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Ghost – Espaço Unimed– 21/09/23
Postado em 04 de outubro de 2023 @ 00:13


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: 📷: @rafaelstrabelli

Na segunda noite em São Paulo, Ghost hipnotiza os fãs – mas prega apenas para quem os idolatra?

Como uma religião,com determinadas bandas não há meio-termo: ou você as reverencia ou as evita… E é importante deixar claro que, com relação ao Ghost, este escriba está mais para o grupo dois. Sendo assim, a continuação da leitura a partir desta linha é por sua própria conta e risco e não venha dizer que nãosabia! Mas qual o motivo da “birra”? O primeiro contato foi com o visual doscaras, quando todo mundo passou a falar deles. Figurinos sensacionais e um conceito brutal, certo?

O passo imediato foi ir atrás dos discos e algo não batia, pois a expectativa criada pelos olhos era de conteúdo mais visceral do que um Slipknot, ficando na esfera dos conjuntos mascarados. Não que o som com resgate setentista e atépitadas de progressivo seja ruim (longe disso, aliás!), porém imperava a sensação de ter sido enganado, mesmo que, em conversas subseqüentes, amigos tenham argumentado que justamente em tal contradição residia a “genialidade” de Tobias Forge.

Como missão dada é missão cumprida, rumamos ao Espaço Unimed sem preconceitos a fim de testemunhar o que os suecos ofereceriam, embora este que vos escreve já os tivesse visto no Rock In Rio 2013, sem muitas lembranças a este respeito.E não custa lembrar: a princípio a quinta-feira era data única e o show extra acabou rolando na véspera (ambos esgotados!), infelizmente sem a Crypta“por questões de logística de palco da banda principal”, conforme reportado em seu próprio perfil do Facebook [https://www.facebook.com/photo?fbid=905620624498279].

Com a galera devidamente paramentada, havia gente maquiada como o Papa Emeritus, simulações de sua mitra e não era raro nos depararmos com uma ou outra “freira”. Visando conservar o suspense, todo o equipamento do Ghost permanecia coberto, bem como o backdrop, uma bela alegoria a três vitrais de igreja expostos a posteriori. Às 19:40, cinco minutos antes do divulgado, The Aftermathfoi disparada como intro para as entradas de Fernanda Lira (vocal e baixo), Jéssica diFalchi e Tainá Bergamaschi (guitarras) e Luana Dametto (bateria), mandando Lift The Blindfoldde bate-pronto.

No total, despejaram quarenta e seis minutos do mais saboroso suco de death metal nacional, orgulhando os quechegaramcedo para vê-las. Evidentemente, parte da expectativa residia em rever Fernanda ao vivo, especialmente após o já bastante debatido episódio da “vaquinha online”: será que ela manteria seu típico bom humor? Ou capitularia e entregaria performance mais sisuda? Felizmente ficamos com a mistura de alegria e sobriedade.

Para quem se acostumou a ver as quatro em áreas diminutas, era estranho observá-las com tanto espaço entre si e a única decoração era o pedestal com “facas” em frente da vocalista, em design invertido da capa de ShadesOfSorrow (23).Também dele, fizeram duas consecutivas, The OtherSideOfAnger e Stronghold, e veio a primeira interação mais elaborada de Fernanda: “Boa noite, São Paulo! Nós somos a Crypta e a gente está aqui para tocar death metal para vocês esta noite!”.

Tirando um pouco o pé do acelerador para que os pescoços pudessem compreender o andamento e agitar, Under The Black Wings resgatou EchoesOf The Soul (21), mas logo viriam três do play em divulgação: Lullaby For The Forsaken, The Outsider e PoisonousApathy. Pedindo novamente a palavra, a frontwoman sentenciou: “Muito obrigada! Isso está sendo inesquecível!Muito obrigada por receberem a gente aqui antes da grandíssima Ghost! A gente ainda tem mais algumas músicas e a próxima foi o primeiro single do nosso novo disco cujo primeiro show da nossa nova turnê é hoje aqui! Inesquecível! LordOf Ruins”, funcionando perfeitamente ao vivo com os fãs fazendo os chifrinhos e agitando. A saideira? From The Ashes. Abertura de luxo!

Como primeira escolha na discotecagem de intervalo, foi peculiar ouvir Take On Me(A-ha), com substancial apoio geral! Exatamente às 20:34, baixou-se um enorme pano branco para esconder a movimentação dos roadies, preservando o efeito surpresa de adiante. Oito minutos depois, dispararam KlaraStjärnor, bela composição do pianista sueco Jan Johansen, emendada a quinze minutos de Miserere Mei, Deus, de GregorioAllegri – na prática, umaversão musicada do Salmo 51. Os mais ansiosos “queimaram a largada” erguendo seus celulares e gastando bateria e memória dos aparelhos à toa por dezoito minutos…

Pontualmente às 21:00, Imperiumfoi a intro e, ao seu término, caíao pano enquanto o calor gradativamente aumentava(a rigor, desde o set da Crypta),beirando o insuportável – este foi o cenário a preparar terreno para Kaisarion. Antes e durante Rats, Tobias checou: “São Paulo, estão prontos?” e “Então, estão conosco, São Paulo?” e, a julgar pelas explosões de gritos e ajuda na cantoria, sim, todos estavam! Completando o Ghost, oito NamelessGhouls, sendo: dois guitarristas, um baixista, dois tecladistas, o baterista e dois nos vocais de apoio – de modo recorrente um auxiliava na guitarra e o outro no pandeiro, provavelmente uma mulher, devido à leveza nos movimentos.Caso queira saber um pouco mais sobre eles, a Ghostpedia [https://thebandghost.fandom.com/wiki/Nameless_Ghouls] particulariza os personagens.

Com baixo acentuado, From The PinnacleTo The Pit foi um espetáculo à parte, um breve momento de estrelato a um dos guitarristas no solo frente ao pedestal central: não se sabe se ensaiado e de brincadeira ou não, mas o coitado foi colocado em seu devido lugar com um gesto de “Caia fora!” do frontman. Hilário! E há algo de simplesmente misterioso e cativante na melodia do refrão que primeiro te seduz, então te paralisa e, quando você percebe, o assimilou e está cantarolando: “Fromthepinnacletothe pit, it is a lonnnnnngwaaaaaaydownnnnnn” –impossível e inútil cogitar resistir!

Chegado o momento de melhor se expressar, o vocalistacravou: “Olá, São Paulo! Como estão? Se sentem bem? Deixem-me ouvi-los dizer ‘Sim!’. Legal! Beleza, é muito legal ver tantos de vocês aqui esta noite. Sim! Temos um álbum novo que saiu mais ou menos um ano atrás. Esta música é desse álbum e se chama Spillways”. Cirice, em seu início em camadas sonoras, mostrou-se bastante vigorosa e desta vez Tobias aplaudiu o solo do mesmo Ghoul trolado de outrora. E com luzes nos rostos dos “fiéis” e palmas abertas e erguidas em Absolution, o líder conduzia o que, sem zoeira ou exagero, parecia um culto!

Com Ritual emendada, ele tirou onda: “São Paulo, Brasil! Eu ia contar uma estória engraçada, mas aparentemente não vou. Beleza, ocupe o palco!”, dirigindo-se àquele Ghoul guitarrista e, pelas costas, mostrou-lhe o dedo médio da mão direita. Causando comoção, ele surgiu devidamente caracterizado como o Papa Emeritus IV em Call Me Little Sunshinee a teatralidadeprosseguiu em ConClaviCon Dio, incensando o ambiente e certamente fazendo a alegria do pessoal com rinite no gargarejo.

Em Watcher In The Sky, o dono da festa revisitou o figurino anterior somado a uma cartola preta. Representante singular de Infestissumam (13), Year Zero apresentou nova e bela batina, empilhando trocas noguarda-roupa de fazer inveja a qualquer Adam Lambert da vida! Em todo caso, evitando competir com imagens de YouTube, sequer tentaremos descrevê-la, mas é fato: os detalhes nas caveiras são extraordinários! E batendo em uma hora de set, Spöksonatecoou pela casa abrindo caminho para He Is.Instrumental, Miasma foi o encaixe perfeito para os preparativos de um truque de ilusionismo num acrílico transparente posicionado no meio do palco para que dele saísse outro Papa, vestido de branco e tocando sax.Tobias comentou:

“Obrigado! Como estão? Esta é uma noite muito, muito, muito quente! Se sentem bem? Ok… Bem, estão se divertindo? Gostaram daquele cara? O outro cara! Ele está bem, é nosso próprio Papa. Sabiam que, na verdade, ele era um pecador no passado? Querem cantar uma música que ele costumava cantar? Certo, vamos fazê-la”: Mary On A Cross, do single Seven Inches OfSatanicPanic (19), e com direito a um final falso e título intencionalmente provocativo para um público vociferando-a a plenos pulmões. Seguindo a “missa”, MummyDust foi um petardo e nela um dos tecladistas foi ter seu destaque com um instrumento portátil pendurado no pescoço para se aproximar daplatéia. Perto de suaconclusão, chuva de papel picado dourado e, novamente se comunicando, Tobias caprichou, compensando todas as interações anteriores mais curtas:

“Estão se divertindo? Divertir-se é uma boa sensação, não? Muito embora esteja um pouquinho quente… Temos a sorte de estar perto do final. É uma sensação boa! Qual o problema? Não gostam de finais? Tentem imaginar que estamos fazendo sexo bem aqui, ok? Alcançar o final é uma coisa boa! É uma boa sensação e deveria fazê-los se sentir no ‘post coitum’. Deixem-me ouvi-los dizer ‘Ah!’. É uma sensação boa, tentem aceitá-la! É mais engraçado se vocês cantarem e tentarem se divertir em vez de dizerem: ‘A diversão está quase encerrada!’, ok?. Então deixem-me ouvi-los dizer ‘Yeah’ e ‘Sim’. Temos mais uma música… Parem com isso, vocês estão sendo negativos!”. O discurso sobre coito foi interrompido por um clamor comunitário por Twentiese a resposta gerada foi tão bem-humorada quanto desapontadora:

“Não! Não vamos tocar Twenties! Embora o pedido esteja devidamente registrado, vamos tocar outra música para encerrar o show, mas antes gostaria de dar créditos a todas essas pessoas trabalhando aqui na casa e aqui conosco para garantir que vocês tenham uma noite agradável! Também gostaria de dar reconhecimento à outra banda tocando hoje, convidadas especiais do Brasil: Crypta! Uma banda muito boa,da qual vocês devem se orgulhar e no patamar de outras bandas brasileiras muito boas. Agora, também gostaria que vocês dessem uma salva de palmas a si mesmos por: estarem aqui esta noite; curtirem a vida; se divertirem; e desfrutarem do momento. Esta é a chave para uma vida boa: apreciar o momento tanto quanto consigam, sempre!”.

Evidentemente, haveria a chance de inteligentemente bajular todos: “Às vezes você se diverte, às vezes não, mas todas as vezes em que estivemos aqui em São Paulo e viemos ao Brasil, vocês sempre demonstraram muita hospitalidade e apoio. E vocês sempre riem das minhas piadas, o que significa muito. Então, do fundo de nossos corações aqui do palco, muito obrigado, Brasil!” – e fizeram RespiteOn The Spitalfields, grandiosa e possivelmente o mais próximo que estivemos de uma “balada” a noite toda.

Dono de magnetismo ímpar,ao regressar para o encore num terno brilhante, Tobias manteve o clima amistoso: “O que estão fazendo aqui? Vocês deveriam ir para casa. O show acabou, nós terminamos, vamos beber cerveja. Boa noite! Tive que pegar meu chapéu para voltar aqui, disseram que ainda havia pessoas e falei: ‘Tirem-nas daqui!’. E me disseram: ‘Não, você terá de fazer isso’. Falei: ‘Ok!’. Achei que teríamos menos de vocês, mas parece ser uma casa lotada, então o que vocês querem?”.Apergunta inocente produziu renovados pedidos por Twentiese ele garantiu:

“Posso dizer a vocês: não haverá Twenties e, do fundo do meu coração, sinto muito por isso, mas simplesmente não podemos tocá-la aqui agora. Porém, da próxima vez, prometo a vocês que a tocaremos para vocês. Sei que soa frágil, mas, em face dos fatos, vou compensá-los, ok? Então, o que querem? Duas músicas? Quatro? Sem chance, cara! Duas músicas! Beleza, três músicas? Certo, temos um ganhador: é claro que tocaremos três músicas para vocês. Acham que deixaríamos vocês sem um beijo de boa noite?”, aludindo a Kiss The Go-Goat.

Em nova indireta, sinalizou: “Certo, pessoal, estão usando seus sapatos para dançar? Porque vamos dançar! Querem dançar? Agora quero que cada um de vocês pule!” – Dance Macabre e dá-lhe chuva de papel picado, desta vez colorido. Ele cobrou: “Música número três! Certo! Lembrem-se agora que vocês prometeram: se tocássemos três músicas, vocês todos iriam embora depois disso. E é muito importante que o façam pacificamente”. Tentamos entender o restante, mas a voz misturada ao alto volume dos instrumentos tornou a tarefa proibitiva. A saideira? Square Hammer.

Despedindo-se, o frontman esbanjou sinceridade: “São Paulo, Brasil! De onde vocês sejam, amamos cada um de vocês. Obrigado a todos por estarem aqui nesta noite adorável. Muito obrigado!”. Enquanto o povo voltava à realidade, a versão de Emmylou Harris para Sorrow In The Wind (não o original de Jean Ritchie) embalava a saída. Quem se demorou ouviu pelasdependências SåLängeSkutanKanGå, do álbum Sommarnatt – Per MyrbergSjunger Taube (07), com Per Myberg cantando exclusivamente material do sueco Evert Taube. Somando-se os dezoito minutos de intros, a catarse total ultrapassou duas horas e dez minutos e vale registrar o magnífico suporte coletivo na cantoria de praticamente todas as músicas (sim, todas!)

Qual a lição tirada? Visualmente a noite foi riquíssima e, se você deixar a implicância de lado, algumas faixas podem te surpreender e há de se admitir: se, por um lado, professam para os seus e eles são muitos, por outro, ninguém esgota o Espaço Unimed duas vezes por acaso… De cabeça, este repórter se lembrou somente do Helloween, ainda sob o nome de batismo dolocal. Dá para afirmar que dificilmente angariarammais membros para o rebanho, mas, conforme dito no parágrafo inicial, se você pertence ao séquito e os viu, adorou! Se veneraa banda e não teve como conferir seu potencial ao vivo, lamente. Agora, se não curtia o som e por lá caiu de pára-quedas, só integrará o fã-clube se abrir a cabeça. Tente, o esforço pode não ser em vão!

 

Setlists

Crypta

Intro: The Aftermath

01) Lift The Blindfold

02) The Other Side Of Anger

03) Stronghold

04) Under The Black Wings

05) Lullaby For The Forsaken

06) The Outsider

07) Poisonous Apathy

08) Lord Of Ruins

09) From The Ashes

Outro: The Closure

 

Ghost

Intro 1: Klara Stjärnor [Jan Johansen]

Intro 2: Miserere Mei, Deus [GregorioAllegri]

Intro 3: Imperium

01) Kaisarion

02) Rats

03) From The Pinnacle To The Pit

04) Spillways

05) Cirice

06) Absolution

07) Ritual

08) Call Me Little Sunshine

09) Con Clavi Con Dio

10) Watcher In The Sky

11) Year Zero

Intro: Spöksonat

12) He Is

13) Miasma

14) Mary On A Cross

15) Mummy Dust

16) Respite On The Spitalfields

Encore

17) Kiss The Go-Goat

18) Dance Macabre

19) Square Hammer

Outro 1: Sorrow In The Wind [Emmylou Harris]

Outro 2: SåLängeSkutanKanGå [Per Myberg]

 
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