Fear Factory – Fabrique – 06/06/23

Postado em 19 de junho de 2023 @ 14:42

Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Milo Silvestro estréia no Brasil, passa no teste e a evolução na estrada só o melhorará!

A mais recente passagem do FearFactory por São Paulo havia sido em outubro/15, curiosamente também na Barra Funda, especificamente na Clash Club eainda com Burton C. Bell nos vocais. Obviamente, após sua saída, a expectativa pairava sobreo substituto, Milo Silvestro, e não é que ele mandou bem?Aliás, que fique o registro:o italiano tem tudo para se desenvolver!

Antes, porém, abrindo a festa às 19:32, com dois minutos de atraso em relação ao divulgado, o SkinCulture deu o recado em set de trinta e sete minutos e oito pedradas que agradaram quem chegou cedo à Fabrique, a começar por Lazarus Eclipse, de intro, e sua sucessora no próprio Lazarus Eclipse (19), FallOnKnees. No bar, conferindo a performance, notamos Marcello Pompeu, Antonio Araújo e Rodrigo Oliveira (vocalista, guitarrista e baterista do Korzus, a próxima atração), este mais atentamente prestigiando seu filho, Chris Oliveira, também nas baquetas e substituindo Rafael Ferreira no quarteto capitaneado por Shucky Miranda (vocal) e inteirado por Fred Barros (guitarra) e Diego Santiago (baixo).

Ao término da visceral Supernatural Catastrophic e para um recinto relativamente cheio para a média em eventos com abertura, o frontman dedicou BreathingSulfur, “uma música que fala de amor e carinho, a todos os filhos da puta desse mundo” e Set Me Freecontou com Sergio Ogrês, da banda Punição, mandando ver no backing vocal – deu vontade de ouvi-lo cantar uma por inteiro! Destacando os dezenove anos do grupo, Shucky ofereceu Bring Me Back To Life, que nada tem ver com o quase homônimohit do Evanescence, às perdas que tiveram com a pandemia: o empresário Silvio Palmeira e o baixista Gabriel Morada. Tocante!Concluindo o set, mandaram:Devil 19, mais recente single, de 2021;AnOceanOfLamentations; e Suicide Love.

Às 20:32, novamente dois minutos além do oficial, o Korzus dos citados Pompeu, Antonio e Rodrigo, além de Dick Siebert (baixo) e HerosTrench (guitarra), chegou dando voadora no lustre! Não crê? Pense no efeito devastador das sensacionais GuiltySilence, RaiseYour Soul e YouCan’t Stop Me abrindo o repertório para uma pista tomada de fãs! Na boa, não houve pescoço passando impune! Sempre carismático, o vocalista se dirigiu aos presentes preparando terreno para a porretada seguinte: “Boa noite, galera! Estão felizes? Queria dizer a vocês que, enquanto existir um headbanger, um único, que olhar para os meus olhos com felicidade quando estivermos em cima do palco, o metal, para a gente, nunca vai morrer! Never! Never Die!”.

Revisitando KZS (95), fizeram Beware e Namesake, a mais cadenciada What Are YouLooking For manteve o pique e, antes de Discipline OfHate, Pompeu pediu algo inédito em shows do grupo em São Paulo: um corinho de “Olê, olê, olê, olê! Kor-zus! Kor-zus”! Será que nunca havia rolado? Agradecido, retribuiu o carinho: “Muito obrigado! Vocês são muito foda!”. A faixa-título do play de 2010 foi sucedida por Truth, também dele, o mais tocado.Infelizmente botando fim no set arrebatador e “corrido”, com o perdão do trocadilho, de quarenta e cinco minutos, tocaram Correria, única em português e saideira perfeita! Agora é aguardar por novas apresentações dos caras porque o tempo voou a ponto de se forçarem a preterir material deLegion (14). Quem sabe algo numSesc?

Se você fez é detalhista e bom de matemática, fez as contas e percebeu que com um show acabando às 21:17, não daria tempo de o FearFactory vir ao palco às 21:30, conforme prometido. Ninguém reclamou de esperar até 21:57 para ver o mencionado Milo Silvestrosurgirao lado de Dino Cazares (guitarra), Tony Campos (baixo) e Pete Webber (bateria) ao som da composição inaugural da trilha sonora de Terminator 2: Judgment Day (91) e da fala que todo apaixonado pelo conjunto deveria saber proferir de cor: “It was a time ofdarknessanddestruction. A time ofdread. Thankstothetwisted designs of a single man, themachinesmeanttoendwar for all time becametheexecutionersofcivilization. Humanity’shistorytellsusthatsuch times produceheroesandheroinesdedicatedtoturningbackthedarkness. Andso it was, in the 21^stcentury, the Age Of The Machines”.

A primeira pancada? Shock, emendada a Edgecrusher, Recharger e Dielectric. Dezoito minutos e Dino já empilhara incontáveis riffs com a precisão rítmica de uma britadeira para uma pista tomada e insana! Como uma primeira impressão, Milo estava aprovado e finalmente se comunicou melhor numa parada para um respiro: “Tudo bem, São Paulo? Como estão? Prontos para mais um pouco de FearFactory? Preparem-se para chacoalhar as cabeças: You’llnever take my soul”, aludindo a Soul Hacker. Powershifter manteve a pegada até nova e elaborada fala:

“Caso não tenham notado até agora, somos o FearFactory e estamos aqui por duas razões: porque esta banda está de volta e porque esta banda lançou um álbum dois anos atrás chamado AggressionContinuum e agora vamos tocar, pela primeira vez no Brasil, uma música deste novo álbum. Estão prontos? Ela se chama Disruptor”. Na linha “cada enxadada uma minhoca”, o batera do Havok detonava, até tirou um pouco o pé do acelerador ao mostrar gingado com Tony Campos em Linchpin e, numa só tacada, fizeram Descent e What Will Become?,incentivando o pula-pula na pista.

Enquanto observávamos os bumbos sem inscrições, apenas o nome da banda no telão, as camisetas pretas lisas de Tony e Dino, Milo de regata, também sem estampa, e o batera sem nada, Dino finalmente pedia a palavra: “Como estão, Brasil? Acendam as luzes, quero ver todos! Aí sim! Estão se sentindo bem? Gostando do show até aqui? Querem mais? Ok! Esta próxima música que vamos tocar, eu disse que jamais tocaria ao vivo. Mas por estarmos em São Paulo, vamos tocar para vocês. Quero ver todo mundo dizer ‘Open youreyes! Open youreyes!’. Esta é Archetype”.

Pegando gosto pela coisa, o guitarrista se expressou novamente: “Gostaram desta? Vamos levá-los ao nosso segundo disco. Alguém sabe qual é nosso segundo disco? Qual? Vocês disseram Demanufacture? Vamos ver, abram o pit! Vamos lá! Na prática, a roda explodiu a na faixa-título e não é que Dino diria mais? “A próxima música apareceu na trilha sonora de um filme chamado Mortal Kombat. Ela se chama Zero Signal. Quero ver as mãos de vocês para cima!”.

Batendo em uma hora de espetáculo, ele apresentou seus companheiros etirou onda: “Esta é nossa última música! Não sei se convenci vocês, mas é a última música… Ok, vamos ficar por mais um tempo. Sem vocês, não estaríamos aqui e quero que todos repitam depois de mim: ‘I don’twanttolivethatway!’. Esperem… o México cantou mais alto, bem mais alto! Quero ouvir todos até lá atrás. Quero ouvir todos dizendo: ‘I don’twanttolivethatway!’. Esperem aí… Tem um cara mais velho ali no fundo com uma cerveja e ele não disse nada! Até que ele diga a letra, não vamos tocar e, se ele não disser nada, vamos deixar o palco! Ele está bem ali, então mais uma vez: ‘I don’twanttolivethatway!’. Ok, agora ele falou. Esta é Replica”. Divertido! Precisa dizer que a casa pegou fogo?

Dino mostrou-se grato: “Vamos tocar mais três músicas para vocês. Vamos levá-los de volta a 1992, até nosso primeiro disco, Soul Of A New Machine. Esta música vai para todos do Sepultura e os irmãos Cavalera por terem nos levado em turnê, nossa primeira grande excursão pelos Estados Unidos. Esta música se chama Martyr”. Do mesmo full length veio Scapegoat e, concluindo o set, Ressurection, precedeu a fala derradeira de Milo: “São Paulo, muito obrigado pelo apoio e por terem vindo ao show do FearFactory. Vocês são foda e adoramos vocês”. Oitenta e cinco minutos no relógio e a intro ressurgiu marcando a despedida às 23:22, em tempo de caminhar para o transporte coletivo. Em suma, uma noitebem agradável e mais anos de rodagem somente farão bem ao novato.