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Lamp ::: 05/10/25 ::: Cine Jóia
Postado em 07 de outubro de 2025 @ 02:24

Lamp desembarca no Brasil: uma noite de sutilezas e encantamentos

Texto e Fotos: Flavio Santiago

O Cine Joia foi palco de um momento histórico para os fãs de música japonesa: a primeira apresentação da banda Lamp no Brasil. Para muitos ali , inclusive este que vos escreve — era a oportunidade de testemunhar ao vivo uma aura sonora que até então só existia em gravações e playlists. E, felizmente, a expectativa foi mais que correspondida: Lamp trouxe ao palco um show delicado, íntimo, mas cuidadosamente construído para encantar e envolver.

Formada em 2000, a banda Lamp é composta por Taiyō Someya (guitarra, teclados), Yusuke Nagai (vocais, guitarra, baixo, teclados) e Kaori Sakakibara (vocais, flauta, acordeão, teclados)

Musicalmente, Lamp é difícil de rotular com precisão: conversam com o shibuya-kei, city pop, jazz pop, “música de café”, e não raro fundem elementos de bossa nova, soul, funk e jazz em suas composições. Essa miscigenação sonora, aliada a arranjos atmosféricos e à voz suave de Kaori e Yusuke, confere ao som do trio uma qualidade quase cinematográfica — algo ideal para uma experiência ao vivo que privilegia emoção mais do que espetáculo ostentoso.

Antes desse show no Brasil, Lamp já havia expandido gradualmente seu alcance fora da Ásia, impulsionada inclusive por uma onda de popularidade nas redes, com músicas como Yume Utsutsu viralizando em plataformas como TikTok. Ainda assim, trazer a turnê ao Brasil representa um marco: conectar diretamente com fãs latino-americanos em solo, com a chance de traduzir ao vivo tantas sensações que só existiam em áudio.

O show começou com “Hatachi no Koi”, e foi como abrir uma janela para um mundo de sonhos. A canção surgiu delicada, envolta por uma aura quase cinematográfica, enquanto as luzes suaves do palco traduziam visualmente o que o Lamp faz com o som: transforma o cotidiano em poesia. Em seguida veio “Telephone Call”, e o público já estava totalmente entregue. A comunicação entre banda e plateia se deu mais pelo olhar do que pelas palavras. Era como se o Lamp dissesse “arigatou” com acordes e o público respondesse com silêncio respeitoso, uma reverência espontânea.

Com “Kimi Ga Nakunara”, o clima se aprofundou. A melancolia natural da música, que fala sobre ausência e o tempo que passa, encontrou eco em quem ouvia. Era impossível não se sentir tocado. “Hirogaru-Namida” trouxe um pouco mais de intensidade, deixando o ar vibrar, enquanto “Raindrop City” — uma das canções mais queridas pelos fãs — transformou o Cine Joia em uma metrópole imaginária, úmida, cheia de reflexos, onde cada nota parecia o som de uma gota caindo na calçada.

O meio do show foi uma sequência perfeita de sutilezas. “Windy Afternoon”, “Moon Ride” e “Yokaze” formaram uma espécie de viagem sensorial. A primeira, ensolarada e leve; a segunda, introspectiva e quase espacial; a terceira, uma brisa noturna traduzida em melodia. Era música para fechar os olhos e deixar o corpo ser levado. “Hisoyakani”, na sequência, reduziu tudo à essência: voz, respiração, silêncio e o dedilhar de acordes que pareciam feitos de porcelana.

Quando tocaram “The Night Squall”, a atmosfera mudou. A tempestade prometida no título apareceu — mas uma tempestade contida, feita de emoções internas. Era como se o público estivesse dentro do olho do furacão, em total paz enquanto o som girava ao redor. Em “Autumn in City ‘A’”, veio a melancolia das folhas caindo; em “Sachiko”, o carinho de uma lembrança guardada com ternura. Cada canção parecia uma pequena história, e o público, cúmplice silencioso dessas narrativas delicadas.

O show caminhava para o fim com “For Lovers”, que soou como uma carta não enviada, seguida por “Yume Utsutsu”, momento em que o Cine Joia se transformou completamente. Era a música mais esperada da noite — aquela que viralizou no TikTok, que apresentou o Lamp a uma geração nova de ouvintes. Quando os primeiros acordes surgiram, uma onda de reconhecimento atravessou a plateia. Gente cantando baixinho, sorrisos tímidos, olhos marejados. Foi o instante em que a conexão entre Japão e Brasil se tornou algo real, palpável, quase espiritual.

Depois de “Chilly Spectacle”, “Love Letter” e “The Other Side of a Rainy Night”, o clima era de despedida. Três músicas que pareciam feitas para fechar o círculo da noite — o frio, o amor, a chuva. Tudo se encaixava como uma trilha sonora de filme romântico que ainda não foi filmado. E então, no bis, veio “Last Train at 25 O’Clock”, uma escolha perfeita. Era o trem que parte tarde demais, o fim que se recusa a chegar, o último abraço antes da saudade. A música foi recebida com silêncio e depois com aplausos longos, sinceros, emocionados.

Ao final, o Lamp deixou o palco da mesma forma que entrou: sem alarde, mas com a certeza de que havia criado uma noite inesquecível. A sensação era a de ter presenciado algo raro — um show que não precisava provar nada, que se sustentava apenas na beleza do som e na delicadeza de sua execução. No mundo acelerado em que vivemos, ver uma banda que canta com calma, que respeita o silêncio e que transforma o simples em sublime é quase um ato de resistência.

Saí do Cine Joia com a cabeça leve e o coração cheio. O Lamp não fez um show, fez um sonho acordado. E o mais bonito é saber que esse sonho foi coletivo — compartilhado entre a banda, o público e o ar que vibrava em cada acorde. Que voltem logo. Porque agora que o Brasil ouviu, ninguém mais quer esquecer o som que vem do outro lado da chuva.

SETLIST

Hatachi No Koi
Telephone Call
Kimi Ga Nakunara
HIROGARU-NAMIDA
Raindrop City
Windy Afternoon
Moon Ride
Yokaze
Hisoyakani
The Night Squall
Autumn in City “A”
Sachiko
For Lovers
Yume Utsutsu
Chilly Spectacle
Love Letter
The Other Side of a Rainy Night
Encore:
Last Train at 25 O’clock

 
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