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Metal Singers II ::: Espaço 555 ::: 09/12/18
Postado em 04 de janeiro de 2019 @ 16:49


Texto::: Vagner Mastropaulo

Fotos: Marcos César (Bulino)

O que jogador de futebol faz nas férias? Participa das peladas de final de ano com caráter humanitário e doação de alimentos em partidas não-convencionais nas quais as regras oficiais do desporto não prevalecem e imperam as brincadeiras. E o que faz um músico fora de turnê com sua banda principal? Agenda apresentações com projetos paralelos, como Steve Harris e o British Lion no Cine Jóia em novembro, em noite sem protocolos. E há quem parta para empreitadas alternativas como o Metal Singers, com Doogie White, André Matos, Blaze Bayley e Udo Dirkschneider cantando clássicos de suas carreiras tendo apoio fixo de uma competente banda brasileira formada pelos guitarristas Kiko Shred e Vulcano, o baixista Will Costa e o baterista Lucas Tagliari (ou Lou Tagliari, como em seu Facebook). Descontados os três intervalos, quem abriu mão do Sepultura (Sesc Santo André) e do Extreme Hate Festival (Carioca Club) esbaldou-se em quase três horas de metal.

Com a inclusão de Blaze Bayley no line-up, a princípio teve gente trocando as bolas ao concluir que sua data solo, marcada para 12/01 no Manifesto, havia sido antecipada e remanejada. Receio infundado, pois ainda que seja incomum um artista consagrado passar pela mesma cidade em dois meses seguidos, foi o que aconteceu. Assim tudo segue como estava e sua participação no evento pôde ser encarada como um mero teaser. Confusão desfeita, diferentemente da edição inaugural (na Clash Club em janeiro de 2015, com Michael Vescera, Tim “Ripper” Owens e os mesmos ex-Iron Maiden e Accept), não houve a jam final com hinos do rock e os cantores concomitantemente no palco após seus pocket shows isolados. Desta feita, os três primeiros cantaram cinco músicas cada e Udo fechou a noite em set de onze petardos do Accept, indo do segundo ao sexto lançamentos dos alemães, respectivamente de I’m A Rebel (1980) a Metal Heart (1985).

Abrindo os trabalhos pouco após as 19:40, Doogie White mandou um direto “Boa noite, meus amigos” em meio a algo incompreensível em seu arrastado sotaque escocês, com Judgment Day puxada pelos guitarristas. Em atitude contrária ao usual, os fãs espalhavam-se pela casa já desde a primeira atração, em vez de abarrotar a entrada em súbita e longa fila apenas para o headliner. Com isso, mais da metade do local estava tomado para assistir ao cantor, que, simpático, apresentou Will Costa e, em alguma piada interna, disse que Lord Of The Lost And Lonely tratava-se de uma “drinking song” apenas para o baixista. Antes de Ariel, foi cordial: “É muito legal voltar aqui e ver todos vocês novamente, fazia um tempinho! Estive aqui com Ritchie (Blackmore), com Yngwie (Malmsteen), com (Michael) Schenker e é ótimo estar aqui”. Sorrindo, apontou Lucas para as garotas (incentivando-as a gritar por ele) e Kiko, que detonou em seu solo. Após apresentar Vulcano, propôs um duelo com os fãs, pedindo para que o acompanhassem no grito de “Hallelujah” de Five Knuckle Shuffle, mas, desapontado com o primeiro esforço, tirou onda: “Isso foi horrível!”. Com mais dois ensaios e resposta satisfatória, Doogie sentenciou: “Vou apontar quando for a vez de vocês” e, ao seu final, posicionou-se na lateral da bateria, prestigiando Lucas. Fechando o set, um rápido e espontâneo coro surgiu entre os fãs no meio da emotiva Temple Of The King, que, a rigor, não foi oficialmente gravada pelo vocalista em estúdio (Ronnie James Dio o fez no primeiro álbum do Rainbow em 1975), mas incluída como homenagem e por ele dedicada a Jimmy Bain, Cozy Powell, Jon Lord e Dio, com respeitosos olhares do cantor para cima, ao citar novamente seus nomes durante a canção.

Nos quase vinte minutos de intervalo, a única modificação foi a inclusão de um teclado no palco, evidenciando que André Matos viria para a festa, aberta com Wings Of Reality. Após o verso “So many things to do”, veio uma divertida pausa: “E aí, tudo bem com vocês? Tem que falar ‘São Paulo’? Mas eu sou corintiano, porra”, causando risos até prosseguir: “Boa noite, Avenida São João”. Então o tom ficou sério: “Para mim é uma honra estar dividindo o palco com esta banda especial e com estes vocalistas mais do que especiais, com uma puta história por trás. Eu me rendo à história e à experiência destes caras. Aprendi muito durante o tempo em que convivemos e espero que não seja a última vez”. Irritado com o zum-zum-zum na platéia, nem aí para o discurso, cutucou: “Eu disse para eles que o público de São Paulo é exigente e costuma conversar muito enquanto a gente está falando, né? Não tem jeito, eu sou chato!”. E pode até assumidamente ser, mas com razão, pois não custava demonstrar respeito mínimo ao artista, gostando dele ou não, até para não atrapalhar quem foi vê-lo. Desavenças superadas, após André reconhecer que “quando o público de São Paulo quer, ele bota para foder”, elogiou a casa, pediu por gritos para “impressionar os caras, que devem estar achando que o show está do caralho” e retomou a primeira faixa de Fireworks. Entrando no clima, foi sincero: “Legal fazer um show assim sem regras, sem hora marcada, né? Dá para tocar tudo, mas vou tocar uma que vocês gostam”, Living For The Night, que comoveu os fãs mais antigos.

Causando, André fez o começo de Carry On, interrompendo-a de modo bem-humorado para então tocar Lisbon, inicialmente cantada só pela galera até que ele começasse. Com outra pausa, desta vez antes de “See, the birds are back”, brincou: “Deixa eu aproveitar para dar uma tecladinha aqui, né? Nunca dá!” e revelou: “Na verdade eu queria ser só um tecladista. Deixa o cara se fodendo ali na frente”. Seguindo na zoeira, voltou-se a Vulcano: “Fala aí se não é a Heleninha Roitman em pessoa”, em alusão à semelhança capilar entre o guitarrista e a personagem interpretada por Renata Sorrah em Vale Tudo (em enésima reprise no Canal Viva) e confessou que teriam que tirar uma do set (Nothing To Say ou Distant Thunder, tocadas no Chile) “para não cortarem a gente, já que a gente fala muito, né? Somos os únicos a falar português, então temos que falar mesmo. Vamos dar um presentinho para vocês, pois faz tempo que não tocamos essa em São Paulo. Eu, pelo menos. Eles, eu não sei”, referindo-se à banda, e concluiu: “É o seguinte, se vocês não agitarem, vou parar de tocar no meio, falou? É sério! Quero ver uma roda aqui!” antes de Lucas puxar Painkiller, coerente para a noite, pois além do cover gravado pelo Angra em Freedom Call, o quarteto deu suporte a Tim “Ripper” Owens em suas apresentações solo no Gillan’s Inn em maio e setembro de 2017. O pedido de roda foi atendido e a saideira Carry On foi então tocada de fato, após elogios aos músicos por segurarem a onda em todos os momentos e com quatro vocalistas diferentes.

Passados dez minutos, Blaze Bayley entrou com tudo enquanto a banda iniciava Lord Of The Flies. Animado, em humilde atitude, saiu dando high fives em todos que estavam no gargarejo enquanto esticava o coro inicial da canção. É claro que sua apresentação focou em X Factor e Virtual XI, com cinco canções praticamente emendadas entre clichês: fazer a platéia gritar “Hey, hey, hey”, encorajar coros e provocar a batalha de gritos entre os dois lados da pista. Contagiante, Futureal foi a seguinte e era visível a felicidade de Blaze, algo tocante de ver em alguém que comeu o pão que o diabo amassou superando tragédias pessoais que incluem a perda de sua esposa, Debbie Hatlands, em 2008 e a admissão de tendências suicidas, além da própria demissão da Donzela em 1999.

Após mandar um “Tudo bem, São Paulo?”, em português mesmo, veio When Two Worlds Collide e então o cantor seguiu se comunicando em nossa língua, ainda que só com o básico: “Muito, muito obrigado, São Paulo! Muito obrigado, Brasil”. Carismático, apertou a tecla SAP: “É maravilhoso estar aqui. Com meu coração, eu agradeço a vocês”, antes de The Clansman por todos a pular, especialmente nas quatro repetições de “Freedom”. Fechando o set, seu maior hit com o Maiden, o petardo Man On The Edge, com coro em seu início, pedido de “Scream for me, São Paulo” e roda maior do que em Painkiller. Educado, assim despediu-se: “Obrigado, São Paulo! Obrigado, Brasil. Muito, muito obrigado!”, novamente em português. Show revigorante, em prévia do que teremos dentro de um mês. Como curiosidade, além de o evento contar com quem de fato pegou a vaga de Bruce Dickinson, após sua saída em 1993, também estiveram presentes dois dos outros, digamos, “finalistas” para o posto, uma vez que Doogie White e André Matos foram cogitados à época, além de Michael Kiske (Helloween), James LaBrie (Dream Theater) e Steve Grimmett (Grim Reaper).

Passados dez minutos, Udo Dirkschneider surgiu com um plano a executar: cantar uma após a outra, sem enrolação ou muita conversa entre as músicas. As três primeiras foram de Metal Heart: a faixa título (incluindo o tradicional e alegre snippet de Für Elise, de Beethoven), Living For Tonite e Midnight Mover (seu refrão não lembra You’ve Got Another Thing Coming, do Judas?), antecipada pela primeira interação com os fãs: “Vocês estão se divertindo até agora? Beleza, muito obrigado. E boa noite, São Paulo. É ótimo estar de volta aqui. Fazia bastante tempo”. Essas duas últimas foram pérolas, pois com Mark Tornillo no Accept, os alemães têm hoje a dura missão de escolher o que tocar entre as fases distintas com dois vocalistas, forçando a exclusão de algumas antigas. Ótimo para quem as ouviu com Udo! London Leatherboys agitou a pista com seu quê dançante até virem os gritos de “Udo! Udo!” e seus esperados agradecimentos, antes de questionar: “Estão prontos para ir comigo até o limite?”, citando Up To The Limit e levando o show a Metal Heart pela última vez.

Princess Of The Dawn foi um capítulo à parte com poderosos riffs simples, Udo dando a deixa para os fãs cantarem seu título e coros no meio. Primeira de Restless And Wild no show, emendou-se a uma versão mais acelerada e objetiva da faixa título, também colada à seguinte e única de Breaker: a libertadora e também mais rápida Son Of A Bitch (cantar “Son of a bitch, kiss my ass, son of a bitch / Son of a bitch, you asshole, son of a bitch / cock suckin’ motherfucker…” só não é tão poderoso quanto o “Fuck you, I won’t do what you tell me” de Kiling In The Name, do Rage Against The Machine). Após perguntar se todos estavam prontos para cantar e obter sonora confirmação, sentenciou: “A próxima começa assim…”, cantarolando o início de Fast As A Shark enquanto Lucas o acompanhava na bateria. Ao notar a mensagem captada, a versão tedesca do Mestre dos Magos deixou a platéia cantando, até o pau comer solto com a rapidíssima faixa de abertura de Restless And Wild. Após novos agradecimentos, Udo mostrou gratidão e tirou sarro: “São Paulo, o que posso dizer? Vocês foram ótimos! Hoje é o último show da turnê do Metal Singers, então gostaria de agradecer a Doogie White, André Matos e ao Mr. Fucking Blaze Bayley, mas não a mim. Agradeço também à banda e digo que foi um prazer fazer este projeto. Espero que tenham gostado. A próxima é bem antiga, de quando até eu era jovem, eu acho: I’m A Rebel”, do álbum homônimo de 1980. A saideira? Só poderia ser a imprescindível Balls To The Walls, que talvez nem seja a sua favorita do Accept e pode-se argumentar que outras são até melhores ao vivo, mas experimente não ouvi-la ao vivo para ver a falta que ela faz. Seria como ir a um show do Motörhead e não ouvir Ace Of Spades.

Encerrado às 23:05, o evento agradou aos presentes por possibilitar ver e ouvir vocalistas diferentes, ainda que em shows curtos, apresentando-se descontraidamente junto a talentosos músicos nacionais. Pena não ter rolado a Jam, como na primeira edição. Fica para a próxima, com a expectativa de disponibilidade de outros cantores em iniciativa inovadora e válida.

 

Agradecimentos a Thiago Rahal Mauro

 

Setlists

Doogie White (19:42 – 20:17)

01) Judgment Day (Tank)

02) Lord Of The Lost And Lonely (Michael Schenker’s Temple Of Rock)

03) Ariel (Rainbow)

04) Five Knuckle Shuffle (Demon’s Eye)

05) Temple Of The King (Rainbow)

 

André Matos (20:36 – 21:15)

01) Wings Of Reality (Angra)

02) Living For The Night (Viper)

03) Lisbon (Angra)

04) Painkiller (Judas Priest)

05) Carry On (Angra)

 

Blaze Bayley (21:25 – 21:56) – Todas do Iron Maiden

01) Lord Of The Flies

02) Futureal

03) When Two Worlds Collide

04) The Clansman

05) Man On The Edge

 

Udo Dirkschneider (22:06 – 23:05) – Todas do Accept

01) Metal Heart

02) Living For Tonite

03) Midnight Mover

04) London Leatherboys

05) Up To The Limit

06) Princess Of The Dawn

07) Restless And Wild

08) Son Of A Bitch

09) Fast As A Shark

10) I’m A Rebel

11) Balls To The Walls

 

Para quem tiver interesse em saber mais sobre os músicos nacionais que estiveram no palco, Lucas Tagliari integra o Slippery; Kiko Shred também e tem dois álbuns solo lançados: Riding The Storm (2015) e The Stride (2017) e está gravando o terceiro, Royal Art; Vulcano é membro do Hellish War, que abriu para o Armored Saint em junho na Fabrique; e Will Costa integra o Higher. Por fim, Lucas e Will estão na banda de gravação de Royal Art, de Kiko. Os contatos diretos do Facebook são:

Vulcano: https://www.facebook.com/vulcano.hellishwar

Kiko Shred: https://www.facebook.com/kikoshredguitar

Will Costa: https://www.facebook.com/willcostabaixista

Lucas Tagliari: https://www.facebook.com/lucas.tagliari.9

 

http://www.blabbermouth.net/news/blaze-bayley-i-just-didn-t-want-to-carry-on-at-all-with-my-life/

 

 
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