Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Flavio Santiago
Pela terceira vez na carreira, o In Flames incendeia São Paulo!
A estréia do In Flames em São Paulo foi no longínquo fevereiro/09, os suecos não regressavamàcidade desde outubro/17, quando passarampelo extinto Via Marquês, eo resumo do retorno foi: eles simplesmentedetonaram no Tokio Marine Hall!
Antes o Kryour segurou a onda em set de quarenta e um minutos e o mais legal foiperceber que a introHowever… KeepTrying, numa veia progressiva, diferia bastante, a princípio, da pancadaria em forma deAnxiety, a abrirafesta, e de RestlessSilence. Porém, conforme o repertório avançava, o estranhamento ia se dissipando e influências melódicas cheias de quebradeira somadas à técnica e ao peso se encorpavam na sonoridade do grupo fundado em 2014 e integrado por Gustavo Iandoli (vocal/guitarra), Guba Oliveira (guitarra), Gustavo Muniz (baixo) e Matt Carrilho (bateria).
Encerrado o par do débutWhereTreasures Are Nothing (19), veio a primeira interação elaborada do frontman: “Fala, Tokio Marine! Somos o Kryour, de São Paulo, é um prazer enorme estar tocando para vocês esta noite. Incrível! Já conhecem o Kryour? Conhecem? Pô, tem bastante gente que não conhece e isso é muito bom para a gente! Enfim, esse próximo som é dos novos, uma música muito importante para mim, a escrevi num momento muito difícil: Colorful”. Sem problema algum não detalhar, mas podia e todo mundo ficou intrigado quanto à estória. Na prática, enfileiraram quatro consecutivas do EP CreaturesDwellMyRoom (23), na ordem,sucedida porDestructive Hope, WhyShould I Know?eChrysalism.
Gustavo se dirigiria aos presentes uma última vez: “Rapaziada, muito obrigado! Bom, essa próxima música é muito importante para a gente porque foi a primeira da banda. Eu me lembro de quando era só um molequinho com treze anos compondo esta música e hoje, tocar para vocês, é um bagulho muito foda! Ela também é um pouquinho mais rápida, vamos começar a se animar aí, rapaziada! Vamos aquecer e mostrar que o Brasil não está de brincadeira para o In Flames. Vamos lá? Quero ouvir um gritão altão de vocês com toda vontade. Fechou? Agora, hein? Vamos esquentar essa porra aí, hein? ChaosOfMy Dream”, single de 2015, e se foi a primeiríssima escrita, começaram com o sarrafo elevado!
Concluindo a participação do quarteto, fizeram The Leaving enquanto observávamos o buraco da fechadura na capa do mencionado WhereTreasures Are Nothing como decoração de palco na pele do bumbo. A rigor, o backdrop com o nome do headliner estava pendurado e aí fica uma dica: é fundamental existir identificação visual do open act!Afinal de contas, sempre terá algum desavisado se interessando pela banda e querendo saber o essencial: como ela se chama!Vai um exemplo? Indo embora, este repórter transitava pelabarraquinha do merchan dos brasileiros e viu um cidadãoafoito fotografando a capa do CD ali vendido e afirmando: “Só para registrar o nome da banda! Gostei deles”. Basicamente o cara curtiu e não encontrou a informação “ao vivo”.
Durante a espera de cerca de quarenta minutos, sendo justo, constatávamos lotação razoável na pista comum. A ponto de ser um mico? Não, mas nem o preço de cento e cinqüenta reais para o setor, com doação de alimentos, encorajou a galera a deixar o conforto do lar. Possíveis fatores para explicar as áreas vazias? Caberiam: ser meio de semana e a localização da casa, relativamente afastada do centro, mas também certa preguiça dos bangers e a forte concorrência de artistas num novembro insano. Para focarmos no recorte de três a dezessete do mês, com perfis, públicos e grandezas destoantes, tivemos VileVallo, Angra, Måneskin, Vader, Agnostic Front, a Horror Expo e Alter Bridge, e ainda teremos Red Hot Chili Peppers, Glenn Hughes, Roger Waters, Mastodon/Gojira, Alanis Morissette, Saxon e Leprous…O bolsonão agüenta!
Se o objetivo era preencher os espaços, tampouco adiantou atrasarem sete minutoso início de 21:00, pois não havia quem fosse chegar em cima da hora e, vai ver, a audiência do In Flames em São Paulo fossea que estava lá, insuficiente para abarrotar o Tokio Marine.Mas que Anders Fridén (vocal), BjörnGelotte e Chris Broderick (guitarras), Liam Wilson (baixo)e Tanner Wayne (bateria) mereciam mais gente osassistindo, ah, sim, mereciam! Só era um tanto esquisito notaro ex-Nevermore e ex-Megadethocupando o lado direito do palco e de cabelos um pouco mais curtos.
The BeginningOfAllThingsThat Will End foi disparada como intro e seguida de The GreatDeceiver,Pinball Map, incendiando a massa, com o perdão do trocadilho, e com imenso apoio coletivo na cantoria, e Everything’sGone, até as palavras inaugurais de Anders, uma vez que os gritos de “In Flames! In Flames!” e/ou “Olê, olê, olê, olê! In Flames! In Flames!” se avolumavam a cada intervalo, tornando-se inviável ignorá-los:
“Deveríamos despachar vocês num ônibus, avião ou navio e levá-los à Europa. As pessoas por lá precisam aprender essas coisa. Amamos o Brasil e elas não têm nada em comum com você,certo? Sinto no ar que será uma ótima noite. Vocês vão acordar amanhã pensando: ‘É… Foi um show legal pra caralho!’. Vamos percorrer tudo, de nosso começo aos tempos atuais. Esta próxima vem de um álbum chamado Colony… Esta sim é uma reação muito boa! Amo este lugar! A música se chama OrdinaryStory”.
Para DeliverUs, provavelmente alheio ao conceito de “ingresso premium”, pedia a todos para se aproximarem e anunciou: “Obrigado! Então, como eu disse, vamos embarcar numa jornada. Essa próxima música vem do comecinho do In Flames, de nosso primeiro álbum chamado LunarStrain e ela se chama BehindSpace”.A guinada aos primórdios fez a alegria dos fãs das antigas e você já parou para pensar que o lançamento foi quase três décadas atrás? Ele daria nova contextualização:
“Obrigado! Essa foi ótima! Acho que vocês estão indo bem! Certo, vamos avançar um álbum no tempo, esta é do fantástico álbum, uma linda peça de arte chamada TheJesterRace. Espero que vocês o tenham em suas coleções e, se não o tiverem… Nem sei, desculpem-me… Eu ia dizer alguma merda, mas como serei agradável esta noite, não o farei. Esta música se chama Graveland”.
A esta altura do campeonato, sabe o que causava surpresa? As pausas entre as músicas, normais quando surgiam as falas, mas não dava para “colar” pelo menos duas pedradas? Em todo caso, os elogios não rareavam eo maravilhado frontman se comunicariaapós renovadas demonstrações de carinho: “Obrigado! O próximo álbum se chama Whoracle… Vocês são os verdadeiros artistas! Nós estamos aqui de férias, obrigado!. Certo, aí vai outra antiga, é de um álbum chamado Whoracle. Essa foi uma reação de merda, meus amigos… Vamos começar de novo: o próximo álbum se chama Whoracle. E somos amigos de novo!Ela se chama TheHive”, em que pegou o celular de um sortudo no gargarejo e saiu filmando. A propósito, que tremendo solo de Björn!
CloudConnected gerou uma leva de urros em “Hey! Hey! Hey! Hey!” e umadúvida: por que somente ela de RerouteToRemain? Especialmente pela receptividade no momento, com ela vociferada a plenos pulmões pelo povo! Na linha do “aceite que dói menos”, na enésima resposta em tons de “Olê, olê, olê, olê! In Flames! In Flames!”, o vocalista capitulou:
“Obrigado! Esperem… Ah, façam de novo! Vamos lá! Sabem? Deveríamos samplear isso e colocar em nosso próximo álbum! Que tal? Seria ótimo! Tem alguém gravando isso? Seria a intro do próximo algum do In Flames.Teria funcionado, obrigado! A próxima é de um álbum chamado Clayman. Fomos ao México, Equador, Chile e Argentina. Agora é com vocês, Brasil. Esta é a capital do metal na América do Sul? Esta se chama OnlyForTheWeak”. Ponto alto da noite e nela o pau comeu solto: teve cerveja voando e uma enormidade de pessoas pulando como se não rolasse expediente na sexta-feira! Lindo de se ver e de ouvir e Mr. Fridén admitiu: “Digo que vocês são os melhores na América do Sul! Muito obrigado!” – nós é que agradecemos.
No decorrer deTheQuietPlace, um trio de bombeiros civis caçava fumantes pela pista comum – um deles agitando, aliás! Seria o receio de algo “em chamas”?… E finalmente aconteceu um salto no tempo: “Obrigado! Então, um pouco antes neste ano, lançamos nosso décimo quarto álbum e queremos tocar material novo para vocês. Esta é a faixa-título, ela se chama Foregone. Acho que dá para vocês dançarem com ela também” – na verdade, a Pt. 1, e o “dançar” obviamente se referia a uma roda! Puta petardoe do mesmo álbum, ocorreu uma homenagem sacana na seguinte: “Esta próxima não é sobre você envelhecer, Paulo, mas a dedicaremos a você. Sinto o que você pode sentir. Ela se chama StateOfSlowDecay”, e o “Paulo” em questão era o baixista do Sepultura, circulando tranqüilamente pelo recinto.
Bem cantada e décima quarta do geral, Alias foi a primeira “emendada” e, mesmo assim, entrecortada por uma rápida mensagem ininteligível de Anders. E para o arregaçoTheMirror’sTruth, também de A SenseOfPurpose (08), houve uma solicitação dele: “Certo, queremos ver o maior circle pit da noite. Abram isso aí! Não fiquem parados só olhando. Se vocês forem parte disto esta noite, vão acordar amanhã pensando: ‘Ei, me diverti pra cacete!’. Não, não… Este era o tamanho na Argentina, abram isso aí! Agora coloquem os celulares em seus bolsos e comecem a dançar”. Ele tinha razão, foi divertidíssimo! Eao apresentar os companheiros, expressou gratidão à platéia:
“Vocês significam o mundo para nós e não poderíamos fazer o que fazemos aqui em cima sem pessoas como vocês, então muito obrigado por virem aqui esta noite. Começamos em algum lugar em Gotemburgo muito tempo atrás e estamos aqui no Brasil, então muito obrigado! Querem saber? Deveríamos cancelar uns shows e ficarmos aqui em São Paulo! Sair de férias,fazer muitas festas, ir às casas de vocês, trocar umas idéias com as mães e os pais de vocês…”.
Depois sobrou gentileza e bom humor com um colega ao destacar o parceiro mais longevo no conjunto: “Chris, me desculpe, sei que é difícil, mas este é o melhor guitarrista com quem já toquei. Palmas para BjörnGelotte! Nos músculos você ganha, Chris, mas ele é melhor. Beleza? É isso, boa noite! Vamos nessa, quero ver vocês cantando esta comigo. Ela se chama I AmAbove”.
E cravou a saideira: “Muito obrigado! Isso é tudo o que temos. Nós nos divertimos, foi legal e é isso! Nós nos veremos na próxima, meus amigos,vocês estão cansados… Muito obrigado, eu já disse: vocês significam o mundo para nós e não poderíamos fazer o que fazemos sem vocês, então muito obrigado! Queremos agradecer a todos que trabalharam aqui esta noite, à banda que tocou antes, à nossa equipe e, o mais importante, a todos vocês. Tenham uma ótima noite, cuidem-se! Fomos ao mundo todo e este mundo atual é um lugar louco pra caralho… Boa noite, até a próxima, meus amigos. Esta música se chama TakeThisLife”.
Na frieza dos números, da discografia inteira, apenas Battles (16) acabou preterido e, das dezoito composições, incluída a intro, dez eram “filhas únicas” de seus plays: Everything’sGone, de SirenCharms(14); OrdinaryStory, de Colony (99); DeliverUs, deSoundsOf A Playground Fading (11);Behind Space, de Lunar Strain (94); Graveland, de The JesterRace (96); The Hive, de Whoracle (97);CloudConnected, de RerouteToRemain – FourteenSongsOfConsciousInsanity (02); TheQuietPlace, deSoundtrackToYour Escape (04); I AmAbove, de I, The Mask (19); e Take This Life, de Come Clarity (06) – evidenciando o cuidado em mesclar e tentar abranger amaior quantidade de full lengths em propostarespeitosa e admirável! E juntando-se Let Me PutMy Love IntoYou, do AC/DC, como outro, o combo completou noventa minutos de performance super agradável. Que voltem logo!
Setlists
Kryour – 41’
Programado: 19:45 / Real: 19:47
Intro: However… KeepTrying
01)Anxiety
02)RestlessSilence
03)Colorful
04)Destructive Hope
05)WhyShould I Know?
06)Chrysalism
07)ChaosOfMyDream
08)The Leaving
In Flames– 1h30’
Programado: 21:00 / Real: 21:07
Intro: The BeginningOfAllThingsThat Will End
01)The GreatDeceiver
02)Pinball Map
03)Everything’sGone
04)OrdinaryStory
05)DeliverUs
06)Behind Space
07)Graveland
08)The Hive
09)CloudConnected
10)Only For The Weak
11)The QuietPlace
12)ForegonePt. 1
13)StateOfSlowDecay
14)Alias
15)The Mirror’sTruth
16)I AmAbove
17)Take This Life
Outro:LetMyPutMy Love IntoYou [AC/DC]