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Jon Spencer :::03/04/25 ::: Sesc Avenida Paulista
Postado em 24 de abril de 2025 @ 18:57


Texto e Fotos: Flavio Santiago

Jon Spencer no Sesc Avenida Paulista — uma noite de suor, fuzz e destruição rítmica

Naquela sexta-feira à noite, ao adentrar o Sesc Avenida Paulista, já dava pra sentir que a pancada seria séria. Jon Spencer, lenda viva da sujeira sonora que mistura garage, punk, blues e tudo mais que for barulhento e sexy, trouxe sua nova formação para São Paulo — e que formação! Ao lado dele, estavam os talentos absurdos de Kendall Wind no baixo e Macky “Spider” Bowman na bateriado explosivo The Bobby Lees. E, olha… que trio! Se alguém ainda tinha dúvida de que o rock pode soar fresco e insano em 2025, teve que engolir com gosto.

O show começou com “Get It Together”, e de cara foi como se o palco fosse engolido por uma avalanche de groove. Jon Spencer continua sendo o frontman magnético e provocador que sempre foi, mas foi impossível não deixar o olhar escapar para Kendall, com sua postura firme e riffs pesadíssimos que sacudiam o teatro inteiro. Ela é o tipo de musicista que não precisa de firula pra hipnotizar — ela domina o instrumento com precisão e crueza. E Macky? Um monstro atrás das baquetas. Seu estilo selvagem e caótico parecia puxar energia de outra dimensão. Era como se Keith Moon tivesse reencarnado num corpo novo, jovem e faminto por destruição rítmica.

A sequência de covers e faixas da carreira inteira de Jon foi um presente para os fãs. Teve o groove nostálgico de “Nothing Can Bring Me Down” dos Twilighters, a barulheira deliciosa de “Wrong”, e o delírio coletivo em “Do the Trash Can”. A plateia já estava entregue, mas o ataque com “Afro” e “2 Kindsa Love” — clássicos da Blues Explosion — elevou o nível. Foi como revisitar um porão sujo dos anos 90 com o som no último volume.

Mas foi em “Ole Man Trouble”, o cover de Otis Redding, que a banda mostrou um outro lado: soul denso, tocado com feeling e pegada. Kendall brilhou aqui de um jeito mais sutil, segurando tudo com elegância, enquanto Jon fazia seu melhor preacher-blues-punk em cima da base.

Talk About the Blues” foi um dos pontos altos: a plateia gritou cada linha com ele, e o trio parecia em transe. Macky estraçalhava a bateria como se cada virada fosse a última da vida.

No final, a trinca com “Junk Man”, “Fancy Pants” e “(Sometimes You Got to Be) Gentle” entregou a mistura perfeita de caos, charme e intensidade que define Jon Spencer. Encerrando com “I’m a No-Count”, cover do Ty Wagner, Jon e sua banda pareciam ter deixado o palco em chamas — e nós, na plateia, completamente exaustos e agradecidos.

Foi uma aula. Um lembrete de que o rock sujo, com alma e sangue, ainda pulsa — especialmente quando está nas mãos (e nos pés, e nos pulmões) de gente como Jon Spencer, Kendall Wind e Macky Spider Bowman. Um dos shows mais intensos que já presenciei.

 
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