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Moda De Rock Convida Zeca Baleiro – Red Star Studios– 31/05/23
Postado em 09 de junho de 2023 @ 20:11


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Rita Perran

De Tião Carreiro & Pardinho aSlayer em noite memorávelcom participações especiais

 

  Fosse o Brasil um país que minimamente levasse sua cultura a sério, Ricardo Vignini e Zé Helder seriam elevados ao patamar de gênios! Afinal de contas, os caras transpuseram arranjos de clássicos do rock/metalpara a viola caipira! Evidentemente, sempre vai existir algum espírito de porco tentando minimizar o esforço ao dizer serem “meras regravações”, mas sendoalgo tão trivial, por que ninguém teve a sacada antes?O fato é: a dupla soltou um play “só” com hinos do Led Zeppelin em 2018, foraModa De Rock (10),Moda De Rock Ao Vivo (12) e Moda De Rock II (16), sempre oferecendo repertório variado e indo de Sepultura, Slayer, Megadethe Metallica, para os “fromhell”, como este escriba, aPink Floyd, Jethro Tull e Dire Straits, para quem curte uma melodia mais tradicional.

Promovendo Moda De Rock Brasil (22), exclusivamente voltadoa pérolas do rock nacional, conforme o título sugere, a dupla se apresentou nos Sescs Ipiranga e Guarulhos, em 28/04 e 14/05 (em pleno Dia das Mães e gratuitamente) e,às 20:18, com dezoito minutos de atraso em relação ao horário divulgado que não chegaram a incomodar, as escolhas para o Red Star Studios até começaram idênticas, comSonífera Ilha e Flores Em Você de imediato.Bem-humorado, Ricardo deu as boas-vindas: “Boa noite! Tudo bão? Quem aí já viu um show do Moda De Rock? Vieram só por causa do Zeca Baleiro, bicho… Quem nunca viu um show do Moda De Rock? Vieram só por causa do Zeca Baleiro… Vamos fazer agora uma do nosso disco Moda De Rock Toca Led Zeppelin, No Quarter”.

Medo foi cantada por Zé, Até Quando Esperar mostrou-se a primeira mostra de cantoria coletiva e Mestre Jonas trouxe participação especial de Tuia, esbanjando carisma e contagiando a galera! Em Dois Mil E Um, Zé deu nova mostra de seu talento vocal e então Ricardo revelou uma curiosidade acerca da letra da música de Os Mutantes: “Viva Rita Lee! Cara, a genialidade da Rita Lee… Para esta música, o Tom Zé tinha jogado esta letra no lixo! A Rita Lee ‘catucou’ lá, pegou e fez essa música, bicho! É mole? O Tom Zé desacreditou na música, imagina? Agora uma música das profundas raízes… Do heavy metal? Não, da música raiz de viola: Chora Viola, de Tião Carreiro & Pardinho, que em todo show a gente toca”.

E quando você a suporia emendada a RainingBlood? Pois é… Aconteceu! E com direito à parte descrita como “noise” no encarte do próprio Reign In Blood (86)! Também coladas, ainda fizeram I WantTo Break Free (outra com o povo cantando, obviamente sorrindo e efusivamente aplaudindo no final) e um trecho de Rondo Alla Turca, de Mozart, introduzindo Thunderstruck, concluída com o dedo indicador esquerdo de Ricardo erguido à la Angus Young (sim, ele é canhoto) – divertidíssimo!

Se no Sesc Ipiranga Zé Geraldo apenas assistira ao show, desta vezele seria o segundo convidado para abrilhantar a noite e ele mesmo contextualizou: “Tudo bem aí? Legal! Esses caras aqui têm que me aturar porque gosto muito do som deles. Sou um caipira da roça, roqueiro da roça, eles fazem rock ‘n’ roll na viola, então somos amigos. Nem tudo é perfeito, né? Quando vim de Minas para São Paulo, tinha vinte e poucos anos e um amigo me mostrou um disco do Festival de Woodstock. Três artistas ali piraram a cabeça do caipira: Janis Joplin, Jimi Hendrix e Joe Cocker”.

Ele prosseguiu: “Joe Cocker eu cantei muito nos tempos de bar e Jimi Hendrix foi um ídolo que sempre cultuei. Sempre achava que um dia iria gravar ou fazer uma versão dele, só que fui ler a letra original e o cara matava a mulher… Aí falei: ‘Ô, bicho, não vou cantar uma letra em que o cara mata a mulher, né?’. Aí fiz uma letra em que o cara não a matou ainda e estou tentando tirar essa idéia da cabeça dele. Por eu ter mudado a estória, a editora americana levou quase dois anos para autorizar, mas finalmente autorizou e tenho o maior prazer em cantar esse clássico de um grande ídolo, o Jimi Hendrix: Hey, Joe / Hey, Zé”, a rigor, fora do setlist de palco.

Novos pares de canções se sucederam emIn The Flesh com Black Dog e a Quinta Sinfonia de Beethoven com Aqualung e,ao começarem Heavy Metal Do Senhor, a senha estava dada: era a hora de Zeca Baleiro entrar na festa para não mais sair e, como prega a letra, mesmo não se tratando de um “festival”, “a platéia pegou fogo”. Também dividindo os vocais com Zé Helder, fizeram Bienal e então o cantor maranhense contou um causo referente à próxima:

“Vou tocar uma música nova, algumas pessoas já ouviram porque já toquei nuns dois shows por aí, ainda não sei a letra, vou ter que ler e a suprema ironia é que vou ler a letra num iPhone… A música se chama Eu Odeio Steve Jobs. Acho que vou tirar o “Odeio” e deixar só “Steve Jobs”, sabem por quê? O “Odeio” está perigoso, está na moda demais odiar, mas deixa eu explicar porque tem um contexto.Em janeiro, nas férias com meus filhos, perto de um lugar bonito, na natureza, perto da praia, falei: ‘Vamos sair para dar um rolé’. Ambos me desprezaram, me trocaram por duas telas e fiquei muito puto! Falei: ‘Porra, estamos aqui num lugar lindo e vocês vão ficar aí?’. Fui!Fui andar, acho que andei de bicicleta, puto da vida e, antes de sair, falei assim: ‘Porra, eu odeio Steve Jobs!’”.

Não acabou aí: “Naturalmente não odeio ninguém, quer dizer, talvez, mas não o Steve Jobs. Admiro a história dele de gênio pioneiro e inventor e nem é ele o único responsável por isso tudo, né? É um tanto de gente, mas a figura dele ficou meio central como um cara que lutou para compactar toda nossa vida, céu e inferno, mais inferno do que céu ultimamente, aqui nesta coisinha. Então achei aquilo um mote bacana e fui, na minha volta de bicicleta, compondo uma coisa que eu julgava ser um repente. Quando voltei ao hotel onde estávamos, peguei e fiz, de fato, a música.Estou fazendo um álbum agora que sairá em breve, convidei o Ricardo e o Zé para gravarem comigo e então ela vai em primeiríssima mão para vocês aqui. Mas não o odeio, viu, gente? É brincadeira! É só porque, às vezes, é bom a gente reclamar, também faz parte da sobrevivência, xingar e reclamar são parte da sobrevivência. ‘Eu Também Vou Reclamar’, já dizia o grande Raul!”. Em todo caso, Eu Odeio Steve Jobs tem aquela picardia típica de Zeca que, “comunicando-se” com o falecido, ainda tirou onda ao erguer as mãos e olhar para cima pedindo perdão ao término da primeira estrofe com ares de: “Pô, desculpa aí, Steve!”…

Na veia do desabafo, Ricardo também contou estória: “Agora vamos fazer uma música que gravei na década de noventa com uma banda de rock que eu tinha. É uma música do Walter Franco. Eu me lembro que fui deixar o CD na casa dele, ele morava ali na Ana Rosa, eu ia deixar na portaria e ele me mandou subir. Pensei: ‘Putz, que vergonha da porra!’. Aí ele botou a música, escutou e disse: ‘Eu me sinto lisonjeado!’”– era Canalha.Eu Não Matei Joana D’Arc trouxe um hilário snippet da Marcha Fúnebreno encerramentoe a quase saideira foi a não menos divertida Toca Raul (com trechinho de Mosca Na Sopa), precedida por um comentário engraçado de Zeca:

“Dei duas camisetas a eles aqui e eles foram… Como é que se diz? Fofos!”. Os modelos? Ambas pretas e, para Ricardo, com um “O cara mais underground que eu conheço” escrito com estampa de um diabo topetudo que tanto poderia ser Johnny Cash quanto Elvis Presley; e um “Heavy metal do senhor” para Zé, com o detalhe da utilização da fonte do Iron Maiden! Também se destacavam as calças jeans vermelhas rasgadas de ambos,uniformizados e em típica preocupação inexistente outrora.Fechando a performance em noventa e quatro minutos, um pouco acima da média dos sets convencionais do Moda De Rock, mandaram Vide Vida Marvadacom Tuia e Zé Geraldo de voltaem bela homenagem a Rolando Boldrin e ao programaViola, Minha Viola.

O duro foi voltar a encarar o frio de uma noite garoenta de plena quarta-feira refletindo a caminho de casa: “Até Quando Esperar” o devido reconhecimento para que a dupla seja vista como “Mestres”, se não “Jonas”, Ricado e Zé mesmo? Nesse país, dá até “Medo” e dói,“Na Carne”…

 

Setlist

01)Sonífera Ilha [Titãs]

02) Flores Em Você [Ira!]

03)No Quarter [Led Zeppelin]

04)Medo [Cólera] *

05)Até Quando Esperar [Plebe Rude]

06)Mestre Jonas [Sá, Rodrix&Guarabyra] [Com Tuia] **

07)Dois Mil E Um [Os Mutantes] *

08)Chora Viola [Tião Carreiro & Pardinho] *

09) Raining Blood [Slayer]

10) I Want To Break Free [Queen]

11) Rondo AllaTurca [Mozart] / Thunderstruck [AC/DC]

12)Hey, Zé [Zé Gerarldo / Versão De Hey Joe De Jimi Hendrix][Com Zé Geraldo]

13) In The Flesh [Pink Floyd] / Black Dog [Led Zeppelin]

14) Symphony No. 5 [Beethoven] / Aqualung [Jethro Tull]

15)Heavy Metal Do Senhor [Zeca Baleiro] [Com Zeca Baleiro] ***

16)Bienal [Zeca Baleiro] [Com Zeca Baleiro]***

17)Eu Odeio Steve Jobs [Zeca Baleiro] [Com Zeca Baleiro]

18)Canalha [Walter Franco] [Com Zeca Baleiro]***

19)Eu Não Matei Joana D’Arc [Camisa De Vênus] [Com Zeca Baleiro]***

20)Toca Raul [Zeca Baleiro] / Mosca Na Sopa [Raul Seixas] [Com Zeca Baleiro]

Encore

21) Vide Vida Marvada [Rolando Boldrin] [Com Zeca Baleiro, Zé Geraldo e Tuia]

* Zé Helder Canta

** Zé Helder e Tuia dividem os vocais

*** Zé Helder e Zeca Baleiro dividem os vocais

 

 
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