Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Gabriel Ramos

Noite de celebração aos oitenta anos de Jimmy Page

Já tínhamos resenhado o Moda De Rock se apresentando com Zeca Baleiro no Red Star Studios em maio/23 [https://onstage.mus.br/website/moda-de-rock-convida-zeca-baleiro-red-star-studios-31-05-23], mas ainda não havíamos tido a oportunidade de escrever sobre Ricardo Vignini e Zé Helder tocando Led Zeppelin. Eis que chegou a hora! Marcado para as 20:00, o Blue Note é naquele esquema: recados, propagandas, patrocínios com as luzes já apagadas e, com sorte, casais ao seu redor na vibe do som, ao invés de papearem ou, ainda que “cheios de classe”, batendo os talheres nos pratos e irritando ouvidos mais apurados.

Olhando para o palco, notava-se o tradicional piano à sua direita, uma bateria à esquerda e, por alguns segundos, cogitamos se ela seria utilizada, até cair a ficha ao fitarmos a pele do bumbo com o nome de Supla e um desenho de seu inigualável penteado. Pois é, o kit já estava montado para o set do BrothersOfBrazil às 22:30. Voltando ao que realmente interessava e, antecipando, na prática, a dupla tocou Moda De Rock Toca Led Zeppelin (18) na íntegra, porémreembaralhado e com uma “bonustrack” óbvia como saideira, aquela que não poderia faltar e que você certamente já desconfia qual seja! Mas tudo em seu tempo…

Foram doze minutos de “atraso” até ecoarem os primeiros acordes de Good Times Bad Times e não era raro vermos fãs trajando camisetas variadas do grupo de Plant, Page, Jones e Bonham. No mesmo combo, fizeram D’yerMak’er, Immigrant Song e No Quarter, esta sensacional e perfeita para arranjo em violas caipiras. E se você já assistiu ao Moda De Rock alguma vez na vida, sabe que as interações podem ser tão interessantes quanto o que se escuta. Diga aí, Ricardo:

“Boa noite! É um prazer estar aqui tocando para vocês. Esta casa aqui é o maior barato, né? Porque eu, como ex-office boy, rodava aqui pela Paulista entregando coisas. A primeira vez que toquei na minha vida foi na Paulista, tinha um negócio da Souza Lima e fui tocar com um amigo meu, que era professor. Acho até que era no Center 3 e foi uma merda, né? Voltei para casa acabado e falei: ‘Nossa, não nasci para fazer esse negócio!’. Voltei de ônibus para a Vila Santa Catarina pensando: ‘Não nasci para isso, cara!’. Esse ‘Não nasci para isso!’ tem quase quarenta anos! Ô rapaz teimoso, né?.Ele prosseguiu:

“Bom, estamos fazendo aqui os últimos shows que a gente fez do nosso álbum, oModa De Rock Toca Led Zeppelin, porque o Jimmy Page fez oitenta anos neste ano e pensei: ‘Porra, temos que fazer um show pro cara, né?’, que é o guitarrista mais violeiro da história do rock. Vamos fazer agora uma música chamada Tangerine e o legal desta música é que o Jimmy Page gravou com uma craviola Giannini, um instrumento que o Paulinho Nogueira inventou, e ele passou a vida inteira depois procurando este instrumento, achando que era italiano, por se chamar ‘Giannini’. Então é isso, cara! Tangerine!”, não à toa sob iluminação alaranjada e, a rigor, o aniversário em si do lendário músico foi em 09/01, mas nunca é demais reverenciar um mestre. Quer mais estórias ao terminar a seguinte?

“Essa AllMy Love tem o dom de me deixar de bom humor, sempre teve… A vida inteira, essa música me deixou de bom humor. Uma vez, não sei se o Zé estava nessa parada, se ele já tinha entrado na banda… Tenho uma banda chamada Matuto Moderno há vinte e cinco anos, o Zé entrou faz uns quinze. Estávamos em Minas Gerais para fazer um show, carregando van, aquela coisa, no lugar onde a gente tocou. Ao lado tinha uma banda cover do Led Zeppelin, daquelas em que os caras usam perucas, saca? Estavam os caras lá tocando, botaram um ajudante carregando os amplificadores e o cara começou a cantar assim: ‘Charles, mylove! Charles, mylove!’. Então, toda vez que a gente toca essa música, é ado Charles! Agora vamos fazer a bossa nova do Led Zeppelin: RainSong” – na boa, há como não se emocionar com ambas?

Talvez pela veia quase country, Friends arrancou palmas de acompanhamento, como quando o duo faz Thunderstruck, do AC/DC. E sente-se que lá vem mais causo: “Este show requer um pouco de paciência porque a gente usa cinco afinações no meio do show para tocar, saca? Vocês sabem que o Jimmy Page tem uma casa lá na Chapada Diamantina, né? É em Lençóis. Uma vez a gente foi passar férias lá e perguntamos: ‘O senhor conhece um guitarrista inglês com uma casa…?’. Ele respondeu: ‘É Dimmy? Dimmy! Dimmy, sim! Dimmy toca naquele bar ali, compra pasta de dente aqui!’. A treta é que ele ia tocar no boteco, os caras pediam para ele tocar Raul e ele não sabia, né? Escutem só se isso aqui não é música de violeiro… Querem ver?” – foi Bron-Yr-Aur.

Praticamente juntas, executaram:Dancing Days (você já ouviu a releitura dela feita pelo Stone TemplePilots? Vale a pena conferir!);ThankYou(a primeira da noite com Zé Helder cantando);Black Dog (sejá era habitué em sets convencionais, seria imperdível na ocasião); GoingToCalifornia(outra com linhas vocais de Zé) e Four Sticks (que este repórter admite ter demorado a reconhecer). Então veio a última fala mais alongada de Ricardo: “Bom, galera, a gente vai fazer a última, aquela última que, se vocês pedirem mais, a gente faz ‘aquela’ depois, né? Vai ser ‘aquela’ última. Como tem outro show depois, o show é mais curto do que o que mesmo, Zé?”.

Ele respondeu: “É mais curto do que garupa de jumento, segundo o Zé Mulato”. Seu parceiro arrematou: “Então o que acontece? A gente termina aqui, cata as violas, porque vai entrar outra galera, e depois toma a última ali na varanda. A gente quer conversar com todo mundo, é o maior prazer conhecer todo mundo, encontrar uns amigos de novo. E muito obrigado a vocês, por saírem de casa numa quinta-feira para ver a gente!”, antes de mandarem Kashmir.

Para o “encore”, seu bom-humor seguia imperando após os pedidos coletivos de “Mais um! Mais um!”: “Eu não esperava…”. E, para um mar de celulares erguidos, detonaram com StairwayToHeaven, também com Zé cantando a “faixa extra” citada no segundo parágrafo e fora do play. Agora sabe o que foi diferente? Acostumado a vê-los divulgando Moda De Rock Brasil (22), foi estranhonão ver o uniforme usual: calças jeans vermelhas e camisetas pretas do registrode releituras nacionais.

Pensando exclusivamente na discografia do Led Zeppelin, foram: quatro de HousesOf The Holy (73) e Led Zeppelin IV (71); três de Led Zeppelin III (70); duas de PhysicalGraffiti (75); e uma de Led Zeppelin (69); Led Zeppelin II (69); eIn Through The Out Door (79). Assim, o repertório apenas não contemplou material de Presence (76) e Coda (82). Ah, a título de curiosidade e para sua comparação, deixamos as durações das faixas ao vivo e nos full-lengths.

Caso tenha se animado, é possível ver o set quase por inteiro nestelink [https://www.youtube.com/watch?v=ywC0D1ZjCVU] – infelizmente, a filmagem começa com D’yerMak’er já em andamento! E se você aprecia o trabalho de Ricardo Vignini, no final de agosto e início de setembro, há uma série de shows agendados de seu projeto Terra Livre, fruto da parceria com João Morais, também conhecido como O Gajo. Fique ligado!

Setlist

01)Good Times Bad Times – 2’25” / 2’45” em Led Zeppelin (69)

02) D’yerMak’er – 3’24” / 4’23” em HousesOf The Holy (73)

03)Immigrant Song – 2’25” / 2’26 em Led Zeppelin III (70)

04) No Quarter – 5’13” / 7’00” em HousesOf The Holy (73)

05)Tangerine – 2’59” / 3’12” em Led Zeppelin III (70)

06)AllMy Love – 5’03” / 5’51” em In Through The Out Door (79)

07)Rain Song – 5’25” / 7’39” em HousesOf The Holy (73)

08)Friends – 4’00” / 3’55” em Led Zeppelin III (70)

09)Bron-Yr-Aur – 2’09” / 2’06” em PhysicalGraffiti (75)

10) Dancing Days – 2’30” / 3’43” em HousesOf The Holy (73)

* 11)ThankYou – 3’46” / 3’50” em Led Zeppelin II (69)

12) Black Dog – 2’06” / 4’55” em Led Zeppelin IV (71)

* 13)GoingToCalifornia – 3’39” / 3’32” em Led Zeppelin IV (71)

14) Four Sticks – 2’42” / 4’45” em Led Zeppelin IV (71)

15)Kashmir – 4’59” / 8’37” em PhysicalGraffiti (75)

* 16)StairwayToHeaven – 8’35” / 8’02” em Led Zeppelin IV (71)

* Zé Helder cantando