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MACHINE HEAD:::29/10/2023 ::: TOKIO MARINE HALL
Postado em 03 de novembro de 2023 @ 23:37


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos : Flavio Santiago

Pintou um candidato de peso ao show do ano!

Já eram oito anos desde a última vinda do Machine Head a São Paulo no extinto Via Marquês em junho/15… Imagine a expectativa a partir da confirmação da data pela cidade (fora Rio de Janeiro e Curitiba, respectivamente na véspera e antevéspera)! E deve-sedestacar o esforço da HonorSounds, fazendo o possível para promover o giro: a começar pelo “Pocket Show”/ Meet And Greet de 05/10, entre aspas porque a AnEveningWithRobbFlynn, certamente inspirada na turnê AnEveningWithMachine Head 2023,durouduas horas de acordo com fontes confiáveis; e pela entrevista coletiva online com o músico no dia seguinte.

Adiantando, infelizmente não pudemos participar de tais eventos, então os elogios deste escriba passam longe de qualquer tentativa de bajulação, fora o fato de ter adquirido ingresso para o setor premiumdo próprio bolso e ter desenvolvido este texto voluntariamenteapós a compreensível negativa de credenciamento pelo volume de pedidos. Em todo caso, previa-se uma extensa jornada, pois, para ficarmos em dois exemplos de tours na linha de “AnEveningWith” ocorridas no Brasil,o Dream Theater em setembro e outubro/14 (sete datas) e Steven Wilson em maio/18 (Carioca Club), tocaram em torno de três horas… Nodomingo foram duas horas e meia de Machine“Fucking” Headpercorrendo sua discografia inteira e forte aspiranteao que de melhor tivemos ao vivo em 2023!

Devido ao temporal que castigava a cidade e ao “problema logístico” de corretamente termos de encarar a fila como um “civil”, receávamos acessar a pistacom o Project46mandando bronca, mas, conforme prometido, pontualmente às 19:15, soou o terceiro sinal (sim,igual a um teatro) e vieram os comerciais e avisos de segurança da casa quando observávamos os banners laterais do headliner a postos e um imenso “46” como backdrop. Pancadaria mesmo só às 19:20 ao detonaremcom Terra De Ninguém, escancarando influências de Suicide Silence no vocal de Caio MacBeserra eseu admirável moicano vermelho de fazer inveja ao Pica-Pau, junto a Jean Patton e ViniCastellari (guitarras) e Betto Cardoso (bateria).

Faltou o baixista? Caio apresentou Baffo Neto em Violência Gratuita e, aliás, passou da hora de ele ser valorizado, pois o cara toca pra cacete e, por ser discreto, pouca gente repara. O frontman ainda revelou um detalhe interessante acerca da participação do quinteto no rolê: “E aí, São Paulo? Tá bonito isso aqui, hein? Antes de começar o próximo som, mano, quero agradecer a cada um de vocês e principalmente à HonorSounds, que, aos quarenta e nove do segundo tempo, atendeu a um pedido do Robb chamando a gente para tocar aqui hoje. Em cima da hora, acordando todo mundo de manhã e… Então, senhoras e senhores, isto aqui é o Project46, metal soco na cara aqui de São Paulo, e isso aqui vai virar CapaDeJornal”, com riffs matadores que te fazem pensar o que houve para a banda não ter estourado ainda mais. Seria a opção por letras em português? Mas Tr3s (17) tem versões em inglês! Enfim, vá lá saber…

Dor fechou uma trinca de Doa A Quem Doer (11) e, meio embolado com o ruído chuvoso de Na Vala (não ficou claro se de modo proposital ou acidental, até porque ela foi cortada), Caio fez nova descrição: “O próximo som fala justamente sobre ignorar as vozinhas. Você está crente que o bagulho vai virar e sempre tem um filho da puta que faz tudo dar errado e te puxa para trás. O próximo som fala justamente sobre não escutar essas vozes, segurar as rédeas da sua vida e seguir em frente. Ele se chama Rédeas”, seguida de Pânico e o arregaço Corre, completando o segundo trio de composições do mesmo play, curiosamente do citado Tr3s.

O vocalista ainda destrincharia duas composições: “Isso aqui é a ‘Sessão do Descarrego’ do Project46 e garanto a vocês que na segunda-feira vocês vão estar mais leves. O próximo som foi feito em 2014 ele criou um hino para nós. No começo, a gente achou que era só um alerta, é normal, aí virou um sinal”, para a contagiante Erro +55; e “O próximo som fala sobre você dar a volta por cima: uma hora você está lá embaixo, outra hora você está de pé. Então, mano, você tem que aprender quando está lá embaixo. Aliás, todo mundo tem um fogo, uma fagulha, aqui dentro e se esquece às vezes porque a sociedade come sua mente. Nessas horas você tem que se esquecer de todo mundo, acreditar em você e dar a volta por cima (…). O próximo som se chama Pode Pá e quero ver todo mundo soltar para fora o que está carregado aqui”.

O corte na fala acima se deu pela única mancada do set: pedir para todo mundo se ajoelhar e pular… Para os tiozinhos atuais, incluindo este que vos escreve, o gesto jamais teve graça,sequer na juventude, desde o primeiro testemunho in loco da brincadeira, especificamente na estréia do Slipknot no país em setembro/05 na Arena Anhembi, como parte do Chimera Music Festival. E quer saber? Esse lancejá deu e metal não é crossfit… Por fim, uma breve versão de Foda-Se – Se Depender De Nós antecedeu Acorda Pra Vidae, se a promessa ao longo do repertório era de quarenta e cinco minutos, bastou inverter os dígitos: entregaram cinqüenta e quatro numadas últimasoportunidades de assistir a Jean com o grupo em São Paulo, visto que ele declarou estar logo se separando de seus colegas.De toda forma, eles estarão no Carioca Club em 25/11.

Se o Machine Head concorria com Primal Fear na Fabrique, Marduk no VIP Station e Obscura no Carioca Club, sua base de fãs se fez representar no Tokio Marine mesmo não dando sold out. E se o anúncio garantia RobbFlynn (vocal/guitarra), Wacław “Vogg” Kiełtyka (guitarra), JaredMacEachern (baixo) e Matt Alston (bateria) no palco às 20:30, DiaryOf A Madman ecoava como intro nove minutos depois enquanto notávamos a arte de Bloodstone& Diamonds (14) como backdrop até Imperium, única de Through The AshesOfEmpires (03) no set, efetivamente inaugurar os trabalhos, colada à seminal TenTonHammer e umadúvida brotar na cabeça deste repórter: as antigas, especialmente as de BurnMyEyes (94) e The More ThingsChange… (97), seriamimbatíveis?

ChøkeØn The AshesØfYøurHatetrouxe o álbum em divulgação à pauta e sabemos que as fontes das músicas de OfKingdom And Crown (22) são estilizadas e todas em maiúsculo, mas visando manter um padrão, utilizaremos somente a primeira letra em caixa alta.NowWe Die representou o mencionado Bloodstone& Diamonds (14) e, mera coincidência ou não, Robb deixou temporariamente o palco no exato momento do solo de Vogg, retornando para auxiliá-lo. The Blood, The Sweat, The Tears a sucedeu e se, à época, The BurningRed (99) foi contestado em função da mudança de direcionamento, incluindo no visual, e do flerte com o new metal, pelo menos ali não houve rejeição – teria o disco envelhecido bem?

Um tanto cadenciada, Unhalløwed acalmou os ânimos, reaquecidos em NoneButMyOwne Take MyScars. Locust foi ainda mais perfeita ao vivo, sob linda iluminação alternada de verde e amarelo e, somadaà intro, superava-se a primeira hora cronometrada. Single de 2016, IsThereAnybody Out There?,foiescolha surpreendente pelo simples fato de não constar em full lengths, e como basta um coro em “Ô, ôôôô, ôô, ô!” para o brasileiro se derreter, a maravilhosa NøGøds, Nø Masters largou em vantagem!

Em sua primeira interação elaborada, Robb se divertiu: “Como estão? Saúde a todos! Isso foi silencioso demais para São Paulo, Brasil… Eu disse ‘Saúde’! Bem melhor!”, no tradicional arremesso de copos com dois dedos de cerveja (a rigor, ele já lançara outros), com direito a um “Vai, caralho” para encorajara “recepção do passe”. Ele retomou de maneira sincera: “Vai ser uma noite daquelas, São Paulo! Vou dizer o seguinte: estamos nos divertindo, amigos. Obrigado por virem e se lembrarem do Machine Head porque, sabem, só tocamos três vezes em São Paulo. Esta é a terceira vez que tocamos em seu país e na cidade”.

Ele não parou por aí: “Então obrigado nos fazerem sentir tão bem esta noite, irmãos e irmãs! Tem alguém aí em cima? Estão bem por aí? Beleza! Bem, estamos nos sentindo tão bem que gostaríamos de fazer um cover, certo? Este é o ponto em que tocaremos um cover. E querem saber? As boas pessoas de São Paulo escolhem o cover, saquem só!Vou dizer os nomes de quatro músicas e a mais gritada será a que vamos tocar, entenderam? Certo! Número 1: Metallica, Whiplash; número 2: Slayer, Seasons In The Abyss; número 3: Blink-182, All The SmallThings… O quê? O quê?? O quê??? Certo, número 4: Iron Maiden, Hallowed Be ThyName”. Tirando onda, prontamente emendaram a que ninguém queria, mas foi engraçado!

Acredite, houve quem cantasse o clássico do Blink-182 a plenos pulmões! Interrompendo-a, ele concluiu a zoeira: “O que foi? Esta é a música para a qual todos estavam gritando. O quê?? Ah, vocês querem outra música. Acho que querem Slayer… Slayer? Ou Iron Maiden? É, será Slayer!”. E “eleger” o hino de Tom Araya e companhia fez 100% de sentido, afinal de contas, a banda acabou e dificilmente a ouviremos executadadiretamente da fonte novamente. A Donzela De Ferro, por sua vez, voltará em 2024, ao que tudo indica. Na boa? Foi uma releitura de respeito!

A sensacional Oldcolocou todos para agitar enquanto o cérebro buscava um paralelo à altura doomagnetismo do relativamente baixinho a comandar a massa como poucos: se Dio, do alto de seu 1,63m, se impunha pela técnica, Robbse agigantava pela presença de palco, guturais potentes e riffs. Monstruosos!Aceita outro fenômeno? “Senhoras e senhores, levaremos vocês de volta a um álbum chamado The Blackening. Para meu irmão DimebagDarrell, esta é AestheticsOfHate. Formem dois circle pits aí atrás! Dimebag consegue ouvi-los, amigos!”. E com menos de uma hora e meia, tinha-se a nítida impressão de ser o show do ano, tamanha a empolgação. Papo sério!

O solo de Vogg conteve um pedacinho extremamente bem recebido de Refuse/Resist (a títulode curiosidade, Paulo Xisto, baixista do Sepultura, estava no recinto conferindo tudo) e ofereceu chance de respiro a seus três parceiros até o dono da festa regressar do backstage para um mini-discurso, traduzido integralmente para quem não entende a língua de Shakespeare: “Gostei desta pequena parte com Sepultura, Vogg. Ficou boa! Como estão, amigos? Vamos lá… Eu disse: ‘Como estão, amigos?’. Essa sim é a São Paulo da qual me lembro. Sabem, a primeiríssima vez que tocamos em São Paulo foi na noite de abertura de uma turnê do Sepultura com o Machine Head nos idos de 2011! Levamos muito tempo para virmos aqui e não sei porque nos levou tanto tempo para virmos, mas foi legal pra caralho! Dêem uns gritos para o poderoso Sepultura por ter nos trazido na primeiríssima tour brasileira de nossas vidas, galera! Mais alto!”.

Ele prosseguiu: “Vou dizer mais: amo esses caras. Sepultura, cara! Passei a curtir o Sepultura em Beneath The Remains, foi o primeiro álbum deles que entrou no meu radar. Eu me lembro de ter saído até um clube em Nova York e de olhar para aquela capa do álbum. Havia um monte de capas de álbuns em todas as paredes do clube e pensei: ‘Que porra é essa? Isso é foda!’, e tive que ouvir a banda imediatamente após isso. Eu me apaixonei e os assisti na turnê do Beneath The Remains quando vieram a Oakland, então, sim, o Sepultura sempre foi parte do DNA do Machine Head, cara! Enfim, não vamos tocar nada do Sepultura agora, vamos desacelerar um pouco fazendo uma música mais branda para vocês, certo? Essa está mais para vocês cantarem junto, beleza?”.

“Reconhecem estes acordes? Vamos levá-los de volta a um álbum chamado Unto The Locust, senhoras e senhores. Esta música é sobre… Saúde mental. É sobre música. É sobre depressão. E é sobre o quanto o poder da música pode curá-los. Não estou falando sobre as minhas músicas e sim sobre música em geral, cara. É uma força poderosa e tanto, é uma coisa linda e posso olhar para a platéia esta noite e ver nos olhos de vocês que cada um aqui foi salvo pela música em um ponto ou outro e é por isso que vocês estão aqui. E é por isso que nós quatro nos juntamos no palco e permanecemos aqui: porque fomos salvos também. Então vou dizer o seguinte: tenho um pedido a todos para esta música, certo? Apenas para esta música, estou pedindo a todos para guardarem seus celulares, beleza? Todos, guardem seus celulares”.

“Estamos tocando há quase duas horas, vocês têm muitas gravações em seus celulares, isso é legal, mas somente para esta música porque música não é sobre ver algo por uma tela. É sobre o que atinge seu coração, sua alma e sua mente, cara! E juro a vocês, vocês se lembrarão deste momento sem seus celulares. É sério, se lembrarão! Vocês se lembrarão dele ainda melhor sem essas porras de celulares. Não vou policiar vocês, mal consigo enxergá-los sem as luzes acesas, mas se vocês simplesmente virem alguém erguendo o celular, vocês podem pedir a eles para baixá-los. Isso seria sensacional… Senhoras e senhores, para todos que estão aqui conosco esta noite, esta música se chama DarknessWithin”. A solicitação foi atendida quase que na totalidade da casa, exceto por uns dez arrombados (sim, dava para estimar) que ounão manjam o idioma ou se fingiram de mortos. ERobbFlynn sabia o que estava dizendo: a ocasião se tornou inesquecível… Que momento!!!

Duas amostras singulares de seus registros em estúdio: de Catharsis (18), a faixa-título; e de Supercharger (01), Bulldozer – esta sob medida para o headbanging. Nelas, uma percepção foi ganhando corpo: quem estava do lado esquerdo da pista escutava apenaso instrumento de Vogg e, do outro, o de Robb. O relógio? Batendo em duas horas e contando… Caminhando para o término da parte regular do set, FromThis Daybotou a galera para pular e ouviu-se mais um “Vai, caralho!” na clássica Davidian– para muitos, o contato inicial com o Machine Head se deu aí: faixa um do début!

Em rápida pausa para o encore, a saideira era óbvia e nem poderia ser diferente. Antes, porém, as palavras da personificação do conjunto: “Obrigado, motherfuckers! Obrigado! Saúde, meus amigos! Saúde!”. E dá-lhe “cervejas voadoras”. O encerramento: “Uma última vez, vou dizer a vocês: estou meio mal, estive bem doente a noite toda. Obrigado por tolerarem minha voz de merda a noite toda, aplausos para vocês mesmos, São Paulo! Agora vou fazer a vocês mais uma pergunta, talvez duas, na verdade: vocês ainda têm um pouco mais de energia para o Machine Head? Uau, vocês tem muita energia para o Machine Head! Senhoras e senhores, levaremos vocês de volta ao álbum The Blackening.Esta música se chama Halo”.

Tremendaexibição! Demaisgrandes “adversários”de 2023? A tarefa de pontuar algumas apresentações é bastante pessoal, mas que tal: Opeth (Terra SP, 08/02); Black Crowes (Espaço Unimed, 14/03); Draconian (Fabrique, 26/08); Ghost (Espaço Unimed, 21 e 22/09, sold out em ambas!); L7 (Carioca Club, 20/10); SepticFlesh (Fabrique, 26/10)? Saindo da caixinha,Joss Stone (Vibra SP, 20/04)! Festivais? O Monsters (Palmeiras, 22/04); o Summer Breeze Open Air (Memorial da América Latina, 29 e 30/04); e o terceiro dia do Best Of Blues And Rock, especialmente por ter tido Buddy Guy e Tom Morello (Área Externa do Auditório Ibirapuera, 04/06) – embora a véspera tenha sido com Steve Vai e Buddy Guy… Nacionais? Sepultura esgotando ingressos em quinze minutos para duas noites no Sesc Belenzinho em julho; Titãs e seu “Encontro – Todos Ao Mesmo Tempo Agora” em junho, além do vindouro “Encontro – Pra Dizer Adeus”, em dezembro, sempre no Estádio do Palestra. E para você? Durma com esse barulho muito bom…

 

Setlists

Project46

01) Terra De Ninguém

02) Violência Gratuita

03) Capa De Jornal

04) Dor

Intro: Na Vala [Barulho De Chuva]

05) Rédeas

06) Pânico

07) Corre

08) Erro +55

09) Pode Pá

10) Foda-Se – Se Depender De Nós [Trecho]

11) Acorda Pra Vida

 

Machine Head

Intro: DiaryOf A Madman [Ozzy Osbourne]

01)Imperium

02)TenTonHammer

03)ChøkeØn The AshesØfYøurHate

04)NowWe Die

05) The Blood, The Sweat, The Tears

06)Unhalløwed

07)NoneButMyOwn

08) Take MyScars

09)Locust

10)IsThereAnybody Out There?

11)NøGøds, Nø Masters

12)Seasons In The Abyss [Slayer Cover /Snippet De All The SmallThings, do Blink-182]

13)Old

14)AestheticsOfHate

15) Solo De Guitarra De Vogg

16)DarknessWithin

17)Catharsis

18)Bulldozer

19)FromThis Day

20)Davidian

Encore

21) Halo

 

 

CONFIRA ABAIXO A GALERIA DE FOTOS DESSE SHOW

 
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