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Manowar – Espaço Unimed – 23/09/23
Postado em 08 de outubro de 2023 @ 10:07


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Manowar

Nascido em 1977, este escriba só foi ter contato consciente com o heavy metal no princípio da década de noventa, perdendo o impacto do Manowar em tempo real nos anos oitenta. Assim, quando finalmente teve acesso à facetaexcessivamente “Conan, o Bárbaro” de Joey DeMaio e companhia, não houve adesão ou identificação. Em suma: embora não tenha beirado nenhum dos extremos do “Ame-os ou deixe-os”, também nunca existiu liga com o quarteto. Em todo caso, apontado para cobrir osnorte-americanosno Espaço Unimed, para lá rumamos curiosamente dois dias depois de o Ghost por lá esgotar duas noites, outronome a dividir opiniões.

Cortinas bloqueavam a visão frontal do palco, sendo possível enxergar somente uma fresta se você se posicionassenos cantos. No aguardo, faltando quarenta minutos para o horário prometido de 21:30, sem banda de abertura,brotouum anúncio alarmante nos telões, no feminino mesmo, acredite: “Comunicado – por determinação da produtora da artista (sic) esse show não será transmitido nos painéis laterais ao palco”. Do “latim”: “Por decisão da produção do Manowar (não a confunda com a produção do show!), quem pagou carose garantiu, mas,se você comproupista comum, se danou para enxergar qualquer coisa lá de trás”. A ausência de explicações complementares fez surgirem especulações como o envelhecimento natural não poder ser exposto, teoria reforçada pelo veto à imensa maioria dos fotógrafos. Enfim…

Chegada a hora programada de início, luzes apagadas e… Nada! Acesas novamente, com seis minutos de atraso, “caiu o pano”,veio a intro MarchOf The HeroesIntoValhalla e uma breve locução pré-gravada: “Senhoras e senhores, dos Estados Unidos, todos saúdem o Manowar!”, evidentemente referindo-se ao conjunto e, indiretamente, à própria faixa de batismo e inauguraldo set, com direito a ataques pontuais de histeria e dois finais falsos – expediente repetido adiante em outras músicas.Concluída, um incontável número de admiradoreserguiaos pulsosfazendo o “sinal do martelo” em simbólica comunhão com Eric Adams (vocal), Michael AngeloBatio (guitarra), Joey DeMaio (baixo) e Dave Chedrick(bateria)enquanto se sentia o reverberar dos sons graves no corpo – faça idéia do volume…

Observando o aproveitamento de toda a área decorada, notamos sete banners espalhados, três de cada lado e um atrás da bateria, juntando-se ao backdrop central com a capa de The LordOf Steel (22) e dois prolongamentos, um à esquerda e um à direita. Pedindo passagem em meio àgalera na premium, ao notar que desperdiçaria uma de suas duas preciosas cervejas, umaboa alma doou um copo a este repórteremKingsOfMetal.Abstêmio, visando evitar a gafe de uma desfeita e até devido à elevada temperatura interna, aceitamos de bom grado a oferta e ouvimos, numa roda de amigos logo atrás, um comentáriofeito por um ousado gaiato, alheio ao perigo corrido no campo de batalha: “Assim lenta, a batida e os riffs me lembram de Fight For YourRight, do Beastie Boys”.Graças a Odin, não houve incidentes…

Na prática, Fighting The World veio emendada e ainda fizeram: Holy War; a cadenciada e poderosaImmortal, única do EP HighlightsFrom The RevengeOf Odysseus (22) emais recente do set,podendo-serespirar um pouco; CallToArms, e aí o calor já imperava; e Heart Of Steel, semo belo espetáculo das lanternas dos celulares ligadas, pois tigrão true metal que se preza jamais as acionaria na “balada”.Revelando conversa com seu guitarrista, o frontman se dirigiu ao público:

“Ele acaba de me dizer que está bem bêbado. Passamos a tarde inteira aqui bebendo, vocês sabem como isso termina, certo? Vou dizer o seguinte: sinto-me bem demais por voltar aqui de novo. Fazia bastante tempo desde que tocamos no Brasil, certo? Devo dizer: absolutamente amo São Paulo, de verdade! De verdade mesmo! Passei a tarde de hoje andando pela linda cidade de vocês e tenho que dizer: ela é realmente bonita! Do fundo dos nossos corações, amamos aqui! E esta platéia de hoje é sensacional! Vocês viram todos os vídeos, não? Vocês viram? E é o seguinte: enquanto estou aqui falando, minhas cervejas geladas estão lá atrás e devo esperar até terminar e voltar para beber essas cervejas bem geladas… Vocês também querem algumas, não? Beleza, se vocês viram os vídeos, sabem o que vou fazer agora, certo? Então lá vamos nós!”.

O que rolou? Sendo objetivo, a tradicional enrolação com linhas vocais imitados pela platéia e a inútil “competição” entre os lados que, em algumas resenhas do DVD The Absolute Power (06) foi creditada como ScreamsOfBlood. E como fã é fã, houve quem dividisse a impressão com seus pares: “O cara é foda, mano!”. Tradição à parte, tudo não passou de um ato para ganharem tempo e trazerem um segundo kit de bateria para uma grata surpresa: sem Eric, Joey foi acompanhado de Cleber Krichinak (vocal), E. V. Martel (guitarra) e Marcus Castellani (bateria) para WarriorsOf The World Unitedaté os retornosdo vocalistae de Michael Angelo. Ao seu término, chuva de papel picado amarelo e, em taisocasiões, este que vos escreve sempre se pega pensando a respeito e se solidariza com quem posteriormente terá de varrer toda a bagunça…

Quase dois minutos separaram a faixa do que se convencionou chamar de Guitar&BassDuet no site Setlist.fm, porém algo não saiu bem e Joey o interrompeu. Visivelmente irritado com o som de seu instrumento, temporariamente saiu de cena para os reparos necessários e, como autêntico mestre de cerimônias, Eric regressou: “Esta performance é ao vivo, gostaria que soubessem disso. Merdas acontecem, cai a energia e, seja lá o que aconteça, temos que fazer as coisas certas por aqueles que pagaram um bom e suado dinheiro para ver um show muito bom. É isso que vamos fazer, vamos arrumar esse problema e voltar aqui para fazer tudo de novo porque vocês merecem isso” – e ainda destacou um fã que estava assistindo ao grupo pela 159ª vez! Surreal!

De fato,superaram o contratempo, o dueto/duelo rolou numa boa e HailAndKill foi simplesmente magnífica sob o segundo bandeirão utilizado, este com a arte de The TriumphOf Steel(92),ironicamente preterido no repertório.Dando continuidade à festa, pegaram amostras únicas representando três trabalhos distintos: do EP The DawnOfBattle (02), a faixa-título, petardo com dois bumbos alucinantes; deGodsOf War (02), King Of Kings; e deLouderThanHell (96), The Power. E matando a parte regular do set, mandaram FightUntilWe Die.

Retornando para o encore, um lembrete: se você esteve no Monsters Of Rock de 2015 (até então, a mais recente vinda do Manowar a São Paulo), se divertiu a valer com o discurso de Joey DeMaio em português. Desta vez, apenas seu começo foi em nossa língua, transcrito abaixo com eventuais correções, mas garantimos: a escolha de determinadas expressões foi dele mesmo e, apesar do forte sotaque, a mensagem foi integralmente entregue! Ele arrancou gargalhadas! Confira:

“Boa noite, São Paulo! Mano do céu, é muito foda! Estou de volta ao Brasil. Ontem a gente estava batendo um rango, chapando o coco e relembrando nossa grande história aqui. O Brasil é do caralho! Muito obrigado! Há alguém aqui do norte do Brasil? Do centro-oeste? Do sul? Do nordeste? E do sudeste em São Paulo? Muita gente aqui tenta derrubar o metal, mas sabem o que eu falo para esses trouxas? Vá se foder! Se você não gosta de metal, o que a gente diz? Se você não gosta de São Paulo, o que a gente diz? Se você não gosta do Brasil, o que a gente diz? Se você não gosta do Manowar, o que a gente diz? Muito obrigado, Brasil!, pelo carinho e apoio de sempre”.

Na boa, implique ou não com os caras, a atitude do baixistademonstra e merece muito respeito!E épreciso ressaltar os quatro sonoros “Vá se foder!” obtidos como respostas acima? Ele retomou, agora em inglês mesmo: “Então, meu português brasileiro não é perfeito, mas é um sonho melhorá-lo se vocês quiserem que a gente volte e assim poderei praticá-lo. Há pessoas da empresa produtora aqui esta noite e talvez elesgostariam de saber se vocês querem que o Manowar volte para o Monsters Of Rock ano que vem. Então quero que todos escrevam e-mails a eles e que liguem lá todos os dias, todos vocês e digam a eles… Então, e-mails e ligações, e deixem claro se vocês querem o Manowar de volta ao Monsters Of Rock, aonde acho que pertencemos. Vocês acham que pertencemosao festival? Obrigado! Eu sabia que o Brasil jamais nos desapontaria”.

Houve adendo: “Só mais uma coisa: então, vocês sabem, temos a música Brothers Of Metal e ela significa algo real em nossas vidas. Sentimos que todos nós somos uma família aqui, somos todos irmãos e irmãs do metal e da banda e foi muito legal que Marcus Castellani, Cleber e Evandro vieram aqui hoje para tocar esta noite porque eles sempre serão nossos irmãos. Amamos esses caras! E, falando de irmãos, onde está o Manoel? Quero homenageá-lo aqui esta noite e também quero uma cerveja, se ele me acompanhar em uma porque hoje é aniversário dele, o irmão do metal que uniu todos nós”.Para customizar tudo direitinho, o membro da equipevirou “Manwell” e, sim, cantaram parabéns a ele e exibiram um vídeo de agradecimento pelos serviços prestados. Justíssimo!

Em seguida, aí sim fizeram a que todos queriam escutar e lá veio o terceiro backdrop, com a capa de BattleHymns (82) para o sensacional encerramento do play, BattleHymn. Genuinamente emocionante! A saideira? Black Wind, FireAnd Steel, com as palavras derradeiras do vocalista: “São Paulo, vocês foram maravilhosos esta noite. Sim, foram! Jamais nos esqueceremos desta noite e retornaremos! Nós prometemos!”. E dispararama parte acústica deArmyOf The Dead, Part2 como outro para a debandada geral.

Quem apreciaa performance do Manowar saiu do Espaço Unimed em êxtase. E será que eles voltam ao Monsters? Você, tão das antigas quanto Joey, já enviou seus e-mails e ligou para a produtora? O contatopode ser via redes sociais…O importante é fazer sua parte na convocação! Entretanto, nem tudo são flores:em pleno 2023, não dá para ficarmos testemunhando focos de briga com uns poucos mastodontes levando atemática dos discos a sério demais – foram ao menos três num raio de cinco metros ao longo das duas horas e cinco minutos de um setlist que, caso enxugado, renderia uma hora e meiasuper interessante e sobraria tempo efetivo para mais material.

Por fim, algum conserto ou melhoria háde ser feito no ar condicionado da casa, pois quatro noites sem o sistema dar conta foi de doer, exatamente na semana de calor extremo fora do comum país afora. E afirmamos com conhecimento de causa após termos conferido Ghost, Lynyrd Skynyrd e Manowar in locoe ouvido relatos de fontes confiáveis cobrindoa primeira data dos suecos. Afinal de contas, se você gosta de derreter além do esperado num show do Manowar, o que a gente diz?

 

Setlist

Intro: March Of The Heroes Into Valhalla

01) Manowar

02) Kings Of Metal

03) Fighting The World

04) Holy War

05) Immortal

06) Call To Arms

07) Heart Of Steel

08) Warriors Of The World United[Com CleberKrichinak, E. V. Martel e Marcus Castellani]

09) Guitar & Bass Duet

10) Hail And Kill

11) The Dawn Of Battle

12) King Of Kings

13) The Power

14) Fight Until We Die

Encore

15) Joey’s Speech

16) Battle Hymn

17) Black Wind, Fire And Steel

Outro: Army Of The Dead, Part 2

 
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