Porque ele sabe cantar essa também! O que vocês querem ouvir aí?”. Foi Romaria e o dono da festa até planejou se esforçar posicionando uma folha sulfite com o refrão aos seus pés, mas preferiuincumbir Chico da tarefa, pois fazer um gringo cantar “Sou caipira pirapora, Nossa Senhora de Aparecida” fluentemente seria, no mínimo, uma sacanagem!Naplatéia, havia quem boiassequanto à magia do instantee gente saboreando cada segundo e cantando a plenos pulmões!Obviamenterolariamcarinhosas manifestações de parte a parte:

 

Evan: Chico, isso foi lindo! Te amo!

Chico: Te amo, cara!

Evan: Amo você e seu filho, que detonou ontem à noite. Ah, o nome dele é Tex!

 

“Momento S2” superado, em novo bloco contínuo, surgiu uma homenagem com três faixas de “uma versão americana de Renato: Townes Van Zandt”, de acordo com o anfitrião:SnowDon’tFall, I’ll Be Here In The Morning e Pancho AndLefty.Ao mesmo combo, adicionouHowMuchI’ve Lied(da trilha sonora de Heavy, filme estrelado por Liv Tyler em 1995), DifferentDrum e It’s A ShameAbout Ray, interrompida em função da insatisfação com um dos violões e recomeçada bemà frente do público após um “Galera, me desculpem! Assim vai funcionar melhor!”, com significativa cantoria coletiva.O apoio geral permaneceu para Big Gay Heart, dedicada a uma certaClarice (seria a Lispector? Faltou contextualizar…)a pedido de um fã a quem Evan se dirigiu no início, averiguando: “Qual é o nome dela mesmo?”. Ainda durante o clássico, se esqueceu parcialmente da letra e inteligentemente resolveu o problema: “Vocês poderiam fazer essa parte?”.

Finalmente em posse de sua guitarra, mandou The Great Big No, How Will I Know, ShakyGround e,perto de concluir MalloCup, incomodado com as sinalizações de funcionários do Sesc para encerrar o set, o músico perdeu a compostura e pouparemos o leitor retirandoos palavrões: “Venham me pegar, vou tocar mais uma música. Não me digam que tenho que parar agora! Que se dane! Vou levar o tempo que precisar. Não há bateria, não estamos importunando ninguém”. Barbudo, ele duplamente ameaçava contrariar um verso da mencionadaThe OutdoorType, “Can’tgrow a beard, orevenfight”, e, ao desconectaro equipamento, intencionalmente derrubou um amplificador, um cabeçote e um vaso com plantas decorativas. O propósito? Tornar tudo mais leve: “Vou perturbar os vizinhos de cima se fizer isso? Não!”, retornando ao formato acústico próximoà massa. Antes MyDrug Buddy, bradou: “Vamos lá, venham me tirar daqui. Onde vocês estão? Vamos lá! Sigam em frente!”.Acalmando-se, sintetizou: “Beleza, vamos lá! Só tenho mais alguns minutos…”.

O “Obrigado! E obrigado ao Sesc!” soou sem ironias e realmente visando se desculpar, como fizera através de um “Sinto muito”, na execução da saideira. Batendo em setenta minutos líquidos de espetáculo, uma alma espirituosa e claramente tirando sarro gritou “Mais um!”, porém Evan Dando partiu deixando para trás sua bolsa, largada à frente deste repórterimediatamente ao chegar – evidentemente, fizemos questão de encaminhá-la a um roadie, visto que ela continuava abandonada. Sendo objetivo, o tempo desperdiçado no começo fez falta e omaior pecado foi ter preterido o cover de Simon & Garfunkel paraMrs. Robinson, tocadona sexta, talvez excluídopor causa do toque de recolher e um hino em sua voz. E não que sirva de garantia, mas ela não constava no setlist de palco, nem sempre seguido à risca, aliás!

Análisesexigentes resgatariam: ocasionais lapsos de memória e apagões das letras (ao menos ele não apelou ao teleprompter); palhetas caindo e tendo de procurá-las;ou o efeito desejado com o delay num outro microfone, decisão contestável pelo volume excessivo. Topa um último conselho? Evite a armadilha de achar que foi uma espécie de show “hippie” e relativize o destempero. Tampouco embarque na ondade seu histórico abuso de drogas tê-lo afetado em demasia, pois ele segue capaz de cantar e tocar a contento e, repare bem: mal brotando no palco, já cantarolou um trecho de Twenty Five Miles, famosa na voz de Michael Jackson quando criança no Jackson 5, e citou Edwin Starr, compositor e responsável pelo primeiro registro.

Somado a isso, “dando” uma moral ao cunhado, incluiu MPB e variou as escolhas a ponto de inserir Whitney Houston! E se alargarmos a reflexão, os dois lançamentos oficiais mais recentes de sua banda foram álbuns de releiturasalém do trivial. Simplificando, estamos perante alguém com uma riquíssima bagagem musical e só detonar imperfeições não leva a nada se é nos pequenos detalhes que se capta a estirpe do artista. Agora quer as cerejas do bolo? Aperformance está disponível online em https://www.youtube.com/watch?v=uLSWam9itGU. E dia 19 ele estará na Fabrique, elétrico, acompanhado pela Twinpines e com abertura do Plazma! Bora? E que talclicarno link do YouTube enquanto isso? Divirta-se!

 

Setlist

01) The Outdoor Type [Smudge]

02) Into Your Arms [Love Positions]

03) Hard Drive [Ben Lee]

04) Speed Of The Sound Of Loneliness [John Prine]

05) Hospital

06) Break Me

07) If I Could Talk I’d Tell You

08) Rudderless

09) Gloomy Sunday [Rezső Seress]

10) My Idea [Chris Brokaw]

11) Frank Mills [Galt MacDermot]

12)Confetti

13) La Cigarra [Renato Teixeira] (Apenas Com Chico Teixeira)

14) Romaria [Renato Teixeira] (Com Chico Teixeira)

15) Snow Don’t Fall [Townes Van Zandt]

16) I’ll Be Here In The Morning [Townes Van Zandt]

17) PanchoAnd Lefty [Townes Van Zandt]

18) How Much I’ve Lied [Gram Parsons]

19) Different Drum

20) It’s A Shame About Ray

21) Big Gay Heart

22) The Great Big No

23) How Will I Know [Whitney Houston]

24) Shaky Ground

25) Mallo Cup

26) My Drug Buddy

 
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