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Megadeth – Espaço Unimed – 18/04/24
Postado em 01 de maio de 2024 @ 03:04


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Dave Mustaine, até que enfim, descobre que empilhar hits aumenta a chance de melhorar o show!

Eram 21:32, oficialmente com dois minutos de “atraso” e sem banda de abertura, quando o Megadeth finalmente regressou a São Paulo pela primeira vez desde o Halloween de 2017 tentando consertar a mancada dada ao furaremno Rock In Rio 2022 (não nos esqueçamos!),ao desistirem do festival depoisda venda de ingressos, frustrando quem parcialmente se contentou com o Helloween em seu lugar.

Também concorria para intensificar a expectativaa saída de Kiko Loureiro, substituído pelo, hoje sabemos, absurdamente competente TeemuMäntysaarina guitarra! Mas falando sério e sem pachequismo: será que nenhuma alma viva deu uma broxada, mínima que tenha sido, semo ex-Angra no line-up?Foraabizarra, porém compreensível, demissão de David Ellefsonneste meio-tempo com seu infeliz “solo em trabalho remoto” no mundo pós-pandêmico feito com apenas a mão direita, cinco dedos, surpreendentemente sem baixoe, mesmo assim com o instrumento em riste!

Em tal cenário e em português claro,com seis anos e meio longe do país,o receio era: será que as trocas afetariam o entrosamento?Adotando procedimento do tiozão que se tornou, Dave Mustaine iniciou a festa sem intro e com uma voz, sabe-se lá de quem, ao fundo anunciando: “Boa noite, senhoras e senhores!” e complemento ininteligível. Na boa, só faltou algo como: “E agora, com vocês, a maior banda de thrash da atualidade/mundo/história”, dependendo do humor, fase da Lua ou ego do vocalista, guitarrista, principal compositor, letrista, alma, dono do conjunto e semi-deus.

Simplificada como TSTDATD no setlist de palco, The Sick, The Dying… And The Dead!efetivamenteinaugurou os trabalhos e bastou Skin O’MyTeeth ecoar para se dissipar a dúvida acima sobre o entendimento dos músicos: os caras estavam na ponta dos cascos! Deixada de lado no Brasil desde outubro/05 no Credicard Hall, com o Apocalyptica como convidado de luxo, AngryAgain foi resgatada do divertido EP HiddenTreasures (95) e da trilha sonora de LastActionHero (93) e muitíssimo bem acolhida! E rosnando um sucinto “Boa noite!” sem deixar claro se era reflexo de seu autêntico e famoso temperamento (ou falta dele) ou se “somente” encarnava o personagem, o frontman puxou Wake UpDead e In MyDarkest Hour veio de bônus, colada.

Cobrindo tudoda pista comum e com ingresso pago do bolso, a distância, aliada a centenas de celulares erguidos, prejudicava a visualização de detalhes, mas notamos o lindo backdrop com o nome do grupo e o mascote VicRattleheadestampado e, posteriormente, recorrendo ao YouTube, “enxergamos” as peles decoradas com “Mega” e “Deth” nos bumbos do ótimo DirkVerbeuren, agora o mais antigo membroininterrupto (já são oito anos!), exceto o patrão.

Inegável aspecto positivo foi a renovação do público e não era raro notar pais ou mães orgulhosamente escoltando filhos e filhas obviamente assistindo ao Megadeth pela primeira vez. O efeito prático da geração Spotify, que não ouve um álbum de cabo a rabo e cultua tudo em ordem aleatória, se verificava na grandiosaCountdownToExtinction, cheia de melodia e desinteresse, incluindo de quem estava ali eacompanhava a trajetória do quarteto em “terra brasilis”desde a estréia no Rock In Rio 1991, antes mesmo de o playcom a faixa-título ter saído. Ah, preparando a pancada, Mustaine vociferou um engraçado “O-bri-gado”cheio de sotaque!

Batendo em meia hora no relógio, SweatingBullets trouxe algumas certezas: Mustaine está “cantando” bem, feitas todas as ressalvas e dentro do estilo por si próprio criado, ou seja: ele esteve longe de comprometer. Além disso, a qualidade do som estava impecável e se ele deu algum chilique nos bastidoresrelacionado a isso, como nacitadavinda de outubro/05, é melhor trancá-lo em algum sanatório devidoaos claros sinais da esquizofrenia relatada na letra que acabávamos de conferir.Outro ponto positivo? Apesar de ter demorado décadas, ele descobriu que pautar o repertório nos clássicos elevasensivelmente a probabilidade de se dar bem e de os fãs partirem para casa com ares de: “Que puta show!” / “Os caras detonaram!” / “Hoje foi foda!”. De fato, foi tudo isso.a ponto de, na memória deste escriba, ter sido a melhor apresentação vista desde 2012 em termos de diversão!

Pulando a uma mais recente, executaram Dystopia e, ainda que bem cantada, o povo queria mesmo era curtir “velharia”!Deram-lheHangar 18, antecipada por irônica provocação em “Certo, vejam se reconhecem esta música” e com o já manjado apoio popular nos gritos de “Me-ga-deth!” nas batidas perto do final. Sem ter o que berrar, a ajuda se deu mesmo cantando a letra da perfeita Trust, encerrada pela mais extensa elaboração do mestre de cerimônias até ali: “Muito obrigado, São Paulo! Estão se sentindo bem? Eu também. Eu também. Eu também. A próxima música que vamos tocar é do Rust In Peace. Dêem uma conferida no solo nesta música. Ela se chama Tornado Of Souls”.

Grande balada da noite, A Tout Le Monde foi jogo ganho, chance de respiro geral com uma hora de espetáculo e entãoveio umanúncio surpreendente: “Muito obrigado, galera! Vamos tocar uma música para vocês agora que é realmente bem velha e não a tocamos aqui… Meu Deus, não consigo me lembrar da última vez que tocamos esta música aqui. E não vou dizer o nome porque sei que vão saber assim que começarmos”. Afobado,um gaiato arriscou pensando alto: “Caraca! The Conjuring”. Quase! FoiDevilsIsland, ignorada por aqui desde o Rock In Rio 1991.

E se os urros de “Me-ga-deth!” em Hangar 18 não haviam irritado o suficiente, por que não piorar a situação com um desconexo “I wantto Megadeth”, gerando um verbo novo e estragando a maravilhosa Symphony OfDestructionlogo de partida?ApósDirkfazer a levada da obrigatória Peace Sells, veio o momento para LoMenzo brilhar em seu baixo e protocolarmente se expressar: “São Paulo, vocês são ótimos!”. Evidentemente, VicRattlehead faria sua cômica ponta e, concluindoa faixa, um sucinto “Obrigado! Boa noite!” de Mustaine selou o setlist regular.

Retornando para o encore, ele fez beicinho fingindo reclamar: “Não parece que vocês querem que a gente toque mais…”, repetiu a queixae deixou o palco,sinalizando que desejava mais barulho. Gritos do título da saideira somados aosde seu sobrenome foram suficientes para “convencê-lo” a fazer Holy Wars… The PunishmentDue. Lançada em 1990, parece que a situação global não evoluiu e a ficha caía no verso “Don’t look nowto Israel, it mightbeyourhomeland”. Apresentando os colegas durante o megahit, podiater completado: “Sou Dave Mustaine, nós somos o Megadeth e vocês são fantásticos”, mas preferiu ser objetivo num “Foi um prazer estar com vocês! Boa noite!”.

Demonstrando pressa em partir,o show só chegou a noventa e um minutos devido ao pot-pourri de outros: SilentScorn;My Way, na “voz” de Sid Vicious; e Shadow OfDeth. Sem qualquer ciumeira, nem vamos entrar no mérito de comparar a preferência pelaplatéia argentina(e adoração em sentido oposto). Afinal de contas, sepor lá esgotaram duas datasnaMovistar Arena (comcapacidade para quinze mil pessoas!),com direito a uma terceira em plena crise, aqui, embora tenhamenchido o ex-Espaço das Américas (onde cabem oito mil), não deu sold out…

Na verdade, o problema está em nós e o mérito é deles!E vale apontar que, misturadas em três noites e confiando nos dados inseridos no site Setlist.fm, de diferente, por lá rolaram: Dread And The FugitiveMind; We’ll Be Back; DawnPatrol; PoisonWas The Cure; e Mechanix –totalizando dezessetepedradas na despedida de 16/04.

No geral, as escolhas balancearam a discografia, com opções únicas em quatro full-lengths e um EP: The Sick, The Dying… And The Dead!,do homônimo em divulgação de 2022; AngryAgain, do mencionado EP HiddenTreasures; Dystopia, que batiza abolacha de 2016; Trust, de CrypticWritings (97); e A Tout Le Monde, de Youthanasia (94). Epreteriram material de: Killing IsMy Business… And Business IsGood! (85); Risk (99); The World Needs A Hero (01); The System HasFailed (04); United Abominations (07); Endgame (09); Thirteen (11); e Super Collider (13).

Quanto às músicas em si, além das tocadas em Buenos Aires e não aqui, “faltou” o quê? Para o gosto deste repórter, necessariamente: Take No Prisoners; ForeclosureOf A Dream; TrainOfConsequences (sim, sabemos, seria sonhar demais!); Use The Man; e She-Wolf –limitandoasgravações em 1997. Seguramente você tem suas bem-vindas preferências, especialmente se forem recentes, para inteirare diversificar a seleção. Enfim, será que o rabugento “mala-sem-alça” mais amado do heavy metal vai embaçar mais sete anos para voltar? “Antigamente” ele vinha toda hora…

 

Setlist

01) The Sick, The Dying… And The Dead!

02)Skin O’ MyTeeth

03)AngryAgain

04) Wake UpDead

05) In MyDarkest Hour

06)CountdownToExtinction

07)SweatingBullets

08)Dystopia

09) Hangar 18

10)Trust

11) Tornado Of Souls

12) A Tout Le Monde

13)DevilsIsland

14) Symphony OfDestruction

15) Peace Sells

Encore

16)Holy Wars… The PunishmentDue

Outros: SilentScorn / My Way [Sid Vicious] / Shadow OfDeth

 
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