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Evergrey ::: 23/11/19 ::: Carioca Club / SP
Postado em 01 de janeiro de 2020 @ 16:17


Texto: Vagner Mastropaulo

Agradecimentos: Overload / Costábile Salzano

Gotemburgo é famosa pelo chamado “Gothenburg Sound”, uma tripé de bandas advindas da cidade com o surgimento do Dark Tranquillity, ainda como Septic Broiler em 1989, e do In Flames e do At The Gates no ano seguinte. De lá também saiu o The Haunted, em 1996, e essas quatro bandas acabaram por influenciar uma leva de outras que escancaram a porteira do metal sueco: Amon Amarth e Opeth (Estocolmo), Soilwork (Helsinborg) e Arch Enemy (Halmstad), para listar as mais conhecidas. Ah, e o Meshuggah (Umeå)? De 1987, apareceu antes de todas. Com sonoridade bem diferente da seleção acima, mas também de Gotemburgo, vem o Evergrey que, após mais de oito anos, retonou a São Paulo e ao Carioca Club, por onde se apresentou em julho/11. Sem banda de abertura, brotaram no palco, na ordem: Rikard Zander (teclados); Jonas Ekdahl (bateria) – pedindo palmas e marcando o ritmo no bumbo; Henrik Danhage (guitarra); Johan Niemann (baixo); e Tom S. Englund (vocal e guitarra), personificação do grupo e único remanescente da formação original.

Pontualmente às 19:00, com Panama (Van Halen) de intro e substancial aumento de volume e qualidade no som, bastou rolar Silent Arc para se constatar que o quinteto, ótimo em estúdio, soa ainda melhor ao vivo. E mais, foi necessário apenas um solo, com sete minutos no relógio, para Henrik escancarar seu talento e ser ovacionado pelo público, confortavelmente espalhado pela casa e que, se por um lado, poderia ter sido maior, por outro era cativo e cantou bem alto o refrão da faixa de abertura de The Atlantic (2019). Respeitando a ordem do play da turnê, cuja capa era estampada no bandeirão de fundo, a pesadíssima Weightless, com o perdão do trocadilho, matou a pau com riffs ganchudos, uma quebradeira dos diabos, um pezinho no djent e seguiu cantada pela barulhenta platéia após curta provocação de Tom em seu começo: “Ainda estão aí, São Paulo?”, uma reivindicação no meio: “Beleza, quero ver as lindas mãos de São Paulo para cima” e uma interação mais elaborada no fim: “Então, que porra estamos fazendo em São Paulo esta noite? Vocês estão melhores do que nós! Quem esteve aqui na última vez que viemos? Parece ter sido há muito tempo. Não esperaremos mais oito anos para voltar. Esta vai a vocês, obrigado por virem”.

Era Distance, pesada de cara, mas arrastada, uma ótima oportunidade de respiro, e se você é levemente das antigas, já assistiu a episódios comentados em boxes de séries e/ou filmes em DVD. Pois bem, Tom e Jonas prepararam algo similar para The Storm Within (2016), a Track Commentary Version, a fim de “falar sobre coisas que foram importantes para nós e nos fizeram pensar, de determinado modo”, como dito na Intro pelo vocalista. Distance, ainda segundo Tom, foi “a segunda canção escrita para o álbum, quando nos demos conta do tipo de direção que seguiríamos. A vibe nos cativou, muito solitária, fria e escura e realmente nos chamou a atenção. Esta atmosfera desolada foi inspirada num cara chamado M83, uma banda francesa eletrônica, eu diria. Fomos realmente inspirados em sua atmosfera e até no som dos teclados, de certo modo, e assim começamos. O Jonas fez um som de teclado que meio que é o que fizemos no álbum todo, uma sonoridade apresentada mais ou menos em todas as músicas, de algum modo, no decorrer do álbum. Dá para ouvir no refrão de Distance, um gancho de piano distorcido. É o que queríamos alcançar com a música, queríamos que as pessoas estivessem mais ou menos na mesma vibe que a gente desde o começo e é por isso que ela é a primeira”.

A seqüência de canções de um mesmo play foi repetida, agora com Passing Through, perfeita para sair pulando. Outra com solo de Henrik, extremamente aplaudido, a faixa foi assim descrita por Tom na versão comentada de The Storm Within: “Segunda do álbum, mas umas das últimas que escrevemos. Quando a tocamos para o pessoal da gravadora e alguns de nossos fãs mais leais e que estão conosco por todos esses anos, esta foi uma das músicas que eles achavam que deveríamos lançar como o primeiro single. Porém, para nós, ela não representava a vibe que queríamos apresentar primeiro às pessoas. Mas como uma segunda faixa, é fantástica! Estamos muito felizes com ela”. Jonas detalhou: “O Henrik veio com um punhado de idéias e uma delas foi a melodia do teclado, que, a princípio, era uma melodia de guitarra, mas ele quis fazer no teclado e fizemos algo meio sujo e distorcido que saiu bem legal. É uma música direta que dá um pontapé inicial depois de a primeira ser mais lenta, aí ditamos o ritmo com esta”.

Comunicativo, Tom novamente pediu a palavra no Carioca: “Vocês sabem, somos suecos, um frio do cacete na Suécia agora. Vir aqui é um choque térmico para nós, sabiam? Deveríamos conseguir vir duas semanas antes para nos aclimatarmos, como se diz. Eu me sinto como se estivesse na porra da Tailândia e ainda trouxe minha jaqueta de inverno! Estão se divertindo até aqui? Esta será uma longa noite, então não se esgotem, ok? Não tão cedo e nem demais, ok? Do álbum Hymns For The Broken, esta se chama The Fire”, mais do que apropriada para o tema abrangido e uma rifferama dos infernos. Leave It Behind Us representou Glorious Collision (2011) e, para o início da seguinte, Henrik se aproximou do público e solou. Brincando, ao anunciar a linda As I Lie Here Bleeding, Tom perguntou aos fãs se eles conheciam o guitarrista e pediu para todos cantarem a abertura do refrão. Sacando o celular para filmar, sentenciou: “Esta é do Recreation Day e é sobre…” e fez o povo repetir os gritos de: “Falling!”.

Mais lenta, poderosa e com um quê de balada, Black Undertow passou ilesa, sem gracejos e o frontman voltou a esbanjar bom humor: “Sabem o maior problema em sermos tão velhos como somos?”. Suspirando, prosseguiu: “Sabem o que é esse som? É o som de um homem velho morrendo! Se vocês me virem caindo no palco, não é parte do show! Chamem a porra dos paramédicos”. E ao ouvir clamores do gargarejo, foi paciente: “Tendo lançado doze ou treze álbuns de estúdio, não podemos tocar todas as músicas. Então vocês não podem nos bater mais tarde e não podem ficar putos. Esta é Monday Morning Apocalypse”, a mais curta da noite e do play homônimo.

De Solitude, Dominance, Tragedy (1999) e mais antiga do repertório – já que nada de The Dark Discovery (1995) foi apresentado – Words Mean Nothing surgiu em tocante versão apenas na voz de Tom e no teclado de Rikard, dividindo o espaço ao fundo, sem a centralização padrão do kit de Jonas. Aproveitando-se do formato acústico, foi o momento mais tocante até então, porém superado pela belíssima I’m Sorry, cover da cantora pop sueca Dilba, puxada apenas no teclado, até o regresso de todo o time. Visando extrair o melhor de sua audiência, Tom foi provocativo ao fazer menção indireta ao Rio de Janeiro: “Estivemos numa cidade ontem que a cantou bem alto. Então hoje vocês têm de ser mais altos. Vou filmá-los agora, então provem para mim o quão barulhenta São Paulo pode ser”, obtendo um longo e alto grito como resposta. Valorizando o esforço, atiçou ainda mais: “É, foi muito bom! Vocês podem cantar também? Vejamos! Vocês sabem as palavras, certo? Aqui vamos nós!”. Um uníssono e tanto!

Voltando à pancadaria e com dois bumbos insanos, o frontman apenas sinalizou: “Esta se chama My Allied Ocean”, arregaço do início ao fim, assim descrito na versão alternativa de The Storm Within por Jonas: “Uma canção que, na verdade, escrevemos numa passagem de som, quando estávamos em turnê. Nós a compusemos com a banda toda junta, acho que dá pra notar e que se ouve isso. É algo direto, todos fizeram um ótimo trabalho e juntamos tudo muito bem”. Tom aprofundou-se: “O engraçado sobre ela é que seu título de trabalho era Eslovênia, mas, de fato, a escrevemos em Bratislava, que fica na Eslováquia. Então estávamos bem confusos. É uma das mais rápidas e agressivas do álbum”. All I Have a sucedeu e, ao vivo, uma peculiar característica se reforçou: com guitarras à la Alice In Chains no início, não se estranharia se ela fizesse parte da discografia dos americanos. Arrastada e pesada, soou muito bonita, ainda mais sob luzes verdes e amarelas, com a sutil e coincidente alusão ao fato de tudo que temos ser nosso país mesmo, então dele deveríamos cuidar melhor. Finalizando a parte antes do encore, aos gritos de “Evergrey!”, veio The Grand Collapse, outra máquina de pesados riffs!

Voltando ao palco, de The Inner Circle (2004) e com suas várias falas, When The Walls Go Down alongou o descanso para o gogó de Tom, transformando-se numa pedrada no final. O vocalista então anunciou Recreation Day, mais do que obrigatória, bem cantada e com interação sua perto do final, devido aos aplausos: “Querem mais, São Paulo? Não ouvi, vamos lá, São Paulo! Querem mais? Sim?” A penúltima foi aberta por um dueto de teclado e guitarra complementando-se mais do que se digladiando, seguido de mais palavras carinhosas de Tom: “Ouçam, muitíssimo obrigado! Vocês sabem qual música virá agora, mas quero dizer uma coisa antes: se vocês divertiram hoje, se curtiram hoje, certifiquem-se de ir às mídias sociais de vocês e digam aos seus amigos, avós e também aos cachorros sobre o show porque assim vocês nos ajudarão. Realmente agradecemos a vocês e amamos o Brasil. Tenham uma ótima noite e espero revê-los. Obrigado! Esta se chama A Touch Of Blessing”. E a saideria foi King Of Errors, que levantou a galera outra vez.

Ao som de um belo e providencial tema de piano, Tom pediu para que todos posassem para uma foto de despedida, caminhou ao canto do palco e solicitou a um fã a sua bandeira, metade brasileira, metade sueca, com o nome do grupo no centro e que havia passado o show pendurada abaixo do segundo camarote à esquerda. Grato pela noite, após exibi-la, o vocalista arremessou-a de volta ao emocionado dono e cravou: “Então, boa noite! Nós amamos vocês!”. E partiu garantindo voltar “em alguns minutos”, alheio à política da casa de rápido esvaziamento para o samba ou pagode noturno, especialmente aos sábados. A bola da vez? Belo! Com quase duas horas de espetáculo, não vai ser nada legal ter que esperar por mais oito anos para rever os suecos. E antes de encerrar o texto, cabe elogiar a inteligente iniciativa de anunciar e transmitir num telão a final da Libertadores entre Flamengo x River Plate, direto de Lima. Assim, quem entrou cedo no Carioca pôde acompanhar a decisão, encerrada no tempo normal a poucos minutos do início da apresentação do Evergrey. Golaço da produção! Agora sim, só restava partir para casa enquanto Departure rolava no som ambiente, escolhida a dedo.

 

Setlist

Intro: Panama (Van Halen)

01) A Silent Arc

02) Weightless

03) Distance

04) Passing Through

05) The Fire

06) Leave It Behind Us

07) As I Lie Here Bleeding

08) Black Undertow

09) Monday Morning Apocalypse

10) Words Mean Nothing

11) I’m Sorry [Dilba Cover]

12) My Allied Ocean

13) All I Have

14) The Grand Collapse

Encore

15) When The Walls Go Down

16) Recreation Day

17) A Touch Of Blessing

18) King Of Errors

 
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